quinta-feira, 30 de junho de 2016

Faíscas

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste, no Santana Oxente e no pcdobalagoas.org.br:


O plebiscito que deu vitória à saída do Reino Unido da zona do Euro é uma faísca numa pradaria ressecada.

Porque há insatisfação geral com as diretrizes para as nações que integram a comunidade europeia, que têm beneficiado o capital financeiro, penalizando a maioria dos Países, especialmente os setores médios e a classe trabalhadora.

É claro que existem outros fatores incidindo diretamente sobre as grandes maiorias no velho continente, como as formidáveis ondas de refugiados provenientes do Oriente Médio e África. Mas é preciso entender os imigrantes em sua forma clássica, e os refugiados.

Os primeiros sempre existiram em grande número, especialmente nos séculos XIX, XX e atual milênio, em decorrência da pobreza, oferta de trabalho, péssimas condições salariais e de vida no continente africano, Ásia e América Latina, alimentados pelo sonho de uma vida melhor seja na Europa ou nos Estados Unidos.

Enquanto o sistema capitalista apresentava índices de crescimento, principalmente durante os chamados “anos dourados” que se estenderam do pós Segunda Guerra Mundial ao início da implantação dos governos neoliberais via a primeira-ministra inglesa Margaret Thatcher e o presidente dos EUA Ronald Reagan nos anos 70, os imigrantes foram relativamente tolerados. Ocupavam primordialmente serviços braçais ou outros desprezados na comunidade europeia.

Com a ascensão da Nova Ordem neoliberal, o grande crash sistêmico de 2008, a ruína das economias no primeiro mundo, a “prosperidade contínua”, vendida como ouro de tolo às pessoas pelos arautos da globalização do rentismo, espatifou-se. E com o desemprego em massa aflorou a intolerância aos imigrantes.

Já o fenômeno atual das ondas de refugiados rumo à Europa soma-se às guerras de rapina contra os Países do Oriente Médio e África, destruindo parcas infraestruturas em várias nações, restando aos respectivos povos a fuga em massa dos conflitos, da fome endêmica. É o caldo de cultura onde assenta a intolerância, a xenofobia e o terrorismo fundamentalista.

Não é possível entender a onda reacionária no Brasil, América Latina, dissociada da ofensiva do capital financeiro contra os povos, às riquezas dos Estados soberanos. São tempos de resistência democrática e patriótica no Brasil. De luzes contra o obscurantismo, em defesa da humanidade.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Prazo de validade

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste, no Santana Oxente e no pcdobalagoas.org.br:


Há ainda quem afirme que estamos num Estado de Direto Democrático, apesar do golpe parlamentar perpetrado contra uma presidente legitimamente eleita com mais de 54 milhões de votos.

O historiador Moniz Bandeira em entrevista publicada no site Vermelho afirmou que o que está em curso no País não será compreendido se nos “limitarmos à analise dos conflitos domésticos”.

Ou mesmo às ações da maioria parlamentar, como na Câmara dos Deputados, expostas pelo “circo dos horrores” durante a votação do impeachment da presidente Dilma, mostrada aos olhos da opinião pública nacional e internacional.

O que espanta é que o golpe é mais compreendido, em sua inteireza, fora do Brasil que dentro de suas fronteiras.

Isso porque a grande mídia, monopolista dos fatos, narrativas do cotidiano nativo, é parte central no putsch contra a nação e sua jovem democracia.

Uma mídia poderosa que age para “blindar” as versões sobre a via autoritária em que tentam mergulhar o País. Os ataques que vem sofrendo a chamada imprensa alternativa, que subsiste através da internet, é para silenciar a real natureza do golpe.

Ferindo o espírito democrático das várias interpretações dos fenômenos que incidem sobre a realidade política, social, cultural do momento que vivemos.

Que só é possível em um País continente, com mais de 200 milhões de habitantes, a 7a economia mundial, com a participação das elites retrógradas internas, do “Mercado” rentista e a “Governança Mundial”, o apoio efetivo dos EUA, seu azeitado aparato de inteligência e subversão agindo conta o Brasil.

Tem razão a presidente Dilma Rousseff ao afirmar que o golpe é contra a democracia, os “movimentos sociais”. Porém ultrapassa a isso. É a tentativa de recolonizacão do País, a destruição do Estado nacional, do seu protagonismo geopolítico, como nos BRICS.

Tanto como o assalto às suas riquezas estratégicas, a fragmentação da sociedade nacional, a autoestima, identidade como povo, o descortino do seu presente e futuro.

É uma operação sofisticada, com abate da vida democrática. O interino, ilegítimo governo Temer é peça menor, descartável, num projeto que visa uma nação subalterna. Tem prazo de validade.

Assim urge uma ampla frente democrática, patriótica, um plebiscito que antecipe eleições presidenciais em defesa da democracia, do Brasil.

terça-feira, 21 de junho de 2016

Aldo Rebelo: Plebiscito visa resgatar a legalidade e legitimidade

Entrevista de Aldo Rebelo ao Valor Econômico, publicada nesta terça-feira, 21/06, reproduzida no Vermelho:


Aldo Rebelo, ex-ministro da Defesa e liderança do PCdoB, reforçou a proposta de plebiscito lançada pelo PCdoB como alternativa para enfrentar a crise política do país. “O plebiscito não é uma bandeira, é uma plataforma. A proposta do plebiscito tem o objetivo de resgatar os dois elementos decisivos para a governabilidade, que são a legalidade e legitimidade”, defendeu Aldo em entrevista ao jornal Valor Econômico.

E completa: “A legalidade do atual governo [da presidenta Dilma Rousseff] está viciada pela ausência de um crime de responsabilidade que justifique o afastamento da presidenta. E a legitimidade está afastada no momento em que o governo não obteve nas urnas a autoridade para governar. Diante disso a autoridade original que é o voto do eleitor constitui a única solução não só possível como duradoura”.

Aldo reforçou que a população tem “interesse numa saída que devolva ao país a expectativa de um governo que reúna legalidade e legitimidade”.

“Em vários momentos de nossa história esse conflito surgiu. No Fico [de D. Pedro I], na abdicação de D. Pedro I, do golpe da maioridade, na República, em 1930 e em 61, na aprovação do parlamentarismo. Em todos esses momentos você tinha um dos polos da governabilidade fragilizado, o da legalidade ou da legitimidade.”

Ele disse ainda que o objetivo é de que a proposta do plebiscito seja amplamente discutida pela sociedade. “Os detalhes de uma saída institucional ficam por conta da criatividade da política. O problema é que vai criar a solução. A ideia do plebiscito ou de outra alternativa vai nascer menos da articulação política que do mal-estar que toma conta do país em função do antagonismo das forças representadas por Dilma e Temer”, salientou.

Sobre o apoio a essa proposta, Aldo destacou que já conversou com todos os partidos e que o “apoio é aquele derivado da busca de uma solução que pacifique o país e que se torne um lenitivo para o drama e para os conflitos que enfrentamos atualmente, de natureza ideológica e política, de legalidade e legitimidade”.

Aldo apontou a crise de legitimidade do governo de Michel Temer (PMDB), que chamou de “autoevidentes”, a partir do fato de que “o governo luta desesperadamente para manter estabilidade, pela renúncia de três ministros em pouco mais de um mês e pelo esgarçamento da governabilidade”.

“Mas o governo não teve vitórias importantes no Congresso como a DRU e sinalizou rumo ao controle de gastos?”, questionou a jornalista Maria Cristina Fernandes. E Aldo respondeu: “Embora tenha sido importante alcançar maioria em votações importantes, as circunstâncias que envolvem a legitimidade deste governo no Congresso não asseguram que este cenário permaneça. O curto circuito no edifício da governabilidade, da coesão social e da unidade nacional faz com que seja necessário contemplar algo inusitado como a consulta fora do calendário eleitoral”.

Para o ex-ministro, a realização de um plebiscito e a realização de novas eleições daria um eixo de estabilidade ao governo. “Os fatores que reduzem o coeficiente de legalidade e legitimidade do Executivo têm uma causa muito clara que é o afastamento da presidenta e a ascensão do vice. É preciso encontrar na Câmara e no Senado os personagens que conduzirão este debate”, salientou.

Sobre as propostas de alteração na legislação de combate à corrupção, Aldo destacou que é tarefa do Congresso atualizar as leis “preservando o que há de virtuoso e coibindo ou modificando aquilo que se constituiu em deformidade”.

“A corrupção é uma manifestação da morbidez que atinge a política e que deve ser combatida para que não comprometa as elevadas decisões que a política tem que adotar. Os responsáveis por ela tanto na agenda pública quanto os agentes do mercado devem ser condenados”, declarou Aldo sobre a Lava Jato.

Aldo destacou a importância da participação popular na definição dos rumos do país. “É preciso consultar a história, em busca do protagonismo em momentos cruciais da vida das nações. Quando [o poeta alemão] Goethe encontrou Napoleão, perguntou-lhe o que diferenciava a tragédia como destino na antiguidade e naquele momento. Ouviu de Napoleão que na antiguidade a tragédia era marcada pela renúncia dos homens ao seu destino, que estava nas mãos dos deuses. Com a política, o homem subtraiu dos deuses a previsão do destino. A política passou a ser fonte do destino e da tragédia. Ou a política se apropria do destino do país, ou a sociedade ficará à mercê dos deuses, de corporações ainda imaturas”, comparou.

Aldo afirmou que alguns poderiam apontar que tais “corporações” se trate do Judiciário, da mídia, empresas, “que buscam protagonismo sobre o destino e a tragédia”.

“Cada um se julga legítimo nesse papel. Mas só aquela que busca no voto a legitimidade do povo, essa unção, tem a capacidade de assumir sem uma contestação muito forte esse protagonismo. Não vejo outro poder que não o da política, com todos os seus vícios e virtudes, que são reflexo da própria sociedade. Isso serve para Napoleão e serve para o século 21. Fora da política é difícil encontrar quem possa conciliar os antagonismos da sociedade”, acrescentou.

“Independente de quem tenha maior receptividade a esta proposta, não se deve excluir ninguém. O Brasil só vai ter solução se recompuser a coesão em torno de seus desafios. O país dividido, misturado na desconfiança de seus setores médios da sociedade, não encontra energia para enfrentar seus desafios. O país não será capaz de encontrar essa energia no fosso que separa o povo e sua elite, uma elite que nos deu [José] Bonifácio e [Roberto] Simonsen. Ou o país busca uma unidade ou vai se exaurir em confrontos. Não tem solução para o Brasil sem englobar povo, classe média e elite. Qualquer solução excludente imobiliza”, defendeu o dirigente comunista.

Do Portal Vermelho, com informações do Valor Econômico

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Um cenário de crises

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste, no Santana Oxente e no pcdobalagoas.org.br:


O Brasil vive uma encruzilhada Histórica. Os fatos demonstram que ela exige soluções de conteúdo estratégico favoráveis ao povo brasileiro, à nação.

Especialmente diante do cenário de crise dos fundamentos da economia mundial onde os indicadores apontam para uma estagnação crônica ou mesmo os riscos do estouro de uma nova bolha financeira, assemelhada ao cataclismo de 2008.

De outro lado, o imbróglio da sociedade norte-americana é visível nas rotinas sociais, as políticas refletidas na atual campanha eleitoral, a grande tensão cultural, a decadência industrial.

A violência em suas atividades cotidianas, constantes ataques perpetrados por psicopatas cujas variadas motivações, como o massacre em uma discoteca essa semana, não mais escode a desorientação civilizatória, o delírio da intolerância fanática.

Já o continente europeu vive gravíssima situação que se manifesta nas imensas ondas de refugiados, fruto de guerras de agressões contra nações africanas e o Oriente Médio, só comparáveis às multidões em fuga do nazi-fascismo durante a 2a Guerra Mundial.

Além disso é cada vez maior a insatisfação social contra os cortes nos direitos trabalhistas como o recente protesto de mais de um milhão de assalariados em Paris.

O Brasil não foge aos efeitos nefastos da globalização do capital rentista nos âmbitos econômicos, sociais, civilizacionais.

A crise política que resultou no golpe contra a presidente Dilma é parte desse contexto, assim como o ilegítimo, interino governo Temer.

O País é a 7a economia mundial, a quinta nação em extensão territorial, uma população de 200 milhões de habitantes, riquezas naturais, posição geopolítica excepcionais.

Já o governo Temer busca implementar políticas neoliberais ortodoxas como nos casos do pré-sal e do setor nuclear. Mostra a que veio e a quem está alinhado.

Só a convocação de eleições presidenciais, através de plebiscito, supera o impasse institucional em que se encontra a nação.

O Brasil precisa definir, em largo itinerário, em um mundo de uma globalização imposta, que nação pretende ser, onde deseja ir, para conseguir atuar em suas variáveis sem, no entanto, “submeter-se ao seu comando”.

Essa é a outra face da crise estrutural que vivenciamos. Da qual, só sairemos através de um projeto soberano de desenvolvimento estratégico.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

A onda regressiva

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste, no Santana Oxente e no pcdobalagoas.org.br:


Eric Hobsbawm, um dos mais prestigiosos historiadores dos últimos tempos, dentre suas valiosas obras escreveu Ecos da Marselhesa. Uma abordagem sobre a revolução francesa de 1789, contra o absolutismo, que mudou a face da humanidade.

Os sistemas políticos nela inspiraram-se para as grandes transformações econômicas, sociais que culminaram com mudanças na História dos povos.

Hobsbawm declarou: até hoje ainda se ouvem os ecos da Marselhesa, o hino dos revolucionários franceses, cântico que empolga seu povo pela beleza, significado histórico.

A revolução francesa e sua Marselhesa consolidaram os conceitos de Liberdade, Igualdade, Fraternidade, o espírito das chamadas democracias clássicas ocidentais, a linha da divisão entre os poderes que dão substância constitucional efetiva: o executivo, legislativo, o judiciário.

É verdade que em nome dos princípios da revolução francesa cometeram atrocidades, agressões coloniais. Porém seus grandes ideais perpetuaram-se na tradição do Direito Universal.

Como a roda da História nem sempre se move para frente, os tempos atuais notabilizam-se pela regressão das conquistas do espírito de 1789 em pleno século XXI. Em seu lugar emerge uma virulência crônica de tipo fascista.

De tal forma que o intelectual norte-americano Noam Chomsky sentenciou que as democracias formais no Ocidente vêm desaparecendo, porque já não mais existem democracias reais. É o que está em curso no Brasil.

O Mercado, a Governança Mundial, sob a égide imperial dos EUA, frente à crise financeira global promovem brutal subversão contra os povos via mudanças de regime suaves ou não.

No Brasil os alvos são as riquezas estratégicas, as conquistas trabalhistas, o protagonismo externo, ceifar a democracia.

Na Europa, sob o jugo das corporações financeiras, vêm sendo levados à penúria os cidadãos do velho continente, à subtração da soberania de suas nações.

As ações contra a América Latina viraram provocações abertas. O golpe contra a presidente Dilma Rousseff, e o ilegítimo governo Temer, são fatos inseparáveis dessa onda regressiva.

Por isso assoma a resistência em defesa da nação ameaçada, da legalidade. Uma ampla plataforma política, programática, de elevada consciência social, democrática, patriótica, à altura dos históricos combates travados pelo povo brasileiro.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Crise desembestada

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste, no Santana Oxente e no pcdobalagoas.org.br:


A jornalista Tereza Cruvinel em sua coluna referiu-se ao correspondente Pepe Escobar estudioso em geopolítica global. Segundo ele “o golpe em curso no Brasil é uma operação tipo guerra híbrida”.

Essa recente, sofisticada, forma de guerra contra os povos vem se intensificando em várias regiões do mundo. E aqui assumiu feição aberta desde as manifestações em 2013.

Acumulam-se fatos que apontam a presença do Departamento de Estado dos EUA no golpe que se desenrola no País fartamente denunciados pelo ex-agente da NSA norte-americana Edward Snowden ao afirmar: nos últimos anos o Brasil tem sido a nação mais espionada do mundo.

A estratégia de desestabilização, do tipo guerra híbrida, abrange os terrenos político, econômico, as instituições republicanas, a apropriação das riquezas naturais, como as imensas reservas do pré-sal brasileiro etc.

Em nosso caso, além das tempestades digitais virais, objetivam ações contra a legalidade democrática, o enfraquecimento do sentimento patriótico, a fragilização da soberania, deslocar o Brasil do campo dos BRICS, desmantelar o Estado nacional etc.

Já a crise institucional tem como ponto alto, até agora, a ação golpista que acedeu licença para o impedimento da presidente Dilma Rousseff via Câmara dos deputados. A luta democrática segue no Senado.

Mas o nervo exposto do putsch é o governo Temer que tem provocado a rejeição de largos setores democráticos, legalistas, que cresce todos os dias nas ruas ou através de manifestos públicos.

O governo Temer, interino, ilegítimo, é resultante de uma das mais grotescas conspirações da História republicana cuja dependência à grande mídia e ao capital financeiro é absoluta.

Imerso em contradições diárias, exoneração de ministros, investigações jurídico-policiais, sem base social, rejeição interna, externa, o governo interino prenuncia um vácuo de poder.

Torna-se essencial a constituição de uma plataforma em defesa da nação e da democracia que aglutine anseios de dezenas de milhões de brasileiros.

Que seja ampla, suprapartidária, envolva personalidades nacionais destacadas, partidos políticos, associações, religiosos, sindicatos etc.

Indique, via plebiscito, eleições presidenciais antecipadas, com políticas e programa para superar a crise das instituições da República que avança desembestada.