sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Tributo a um amigo

Quando soube do falecimento do Paulo “ventinha” logo me veio à cabeça a vontade de escrever alguma coisa sobre esse grande amigo de largo tempo em minha vida. Mas alguma coisa estava me impedindo e não sabia exatamente o que era.

Aos poucos fui entendendo. Porque dizer alguma coisa sobre esse caro amigo me remete a uma certa reflexão sobre as coisas da vida. De tempos passados e de épocas às vezes felizes, às vezes dramáticas, da construção de sonhos e utopias com causas pelas quais tem valido a pena lutar.

Mas quem trava batalhas contra moinhos que não são de vento precisa de convicção, alguma sorte e vários amigos.

E aí foi que entrou na minha estrada o velho Paulo ventinha. Em julho de 1973 o Paulo entra definitivamente na contabilidade das perdas e ganhos da minha existência. Mais precisamente no departamento dos ganhos.

Quando uma feroz repressão da ditadura militar se abate contra os estudantes e correntes revolucionárias que atuavam em Alagoas.

Em um belo dia de domingo de julho, um sol esplêndido, a moçada nas praias da Pajuçara e Ponta Verde, Maceió nunca mais seria a mesma.

Porque nessa manhã de sol com promessas de biquínis deitados sobre a areia, a violência, a brutalidade, as covardes agressões físicas, os lares invadidos, mostravam o verdadeiro terror em sua plenitude quando grupos especiais do DOI-CODI em trajes civis sequestravam das suas residências, lideranças estudantis da Universidade Federal de Alagoas, secundaristas, profissionais liberais, trabalhadores, em plena luz do dia.

Da resistência à necessidade da clandestinidade foi uma questão de horas. Era preciso que pessoas que não estivessem na linha de fogo dos órgãos de repressão ajudassem nessa quixotesca batalha.

Com um grupo de amigos, Paulo Roberto, que já não fazia parte do movimento estudantil, entrou em cena naquele teatro de operações que na verdade mais parecia um filme de terror tropical nordestino.

Disfarçados e dentro de um velho fusca branco, para cima e para baixo, tentávamos lutar, defender os companheiros, denunciar as prisões etc.

Mas as prisões em plena luz do dia e nas ruas, sequestros, invasões de residências, o diabo a quatro, se multiplicavam.

Por fim, só restava a possibilidade de conseguir evitar o próprio sequestro e desaparecer nos subterrâneos da resistência.

Permaneci alguns dias na casa dos pais do Paulo ventinha, creio estavam no interior, à exceção da sua avó, cuja lembrança mais forte é uma saborosa sopa de feijão com excelente tempero devorada no sótão da residência da família do Paulo.

Mas a bem da verdade e das minhas lembranças, devo dizer que o Paulo já guardava, na realidade escondia muito bem escondido, uma enorme mala, cujo conteúdo nem eu mesmo sabia, que era o arquivo dos documentos estaduais do PCdoB. Na verdade o Paulo foi, em pleno fascismo, um aliado certo dos comunistas, contribuindo financeiramente e conseguindo locais para reuniões clandestinas.

Assim, lá estávamos sob o mesmo teto, eu e o arquivo do PCdoB, e lá fora circulando em camionetes tipo Veraneio os agentes da repressão que é bom que se diga em nada pareciam com as imagens usuais que se fazem sobre esse tipo gente. Eram jovens cabeludos, atléticos, com jeito de surfistas, tatuados, cheios de gírias, com sotaque sulista, totalmente infiltrados no meio da juventude.

E confesso, com um calafrio histórico, que em vários momentos dentro do tal fusca passávamos por eles que não paravam de circular pelas ruas da cidade, pelos bares e orla marítima da cidade.

Nesse período já se sabia entre as esquerdas, e na população, que existia na cidade centro de torturas em plena atividade.

E Paulo ventinha ali impávido, na solidariedade à resistência, escondendo comunistas perseguidos, numa situação em que se ele tivesse recuado qualquer um teria compreendido, até porque raros, muito poucos foram os que se propuseram a tal loucura de apoiar estudantes comunistas perseguidos por uma repressão que não tinha qualquer tipo de limite, com uma imprensa totalmente amordaçada e algumas denunciando a prisão de “terroristas em Alagoas”.

Enfim, tive que sair de Maceió porque o cerco estava apertando de maneira sufocante mesmo tendo consciência que não havia na época qualquer outro lugar no Estado de Alagoas ou no território nacional que também não fosse sufocante ou no mínimo perigoso.

Mais uma vez conto com a solidariedade destemida de Paulo ventinha que já tinha recrutado alguns amigos, como o hoje arquiteto Mário Aloísio, na preparação da fuga de Maceió em direção à zona rural.

A essas alturas eu já estava frequentando assiduamente malas de carros, havia um outro veiculo maior, com uma mala mais confortável - as circunstâncias fazem o conforto - que não me lembro da marca de jeito nenhum.

E assim, suando frio como quem está com febre sempre, cheio de sobressaltos, sustos de toda a ordem, fui seguindo em direção ao destino da minha vida. E nunca, jamais vou me esquecer que sem a ajuda solidária de Paulo ventinha e seus reduzidos amigos naquela empreitada corajosa e absurdamente arriscada, eu poderia dar o testemunho que faço hoje sem as marcas da tortura, prisão ou coisa pior.

E sabendo que a sorte do Paulo e seus amigos poderia ser idêntica à minha, ou seja, poderiam ter sofrido o mesmo que eu poderia vir a sofrer.

Depois, regressando a Maceió, contei com a mesmo solidariedade de Paulo ventinha, porque o pavor na cidade era tamanho, e justificável, que ninguém se habilitava a tomar uma cerveja com os comunistas em qualquer bar em Maceió. Menos é claro o Paulo ventinha e seu reduzido grupo de amigos infensos ao terror instaurado na cidade.

Daí em diante cresceu em mim o sentimento de admiração pelo Paulo ventinha que nunca sofreu o menor abalo. Além disso, é a gratidão dos perseguidos. Mas eu também fui percebendo, com a maturidade, que o Paulo ventinha carregava consigo a alma genética dos imbuídos pela generosidade, dos que cultivam com a maior naturalidade e desinteresse a amizade fraternal. É só perguntar aos que o conheceram.

A vida foi me conduzindo por um caminho que me parece hoje traçado desde sempre como uma espécie de determinismo existencial ou sei lá o que mesmo.

O Paulo continuou a sua vida por aqui por ali, casou, separou, casou de novo etc. Muitas vezes nossos caminhos se encontravam, outras vezes passávamos anos imersos em nossas vidas distintas.

Mas eu acho que o Paulo ventinha sempre permaneceu fiel aos seus princípios, corajoso como sempre foi e amigo dos perseguidos. Penso que lutou à sua própria maneira, contra o “sistema” que repudiou em julho de 1973.

Ouvindo o seu blues, o seu jazz, na resistência da contra-cultura. Sempre com a sua tolerância, a sua inclinação à conciliação, o seu grande humanismo e uma grande dose de autenticidade consigo próprio, coisa rara.

Assim, é que eu termino de falar sobre esse grande amigo. Da maneira que eu gostaria, narrando os fatos da vida, a luta combatida, e acima de tudo celebrando a rica experiência de ter conhecido um grande ser humano e um bom amigo, o Paulo ventinha. Um grande e sereno abraço Paulo.

Uma oportunidade histórica

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho e na Tribuna do Sertão:


Estamos presenciando um mundo convulsionado por inúmeras agressões militares e uma grave crise econômica da nova ordem mundial afetando duramente os países do centro capitalista, em especial os Estados Unidos e a Comunidade Europeia, mas cujas consequências atingem todas as nações em todos os continentes.

Essa crise atual é uma decorrência do terremoto financeiro mundial de 2007 iniciado nos EUA com o estouro da bolha dos bancos de investimentos, precipitando uma recessão que se aprofunda cada vez mais.

A saída encontrada pelo governo norte-americano à época foi a da estatização das dívidas privadas dessas mega corporações especulativas de âmbito global.

Mas a situação foi se degradando e os fatores desestabilizadores econômicos passaram do âmbito dos bancos de especulação às dívidas públicas dos Estados nacionais.

O remédio aplicado pelos ultraliberais que ainda comandam os centros decisórios das finanças e da política mundial foi o de profundos ajustes fiscais, o que significa cortes violentos nos gastos sociais, desemprego em massa, agressões contra direitos sociais históricos, contra as aposentadorias, e a paralisa econômica.

Esse foi até agora o caminho dessa crise do capitalismo comparada, em termos, à tragédia econômica e social de 1929-1930. A verdade é que em sua origem e na adoção errática de soluções, a crise é de natureza e orientação fundamentalmente política.

É nesse contexto que o presidente nacional do PCdoB Renato Rabelo publicou, em consonância com as posições do partido, o que pode ser considerado um manifesto à nação brasileira.

Em “A crise financeira e a oportunidade histórica” ele discorre sobre a tendência de uma “transição sistêmica na esfera do poder mundial”, apóia o governo Dilma na redução contínua das taxas de juros, aumento do IPI sobre carros importados, lançamento do Programa Brasil sem Miséria, “como medidas nada elementares, mas indicativas de uma política econômica efetivamente soberana”.

Defende um novo pacto político com o governo, com base na mobilização social dos trabalhadores, do empresariado produtivo e por um “Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento”.

Afirma que desde que se tome rapidamente uma “grande iniciativa política” a atual crise econômica pode abrir as portas para um largo, acentuado e bem mais elevado período de desenvolvimento do Brasil.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Segurança alimentar é desafio em Alagoas



Matéria da jornalista Valdete Calheiros, publicada na edição de O Jornal do último domingo, 25/09, destaca que Alagoas tem 633.650 pessoas em situação de extrema pobreza, o que representa 20,3% da população total do Estado, segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

O Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) realizou um levantamento sobre a situação de insegurança alimentar em 2009. É o mais recente estudo no país sobre o assunto. Em Alagoas, 15% dos domicílios estão em situação de insegurança alimentar leve, 24% em situação de insegurança alimentar moderada e 9,3% em situação de insegurança alimentar grave.

Por definição, segurança alimentar e nutricional é a garantia do direito de todos ao acesso a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente e de modo permanente, com base em práticas alimentares saudáveis e sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais.

Renato Rabelo: A crise financeira e a oportunidade histórica

Artigo de Renato Rabelo, presidente nacional do PCdoB, publicado no Vermelho:


Está em curso o que podemos chamar de uma segunda fase da crise financeira marcada pelo aprofundamento dos problemas de ordem fiscal nos Estados Unidos e Europa, cujas sinalizações de solução não são positivas: os gestores da crise ainda se encontram no núcleo do poder norte-americano e ainda não ensejaram soluções novas aos problemas econômicos criados. O impasse político e econômico é consequência deste modo predominante.

A crise acelera uma “transição sistêmica”, fortalecendo novos blocos de poder, entre eles o BRICS – a articulação formada por Brasil, Rússia, Índia, África do Sul e China. O sinal interessante do momento está na própria sinalização de ajuda financeira à Europa pelo BRICS. Neste contexto de um mundo em transição, outros dois elementos são essenciais, sendo eles a formação de um bloco de países governados por alianças progressistas na América Latina e outro, de caráter reacionário, na resposta lenta do hegemonismo norte-americano à sua própria decadência evidente nos empreendimentos militares do Iraque, Afeganistão e recentemente numa guerra colonial para domínio da Líbia.

Como se comportar o Brasil diante deste quadro? Para o PCdoB, esta crise exige audácia do governo brasileiro no sentido de aproveitar este “cotovelo da história” para avançar no rumo de mudanças e que, concretamente, abra caminho à realização de um “Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento”. Aproveitar esta chance não é um movimento novo, algo a se inventar. A Revolução de 1930 e as ações do governo Lula no início da crise são bons exemplos que aparecem no retrovisor da história e que podem servir de desenho a uma ação ousada. E de certa forma isso tem sido feito pelo governo de Dilma Rousseff, que desenvolve grande esforço na busca de alternativa nova.

As ações do governo Dilma diante do agravamento da crise se dão num quadro de fortalecimento de sua própria autoridade. O lançamento do Programa Brasil sem Miséria, a redução da taxa de juros, o aumento do IPI sobre os carros importados são sinais positivos nada elementares, assim como é a própria gestão conjugada das políticas monetárias e fiscal, abrindo campo para uma significativa queda da taxa SELIC, fortalecendo a convicção em torno de uma engenharia política e econômica que capacite nosso país chegar em 2014 praticando taxas de juros mais racionais e próximas de patamares internacionais.

Pouco se diz, mas muito se sente – diante da reação do “mercado” e de setores da grande mídia, sobre o real significado da possibilidade de se praticar taxa de juros a níveis internacionais até 2014. Para o PCdoB, o movimento é claro e pode ser sintetizado numa arrumação de médio e longo prazos capaz de desmontar o acordo tácito que configurou o Plano Real. Aí, na prática, passou a se impor um “protocolo” na relação entre o governo e o “mercado” financeiro, garantindo a prevalência de ganhos baseados na – inexplicável – maior taxa de juros do mundo. Este acordo tácito dominante possibilitou o trânsito dos ganhos com a inflação para outro – onde os juros, e a política monetária, tornaram-se a base social do “acordo”. Essa transição a um novo pacto político agora não virá espontaneamente, e a mobilização social e o fortalecimento da luta dos trabalhadores, e o apoio aos empresários da produção são parte essencial deste todo complexo. Este é o caminho para a queda declinante da taxa de juros tornando possível a vigência de uma política monetária que sustente um desenvolvimento acentuado por largo período.

Ao PCdoB, diante deste quadro, cabem esforços para a realização de tarefas importantes. Fortalecer o governo Dilma e o núcleo mudancista. Defender o Brasil e sua economia ante os efeitos da crise. Neste sentido, apoiar e estimular as lutas e mobilizações do povo e dos trabalhadores. O aumento da responsabilidade do PCdoB diante da nação e do povo são demandas normais de uma força em crescimento e partícipe do governo nacional. Não nos esquivaremos de nossas obrigações chanceladas há quase 90 anos.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A guerra pelos recursos não renováveis

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho e na Tribuna do Sertão:

      Nióbio: usado na indústria aeronáutica e aeroespacial, na construção de dutos para transporte de água e petróleo a grandes distâncias etc. O Brasil detém 98% das reservas mundiais, grande parte na reserva indígena Raposa Serra do Sol.


Em várias manifestações que aparecem diariamente na grande mídia hegemônica internacional, convocando ao engajamento “espontâneo” parcelas da população, há sempre um denominador comum.

Elas são promovidas em escala mundial e tentam esconder as verdadeiras causas das grandes lutas populares das sociedades contra a brutal crise financeira global cujas consequências estão recaindo especialmente sobre os trabalhadores, segmentos médios e aposentados, principalmente na Europa e nos EUA.

As redes sociais, por outro lado, produtos da sofisticada revolução tecnológica na informática, estão sendo divulgadas como uma nova forma de comportamento, um tipo inteiramente novo e elevado de exercício da democracia.

Na verdade elas representam, como outras inovações espetaculares na recente história da humanidade, facilitadores da comunicação entre as pessoas, como foram às suas épocas o telégrafo, o telefone, o rádio, a televisão, o satélite. Mas subordinada aos interesses do mercado, do capital internacional e ao controle estratégico, especialmente das grandes potências imperiais.

Em recente entrevista divulgada pela tevê a cabo, um especialista em inteligência norte-americana falou sobre os altos investimentos dos EUA no monitoramento e na participação do que eles consideram “a guerra da Internet”.

Já o criador do Facebook foi tido como um dos mais jovens bilionários do planeta. Assim, como disse o deputado comunista pernambucano Luciano Siqueira, nessa questão nem tanto ao mar nem tanto à terra.

Os feitos da ciência e tecnologia, frutos da criação humana, são renováveis e potencialmente infinitos. Mas os que não são renováveis são os inúmeros recursos naturais do planeta e aí o Brasil é detentor de uma extraordinária riqueza agressivamente cobiçada.

Em 1994 o ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger declarou: “Os países industrializados (primeiro mundo) não poderão viver da maneira como existiram até hoje se não tiverem à sua disposição os recursos naturais não renováveis do planeta. Terão que montar um sistema de pressões e constrangimentos garantidores da consecução dos seus intentos”.

Kissinger, estrategista privilegiado do império, acertou. Todas as atuais agressões militares promovidas pelos EUA e “coalizão” perseguem dois objetivos: os geopolíticos e os recursos naturais não renováveis do planeta.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Mariátegui, grande pensador latino-americano


Com a retomada da integração da América Latina, com o desenvolvimento econômico-social e governos progressistas ou desenvolvimentistas, vai reaparecendo para um público mais amplo aqueles que só eram conhecidos pela esquerda e a intelectualidade.

Grandes militantes, pensadores e ativistas políticos, que deram contribuições à luta de seus povos e que eram conhecidos internacionalmente, especialmente na Europa e nos EUA. É verdade que há intelectuais que já tinham destaque e são conhecidos do grande público brasileiro, como Jorge Luis Borges, Gabriel Garcia Márquez, Pablo Neruda, Julio Cortázar, Mario Vargas Llosa, mas o número é muito maior, como é o caso, por exemplo, do peruano José Carlos Mariátegui.

Em uma curta e intensa vida, o jornalista, teórico e dirigente revolucionário peruano José Carlos Mariátegui (1894-1930) uniu pensamento e ação, arte e política, jornalismo e militância, construindo uma obra que fez dele um dos mais originais pensadores marxistas latino-americanos.

Sua obra teórica influenciou até mesmo a Revolução Cubana e segue inspirando movimentos que lutam pela igualdade e pela emancipação em toda a América Latina. Entre os vários livros que escreveu, destacam-se Siete ensayos de interpretación de la realidade peruana e La escena contemporânea.

Mariátegui aliava o trabalho teórico ao gosto pelos debates das vanguardas artísticas e o trabalho como jornalista, que no início da carreira o levou a escrever sobre tão diversos assuntos como notícias policiais e outras. Publicou poemas, fundou revistas de humor e arte. Mas logo passou a se dedicar com convicção à causa socialista, fundando o Partido Socialista Peruano, escrevendo como correspondente na Europa e criando publicações com forte conteúdo de crítica social. Entre elas, a célebre revista Amauta, palavra quíchua que significa sábio, sacerdote, e que se tornou uma espécie de alcunha do próprio Mariátegui.

Fazer política é passar do sonho às coisas, do abstrato ao concreto. A política é o trabalho efetivo do pensamento social: a política é a vida. Admitir uma quebra de continuidade entre a teoria e a prática, abandonar os realizadores a seus próprios esforços, ainda que concedendo-lhes uma cordial neutralidade, é renunciar à causa humana. A política é a própria trama da história”.

                                                                                  José Carlos Mariátegui


Em seu livro Do sonho às coisas – retratos subversivos estão reunidos escritos de Mariátegui em que analisa um leque de personagens e situações que vão de Mussolini e a ascensão do facismo a Mahatma Gandhi e a luta pela independência indiana, John Maynard Keynes e o tratado de Versalhes, Máximo Gorki e a Revolução Russa, H. G. Wells e a visão de mundo do império britânico, dentre outros.

domingo, 18 de setembro de 2011

111 anos de Gilberto Freyre: Um homem que entendeu o Brasil

Reproduzo aqui parte do longo ensaio de Aldo Rebelo publicado em 2000, ano do centenário de nascimento de Gilberto Freyre:


Era o ano de 1933, da ascensão de Hitler ao poder na Alemanha. O pintor fracassado iniciava sua escalada pelo estabelecimento da supremacia da raça ariana, destinada a limpar o mundo das impurezas do sangue e da alma. Os eslavos, por exemplo, duplamente contaminados na Rússia, pelo sangue e pelo bolchevismo contra o qual o führer se tomara de ódio.

A depressão econômica mundial desdobrava-se em depressão do espírito diante do êxito inicial da empreitada nazista. A influência do Terceiro Reich não tardaria em espalhar modelos, cópias e versões em toda a extensão do planeta. Com mais ou menos sucesso o modelo alemão arregimentava simpatias para estigmatizar o ferrão ariano no resto e no rosto da humanidade, sustentando a superioridade de um raça sobre outra.

O Brasil tateava em busca de suas identidades. Identidade de povo e identidade de nação. O embaixador inglês chegou a registrar por esse tempo que tínhamos mais orgulho em ser reconhecidos como pernambucanos, mineiros ou gaúchos do que propriamente por brasileiros. Quem sabe esse regionalismo desprovido de nacionalidade apenas refletisse a dificuldade no reconhecimento da segunda identidade, a de povo, ou de povos, de que são compostas as nações.

Para alguns, éramos um caso quase perdido. Não tivéramos a fortuna da colonização inglesa, holandesa ou francesa. Descendíamos do pior europeu, o português, e do pior português, o degredado, criminoso, sifilítico. Escória da Europa e do seu próprio país. Escória da escória, portanto.

E como para demonstrar seu estágio de degradação na escala genética e moral, aqui o português misturou-se ao índio, etapa indefinida entre bicho e gente, a quem a Igreja muito demorou em reconhecer a existência de alma. Ao deformado português o índio acrescentara sua preguiça, aversão ao trabalho, indisciplina e outros trejeitos mórbidos.

A situação perdia-se de vez com a incorporação do africano, cuja inferioridade e inadaptabilidade para a civilização e o progresso, o antropólogo baiano Nina Rodrigues tentara provar "cientificamente". O nosso caso era feio, na observação mordaz de Darcy Ribeiro. A apreciação negativa não escapava ao senso comum, reduzia a estima individual e coletiva, embotava nossas esperanças de desenvolvimento material e espiritual.

Joaquim Murtinho, o ministro da Fazenda do presidente Campos Sales, ao explicar sua política econômica, tão parecida com a atual e tão elogiada pelos governantes de hoje, não se escusou em dizer: "Não podemos tomar os Estados Unidos da América como tipo por não termos as aptidões superiores de sua raça, força que representa o papel principal no seu progresso industrial".

Vale a pena transcrever o comentário de Gilberto Freyre em Homens, engenharias e rumos sociais a propósito da afirmação de Murtinho:

"Era o brasileiro a sentir-se incapaz de vir a afirmar-se nação moderna tipo de nação, para Murtinho, idealmente caracterizado pelos Estados Unidos pelo fato pode-se sociologicamente caracterizar de estar situado em espaço tropical e de ser de raça inferior à dos anglo-saxões. O trópico e a raça considerados vilões.

Entretanto, quem recuasse dois séculos a concepção de tempo tríbio que nos facilite tal mobilidade se depararia com o Nordeste do Brasil nisto continuando os bandeirantes ou os paulistas desmentindo estes dois mitos. Primeiro, pelo fato de vir, desde o século XVI o século em que o bandeirante começou a ser uma afirmação da capacidade do brasileiro para tornar-se nação construindo, além de uma economia, uma civilização, que despertaria no mesmo século e no seguinte, cobiças de europeus nórdicos que tentariam incorporá-las aos seus impérios. Segundo, por ter a gente ela própria já biologicamente tríbia do nordeste branca, ameríndia, negra demonstrado ser gente, além de vigorosa, consciente de sua pré-brasileiridade, pela maneira com que repeliu franceses e holandeses. Pelo modo por que escreveu a sangue, nas batalhas dos montes Guararapes, o endereço certo do Brasil: uma nação só e não duas ou três. Uma nação e não outra e imensa Java com uma minoria de nórdicos dominando do alto, maltratando do alto, multidões de gentes tropicalmente morenas".

Murtinho expressava o pensamento vigente na república oligárquica dos fazendeiros de São Paulo, tal como hoje a depreciação do povo e do país espelha a mesma ilusão no capitalismo anglo-saxão na sua forma neoliberal. Para trás ficara a promessa de república mestiça e de esperança democratizadora encarnada por Floriano Peixoto, ele próprio caboclo nordestino, como gostava de se reconhecer, e nesta condição exaltado por intelectuais republicanos e progressistas como Raul Pompéia e Artur Azevedo.

O desconforto com as cores do Brasil era tamanho que, a partir das doutrinas sobre a inferioridade biológica de negros e índios, esposadas por Nina Rodrigues, pelos influentes críticos Silvio Romero e José Veríssimo e pelo sociólogo Oliveira Viana, a elite do país acreditava que a mestiçagem condenava o Brasil ao fracasso.

A nenhum deles foi possível safar-se do pessimismo da encruzilhada de raças que nos fizera população mas nos negara fisionomia e identidade de povo. Os mais otimistas fundavam suas esperanças na possibilidade do embranquecimento, espécie de conspiração que levasse para a clandestinidade da pele o que já estava irremediavelmente presente no sangue.

Casa-Grande & Senzala saiu, em 1933, nesse ambiente de treva que nublava a ciência social. A Revolução de 30 empreendia uma etapa modernizadora do Brasil, abrindo caminho para novas idéias e debates sobre a formação e a identidade do povo brasileiro, mas ainda sobreviviam discursos conservadores, quase niilistas, que nos degradavam como nação.

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O escritor pernambucano rompeu com este mito e valorizou sobremaneira a importância do índio e do negro na formação do povo brasileiro. Anos mais tarde, um de seus maiores admiradores, que é também um dos mais audaciosos intérpretes do Brasil, Darcy Ribeiro, sentenciou: "Mestiço é que é bom" até porque a mistura de raças é a mais eficaz arma de combate ao racismo.

Gilberto Freyre surge aí com a temeridade dos heróis e a pureza dos santos, justamente ele, antípoda de santo e de herói, para tornar exaltação o que era lamento; em virtude, o defeito; em harmonia a deformidade; em promessa a negação; em orgulho a ser ostentado o que a vergonha ordenava ocultar. De uma massa de população majoritariamente mestiça Freyre erigiu um povo. O triste trópico, vira uma nação alegre e inventiva, e de ambos surge uma civilização arrojada, promessa, por si só, de dias melhores.

A leitura de Casa-grande & Senzala não tem só o impacto de uma revelação científica. Envolve o Brasil como uma profecia, tal sua força de convencimento, hipnotiza pelo estilo a um só tempo simples e grandioso como um cenário amazônico.
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Mas talvez o maior triunfo e o dom da plena atualidade de Gilberto Freyre e de sua obra estejam em constituir-se em muralha às pretensões totalitárias da hegemonia ideológica, militar, econômica, comercial, cultural, de padrões e modelos institucionais que se espalham sobre o planeta. Nas descobertas e redescobertas da brasilidade, da construção única que resultou no povo e na nação brasileira, das potencialidades de realização e afirmação de nossa gente, dos caminhos e destinos próprios que podemos trilhar, daí ressurge o Gilberto Freyre pleno, contemporâneo das difíceis escolhas defrontadas pelo Brasil.

Nestes tempos difíceis de ameaças à soberania da nação e de pressão sobre nossa identidade nacional e cultural, suas páginas como que encantadas em sociologia, história, literatura, psicologia social, desencantam-se em exército combatente marchando para o duelo de vida e de morte em defesa do orgulho nacional, da esperança e dos sonhos do Brasil e do seu povo.

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Os ensaios de Gilberto Freyre nos servem ainda hoje de frondosa vassoura de piaçaba para tanger do nosso terreiro o lixo ideológico que na forma de multiculturalismo ensandece a cabeça dos que tentam aportar no brasil com modelos norte-americanos de combate ao racismo.

"O multiculturalismo é um ‘apartheid’ de esquerda" disse em primoroso ensaio publicado em O Estado de S. Paulo, o antropólogo baiano Antônio Risério. Gilberto Freyre surpreende o multiculturalismo na sua essência segregacionista. A presença deletéria do racismo no Brasil deve ter como principal arma de combate a valorização da miscigenação sem torná-la valor absoluto ou obrigatório, o que consistiria em outra forma de racismo e da insubstituível presença do negro na formação e na cultura do povo brasileiro.

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Para ler o texto na íntegra, veja em: http://www.partes.com.br/freirealdo06.html

sábado, 17 de setembro de 2011

16 de setembro: A Brava Gente Alagoana


Uma homenagem a esses nordestinos e brasileiros, a brava gente alagoana, nesta data em que se comemora sua emancipação política. Desde os caetés, índios vaidosos, festeiros e valentes, e passando pelos escravos que fugiram dos engenhos e ocuparam o alto da Serra da Barriga, onde se organizaram e viveram no Quilombo dos Palmares, liderados por Ganga Zumba e Zumbi.

A fertilidade da terra de Alagoas atraía muita gente. Depois da estada dos franceses que chegaram para explorar o pau-brasil e fundaram o primeiro porto, o Porto dos Franceses, aproveitado depois como único porto da região para o embarque do açúcar para Portugal, a presença dos holandeses que transformaram a capitania de Pernambuco no Brasil Holandês, especialmente Recife e Olinda, incendiaram e destruíram a Vila de Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul (hoje Marechal Deodoro) e tentaram fazer o mesmo em Santa Luzia do Norte, onde foram rechaçados pelos moradores, liderados por dona Maria de Souza. Em Penedo os holandeses construíram um forte depois destruído pelos brasileiros e portugueses. Invadiram Porto Calvo e em suas batalhas destruíam engenhos e fazendas mas, derrotaram a tentativa de colonização pelos holandeses, os descendentes dos portugueses que conformaram o sentimento de alagoanidade, nordestinidade e brasilidade.

A comarca de Alagoas, sul da Capitania de Pernambuco, nas duas primeiras décadas do século XIX já esbanjava progresso e apresentava-se em condições de tornar-se independente. O Rei D. João VI, em ato de 16 de setembro de 1817 emancipa Alagoas. Segundo historiadores, visava uma maior presença de estruturas administrativas, uma intensificação da ocupação militar e um aumento da fiscalização para o incremento da arrecadação.

A independência de Alagoas ocorreu tempos após à Revolução Pernambucana iniciada em março de 1817, que pretendia a criação de uma república independente no Nordeste brasileiro. Fontes provam que houve adesão à revolução também em Alagoas e indicam que a restauração da ordem monárquica ocorreu rapidamente devido à presença de tropas sergipanas e baianas na região do São Francisco. Os militares que aderiram não puderam sustentar a defesa do território devido à indigência militar de Alagoas. Apesar de progressista, a Revolução Pernambucana foi derrotada e preservada a integridade de nosso território nacional.

Antes da abolição da escravidão, Alagoas já estava na luta por esse objetivo. Em setembro de 1881 foi criada a Sociedade Libertadora Alagoana que marcou época com seus dois jornais engajados na luta pelo fim da escravidão.

O ideal republicano também era bandeira em Alagoas, com os jornais O Apóstolo (1871) e depois A República. Em 1888 o jornalista João Gomes Ribeiro fundou o Centro Republicano de Maceió e um ano depois é proclamada a República, exatamente por um alagoano, Marechal Deodoro. Ao também alagoano, Marechal Floriano Peixoto, segundo presidente do Brasil, coube a consolidação da República.

Os alagoanos sempre estiveram presentes nas lutas do povo e da nação brasileira. Na luta contra a ditadura militar, com Odijas Carvalho, Marivone Loureiro, Jaime Miranda, Manoel Lisboa Moura, Dênis Agra e tantos outros exilados, na clandestinidade. Amplos segmentos da sociedade alagoana que foram às ruas e lutaram pela anistia ampla geral e irrestrita e pelas diretas. Os estudantes alagoanos que tiveram papel nacional destacado na reconstrução da UNE.

Nossa homenagem também aos alagoanos grandes artistas, músicos, intelectuais que marcaram sua influência na cultura brasileira, como Graciliano Ramos, Jorge de Lima, Artur Ramos, Aurélio Buarque de Holanda, Hermeto Pascoal, Djavan, Paulo Gracindo, na ciência a grande mulher progressista Nise da Silveira, e tantos outros.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Uma potência ambiental

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho e na Tribuna do Sertão:


Nos últimos tempos o Brasil ganhou uma expressão que procura caracterizar o seu futuro, a sua vocação econômica: uma potência ambiental. E essa máxima assumiu tal dimensão na sociedade, em alguns segmentos políticos, setores da intelectualidade, que fica parecendo algo inquestionável, um determinismo da natureza e da própria História.

No entanto, é preciso observar bem de perto o que realmente significa esse prognóstico “inquestionável” e quem o vem divulgando maciçamente a nível global e no Brasil como se fosse uma corrida contra o tempo para se conquistar os corações e as mentes da opinião pública mundial, especialmente do povo brasileiro.

Em primeiro lugar é importante ressaltar que o nosso País já é efetivamente uma potência ambiental, porque tem mais de 60% do seu território com cobertura original, sem falar dos diversos tipos de áreas de proteção públicas e privadas, com preservação integral ou de uso sustentável.

O que não acontece com as nações do primeiro mundo porque elas ou não possuem reservas legais ou se as possuem, são absurdamente ridículas, mesmo se comparadas proporcionalmente aos seus respectivos territórios.

Para realmente se entender o que está por trás dessa nova alcunha ao País é sempre importante reafirmar o que significa o complexo militar-industrial-midiático hegemônico, instrumento intervencionista e de dominação dos interesses norte-americanos no planeta.

Ele produziu nas últimas décadas essa agenda global que dita as regras de comportamentos dos indivíduos e das nações, uniformizando o lucro do mercado global, perverteu a noção dos direitos humanos, adulterou as ciências, o princípio da soberania das nações pela soberania limitada, e busca fragmentar as lutas populares através do chamado multiculturalismo.

Essa tese sobre a nossa “prioritária vocação ambiental” oculta o objetivo imperial de impedir o pleno desenvolvimento socioeconômico nacional.

É o que diz o estudo sobre estratégia norte-americana: Brasil Global e as Relações EUA-Brasil. Que propõe, nas entrelinhas, o controle sobre nossas regiões ricas em recursos naturais e energéticos, frear o nosso crescimento populacional, dificultar o desenvolvimento tecnológico do País.

O Brasil, potência ambiental de fato, precisa cuidar com urgência do desenvolvimento científico e tecnológico, da industrialização diversificada, do mercado interno, mais empregos formais e avanços sociais estruturais. E da sua defesa nacional. Porque o cenário de um mundo agredido, em chamas, e em convulsão financeira está à vista, para quem deseja enxergar.

Prioridade à defesa nacional

Notícia no jornal Valor Econômico, transcrita aqui em parte:




Empresas consideradas estratégicas para defesa terão isenção de impostos

Empresas classificadas como estratégicas para a defesa nacional ganharão um pacote de incentivos, com isenção do pagamento de IPI e PIS/Cofins, segundo medida provisória em fase final de revisão na Casa Civil da Presidência. A MP, que será enviada ao Congresso nos próximos dias, complementa a decisão, divulgada com o plano Brasil Maior, de dar preferência a fornecedores nacionais para ministérios como o da Defesa, que poderá pagar até 25% a mais nas compras dessas empresas.

Entre as empresas que o governo espera ver beneficiadas com os incentivos, estão - além das companhias de menor porte fornecedoras das Forças Armadas, como a Avibrás - gigantes como a Embraer e a Odebrecht, que criou este ano uma subsidiária só para o setor de defesa, reunindo suas participações em empresas de tecnologia aeroespacial, sistemas de segurança e construção de submarinos.

A isenção será concedida por cinco anos aos projetos de fabricação submetidos ao Ministério da Defesa e aprovados pelo governo. A medida provisória, elaborada por cinco ministérios (Defesa, Planejamento, Fazenda, Desenvolvimento e Ciência e Tecnologia), estabelece que as empresas beneficiárias devem ter controle de capital nacional, instalar-se no país e se comprometer com investimento em ciência e tecnologia.

As empresas candidatas ao regime tributário especial a ser criado terão de ter brasileiros em pelo menos dois terços de seu capital e do conselho de administração, e comprovar a existência de acordo de parceria com instituição científica ou tecnológica brasileira.

Os responsáveis pela MP comparam o regime a uma "golden share", que permitirá ao governo maior controle sobre investimentos e produção de material de defesa, como equipamentos aéreos, navais e terrestres, de comunicação e inteligência com usos militares.

Entre os técnicos que lidam com o tema, é lembrado o exemplo da ex-subsidiária da Petrobrás responsável pela produção de combustível sólido para o programa brasileiro de satélites, a Petroflex. Privatizada, a companhia foi vendida à Suzano e, depois, adquirida por um grupo alemão, Lanxess, que interrompeu a fabricação de um dos componentes essenciais para o combustível sólido.

Além de aumentar a competitividade das companhias nacionais existentes, o governo quer estimular empresas estrangeiras a procurar sócios nacionais para investir em transferência tecnológica nos produtos a serem fornecidos para as Forças Armadas e setores de segurança dos governos estaduais.

Os fabricantes nacionais se queixam de que os concorrentes estrangeiros são isentos de imposto, enquanto os produtores nacionais são submetidos a uma carga tributária de até 40% - que seria reduzida ou eliminada com a medida provisória a ser editada nos próximos dias.

"É uma decisão que vai mudar o perfil do modelo de negócios no setor", comemorou o presidente da Embraer Defesa e Segurança, Luis Carlos Aguiar. A redução da carga tributária para o setor é um "diferencial importante", avaliou Aguiar.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

PCdoB em Alagoas cresce e traça seus rumos


Foi realizada neste sábado, 10/09, a 16ª Conferência Estadual do PCdoB Alagoas, no Hotel Ouro Branco em Maceió, num auditório lotado, coroando o processo de reconstrução e revitalização partidária levado à frente no Estado.

A Conferência contou com a presença do deputado federal por São Paulo, Aldo Rebelo, representando a direção nacional do Partido, e com a participação de 110 delegados e convidados, num total de cerca de 130 presentes, dentre os quais importantes lideranças e expressivos membros da sociedade alagoana, retrato vivo da nova conformação do PCdoB em Alagoas. Destacamos, entre tantos outros, a presença do jornalista Ênio Lins, que passará a assumir a direção da Fundação Maurício Grabois em Alagoas, e do reitor da Universidade do Estado de Alagoas (UNEAL), Jairo Campos, vice-presidente do PCdoB de Arapiraca.

A Resolução Política aprovada pelos delegados, que norteará o PCdoB no estado, tem quatro eixos fundamentais: a batalha de ideias, um diagnóstico da realidade econômica e social de Alagoas, linhas para um novo projeto de desenvolvimento para Alagoas, o processo de construção partidária e o projeto eleitoral para 2012, centro da tática atual do Partido no estado.


Veja mais em: http://www.vermelho.org.br/al/noticia.php?id_noticia=163670&id_secao=46

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Compañero Allende! Presente! Ahora y siempre!

Texto do jornalista Luiz Manfredini, publicado em seu blog:


Mais uma vez quero lembrar um 11 de setembro que a mídia hegemonizada pelos interesses norte-americanos quase nunca menciona: o 11 de setembro de 1973, quando a direita chilena, sob o comando do sinistro General Augusto Pinochet e ostensivo apoio do governo dos Estados Unidos, derrubou o governo constitucional da Unidade Popular, presidido por Salvador Allende.

Nos anos seguintes, a ditadura pinochetista assassinaria mais de três mil chilenos por razões políticas e mandaria outros dez mil aos cárceres, à tortura e ao exílio.

Ao reverenciar a figura maiúscula de Salvador Allende, penso em quantos milhares de latino-americanos foram mortos, presos, torturados e exilados nas ditaduras por aqui implantadas nos anos 60 e 70, todas – rigorosamente todas – com apoio ostensivo do governo dos Estados Unidos (inclusive treinando torturadores).

Penso ainda nos 140 civis mortos em Hiroshina, no massacre atômico perpetrado pelos Estados Unidos em seis de agosto de 1945, e no de Nagasaki, três dias depois, que matou 80 mil civis. Penso nos quase três milhões de vietnamitas que os militares norte-americanos chacinaram (inclusive mediante armas químicas e bacteriológicas) durante aquela guerra tenebrosa dos anos 60 e 70. Penso nos 100 mil civis iraquianos que pereceram em sete anos da guerra promovida pelos Estados Unidos.

Penso nessas tragédias colossais e me pergunto: será que isso não passa pela cabeça da sociedade norte-americana que, neste 11 de setembro, só pensa no ataque ao World Trade Center? Um ataque terrível, é verdade, condenável sob todos os aspectos, que deve ser lembrado. Mas o que o governo dos Estados Unidos faz, com apoio de expressiva parcela da sociedade, é apresentar o ataque como a grande tragédia da História, ocultando suas responsabilidades sobre outras tragédias, bem maiores, bem mais trágicas.

Mas os norte-americanos – ao menos sua maioria – foram adestrados para um auto-referenciamento enfermiço, cujo paroxismo, nos dias atuais, beira o autismo, que tem o resto do mundo apenas como o “resto do mundo”, que eles pouco conhecem e, no fundo, desprezam, porque hostil ao destino messiânico do qual se consideram investidos.

Eu aqui reverencio as vítimas do Estado imperialista norte-americano, na figura superlativa de Salvador Allende, imolado no Palácio de La Moneda em 11 de setembro de 1973. E o faço repetindo texto que publiquei neste blog no ano passado. Dele nada tenho a acrescentar, nem a subtrair. (veja em http://www.blogmanfredini.blogspot.com/)

Leia a seguir a derradeira mensagem de Salvador Allende aos chilenos, na manhã de 11 de setembro de 1973, quando o palácio de La Moneda já estava sob o bombardeio dos fascistas.


Compatriotas:

Esta será seguramente a última oportunidade em que poderei dirigir-me a vocês. A aviação bombardeou as antenas da Radio Portales e Radio Corporación. Minhas palavras não têm amargura, mas decepção, e elas serão o castigo moral para os que traíram o juramento feito: soldados de Chile, comandantes-em-chefe titulares e mais o almirante Merino, que se autodesignou, e o senhor Mendoza, esse general rasteiro, que ontem me manifestara sua fidelidade e lealdade ao governo.

Frente a estes fatos, só me cabe dizer aos trabalhadores: não vou renunciar!

Colocado neste transe histórico, pagarei com minha vida a lealdade do povo, e digo-lhes que tenho certeza que a semente que entregamos à consciência digna de milhares e milhares de chilenos não poderá ser apagada definitivamente. Eles têm a força, mas não se detêm processos sociais pelo crime e pela força. A História é nossa, ela é feita pelos povos. Me dirijo ao homem chileno, operário, camponês, intelectual, àqueles que serão perseguidos porque em nosso país o fascismo já se faz presente há algum tempo em atentados terroristas, sabotagens de estradas de ferro e pontes, oleodutos e gasodutos.

Frente ao silêncio dos que tinham a obrigação ... [interrupção momentânea da transmissão da Radio Magallanes] - ... a que estavam submetidos. A História os julgará.

Seguramente, Radio Magallanes será calada e o metal tranquilo da minha voz não chegará mais a vocês... Não importa ... Não importa, vocês seguirão me ouvindo, estarei sempre junto de vocês, pelo menos minha lembrança será de um homem digno, leal à lealdade dos trabalhadores.

O povo deve se defender, mas não se sacrificar. Não deve deixar-se arrasar nem crivar de balas, mas tampouco pode se deixar humilhar.

Trabalhadores da minha pátria: tenho fé no Chile e no seu destino. Este momento cinzento e amargo, onde a traição pretende se impor, será superado. Sigam sabendo que muito mais cedo do que tarde de novo se abrirão as grandes avenidas por onde passará o homem [livre] digno que quer construir uma sociedade melhor...

Viva Chile, viva o povo, vivam os trabalhadores... Estas são minhas últimas palavras ... Tenho certeza de que meu sacrifício não será em vão, tenho certeza de que pelo menos será uma lição moral que castigará a felonia, a covardia e a traição....

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

A independência nacional

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho e na Tribuna do Sertão:



As notícias sobre os desdobramentos da atual crise sistêmica capitalista internacional, iniciada em 2007 nos Estados Unidos, não deixam dúvidas, longe de arrefecer, a tendência será de uma grande tempestade que se aproxima.

E a principal porta voz dessas péssimas informações não é outra senão a diretora gerente do Fundo Monetário Internacional, a francesa Christine Lagarde, ao declarar que a crise da economia global enfrenta “uma espiral ameaçadora”.

Essa débâcle financeira mundial que vai afetando o planeta possui a sua face mais dramática principalmente entre as nações do primeiro mundo, em especial os EUA e o bloco dos Países da União Européia.

Fazendo coro com a diretora gerente do FMI, o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, disse dias atrás que a economia mundial estava entrando em uma nova zona de perigo porque a economia se desacelerou e os Países estavam afundados em dívidas.

Tem sido assim várias as advertências das personalidades que compõem o alto escalão responsável pelos organismos internacionais mundiais e dirigentes das finanças dos governos dos Estados Unidos e da Europa.

Mas como enfatiza um artigo da Resenha Estratégica, até agora esses altos executivos não disseram como recolocar nos trilhos a economia global, baseada no comércio de títulos de dívida pública e na desregulamentação generalizada dos fluxos financeiros, que transformaram esse sistema em um verdadeiro cassino especulativo global.

Por isso é que o senador cearense José Pimentel declarou corretamente que no Brasil quando o Banco Central eleva um ponto percentual na taxa de juros, está dando 11 bilhões de reais para o que contabilizou como 12 mil financistas especuladores que vivem às custas da sociedade brasileira.

Portanto, quando comemoramos mais um Sete de Setembro da independência nacional, quarta-feira passada, é fundamental uma reflexão sobre essa data porque no mundo atual não são muitas as nações que exercem a própria soberania.

Ou porque várias foram agredidas militarmente através da pilhagem imperial, ou muitas foram submetidas economicamente.

A transição a um novo e mais elevado processo de civilização solidária em nosso País passa fundamentalmente pela nossa integridade territorial, vigorosa identidade cultural, profundos avanços sociais, uma economia soberana, industrializada, diversificada e plenamente desenvolvida.

sábado, 3 de setembro de 2011

O País do futuro

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão e no Santana Oxente:


Quem viveu ou participou dos acontecimentos nas últimas quatro décadas que envolveram a nação brasileira e observa as dramáticas dificuldades que atualmente passam os Países do primeiro mundo, em especial os Estados Unidos e os da União Europeia, dificilmente vai deixar de fazer algum tipo de reflexão sobre esses períodos históricos.

Porque o Brasil sempre foi conhecido lá fora como o País do futuro, uma alcunha que vem do título do livro do escritor austríaco Stefan Zweig exilado em Petrópolis, Rio de Janeiro, durante o início do avanço nazista na Europa.

No entanto, aquilo que surgiu como um presságio às nossas possibilidades, através dos olhos de quem conhecia o velho mundo e a sua civilização, passou a significar o seu contrário, ou seja, uma nação que nunca vai dar certo, que não tem jeito.

Ainda mais quando havia contra o nosso processo civilizatório um tremendo preconceito racista porque as nossas raízes antropológicas de indígenas, ibéricos e africanos teriam produzido uma “miscigenação desaconselhável às raças humanas”.

Pelo menos era o que diziam os doutos cientistas europeus a exemplo do conde Gobineau e o seu famoso “Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas”. Ele afirmou que o Brasil por ter um povo mestiço não tinha nenhum futuro e além do mais estava situado nos trópicos o que piorava as coisas porque o calor, umidade, as florestas, tudo conspirava contra o nosso destino.

Esse preconceito atravessou os tempos e ainda persiste em algumas cabeças elitistas no Brasil. As “causas” da nossa hipotética “inviabilidade genética e ambiental” talvez tenham mudado, mas o espírito de colonizado e embevecido pelas civilizações ditas opulentas ainda permanece.

Não era outro o entendimento do norueguês que fuzilou dias atrás dezenas de jovens em Copenhague quando em seu manifesto nazi-fascista afirmou que a mestiçagem do povo brasileiro era algo que devia ser condenado.

São essas as ideologias que escondem a essência dos males que afligem a humanidade, a exploração do trabalho humano, as brutais naturezas dos colonialismos ou dos imperialismos.

Assim, essa civilização tropical, lavrada em sangue índio, africano, ibérico e tantos outros, com imenso sacrifício, confrontando dificuldades e injustiças sociais, não só está de pé como avança. Stefan Zweig conhecia bem o mundo, tanto como tinha a convicção sobre o futuro do Brasil e da América Latina.

Os 100 anos de Giap

Os 100 anos do grande estrategista militar e revolucionário vietnamita, general Giap, que derrotou o colonialismo francês e o imperialismo norte-americano, no texto publicado no ODiario.info e no Nicarágua Socialista, transcrito aqui em parte:



“Os imperialistas são péssimos alunos, demos a eles lições durante vários anos na nossa escola, não aprenderam nada e foram repetentes durante tantos anos que tivemos que correr definitivamente com eles”
                                                                                              General Vo N’Guyen Giap
                                                                                                         Argel, 1975


O mítico general Vo Nguyen Giap completou cem anos de idade. Quase tão venerado como Ho Chi Minh, estrategista das grandes batalhas contra o colonialismo francês e a agressão estadunidense, Giap é considerado um gênio da logística e um político mobilizador de massas.

Este lendário general vietnamita nasceu na aldeia de Una Xa, província de Quang Binh, a 25 de agosto de 1911. Filho de um camponês que embora sem terra sabia ler e escrever e lutou durante toda a sua vida contra o regime colonialista imposto ao seu país.

Ainda muito jovem, em 1926, começou a luta pela libertação do Vietnã no instituto em que estudava. Aderiu ao Menh Dang do Tan Viet e, dois anos mais tarde, ao Quoc hoc, organizações clandestinas que faziam agitação contra a ocupação estrangeira.

Em 1930 foi detido e condenado a três anos de prisão, mas foi libertado alguns meses mais tarde. Em 1933 entrou para a universidade de Hanói, de onde foi expulso dois anos mais tarde por realizar agitação revolucionária.

Na universidade conheceu Dang Xuan Khu, que mais tarde adotaria o pseudônimo de Truong Chinh, o principal ideólogo do comunismo vietnamita. Foi ele quem recrutou Giap para o Partido Comunista da Indochina.

Em 1937 conseguiu concluir os seus estudos de Direito na universidade e começou a dar aulas de História num instituto em Hanói, embora o que fizesse na realidade fosse organizar os professores e os estudantes para a luta revolucionária.

Em 1939 publica, juntamente com Truong Chinh, o seu primeiro livro, intitulado “A questão camponesa”, no qual analisam o papel que os assalariados rurais devem desempenhar no processo revolucionário, enquanto aliados do proletariado vietnamita.

No ano anterior casara-se com uma tailandesa, Dang Thi Quang, militante comunista igualmente, e quando no ano seguinte o Partido Comunista da Indochina é ilegalizado Giap foge para a China, onde conheceu Ho Chi Minh e onde estudou as teses de Mao Tsé-Tung sobre a guerra popular prolongada e a guerra de guerrilha, que viria a aplicar magistralmente no seu próprio país.

Mas a polícia francesa prendera a sua mulher e sua cunhada para as utilizar como reféns para pressionar Giap e o levar a entregar-se. A repressão foi feroz: sua cunhada foi guilhotinada e sua mulher foi condenada à prisão perpétua, vindo a morrer na prisão ao fim de três anos em consequência das brutais torturas a que foi sujeita. Os carrascos assassinaram também o seu filho recém-nascido, o seu pai, duas irmãs e outros familiares.

Em maio de 1941, na conferência de Chingsi (China), funda, juntamente com Ho Chi Minh, o Dong Minh (Liga Vietnamita para a Independência) mais conhecido como Vietminh, para congregar as forças anti-japonesas numa única frente de libertação nacional.

Nesse mesmo ano Giap desloca-se para as montanhas do interior do Vietnã a fim de dar início à guerra de guerrilha. Aí estabelece uma aliança com Chu Van Tan, dirigente do Tho, grupo guerrilheiro de uma minoria nacional do noroeste do Vietnã. Giap inicia a construção do Tuyen Truyen Giai Phong Quan, um exército capaz de expulsar o ocupante francês e de sustentar o programa do Vietminh.

Inicia uma campanha de dois anos de propaganda armada e de recrutamento, convertendo os camponeses em guerrilheiros combinando o treino militar com a formação política comunista. Em meados de 1945 dispunha já de cerca de 10.000 homens sob o seu comando e pode passar à ofensiva contra os japoneses que ocupavam todo o sudeste asiático.

Em agosto de 1945, juntamente com Ho Chi Minh, Giap dirigiu as suas forças para Hanói, e em setembro desse ano Ho Chi Minh pôde proclamar a independência do Vietnã, com Giap como comandante do exército revolucionário.

Na guerra contra o colonialismo francês que se seguiu Giap demonstrou a superioridade da guerra popular sobre as forças imperialistas alcançando, em 7 de maio de 1954, uma espetacular vitória na decisiva batalha de Dien Bien Phu, um vale situado a cerca de 300 quilômetros a oeste de Hanói onde as forças ocupantes francesas se tinham entrincheirado, confiantes na proteção das montanhas circundantes e na sua capacidade de derrotar as forças revolucionárias que tentassem descer. Não imaginavam que as forças de Giap fossem capazes de fazer subir peças de artilharia por encostas quase inacessíveis.

Após quase seis meses de cerco, dos 15.094 mercenários franceses concentrados em Dien Bien Phu apenas 73 conseguiram escapar, enquanto 5.000 foram mortos e 10.000 capturados. Giap e o general Denhg lançaram o assalto final que conduziu à expulsão definitiva dos franceses da Indochina. O exército de Giap e Denhg sofreu a baixa de 25.000 combatentes.

Giap e Denhg derrotaram os imperialistas graças a uma acumulação logística extraordinária e a uma utilização eficaz e bem protegida da artilharia. Os 60 caças-bombardeiros B-29 norte-americanos enviados em apoio ao efetivo francês falharam seu objetivo, o que levou os imperialistas a admitirem, segundo o criminoso plano do almirante norte-americano Radford e do general francês Navarre, o lançamento de bombas nucleares contra as forças revolucionárias.

A campanha de Dien Bien Phu foi a primeira grande vitória de um povo colonial e feudal, com uma economia agrícola primitiva, contra um experiente exército imperialista apoiado por uma indústria bélica pujante e moderna. Os mais conhecidos generais franceses (Leclerc, De Lattre de Tasigny, Juin, Ely, Sulan, Naverre) fracassaram, um após outro, perante tropas constituídas por camponeses pobres, mas inteiramente decididas a lutar pelo seu país e pelo socialismo. Os governos de Paris foram também caindo, à medida que os seus generais eram derrotados naqueles arrozais distantes, deixando bem evidente a fragilidade da IV República.

O Vietnã ficou dividido e Giap foi nomeado ministro da defesa do novo governo do Vietnã do Norte que, ao mesmo tempo que prosseguia a guerra popular de libertação, se esforçava por construir uma nova sociedade, socialista.

Como comandante do novo exército popular, Giap dirigiu a luta na guerra do Vietnã contra os novos invasores norte-americanos no sul do país, que de novo teve início como uma guerra de guerrilha. Os primeiros soldados norte-americanos a morrer no Vietnã resultaram do ataque a uma base militar, Bien Hoa, a noroeste de Saigon, realizado pelo Vietcong em 8 de julho de 1961.

Quatro presidentes norte-americanos sucessivos mantiveram a agressão contra o Vietnã, deixando o rasto sangrento de 57.690 americanos abatidos, enquanto do lado vietnamita caíram 600.000 combatentes. Mas em 1973 os EUA foram finalmente obrigados a abandonar o país. O país foi reunificado dois anos mais tarde, depois de um tanque do exército revolucionário romper a vala de proteção da embaixada norte-americana enquanto os últimos imperialistas a abandonavam precipitadamente, fugindo de helicóptero do telhado do edifício.

Giap foi a partir de então ministro da defesa do Vietnã e membro do Politburo do Partido Comunista do Vietnã, cargo que manteve até 1982. Depois de abandonar estes cargos dirigiu a Comissão de Ciência e Tecnologia e, em julho de 1992, foi-lhe concedida a mais alta condecoração do novo Vietnã socialista, a ordem da estrela de ouro.

O general Giap não foi apenas um mestre na arte de dirigir a guerra revolucionária, escreveu também sobre ela, publicando em 1961 a sua famosa obra “Guerra popular, exército popular”, manual da guerra de guerrilha baseado na sua própria experiência. Nela estabelece os três fundamentos básicos de que necessita um exército popular para alcançar a vitória na luta contra o imperialismo: direção, organização e estratégia. A direção do Partido Comunista, uma férrea disciplina militar e uma linha política adequada às condições econômicas, sociais e políticas do país.

Definiu a guerra popular como “uma guerra de combate para o povo e pelo povo, enquanto a guerra de guerrilha é apenas um método de combate. A guerra popular corresponde a uma concepção mais geral. É uma concepção de síntese. É uma guerra simultaneamente militar, econômica e política”. A guerra popular não é realizada apenas pelo exército, por mais popular que este seja, mas sim por todo o povo, que deve participar e ajudar na luta, que necessariamente será prolongada.

Como bom guerrilheiro, Giap sabia que o sucesso, quando existe uma desproporção de forças muito grande, se baseia na iniciativa, na audácia e na surpresa, o que exige que o exército revolucionário esteja continuamente em movimento. Destacou-se como um gênio da logística, capaz de movimentar continuamente importantes contingentes militares, segundo os princípios da guerra de deslocamentos. Fê-lo contra os colonialistas franceses em 1951, infiltrando um exército inteiro através das linhas inimigas no delta do rio Mekong, e repetiu-o antecipando a ofensiva de Tet em 1968 contra os estadunidenses, quando posicionou milhares de homens e toneladas de aprovisionamentos para um ataque simultâneo contra 35 centros estratégicos do sul.

A batalha de la Drang (19 de outubro a 27 de novembro de 1965) foi uma das mais importantes para ambas as forças no decurso da guerra de libertação do Vietnã. No seu decurso o general imperialista Westmoreland estava convicto de que a mobilidade aérea e a potência de fogo em grande escala seriam a resposta adequada à estratégia de Giap. Mas este colocou os seus efetivos tão próximos das linhas norte-americanas que os B-52 largavam as bombas em cima das suas próprias fileiras.