sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Outono no Império

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste, no Almanaque Alagoas e no Santana Oxente:

Há dois grandes fenômenos mundiais que estão sacudindo a realidade em que vivem os povos em todas as latitudes, cujas consequências deverão alterar o atual contexto geopolítico planetário.
O primeiro tem sido o desembestado declínio econômico dos Estados Unidos imbricado à crise estrutural financeira capitalista global. O segundo, trata-se da agressiva política norte-americana, do grande capital, do pensamento único do mercado, na tentativa de frear essa tendência que parece irreversível.

Em curto espaço de tempo os Estados Unidos tem passado por múltiplas ondas de choques em seus fundamentos econômicos, culminando recentemente no impasse institucional acerca da elevação no próprio teto do orçamento interno, associado à sua astronômica dívida pública, dividindo ao meio as poderosas elites norte-americanas.

Essa crise estadunidense, econômica, política, social, da sua política externa, chegou a tal nível de grandeza que os chineses, normalmente silenciosos, talhados por milênios na sabedoria pragmática da prudência verbal, nos ensinamentos de Confúcio, resolveram afirmar dias atrás que “chegou a hora de constituir uma nova ordem mundial multipolar baseada na consolidação de polos geoeconômicos regionais”.

E diante do vexame semana passada entre Republicanos e Democratas sobre a votação do orçamento em referência à dívida dos Estados Unidos, especialistas europeus, norte-americanos disseram que as finanças mundiais tendo o dólar como moeda padrão “tornaram-se perigosamente instáveis”.

O que deve levar a acidentes financeiros trágicos, mas os Estados Unidos longe de tentarem novo caminho aumentam o poder bélico de suas tropas no mundo, resolvem ampliar a campanha ideológica da mídia global contra os BRICS, cujo alvo atual tem sido o Brasil utilizando-se, inclusive, das redes sociais.

Incentivando através de estratégias já usadas em outros Países, como uma espécie de laboratório de campo, convulsões psicossociais contínuas com o intuito de assegurar o condomínio financeiro-midiático-neoliberal oligárquico no País, evitar a construção de um projeto nacional de desenvolvimento com transformações sociais profundas, evitar o exercício de liderança solidária do Brasil junto aos novos polos geopolíticos regionais em contraponto ao anunciado outono do império.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

O Livro das Profecias

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste, no Almanaque Alagoas e no Santana Oxente:

Em 1997 o Senado Federal resolveu publicar um livro sobre o que proeminentes figuras nacionais pensavam como seria o novo milênio especialmente o século XXI e a esse esforço de futurologia denominou “O livro das profecias”.
Entre as dezenas de personalidades brasileiras convidadas estava o destacado dirigente comunista João Amazonas que em seu texto declarou que o futuro não pode desligar-se do passado, é do exame crítico dos tempos que vão ficando para trás que surgem as indicações, às vezes precisas, das perspectivas vindouras, dos rumos históricos.

Desenvolvendo o seu ponto de vista o então presidente nacional do PCdoB alertou que o século XXI seria o cenário de uma grande batalha, que já se encontrava presente no seio da sociedade humana, entre o novo que procura abrir caminhos ao progresso social e o velho que resiste a desaparecer utilizando-se para tanto de todos os meios, pacíficos ou violentos.

João Amazonas, experiente pensador político, disse que as massas iriam levantar-se contra esse sistema brutal mas que inicialmente iam carecer de perspectivas claras contra o neoliberalismo, seus aparatos ideológicos, como a grande mídia global.

Afirmava que no começo do século XXI haveria luzes e trevas, mais trevas que luzes, depois o quadro se inverteria e a humanidade viveria tempos de grandes esperanças.

Hoje as lutas nacionais, populares vão encontrando novas formas de resistência erguendo contrapontos à hegemonia neoliberal como o surgimento dos BRICS, contra seus aparelhos militares, ideológicos, políticos ao tempo que recrudesce a crise estrutural capitalista, a violência imperial por todo o planeta.

E como a consciência política do povo brasileiro é o grande inimigo a ser derrotado pelo rentismo e o pensamento único do mercado, vem sendo imposto à sociedade algo requentado já diagnosticado como “a sociologia do desgosto com o Brasil”, um eterno olhar colonizado, dependente, o transplante mecânico de fórmulas acadêmicas vindas da Corte.

Que rejeitam o estudo, a compreensão da realidade nacional, suas várias peculiaridades regionais, riqueza cultural, onde o protagonismo do processo civilizatório brasileiro seria um grande desvio porque nega as teses importadas. Por isso, e muito mais, as “profecias” realizaram-se, a luta é mesmo gigantesca.

sábado, 12 de outubro de 2013

Os rumos

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste, no Almanaque Alagoas e no Santana Oxente:

Um dos principais desafios ao Brasil atual é a constituição de um projeto nacional de desenvolvimento que tenha a suficiente abrangência para incorporar as grandes maiorias da sociedade brasileira articuladas em uma perspectiva de transformação social, amplas liberdades políticas, impulsionadas por uma estratégia de longo curso.
Um projeto de objetivos definidos porém flexível o bastante para a convivência de múltiplas forças políticas distintas mas convergentes no essencial nos caminhos de um País soberano, com persistentes avanços sociais, na estratégia da sua política externa baseada no respeito, autodeterminação dos povos, na cooperação multilateral junto às nações em desenvolvimento.

Durante as recentes jornadas de junho que mobilizaram milhões de pessoas nas ruas, mostrou-se concreta uma agenda substancial da sociedade baseada nas questões relativas à educação, saúde, transportes, onde é justo agregar o grave problema da segurança pública, além do recorrente tema da corrupção.

No entanto, a essa agenda social devem-se acrescentar outros elementos essenciais como investimentos pesados em infraestrutura, ciência, tecnologia de ponta, inclusive agregada aos produtos manufaturados nacionais, uma efetiva reforma urbana que privilegie o aumento da qualidade de vida da população etc.

Mas essas jornadas de junho mostraram que os efeitos da ação predadora do grande capital global também se fazem sentir no País através da sua cultura do pensamento único, da sua ideologia difundida intensamente pela grande mídia global hegemônica.

Que isola os indivíduos, provoca o fenômeno da ausência de relações com o passado, mesmo o passado recente, entre camadas das novas gerações surgidas durante a prevalência da nova ordem mundial, contrapõe-se à perspectiva da edificação de um futuro comunitário, ao tempo em que incute visões reducionistas típicas de um tribalismo urbano atomizado, num círculo vicioso de um “presente contínuo” como alertou o historiador Eric Hobsbawm.

Assim, um projeto nacional estratégico soberano, de grandes transformações estruturais, sociais, inclusivo às minorias, é a alternativa insubstituível à arquitetura social maligna, fomentada pelos imperativos do rentismo, antagônica às utopias da nação, aos sonhos coletivos da emergente sociedade brasileira.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Uma experiência valiosa

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste, no Almanaque Alagoas e no Santana Oxente:

A Constituição de 1988 completa vinte e cinco anos de existência fazendo parte do mais longo ciclo, ininterrupto, de democracia na História do Brasil o que é, sem dúvida, um marco significativo na trajetória da nação.
Durante esse período o País vivenciou grandes batalhas políticas onde não faltou a participação ativa, nas ruas, de centenas de milhares de pessoas, que em vários momentos converteram-se em milhões, exigindo melhores condições de vida, atuando decisivamente nos rumos institucionais da vida nacional.

É uma Constituição surgida do clamor social pelas mais amplas liberdades políticas em uma nação sufocada pela total ausência delas, quando se teve que reconstituir, como uma plástica pós-traumática, o tecido democrático, sistema de governo, os direitos sociais, as relações jurídicas, comerciais, empresariais, internacionais, o pacto federativo etc.

Uma carta magna que também mostrou-se imperfeita, com lacunas, insuficiências, seja pela correlação de forças políticas à sua época ou em virtude das novas exigências surgidas num País em constante transformação mas que tem assegurado o pacto nacional.

Tudo isso em um período dramático de graves instabilidades internacionais onde os negócios do grande capital global, da governança mundial, representados através da grande mídia hegemônica, com o seu pensamento único, procuram defenestrar os direitos sociais, agredir a soberania dos povos.

Mesmo nessa época tempestuosa, o quinto maior País do mundo em dimensões continentais, ator geopolítico estratégico, a oitava economia do planeta, move-se pelas utopias coletivas de uma sociedade emergente, na mobilização de milhões de pessoas por legítimos anseios, avanços estruturais inadiáveis.

Têm sido imensos, mas permanecem em vão, os esforços de setores reacionários, internos e forâneos, para anular essa riquíssima experiência das grandes maiorias da nação de persistir trilhando os caminhos das transformações sociais, na defesa da soberania do País, protagonizando a luta pela paz mundial.

Já se disse que os povos só aprendem através dos itinerários por eles mesmos traçados, sendo inúteis as imitações ou transplantes de outras realidades porque revelam-se artificiais. Nesse sentido, o povo brasileiro vem sendo artífice do seu próprio destino histórico.