sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Alternativa ao totalitarismo

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:

 
 
Após a debacle da União Soviética e do chamado campo socialista europeu a humanidade viu surgir um outro tipo de civilização que apesar de herdar elementos capitalistas fundamentais da etapa anterior caracteriza-se por modificações substanciais nas relações econômicas, geopolíticas, sociológicas e ideológicas.

Mesmo com a presença de um significativo campo distinto ao sistema estabelecido, especialmente a China e outros Países de projetos socialistas, além dos Países emergentes, os BRICS, novo polo global alternativo à hegemonia das nações capitalistas centrais, ainda é determinante a nova ordem mundial consolidada definitivamente em escala planetária no início dos anos noventa do século passado.

Uma dominação brutal, avassaladora, atingindo todos os continentes, destruindo sistematicamente conquistas arduamente alcançadas durante os últimos sessenta e sete anos desde o final da Segunda Guerra Mundial, especialmente nos Países de capitalismo avançado em virtude das lutas dos trabalhadores e demais camadas assalariadas mas também como estratégia à crescente influência das ideias sociais provenientes do campo socialista que em seu apogeu contabilizava dois terços da humanidade.

Nessas circunstâncias havia uma intensa polarização ideológica, permanente luta política, consideráveis espaços para movimentos de longo curso, como dos não alinhados, lutas de libertação contra o neocolonialismo, por caminhos nacionais soberanos, independentes.

Nesse período foi intensa a vida intelectual em todos os aspectos, filosófico, artístico, científico, e havia no ar uma convicção no progresso como condição essencial ao futuro da humanidade.

Com a hegemonia da nova ordem mundial neoliberal, após o final da guerra fria que custou aos EUA parte fundamental da sua atual dívida pública interna, impôs-se a destruição do espírito libertário dessa época, em seu lugar emergiu um tipo de civilização baseada na deificação do mercado global, do indivíduo sob tutela, na liberdade sub judice direcionada ao consumo.

Essa ordem mundial totalitária que escraviza a força de trabalho internacionalizada está conduzindo a humanidade a uma crise econômica, multilateral, inigualável e que apesar de ainda dominante encontra-se exaurida com claros sinais de contestação das nações, dos trabalhadores, em luta por uma alternativa de civilização renovada, emancipadora, democrática.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Dor indescritível

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


O assassinato de vinte crianças e seis adultos em uma escola primária dos Estados Unidos, revela uma tendência patológica crescente na sociedade norte-americana que se expressa na sequência de episódios idênticos ocorridos nos últimos anos com um grande número de vítimas fatais.

Demonstra igualmente os sinais mais que evidentes da exaustão, infelizmente não em estágio final, de um tipo de civilização regressiva, militarizada, totalitária, erigida pela nova ordem mundial da qual a nação americana, como o grande e único império da era contemporânea, tem sido tutora e guardiã armada.

O capital financeiro global, o complexo industrial militar norte-americano, associados à megaestrutura midiática mundial  de informação, propaganda, são os que determinam os desejos das pessoas, os sonhos de consumo, a cultura, a ideologia dominante na maior parte do planeta nos últimos anos.

Na mesma linha a indústria cinematográfica dos Estados Unidos deu a sua horrível parcela de contribuição para que se assentasse em escala planetária a visão alienante, distorcida, paranoica, bélica, desse mesmo tipo de civilização regressiva.

A violência na sociedade norte-americana tem as suas próprias especificidades mais profundas que o fenômeno da delinquência desenfreada. É produto da visão de que cada norte-americano é um guerreiro super-homem, invencível, armado até os dentes, confrontando a humanidade, associada a um puritanismo repressor.

Assim, ao que parece a realidade superou a ficção transformando Laranja Mecânica, livro de Anthony Burgess sobre a patologia da violência e maldade insanas adaptado para o cinema por Stanley Kubrick, numa espécie de versão edulcorada dos fenômenos reais da sociedade americana.

Essa mesma grande mídia mundial hegemônica procura agora, diante da recorrência quase endêmica dos brutais assassinatos como os ocorridos na escola primária de uma pequena cidade dos EUA, produzir a sua opinião centrada na constatação de que existem nas mãos de civis 300 milhões de armas de fogo vendidas em milhares de lojas espalhadas no País.
 
Esse é um lado tenebroso do diagnóstico embora a verdade seja mais trágica, o povo norte-americano está pagando alto preço em sofrimento e dor indescritíveis pela cultura que lhes foi imposta para forjar o "destino manifesto" de indivíduos superiores imbatíveis, acima do bem e do mal, da sua própria vida e a do próximo.
 

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Objetos não identificados

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


A nova ordem mundial continua ditando em múltiplos aspectos a agenda a ser seguida pelas nações e os povos sempre tendo como centro ideológico, midiático, a complexa, poderosa rede de difusão, propaganda anglo-americana.

Uma das suas faces é a agenda social global que por denominação não reflete projetos nacionais, conjunturais, programáticos partidários mas a sua própria escala mundial determinada originariamente.

Não é de se estranhar assim, a relativização na interpretação dos fenômenos Históricos de abrangência global ou regional correspondente à permanente desconstrução ideológica dos acontecimentos econômicos, sociais e políticos.

Daí é que vem o alerta do falecido historiador Eric Hobsbawm para o qual as novas gerações que herdaram um mundo unipolar da nova ordem mundial estariam submetidas a uma espécie de presente contínuo em que o passado, mesmo o passado recente, não representa valor algum.

Assim é que se observa, através da chamada terceira revolução tecnológica na comunicação, uma gama de informações fragmentárias, desconexas, uma cultura de mosaico em que tudo é ao mesmo tempo significativo e nada é importante, segundos após aparecer num "site" da Internet ou nas redes sociais.

Igualando na mesma escala de grandeza a desestabilização de continentes pela subversão armada através da grande potência imperial, os pródigos litígios ambientais na Amazônia brasileira, a gravidez da princesa bretã, a difusão das imagens de uma onça adotando um gato órfão em um zoológico europeu ou o vídeo de um hipotético objeto voador não identificado, UFO, filmado nos gélidos Países nórdicos.

Mas como em política inexistem objetos voadores não identificados, o tsunami institucional que estamos assistindo diariamente através da grande mídia nacional hegemônica, por exemplo, pode ser traduzido como luta pelo poder, independente dos seus desdobramentos ou consequências.

O que estamos presenciando é algo maior que a ante sala de uma sucessão ordinária, estão em curso sinais inequívocos de uma séria crise política que avança a cada dia que passa, urdida com riqueza de detalhes como se fosse uma novela, capítulo a capítulo, cujo objetivo central é a vacância presidencial.

Não se tem claro qual a tática do governo mas ou ele reage, defende-se dos intensos ataques, dentro da legalidade constitucional, ou a médio prazo, corre grave risco de se espatifar.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Niemeyer

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


A morte de Oscar Niemeyer na noite desta quarta-feira de Dezembro gerou imediatamente um dilúvio de notícias no País e ganhou as páginas digitais dos principais órgãos de comunicação do planeta. Pode-se dizer com absoluta tranquilidade e segurança que o Brasil ficou sem a presença física de uma figura singular, um arquiteto de talento excepcional mas em compensação a eternidade ganhou um gênio universal.

Além dessa genialidade que deixou sua marca em Brasília, no Rio de Janeiro, em Pampulha, no Memorial da América Latina em São Paulo e tantos mais mundo afora, Niemeyer foi um comunista íntegro, firme nas suas convicções emancipadoras denunciando as injustiças no Brasil e as incoerências de uma civilização regressiva, totalitária, gerada pela nova ordem mundial.

Em 2003 tive o privilégio de conhecê-lo quando secretário de cultura do Estado de Alagoas na tentativa de convencê-lo a desenhar um memorial em homenagem à Graciliano Ramos e para minha surpresa ele não só concordou com a ideia como disse que o faria sem cobrar um tostão do governo alagoano. Infelizmente a ideia nunca foi posta em prática.

Mas a conversa com o arquiteto que imaginava levaria alguns minutos em virtude da sua agenda cheia estendeu-se para nossa alegria por quase três horas em seu escritório de amplas e sinuosas janelas com vista para a Avenida Atlântica, Copacabana, numa manhã carioca.

Quando cheguei ao escritório, acompanhado pelos irmãos Vitor e Vinícius Palmeira, Niemeyer dava uma espécie de palestra informal para um bando de jovens arquitetos alemães, depois soube que aquilo fazia parte de uma romaria  internacional de estudantes, profissionais da Arquitetura ao escritório de Copacabana.

Ficamos ali esperando o fim da palestra intermediada por um tradutor quando Niemeyer denunciou como fascista o presidente Bush em meio a observações sobre linhas e traços para espanto e risos nervosos dos alemães.

Grande parte do tempo que passamos com Niemeyer o assunto girou sobre o que achávamos da política, da vida, sobre o partido etc. Sobre ele mesmo, coisa nenhuma, nada.
 
Por fim tiramos umas fotografias com uma máquina que na rua percebemos quebrada, corremos ao escritório, explicamos o constrangimento e depois de uma gostosa gargalhada, com ótimo humor, ele posou para novas fotos, uma das quais, ampliada, guardo com emoção em casa pendurada na parede do meu gabinete, para sempre.
 

sábado, 1 de dezembro de 2012

O Brasil na crise global

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


A crise estrutural financeira internacional associada à desintegração da nova ordem mundial, precocemente senil, vem provocando a falência de um determinado tipo de civilização, erigida conforme as necessidades do atual processo de acumulação, centralização do capitalismo, mais enfaticamente no século XXI.

Por outro lado, grande parte das sociedades passaram a assemelhar-se, com raras exceções, em uma espécie de espelho distorcido e farsesco, com as idiossincrasias culturais, ideológicas, antropológicas da sociedade norte-americana, essa nova Roma dos tempos pós-modernos, incorporando inclusive antinomias próprias da maior potência imperial de todos os tempos.

O fenômeno objetivo da expansão capitalista provocou a relativização da soberania dos Estados nacionais, impulsionou o ambicionado projeto do governo mundial dessa nova ordem, desfigurou o espírito moderador originário das Nações Unidas, gestou os grandes males que afligem a humanidade na atualidade.

E não há como dissociar esse processo da função imperial que exercem os Estados Unidos como um exército sem fronteiras, acima de quaisquer convenções, acordos internacionais referendados pela comunidade das nações ou até mesmo aqueles que venham a ser assinados.

Apesar da emergência de uma nova realidade geopolítica econômica, comercial, militar, o que ainda determina mesmo são as estruturas constituídas por essa nova ordem mundial provocando um encadeamento de crises de múltiplas faces que não arrefecem, ao contrário, se estendem e se intensificam pelo planeta.

A débâcle financeira alastra-se, agrava-se como, por exemplo, a tragédia da Grécia em crise agônica, os crescentes sinais de desintegração da Espanha além da maré de desemprego que avança por toda a Europa.

O Oriente Médio conflagrado, o continente Africano imerso numa escalada de violentos conflitos armados "inter-étnicos", entre as nações da região, de caráter neo-colonialista, além da corrida armamentista dos Estados Unidos na Ásia circundando a China.

Quanto ao Brasil o que se pretende é evitar um inadiável projeto de desenvolvimento nacional soberano, cooperação econômica e solidariedade política junto aos povos irmãos da América do Sul, sem o que irá afundar no pântano da crise global e das ambições expansionistas contra as suas riquezas, população e território continental cobiçado.

sábado, 24 de novembro de 2012

Poder assimétrico

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


A reeleição de Barack Obama à presidência dos Estados Unidos foi divulgada pelo complexo hegemônico mundial de informação e correias de transmissão nos Países, como uma vitória da paz global e do bom senso.

Com o eleitorado norte-americano literalmente dividido ao meio entre Republicanos e Democratas "os especialistas da grande mídia" concluíram que a resposta do presidente aos estragos provocados pelo furacão Sandy foi decisiva para sua recondução à Casa Branca.

Na campanha mais cara de toda a história dos EUA, Obama gastou um bilhão de dólares, o Republicano Mitt Romney 800 milhões, apesar da crise estrutural que abala a economia da nação devorando dezenas de milhões de empregos.

No Brasil, e no mundo, foi intensa a cobertura obsequiosa da grande mídia hegemônica, com interpretações sem um mínimo balanço dos interesses do País nos aspectos das relações comerciais, econômicas, científicas, geopolíticas, diplomáticas com os Estados Unidos.

Mas através da mídia interna norte-americana sabe-se que para a reeleição além dos bilhões foi decisivo para Obama o apoio às ações militares de Israel contra a Palestina, o Irã, como o sinal verde à corrida armamentista do complexo industrial militar dos EUA na Ásia.

Na verdade estamos diante da famosa Pax Romana sob a liderança de uma espécie de César pós-moderno com um porrete em uma das mãos e uma agenda social global na outra, com o objetivo de criar uma base de apoio ou ao menos a neutralidade de segmentos da população mundial.

Diante da crise econômica, falência da civilização da nova ordem mundial, proliferação de regiões explosivas, insubordinação social crescente, os EUA vão recrudescer as ações militares combinadas com uma maior ofensiva do complexo ideológico-cultural e de propaganda.

Por mais bizarro que possa parecer, esse poder global assimétrico, a lógica imperial, o capital financeiro global, vão levar a humanidade ao aumento dos conflitos armados, intensificação dos mecanismos de desregulamentação das economias, maior perda da autonomia relativa dos Estados nacionais, imensa fragilização no mundo do trabalho.

Assim, torna-se cada vez mais inadiável para a sobrevivência da humanidade, dos indivíduos, a luta pela soberania das nações, o progresso econômico-social, a autodeterminação cultural dos povos, por uma civilização mais solidária, alternativa a essa da barbárie e do totalitarismo.

sábado, 17 de novembro de 2012

Civilização do mal-estar

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


O problema central das lutas por cidades mais humanas é um tipo de civilização regressiva imposta à humanidade decorrente da hegemonia mundial, quase que absoluta, do capital financeiro da chamada nova ordem mundial, de caráter multifacetário com abrangência planetária.

Nessas últimas duas décadas operou-se paulatinamente, sistematicamente, uma espécie de engenharia maligna com vistas à tentativa de desconstrução de qualquer manifestação ideológica, cultural, política, conquistada pelos povos através dos tempos relativa a um mundo mais solidário, menos injusto, mais tolerante, razoavelmente democrático.

As consequências políticas, econômicas, sociais estão por aí, a olhos vistos com a crescente violência, o aumento galopante da criminalidade, o fenômeno arrasador do negócio das drogas pesadas em escala global, a crise estrutural do desemprego, a criminalização do exercício da política para melhor controlar a própria política que sempre conduziu os destinos dos Países e jamais deixará de ser assim.

Há em todo mundo um cheiro crescente de enxofre, inclusive no Brasil, típico dos tempos autoritários especialmente nos momentos de contestação, avanço ou insubordinação da consciência social quanto ao sentimento de que os de baixo já não mais suportam tanta desgraça e exploração desenfreada por parte de uma ínfima minoria de privilegiados milhardários deslumbrados, flanantes bem vestidos, frequentadores de um clube privado de beneficiários da nova ordem mundial.

Mesmo no Brasil com as ações de transferência de renda pelo Estado nacional nesses 12 anos modificando as condições de vida de dezenas de milhões de pessoas que saíram da linha de pobreza, incorporando-as ao mercado de trabalho com acesso a bens de consumo, políticas compensatórias para atender segmentos sociais, é difícil sustar as consequências nocivas da nova ordem mundial sobre a nação e os seus efeitos totalitários.

Sobrepondo-se vertiginosa obsolência de produtos e pessoas, um presente contínuo, a ausência do passado, a inexistência de um futuro solidário, a aridez de valores humanos individuais, sociais, minimamente respeitáveis.

Assim, além de se travar a peleja pelo progresso social, aqui e agora, impõe-se tremenda luta política de ideias alternativa a essa civilização do mal-estar generalizado, excludente, que conduz a humanidade ao abismo econômico, social e espiritual.

sábado, 10 de novembro de 2012

Eleições nos Estados Unidos

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


A reeleição do presidente Barack Obama foi decisiva aos amplos segmentos do establishment alinhados ao partido Democrata, o empresarial, da informática, o industrial-militar, comercial, diplomático, midiático, mas também o ideológico.

Que exerce inquestionável liderança nas diretrizes culturais do País desde o governo Clinton com uma linha multiculturalista institucionalizada através de uma agenda global.

Já o partido Republicano representa a visão, o estilo de vida defendido pela metade dos norte-americanos, refratários às mudanças internas, externas, inadequado às novas estratégias expansionistas dos EUA.

Como potência imperial os Estados Unidos devem recrudescer suas investidas aumentando os perigos de novas intervenções armadas e guerras onde será preciso combinar a crescente força bruta com uma política ideológica flexível, exportável, assimilável a diversos setores sociais em escala mundial.

Setores sociais que se encontram à deriva, sem causas nacionais e populares galvanizadoras que os unifiquem, em decorrência da vitória global do projeto neoliberal, da perda relativa da autonomia dos Estados nacionais, da ausência de uma alternativa mais concreta de emancipação social.

Os Democratas conduzem essa agenda midiática-ideológica-cultural gestada pela "inteligência" norte-americana para consumo interno posteriormente difundida em escala mundial para o exercício da supremacia internacional visando amenizar os efeitos de uma política externa agressiva progressivamente contestada pelos povos.

Porque para os EUA em crise econômica estrutural é imprescindível garantir a "sustentabilidade planetária" dos privilégios imperiais ancorados na superioridade militar, no complexo de propaganda, na imposição dos seus padrões culturais.

Não se deve perder de vista que Republicanos ou Democratas abraçam o mesmo "princípio teológico" que avoca para os EUA o "destino manifesto de nação" evangelizadora das nações, por bem ou pela força, moldando-as aos seus próprios "valores morais, políticos, religiosos".

Quanto à grande mídia hegemônica em vários Países, inclusive no Brasil, ela representa, em geral, linhas auxiliares a esse controle ideológico da informação com uma postura obsequiosa, reverencial, no papel subalterno de correias de transmissão desses valores, da "agenda social global", a mesma visão sobre o poder e a geopolítica mundial unipolar.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Soberania e eleições

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


A partir da segunda metade do século XX, em meados dos anos sessenta, intensificaram-se as grandes lutas de libertação nacional onde os Países do terceiro mundo foram emblemáticos na virada da página de um período histórico que representou a um só tempo entusiasmada esperança, incertezas e promessas de emancipação social.

Mas a última década do século passado iniciou-se sob o domínio da nova ordem neoliberal (com a hegemonia arrasadora do capital financeiro e o fundamentalismo de mercado) e suas devastadoras consequências de abrangência multilateral que se estendem aos dias atuais como tendência mundial ainda determinante.

A atual crise global do capitalismo apresenta explícitos sinais de fadiga do trinômio globalização/desregulamentação/privatização tanto no âmbito econômico como social, geopolítico. Dia após dia a realidade internacional fica mais instável, absurdamente perigosa, revelando uma civilização regressiva imposta à humanidade.

E mais uma vez as nações emergentes, especialmente da América Latina, demonstram sinais de resistência, agora contra as políticas da velha "nova ordem mundial".

Nesse contexto a vitória nas eleições municipais em São Paulo e grandes centros urbanos do campo político que se opõe às orientações neoliberais ortodoxas no Brasil, apresenta significativa acumulação de forças para as batalhas políticas que se avizinham.

Pelejas que devem atingir intensidade no futuro próximo mas já apresentam claros sinais de ameaças à jovem democracia conquistada em 1985 com o fim do governo ditatorial de 21 anos.

O fato é que os regimes autoritários no País decorrem da ausência de base social das correntes conservadoras nos pleitos eleitorais decisivos em nossa História recente, da revolução de 1930 aos dias atuais.

As estruturas do aparelho de Estado e os legítimos representantes eleitos através do voto se conjugam porém representam aspectos distintos do mesmo sistema onde o primeiro sobrepõe-se ao outro como derradeira cidadela de classe social.

Assim, está em curso um movimento visando contrapor essas estruturas aos governos eleitos, a neutralização de setores médios através da grande mídia hegemônica associada ao capital financeiro e interesses forâneos no sentido de se antecipar a eventuais reformas estruturais, estratégicas ao progresso social, econômico e, em última instância, à própria soberania do Brasil.

sábado, 27 de outubro de 2012

Como um bom vinho

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


A Era dos Extremos é um clássico de Eric Hobsbawm, em meio a uma extraordinária produção intelectual, que a distância temporal de quase vinte anos longe de esmaecer as suas principais conclusões fortalece-as, mesmo que se possa ter, aqui e ali, diferenças com suas análises.

Trata-se de um balanço multilateral, ricamente detalhado do século XX, apresenta sinalizações sobre o início do terceiro milênio ou ao menos acerca da sua primeira década que todos nós vivenciamos.

De formação marxista Hobsbawm tornou-se intelectual respeitado, com a sua erudição, profundidade, sobriedade e estilo elegante, para além daqueles que não se incorporam à sua corrente de pensamento.

Sua obra ultrapassa o sentido da História formal, tem fundamentos na economia, na sociologia, nos fenômenos estruturais, ideológicos, da humanidade.

Em O Breve Século XX o falecido autor tece várias conclusões, entre elas "que essa foi, paradoxalmente, uma época que se assentava na defesa dos benefícios para a humanidade, do progresso material sustentado pelos avanços da ciência e tecnologia", mas o seu ocaso revelou "a rejeição desse progresso por correntes que se pretendem representantes do pensamento ocidental como os apologistas do crescimento zero ou quase zero, em solução à crise ambiental".

Afirmou que essa seria uma das contradições do século XXI (além do mundo unipolar, a persistente centralização, concentração do capital, o monopólio, controle planetário da informação) especialmente entre setores abastados e médios do primeiro mundo, empresários do florescente capitalismo verde e os contingentes populacionais do terceiro mundo onde reside a grande maioria dos habitantes do planeta.

Ao refletir sobre o início do novo milênio, o historiador indica o surgimento de "estranhos apelos em favor de uma sociedade civil e de grupos, inespecíficos, não restando por aí outra maneira de entender as identidades das sociedades e grupos, senão através da exclusão" das demais pessoas, tornando irrelevantes os conceitos de classes sociais.

Como cientista Hobsbawm não era pessimista nem otimista, fundava seus estudos na análise rigorosa da realidade, utilizando sempre a dialética marxista, que ele entendia ser o instrumental para a abordagem dos fenômenos sociais, históricos. A vida demonstrou que as suas observações são como um bom vinho, quanto mais o tempo passa, melhores.

sábado, 20 de outubro de 2012

O avesso

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


Nunca é demais retornar ao tema sobre a desordem financeira mundial, o controle sobre a informação, o monopólio ideológico do capital globalizado através de um poderoso aparato midiático internacional, a cooptação de organismos internacionais, antes instituições razoavelmente representativas para dirimir conflitos, desavenças entre a comunidade das nações.

Mesmo com o surgimento de uma outra geopolítica mundial através de novos atores como os BRICS, Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul, o que permanece determinante, por enquanto, é mesmo a velha "nova ordem mundial" substrato de um poder mundial unipolar resultante da desintegração da URSS lá pelos idos do final da década de oitenta.

O que existe é uma resistência ascendente em contraponto às condições onde ainda predomina o mando desse capital financeiro globalizado cujo braço armado encontra-se sob a chancela da máquina de guerra norte-americana e aliados satélites.

Produzindo agressões contra a autodeterminação das nações, contabilizando em poucos anos centenas de milhares de mortos, outro tanto igual de feridos, mutilados, milhões de refugiados, muitos deles vegetando em acampamentos fétidos.

Assim o neoliberalismo fecundou uma anarquia planetária, a insegurança coletiva, individual, uma espiral de violência, medo, ódio, caos, reação, barbárie, um tipo de civilização claramente regressiva.

Já as lutas históricas das sociedades pelos direitos humanos, meio ambiente, liberdades democráticas, de religião etc, são espoliadas pelo ubíquo controle ideológico do capital financeiro e EUA, usadas como pretextos às intervenções armadas, anexações territoriais.

Eles ressurgem, inescrupulosamente, como paladinos desses imprescritíveis reclamos da humanidade ao tempo que buscam destruir formas universais de lutas das organizações populares, decisivas aos combates pela soberania, emancipação social, travados sob condições trágicas em muitos Países, absolutamente incontornáveis em outros, como o Brasil.

Desejam assim inverter a equação, pondo-a de cabeça para baixo, uma espécie do avesso do que realmente pretendem, impor ao Brasil sua própria agenda política, exigindo muita lucidez das várias correntes em luta para, junto ao trato da diversidade nas questões sociais, erguer bem alto a defesa da unidade popular, fundamental em um País que ainda é muito desigual, com a soberania sob ameaças.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Ideologia da nova ordem

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:

Insubordinação do povo grego contra a desordem econômica mundial

Nesses últimos anos tem havido uma intensificação de opiniões, manifestações e de repulsa à atividade política em escala mundial, uma tendência agressiva, virulenta mesmo, com o objetivo de afastar o cidadão comum do engajamento nas causas transformadoras da realidade em que ele vive.

Um discurso falso - a política sempre determinou os rumos das sociedades em todas as épocas -, doloso porque está associado aos interesses de impedir a participação popular através de restrições democráticas, consolidando mais ainda o monopólio político, ideológico, nas mãos de reduzidos, poderosos grupos com capacidade decisória de abrangência global.

A perda relativa de autonomia dos Estados Nacionais submetidos às regras de organismos internacionais, antes razoavelmente representativas do equilíbrio internacional entre os Países, age como complemento a essa hegemonia e tem o mesmo fim, ou seja, a extraordinária concentração, centralização do capital financeiro a nível internacional.

Esse monopólio do poder, intimidação, dissuasão e intervenção, encontra-se associado à maior máquina de guerra que a humanidade já conheceu, coordenada pelos Estados Unidos da América, além de um fabuloso aparato midiático que controla a informação mundial, dissemina comportamentos, criminaliza opositores.

Assim, como em uma alquimia ideológica maligna, reivindicações generosas, auto-justificáveis, que sempre representaram anseios dos povos, nações, agora são usadas como justificativas de intervenção militar, estratégias para ambicionadas anexações territoriais como é o caso da Amazônia brasileira.

Por outro lado, a desconstrução da atividade política através da ideia de que "acreditar em mudar a vida da sociedade, e dos outros, não possui qualquer relevância para a sua própria vida", é um dos maiores venenos inoculados pela hegemonia neoliberal global.

Produzindo um individualismo doentio, enfraquecimento da solidariedade social, apostasia ideológica, o consumismo patológico, o incentivo ao aventureirismo político, caldo de cultura em todas as épocas às ambições totalitárias de tipo fascista.

As dramáticas consequências sociais da ordem neoliberal global, a crise da civilização por ela gerada, a sua aversão à humanidade, estão provocando a resistência das nações, sociedades, em defesa da liberdade, dignidade humana e até mesmo da sua própria existência.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Civilização em impasse

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


Se a prática da atividade política, como de resto na maioria dos ramos da atividade humana, baseia-se na análise concreta da realidade concreta, também não é menos verdadeiro que essa mesma humanidade é movida por esperanças fundadas nas causas, projetos, programas, que são formulados pelas correntes de pensamentos em todos os tempos, seja no passado, presente ou no futuro.

O historiador Eric Hobsbawm, falecido dias atrás, afirmou em recente entrevista, com a clareza dialética e visão universal dos fenômenos sociais, que a globalização, desregulamentação radical dos mercados mundiais, o fundamentalismo econômico da nova ordem mundial desses últimos vinte anos, levaram as sociedades ao grave impasse que estamos vivenciando, tendo como responsáveis os mesmos autores das grandes tragédias do século XX.

A crise financeira que tem jogado ao pântano social os Países da União Europeia e os Estados Unidos da América mas que se espalhou por todos os continentes atingindo as nações emergentes inclusive os denominados BRICS, dos quais o Brasil faz parte, é o ponto de inflexão e de estrangulamento do liberalismo ortodoxo capitalista responsável pelos fundamentos globais da economia assim como pela cara dessa atual civilização.

Os beneficiários desse processo foram os EUA que se tornaram, em virtude de circunstâncias históricas determinadas, a maior potência político-militar-cultural-ideológica que a humanidade já conheceu.

Ditando os rumos das estratégias financeiras globais, as diretrizes da geopolítica mundial, as informações centralizadas através de um complexo midiático planetário totalitário, fabricando em pouco tempo uma civilização à imagem desse império, condizente com os interesses do mercado desregulado.

Uma "sociedade volátil, de ligações frouxas e preceitos revogáveis" reduzida à tresloucada roda viva do consumo transformado em ideologia oficial, civilização de desigualdades, tensões, inquietações, medos coletivos e individuais, rejeição dos Estados nacionais, das identidades culturais e negação dos grandes valores humanistas, mergulhada na instabilidade crônica.

Mas essa civilização forjada a fogo e bala, do cidadão reduzido a um consumidor alienável está em colapso, num beco sem saída, recusada pela humanidade. Afinal, tinha razão Victor Hugo, gigante do pensamento universal: O homem, quando pensa, é um ser alado.

sábado, 29 de setembro de 2012

Ambições inconfessáveis

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


O recente encontro dos principais presidentes dos bancos centrais do mundo realizado na Basiléia concluiu que a crise financeira global será ainda mais forte e prolongada do que se imaginava. O espírito dominante foi de pessimismo e incertezas.

Porém as medidas de austeridade fiscal, cortes nos investimentos públicos, arrocho salarial etc. devem continuar demonstrando óbvia orientação conservadora nos governos das nações do primeiro mundo subordinados aos barões das elites financeiras mundiais.

De acordo com as conclusões surgidas dessa reunião a única certeza que se tem é que entraremos em uma rota de mais crises e desaceleração dos já péssimos fundamentos econômicos internacionais.

São sintomas inequívocos desse quadro a reversão das expectativas quanto a uma retomada moderada da economia norte-americana e as notícias de outro rebaixamento dos EUA por parte das agências internacionais de classificação de risco dos "bancos de investimentos".

Na Europa a débâcle vai atropelando as finanças onde os governos, em sua maioria reféns ou constituídos de ex-empregados dos monopólios financeiros, adotam brutais medidas de restrições dos gastos públicos, cortes salariais, provocando verdadeiros terremotos sociais, gigantescas manifestações de indignação, resistência popular, que se espalham pelo continente.

Nos EUA orientações econômicas ainda mais recessivas contra a maioria da sociedade, momentaneamente proteladas em razão das próximas eleições presidenciais de novembro, estão em curso.

Por outro lado a desconstrução da realidade, priorização de uma agenda social diversionista para com as identidades dos povos, tem sido a função precípua da mídia hegemônica mundial, produzindo um senso de alienação, marginalização, frustração dos indivíduos com a vida, grave atentado às utopias realizáveis.

Sem elas, diz Anatole France, os homens ainda viveriam em cavernas, miseráveis e nus, utopias que traçaram as linhas da primeira cidade, princípio de todo progresso, ensaio de um futuro melhor.

No Brasil setores retrógrados ligados ao grande capital financeiro planejam restrições democrático-institucionais, desmobilizar qualquer sentimento social relativo à soberania nacional, neutralizar a classe média, esmagar os movimentos populares unitários, já debilitados, além de outras ambições inconfessáveis, exigindo lúcida resistência.

sábado, 22 de setembro de 2012

Idade Média cibernética

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


Foi ontem mas parece que muito mais tempo nos separa das "profecias" alardeadas pelos arautos do neoliberalismo e suas proclamações solenes sobre o fim da História, as delícias da nova ordem mundial, inaugurando um novo tempo sem conflitos de classes, um mundo sem fronteiras, imperialismos, guerras, concebido na paz.

O professor Luiz Gonzaga Belluzzo no recente artigo "Desordem na engrenagem da civilização", publicado no Valor Econômico, demonstra que a "financeirização e globalização extremadas por essa nova ordem mundial reverteu tendências à maior justiça entre os povos, nações, observadas após a Segunda Guerra mundial até final dos anos setenta".

Ao contrário do que diziam os filósofos da pós-modernidade capitalista as pessoas se "distanciaram na realização da utopia de trabalhar menos para viver mais, os avanços da microeletrônica, informática, automação dos processos industriais não permitiram vislumbrar a libertação das fadigas mas aumentaram os mecanismos da bolha financeira", concentração do capital e exploração da força do trabalho.

Quanto ao consumo forjou-se uma compulsão dos indivíduos, associada a um mar de hipocrisia totalitário-conservadora, onde o fetiche de uma volátil obsolescência da mercadoria propõe-se a substituir as ideologias, os grandes valores universais erigidos pela civilização, a arte, a cultura, determinar os rumos da política que ficaria assim desgovernada, sem norte ou bússola, nivelada pelo pragmatismo mais vulgar.

Nesse período contemporâneo nunca se viram tantas guerras de variadas intensidades espalhadas pelos quatro cantos do mundo fruto de intervenções militares sob a batuta do maior império da História, os Estados Unidos da América.

Uma potência militar imperial em evidente sinal de declínio mas por isso mesmo no encalço de mais territórios, riquezas, acumpliciada por uma mídia mundial hegemônica que detém o monopólio da informação, movida pelo ódio, soberba, além de uma indisfarçável vocação belicosa, golpista.

O desemprego, crise econômica global, a soberania dos Estados nacionais aviltadas, a intolerância para com a cultura, religião alheia, são os novos cavaleiros do apocalipse em uma espécie de Idade Média cibernética, exigindo a resistência social, espírito rebelde por novos tempos de emancipação coletiva, lucidez para mudar a face desse novo milênio que se iniciou de forma tão dramática.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Eleições em cenário real

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


Vivenciamos a reta final do primeiro turno das eleições municipais em todo o território nacional onde se aguçam as lutas entre os campos políticos pelo poder como uma espécie de ante-sala às grandes batalhas de 2014 para presidente da República, Congresso Nacional, governos estaduais, Assembleias Legislativas.

É verdade que nesse período as paixões se acendem e raramente as grandes questões relativas aos problemas, projetos para as cidades brasileiras, são conduzidos sob a ótica mais lúcida que a cidadania exige.

No entanto, bem ou mal exercita-se a democracia de acordo com a realidade nacional e as condições políticas extremamente diferenciadas das várias regiões, dos milhares de municípios do País.

Pode-se dizer muitas coisas certas sobre a nossa ainda incipiente democracia, desde os abusos do poder econômico nas eleições, o clientelismo, as condições desiguais em que se encontram os partidos políticos, vestígios de mando do velho coronelismo com os seus crimes, ameaças de morte etc.

Mas quem já viveu sob regime ditatorial sabe que todos os males dessa atual realidade institucional nunca podem ser trocados pela longa noite do arbítrio que experimentamos durante vinte e um anos onde os partidos encontravam-se banidos, sindicatos, grêmios estudantis fechados, lideranças de oposição imobilizadas, clandestinas, presas, exiladas ou mortas, jornalistas e imprensa amordaçados etc.

O Brasil avançou nos últimos anos e, reconhecido internacionalmente, atingiu novos patamares de crescimento econômico onde foram retirados da faixa de pobreza absoluta milhões de brasileiros e outros milhões passaram a ter acesso a bens de consumo antes impensáveis.

Mas continuam terríveis as nossas dívidas sociais, os mecanismos necessários ao exercício à cidadania dos brasileiros através da escolha dos seus representantes ainda padecem de vícios que foram preponderantes no século passado.

Assim como há atualmente o esgotamento de um ciclo econômico, fundado basicamente no consumo da população, vai ficando claro que a própria dinâmica e necessidade do desenvolvimento nacional passa a exigir uma substancial renovação das ideias sobre a questão institucional em todas as suas esferas e ao exercício da cultura política de modo particular. Trata-se de um debate essencial que a implacável realidade objetiva vai tornando inadiável, urgente.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Amazônia e a nova geopolítica

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


Todas as recentes e confiáveis informações de fontes especializadas indicam que as últimas investidas, seguidas de saturação, do complexo industrial militar anglo-americano contra regiões da Ásia e Oriente Médio suscitam preocupações relativas ao futuro da Amazônia.

Tem sido motivo de estudos avançados o declínio militar e diplomático, relativo do centro hegemônico das nações do primeiro mundo que se encontram sob a orientação ou subordinação dos Estados Unidos e Inglaterra, apesar da feroz ofensiva armada, midiática, política, nos tempos atuais.

Por outro lado, são fortes os indícios que demonstram uma silenciosa, paulatina, ocupação internacional da região Amazônica com o argumento auto-justificável de constituição de reservas florestais e demarcação de (colossais) áreas indígenas, sob forte pressão forânea, onde vicejam milionárias organizações ambientalistas fundamentalistas internacionais financiadas por esse mesmo complexo financeiro-militar de caráter neo-colonizador.

A maioria dessas atividades, consumadas ou não, encontram-se principalmente nos espaços entre o Brasil e as regiões de fronteiras com a Colômbia, Venezuela e Guianas de acordo com as informações cadastradas por diversas organizações preocupadas com o futuro soberano das nações sul-americanas e do Caribe.

Com a curva econômica descendente dos Estados Unidos, associada à crise do ex-império colonial britânico umbilicalmente ligado às estratégias financeiras, militares, norte-americanas, responsáveis em última instância pela insanidade galopante dos círculos belicistas, estão redirecionando seus interesses a médio prazo para a Amazônia como indica, por exemplo, a revista Solidariedade Ibero-americana.

São também movimentos diretos de Washington várias ações desestabilizadoras como a crise política no Paraguai, o patrocínio à criação da Aliança do Pacífico, um novo bloco pactuado entre Chile, Peru, Colômbia e México, o sistemático combate à Venezuela buscando o seu isolamento etc.

Assim fica cada vez mais claro que ocorrerá, com a crise econômica global sistêmica, um vigoroso movimento financeiro-militar sob liderança dos EUA rumo ao fabuloso complexo amazônico, suas reservas naturais, florestas, imensuráveis riquezas minerais, biológicas. Se o Brasil deseja manter a soberania na região terá que alterar com urgência a sua política para a Amazônia.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Subjetividades mutiladas

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


O mais recente artigo do respeitado economista Luís Gonzaga Belluzzo sobre a educação é na verdade quase um manifesto contra a crise de civilização iniciada há algumas décadas que se aprofundou dramaticamente no início deste terceiro milênio.

Ao rebater a máxima que o cidadão precisa "conquistar uma boa educação para não ser um dos derrotados na atual marcha para o progresso" Belluzzo desmistifica tanto o sentido do que venha a ser a educação nos dias atuais quanto a relação inseparável entre essa educação qualificada e a conquista de um status privilegiado no mundo contemporâneo.

Tanto é verdade que nos Estados Unidos e na Europa as filas dos desempregados estão abarrotadas de "empregáveis" com curso superior, mestrado, doutorado e outros títulos.

Na Espanha, por exemplo, as estatísticas mostram que mais de 40% da força de trabalho jovem encontra-se sem emprego o que já pode ser considerada uma catástrofe para toda uma nova geração porque as pesquisas indicam que alguma recuperação econômica por lá, como em todos os Países mergulhados na crise econômica capitalista, dificilmente acontecerá antes de uma década, no mínimo.

Belluzzo afirma que seria estúpido negar a importância de uma boa formação qualificada para as pessoas e as nações mas os estudos e pesquisas internacionais sobre emprego, produtividade, distribuição de renda demonstram que a boa educação é incapaz de "responder aos problemas criados pelos choques negativos que vulneram a economia contemporânea".

Além da crise financeira global o economista revela outros fatores que estão provocando o desemprego como a desindustrialização estrutural, reestruturação das empresas impostas por feroz competição, crise fiscal e perda de eficiência do gasto público.

Mas Luís G. Belluzzo levanta outro aspecto importante nesse diagnóstico sobre a tragédia cultural que ronda o Terceiro Milênio exemplificado na "tecnificação dos indivíduos", qualificados é verdade, mas incapazes de compreender o mundo em que vivem em razão da pauperização das mentalidades, no massacre da consciência crítica das pessoas, produzindo "um exército de subjetividades mutiladas".

O economista denuncia a tentativa de castração das funções contestatórias individuais, sociais, que o sistema impõe para não sentir o que "se pensa" nem "pensar" o que se sente, produzindo um tipo de cidadão exclusivamente consumista.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O Brasil e a crise global

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


A crise econômica internacional continua se aprofundando, ampliando o espectro de vítimas entre as nações, populações, trabalhadores, jovens, aposentados, levando a recessão aos quatro cantos do mundo tendo como olho do furacão os Estados Unidos e a Europa.

O Brasil apesar de não se encontrar em situação dramática também foi atingindo por esse furacão financeiro, cuja consequência mais exposta tem sido a sistemática redução do crescimento econômico do País e a decorrente diminuição do PIB nacional, o produto interno bruto, a soma das suas riquezas produzidas.

É verdade também que os males que afligem o potencial do crescimento nacional possuem outras variáveis além da crise capitalista global, encontram-se ainda no modelo adotado nos últimos anos baseado principalmente no forte incentivo ao consumo da população.

Essa política de emergência tem servido como contenção às sucessivas ondas recessivas da economia mundial mas não vai resistir por muito tempo às investidas depressivas do cenário econômico internacional porque a capacidade de consumo da população tem limites e caminha para a saturação através do endividamento dos cidadãos.

Assim torna-se urgente ao País a adoção de políticas de crescimento através de fortes investimentos em infraestrutura de caráter estratégico como rodovias, portos, ferrovias, siderurgia, novas tecnologias nas áreas de produção dos setores público e privado etc.

É fundamental um gigantesco esforço para a recuperação, renovação dos setores da saúde, educação, formação de mão de obra qualificada, prioridades em ciência e tecnologia, condições decisivas para um novo projeto nacional de desenvolvimento que possibilite ao País alcançar outro patamar entre as nações no novo milênio.

Quanto à crise mundial ela reflete entre outras coisas que o sistema financeiro internacional não pode mais manter incólumes os mecanismos de brutal especulação, concentração do capital em detrimento das esperanças e dignidade da maioria das nações e da humanidade.

Nem os Estados Unidos continuar impondo os desígnios imperiais através do seu complexo industrial militar, da emissão tresloucada do dólar para financiar ambições geopolíticas por territórios, riquezas estratégicas, intimidando a paz e os povos. O descontrole do capital global, os delírios imperiais dos EUA, são, em perspectiva, graves ameaças ao Brasil.

sábado, 18 de agosto de 2012

Grandes desafios

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


Entre os mais difundidos discursos da atualidade, através da grande mídia hegemônica internacional, encontra-se sem dúvida o movimento ambientalista fundamentalista propagando aos quatros ventos o preconceito da antropofobia, verdadeira aversão às sociedades e à espécie humana.

Partindo de um tema auto-justificável e generoso essa corrente política ideológica divulga um verdadeiro pavor ao progresso humano, ao desenvolvimento econômico e social das nações, especialmente aquelas em vias de desenvolvimento como é o caso do Brasil.

Não foi por acaso que a ex-senadora Marina Silva recebeu alta homenagem durante a abertura dos jogos olímpicos de Londres. A casa real britânica e os Estados Unidos têm sido os grandes divulgadores midiáticos, ideológicos, financeiros, dessa cruzada contra os Países de crescimento histórico retardado especialmente os BRICS, Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul.

Imbuídos de típica atitude colonialista, EUA e Grã Bretanha consideram que não há mais espaços para o desenvolvimento econômico, aumento da qualidade de vida, usufruto das conquistas científicas, tecnológicas para a humanidade. Essas devem se restringir ao que já está consolidado entre as sociedades do primeiro mundo.

Mas as grandes dívidas ambientais do Brasil possuem origem inicial nas desigualdades sociais agudas como é o caso, por exemplo, de Maceió que viu crescer em poucas décadas mais de 300 favelas na periferia, assim como na maioria das cidades do País, onde se encontram indivíduos sobrevivendo de atividades irregulares.

Essas favelas são erguidas em áreas ambientais frágeis, no caso de Maceió principalmente em grotas e encostas típicas da geomorfologia da cidade por onde correm os rios em direção ao oceano, combinando habitações miseráveis, esgotos a céu aberto, intensa degradação ambiental onde vive a maioria da população da capital, desprovida de condições fundamentais ao gozo da cidadania.

As nossas urgências ambientais se encontram associadas às questões elementares ao direito de uma vida digna, ainda ausente para as grandes maiorias, apesar do crescimento econômico dos últimos anos.

Atravessamos a fronteira do novo milênio com os pressupostos tecnológicos de uma sociedade contemporânea mas carregando males de injustiças sociais seculares e o grande desafio será modificar essa realidade que limita o desenvolvimento, constrange a nação.

sábado, 11 de agosto de 2012

Um salto ao futuro

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


As eleições de outubro próximo guardam uma relação indissociável com o presente e futuro das cidades brasileiras, o enfrentamento das grandes questões que as envolvem desde o planejamento à superação dos abismos sociais retratados nas desigualdades dos espaços urbanos, além das responsabilidades dos poderes públicos municipais.  

Diz respeito também à construção de projetos associados ao crescimento econômico, produzindo riqueza, gerando empregos para as grandes maiorias que se encontram à margem dos benefícios que proporcionam o usufruto de uma boa qualidade de vida, direito inalienável de todos os cidadãos brasileiros, responsabilidade intransferível dos gestores públicos, especialmente aqueles eleitos pelo voto popular.

E não é possível falar em qualidade de vida dissociada de uma das principais dívidas dos estados e municípios para com as populações das cidades do País sejam elas pequenas, médias ou grandes, a dívida ambiental.

Porque um dos mais graves dos nossos problemas sociais encontra-se na degradação ambiental que atinge principalmente os bairros das periferias onde predominam chagas seculares como esgotos a céu aberto, ausência de saneamento básico, córregos e rios fétidos, lixo amontoado, resultando na proliferação de doenças contagiosas.

Além disso, sabemos que as nossas cidades apresentam uma dualidade insuportável que se expressa de um lado no tratamento urbanístico adequado aos bairros dos segmentos abastados ou de classe média mais privilegiada, e de outro lado nas condições deploráveis das regiões onde vivem os grandes contingentes da população.

A grande responsabilidade dos representantes eleitos pelo voto popular sejam eles vereadores ou prefeitos deve ser, associada a experiências exitosas de várias administrações municipais, promover nas novas circunstâncias históricas do crescimento econômico nacional, uma substancial reconfiguração qualitativa das cidades sem a qual é impossível falar em desenvolvimento verdadeiro.

As condições desse atual crescimento, mesmo afetado pela crise financeira mundial, estão a exigir um grande esforço criativo e uma radical transição dos cenários municipais que ainda retratam, no essencial, um País do século passado.

Quando o Estado nacional foi imobilizado por décadas pela estagnação econômica, pela ausência de ideias e recursos decisivos para um grande salto ao futuro.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

O discurso político

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


Entrevistado após convincente vitória de três sets a zero contra a forte equipe russa, Bernardinho, técnico da seleção brasileira de voleibol, afirmou ao jornalista "que não se ganha um jogo desse simplesmente com palavras bonitas, é decisivo o fundamento técnico, planejamento, a preparação psicológica dos jogadores".

O povo brasileiro tem uma identidade cultural com os esportes em geral, e muito especialmente com o futebol, uma prática esportiva coletiva associada à arte, estratégia, condições físicas etc.

As eleições deste ano para vereadores e prefeitos nos milhares de municípios do País também fazem parte de uma grande disputa onde o que se encontra em jogo são as bases fundamentais ao futuro da nação quer isso seja compreensível ou não a todos no universo dos candidatos ou na grande maioria da sociedade.

Assim o que está em jogo desde já é o avanço das condições de vida das maiorias nas pequenas, médias e grandes cidades e em perspectiva aponta para o confronto decisivo em 2014 à presidência da República, Congresso Nacional, governo dos Estados e Assembleias Legislativas.

No conjunto da obra trata-se de uma grande peleja entre desenvolvimento, inércia ou retrocesso nas esperanças progressistas do País, além das questões relativas à modernização, avanço para o exercício dos poderes Executivo e Legislativo.

Porque vão amadurecendo as condições objetivas para a transição do Discurso Político e mesmo com o crescimento econômico assimétrico entre as diversas regiões, Estados, a nação está mudando, a realidade passa a determinar outras e novas práticas políticas.

O que provoca aumento da consciência crítica da população, elevação do seu nível de expectativas em relação às suas condições de vida e dos seus representantes eleitos através do voto.

Mesmo assim pode-se dizer que o velho já caducou mas ainda não morreu e o novo se faz urgente mas ainda não se consolidou, gerando um momento de complexidade para o entendimento do cenário atual da prática política especialmente em meio às novas gerações.

Ainda vai conviver por certo tempo a equação contraditória entre "o discurso bonito" mas vazio, "sem fundamento nem planejamento", associado às iniciativas fisiológicas, clientelistas, e aquele comprometido com as novas exigências dos brasileiros que vão emergindo a patamares mais elevados ao exercício da sua plena soberania como cidadãos.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Os demônios de um império

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


O assassinato de doze pessoas, além de mais de trinta feridos, no estado norte-americano do Colorado durante a sessão de um novo filme de Batman, transformou-se em um trágico acontecimento mundial repercutido intensamente pela mídia internacional.

Esse tipo de manifestação de insanidade total associada a mortes em série já se materializou como rotina na sociedade americana há algum tempo e revela graves sinais de uma patologia social que se generalizou por todos os Estados Unidos.

Que não se explica só pelo fato de que qualquer pessoa nos EUA pode adquirir e receber pelo correio um fuzil metralhadora AR-15 último modelo, o que já é um absurdo, utilizado pelos marines em suas incursões invasoras por quase todos os continentes do planeta.

Na verdade a parte lúcida da sociedade norte-americana encontra-se encurralada há muito tempo, especialmente o universo cultural, e em seu lugar entronizou-se uma concepção majoritária, absoluta, de sociedade militarizada nos menores detalhes.

Quem se dá ao trabalho de observar a profusão de milhares de enlatados produzidos pela indústria do cinema nos Estados Unidos que passam tanto nas salas de cinema quanto na televisão percebe facilmente o incrível grau de alienação a que é induzida a população daquele país e ao mesmo tempo o alto estágio de paranoia, distorção da realidade, delírio coletivo a que ela vem sendo submetida.

Além disso, sua mídia que tem alcance global hegemônico é parte de um poderoso complexo de propaganda dos seus interesses e do grande capital financeiro internacional que determina os rumos de suas políticas interna e externa, tecendo invariavelmente uma versão particular, falsa sobre os fatos isolando, paradoxalmente, os cidadãos norte-americanos do mundo real.

Esses veículos ideológicos de difusão dos EUA ajudaram a aniquilar os valores pioneiros da sua fundação, exportaram em escala planetária uma gama de conceitos distorcidos, hipocrisias, medos, além do tal "destino manifesto" impondo às nações uma "civilização" centrada à sua semelhança.

Um império em crise econômica, brutalmente endividado, mas que possui atualmente um orçamento militar superior a todos os países da Terra juntos. Um Estado em guerra permanente contra o mundo agindo como se vivesse um pesadelo recorrente onde terríveis demônios interiores assumem dimensão real e o aterrorizam continuamente, indefinidamente.

sábado, 21 de julho de 2012

O livro de Manfredini "Vidas, veredas: paixão – memórias da saga comunista"

Publicada no blog de Walter Sorrentino a entrevista com o escritor Luis Manfredini:

Luis Manfredini, escritor, com vocês no Conversa.com. Juntos, o Departamento Nacional de Quadros do PCdoB e a Fundação Maurício Grabois, tivemos gratificante trabalho de produzir uma obra da qual Manfredini foi o organizador. “Vidas, veredas: paixão – memórias da saga comunista” é como vai se chamar e já está no prelo. Pedi a Manfredini para compartilhar com vocês o caráter desse trabalho e aproveitar para dar a conhecer aos amigos do blog esse escritor que admiro, além de ser grato companheiro de partido.


Caro Manfredini, bem vindo ao Conversa.com do blog. Acabamos de terminar um trabalho conjunto escrito por você. Ele se liga diretamente ao conceito de atual geração dirigente da corrente comunista no país, todavia pouco conhecida na singularidade das histórias pessoais. Fale um pouco do livro para o leitor.

Sim, foi um trabalho de fôlego que envolveu quase 40 entrevistas presenciais e umas 50 outras realizadas a partir de roteiros por escrito, além de ampla pesquisa bibliográfica. O foco central foi levantar e expor a trajetória pessoal desse amplo conjunto de revolucionários em sua luta contra a ditadura e pelo socialismo no Brasil, em sua maioria sob as dramáticas condições da clandestinidade e da repressão policial. E o resultado, que logo será posto ao julgamento dos leitores, foi um largo painel de como a corrente comunista enfrentou as lutas a que se propôs. O que chama a atenção na obra é que ela inova ao romper com a tradição que mandava examinar os revolucionários quase só como militantes, a partir de suas idéias e condutas políticas, relegando a plano secundário as pessoas que continham tais idéias e produziam tais condutas, deixando de perceber o quanto a personalidade de cada uma dessas pessoas, suas origens, suas influências muitas vezes determinavam os rumos de suas idéias e condutas. Então, o que verte desses perfis é humanidade pura, com seus ingredientes de drama, tragédia, hilaridade, aventura. Quantos conhecem essa faceta? Raríssimos. Agora conhecerão a vida que pulsava por trás dessa trajetória de lucidez e valentia. E certamente aprenderão com elas.

Então, foi um registro de caráter literário, uma obra para ser lida de fato por contingentes amplos, certo? Que significou essa experiência para você – uma revisita a tempos passados mas que se projetam para o presente e futuro.

Eu diria que foi um registro que articulou jornalismo e literatura. Jornalismo no sentido da fidelidade aos fatos. Ou seja, nada foi criado pelo autor. Literatura no sentido de apresentar literariamente os perfis, com alguma trama, com fluidez de linguagem, metáforas e uma estrutura narrativa mais livre. Tudo isso ajuda a tornar a leitura mais agradável e, portanto, acessível a um público mais amplo. Nada de jargões, de frases de propaganda, nada de teses. Quanto ao que esse trabalho significou para mim, devo dizer que me proporcionou a ocasião de revisitar meu próprio passado pela lente de outros. Ou seja: como um grande conjunto de companheiros viam e vêem tudo aquilo que vivemos juntos na luta contra a ditadura e pelo socialismo no Brasil. Nas interlocuções com boa parte dos entrevistados, esclareci dúvidas, troquei opiniões, sugeri reflexões sobre esses anos todos. Foi como mergulhar na história política do nosso País. Sobretudo foi reconfortante nos ver sob os mesmos trilhos do sonho e da rebeldia.

Aprecio teu veio literário. Esta é a segunda obra voltada para histórias pessoais na evolução política do país. As Moças de Minas e Memória de Neblina. Fale um pouco deste último.

Memória de Neblina é um romance sobre meninos e meninas que, sob a ditadura militar, conviveram com sonhos e pesadelos justamente quando estavam se formando para a vida, quando já não eram mais crianças, tampouco adultos. Hilários, dramáticos, amorosos, radicais, lutam e brincam a um só tempo. Nas frias madrugadas curitibanas, picham poemas nos largos muros de um colégio e, em seguida, se aventuram em estrepulias até o amanhecer. Dias depois, lá estão eles distribuindo panfletos em um bairro operário e discursando sobre bancos de praças. Nas trevas sob as quais vivem, o lúdico não abandona o revolucionário. Mais tarde, entre operários e camponeses, nos subterrâneos da clandestinidade política, já adultos, continuam semeando sua revolução. Penso que o Memória de Neblina é, sobretudo, um elogio ao pensamento humanista e transformador. Junto com o anterior, As moças de Minas, o romance compõe um largo painel das encruzilhadas da insubmissa juventude dos anos 60 e suas utopias de transformação do mundo.

Muitos perguntam o quanto é autobiográfico e eu estranho – sim e não. Estou certo?

Sim e não, é verdade. Um ficcionista do realismo escreve a partir da sua experiência pessoal, da experiência de outros – que testemunhou ou da qual ouviu falar. A isso acrescenta o que é capaz de inventar. É o “elemento acrescentado” de que fala o peruano Mário Vargas Llosa. E mesmo o inventado possui lastro na vivência do autor ou de outros. A tudo isso ele dá uma formulação literária, que possui regras próprias. Veja como a demência senil que ataca a memória do grande Garcia Marquez o impede de voltar a escrever. A memória é tudo.

Sim, creio que literatura é experiência somada, memória e cultura, com expressão formal singular. Dostoiévski dizia que o romance é a verdade da mentira. Me intriga essa fronteira entre ficção e realidade… Mas como nasceu esse anseio literário em tua vida, como se desenvolveu? Sei que você vem do meio jornalístico, repórter, cujo texto é claro, conciso, direto e eu aprecio. Mas daí à literatura, como foi o passo? Como a experiência militante contribuiu ou retardou esse anseio?

A literatura é antiga na minha vida, veio antes do jornalismo e da política. Nasci em Curitiba, em 1950 e, entre os oito e os dez anos de idade, eu meu amigo de infância Wilson Bueno singrávamos as garoas de Curitiba, tardes e tardes caminhando e arquitetando a vida futura, enquanto os outros jogavam futebol. No centro daquelas remotas deambulações, a escrita e a leitura. Almejávamos ser escritores. Aos dez anos editamos um jornalzinho mimeografado na Biblioteca Pública do Paraná. O “Rui Barbosa” teve uma única edição. Aos 13 anos, quando eu cursava o Colégio Militar de Curitiba, fundamos o Centro Juvenil de Letras de Curitiba e mergulhamos, junto com outros, no mundo dos escritores. Escrevíamos copiosamente e publicávamos crônicas e poesias nos jornais. Mas em 1966 nos separamos, Wilson Bueno e eu, ele com 17, eu com 16 anos: a política me alcançou com a força de um vendaval, colocando-me na Ação Popular e na luta revolucionária; Wilson mudou-se para o Rio, destino dos que desejavam ousar na vida literária, de lá voltando mais de dez anos depois para se tornar um dos grandes escritores brasileiros contemporâneos. Quanto a mim, segui a trajetória de tantos outros rebeldes daquela época tormentosa: movimento estudantil, breve experiência no campo, vida clandestina e luta política. Mas nunca abandonei o sonho literário. Mesmo sob as sombras, no início dos anos 70, não deixei de ler e escrever. Na época, era à poesia que me dedicava. Cheguei a escrever algumas que, segundo me disseram, seriam encaminhadas ao jornal Libertação, da AP. Mas a partir de 1971, aos 21 anos de idade, o jornalismo falou mais alto e a ele me dediquei quase que exclusivamente. A ele e à luta política, o que manteve a literatura em estado apenas latente por alguns anos. Depois, com As moças de Minas, publicado no final dos anos 1980, a literatura retomou seu fôlego, submeteu o jornalismo, que se tornou mero ganha-pão. Hoje, no início da segunda década do século XXI, já tendo publicado Memória de Neblina e trabalhando em outros romances, a literatura – penso que definitivamente – é a senhora à qual me submeto por inteiro. À literatura e à luta política, porque desta, obviamente, jamais me afastarei, embora a exerça de modo compatível com a idade que avança e limita.

Você é leitor contumaz? Que lhe parece o panorama literário da atualidade, no Brasil e no mundo?

O mercado alcançou em cheio a literatura. Escritores são contratados pra escrever qualquer coisa, qualquer bobagem, que as editoras, a custa de forte mídia (em que não faltam os elogios por encomenda), tratam de vender como best-sellers e tornar vencedores de concursos, e assim vender mais. Por isso, numa livraria, evito a estante dos mais vendidos. E, francamente, fico cada vez mais fiel aos grandes escritores do passado. Releio Machado, Graciliano, Érico Veríssimo, releio os maravilhosos russos, agora com tradução direta, sem a mediação do francês, e os americanos London, Faulkner, Caldwell, Saroyan, Roth, Auster, o excelente Cormac McCarthy, entre outros. Llosa, Garcia Marquez, Rulfo, os insuperáveis argentinos, o chileno Bolaños, os portugueses Saramago e Lobo Antunes, entre outros. Bem, a lista é grande. Acho que a literatura brasileira contemporânea, salvo honrosas exceções, ainda muito influenciada por modismos, por malabarismos meramente formais que, às vezes, a tornam muito próxima do texto publicitário. Mas quero vincar aqui a obra de um escritor paranaense, Wilson Bueno, morto tragicamente aos 61 anos, em 2010. Como disse anteriormente, fomos amigos de infância e adolescência, construímos juntos nossas trajetórias literárias. E ele se tornou brilhante, um dos mais importantes escritores brasileiros da atualidade. Dele, chamo a atenção para o notável Meu tio Roseno, a cavalo, uma obra-prima.

Conheço outros trabalhos editoriais teus, aliás todos muito belos, sobre o Paraná.. Você gosta de escarafunchar coisas da história. Fale um pouco deles.

Eu destacaria o livro Sonhos, utopias e armas, encomendado pela Secretaria da Cultura em 2010 para desmistificar a idéia – mais ou menos generalizada – de que o Paraná foi construído sem conflitos. Não foi. Aqui houve, por exemplo, três guerras camponesas, uma delas, a guerrilha de Porecatu, no início dos anos 1950, dirigida pelo Partido Comunista. Houve muitos movimentos grevistas e algumas insurreições. O Paraná foi palco de lutas encarniçadas, como o cerco da Lapa, durante a Revolução Federalista, entre 1893 e 1895. O Paraná é um estado interessante. Aqui houve uma experiência fourierista, entre 1847 e 1858, capitaneada pelo médico francês Jean Maurice Faivre (tema de um romance histórico que escrevo no momento) e outra anarquista, liderada pelo italiano Giovanni Rossi, sem falar nas reduções jesuíticas exterminadas pelos bandeirantes paulistas no século XVIII. Entre 2005 e 2011 produzi, para a Federação das Indústrias do Estado do Paraná )FIEP), a coleção Empreendedores do Paraná, de quatro volumes, com os perfis de mais de 40 empreendedores industriais, um trabalho que, de certo modo, acabou por revelar a ocupação e a construção de boa parte do território paranaense, ocorrida a partir dos anos 30 do século passado. Na política a história nos orienta e, na literatura, é inesgotável fonte de criação.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

O nó górdio

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


A sociedade brasileira tem sofrido nos últimos anos um intenso bombardeio ideológico através da grande mídia monopolista internacional e nacional com o objetivo de desviá-la dos grandes temas centrais, decisivos ao seu presente e a um destino promissor.

Não é por acaso que os movimentos populares, dos trabalhadores, têm sido instigados a uma agenda multiculturalista global aplicada indistintamente em todo planeta, desde a mais remota aldeia da gélida Finlândia até o árido sertão nordestino.

Cujos temas, que nunca variam, partem de demandas, algumas auto-justificavéis, generosas, e se transformam invariavelmente como se fossem o alfa e ômega ao futuro da humanidade tal é o poder de fogo unilateral desse complexo midiático hegemônico mundial.

Na verdade o que se pretende é a tergiversação, a intenção de desviar as energias sociais das principais questões relativas à soberania dos países, ao progresso social.

Porque são justamente a soberania das nações, o progresso dos povos que vêm sendo atacados a pauladas, levados de roldão pela fúria do capital financeiro globalizado, das políticas neoliberais em curso, absolutas nas últimas duas décadas em quase todo o mundo.

Recente artigo de Dilermando Toni e Sérgio Barroso para a revista Princípios manifesta grandes preocupações tanto com o presente da economia brasileira quanto a um porvir progressista do País que ainda não consolidou seu crescimento econômico.

Que continua subordinado aos interesses dos financistas e seus estratosféricos lucros através do tripé macroeconômico juros altos, câmbio flutuante e superávit primário elevado.

Considera o ensaio que o Brasil, nação de industrialização tardia, passou por terrível dominação financeira sob forças neoliberais e, apesar dos esforços, continuam a influenciar a vida econômica nacional agora com as intempéries da crise econômica mundial atingindo os países em desenvolvimento como é o nosso.

Com dados estatísticos, o texto afirma que os fatores econômicos internos são a nossa principal dificuldade exposta no ínfimo crescimento econômico e declínio da indústria de transformação motor de uma nação desenvolvida, independente.

Sem a retomada da industrialização, investimento, modernização em infraestrutura, educação, saúde, ciência, tecnologia o Brasil corre o risco de perder rara oportunidade de um histórico salto econômico, social, soberano.