quinta-feira, 26 de junho de 2014

Acrobata genético

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:

Os ataques do técnico holandês contra a Copa Mundial de futebol no Brasil invocando o clima inóspito do País são de uma brutal incoerência, revelam uma nostalgia incontida de outros períodos históricos.
Esse foi o mesmo argumento do tristemente famoso, e racista, diplomata francês conde Joseph Arthur de Gobineau segundo o qual seria impossível vicejar no Brasil qualquer tipo de civilização razoável por dois motivos: o clima inóspito dos trópicos e a mestiçagem do povo brasileiro.

A teoria de Gobineau teve muitos adeptos no mundo e no Brasil, parece que ainda possui alguns, mesmo com disfarces, até porque o conceito da superioridade racial dos povos da Europa Ocidental servia aos propósitos coloniais na época áurea dos grandes impérios.

Impérios como o inglês cujo lema era “onde o sol nunca se põe” que no afã “civilizatório” de impor domínios, saquear riquezas, aportavam em terras bárbaras exércitos, fidalgos, comerciantes, burocratas com o objetivo de garantir a supremacia real.

Assim é que chegou ao Nordeste do Brasil, de clima criticado pela grande mídia, no século XVII, outro conde o holandês Maurício de Nassau para liderar a Companhia das Índias Ocidentais.

Os holandeses ficaram por aqui enquanto puderam até serem escorraçados na batalha dos Guararapes, PE. Ali surgia o nosso sentimento nativo, dizem os historiadores.

Enfim, é como diz o poema: brigam Espanha e Holanda pelos direitos do mar, o mar é das gaivotas que nele sabem voar.

Os ingleses dominaram todos os continentes, asiático, americano, africano etc. Espanha e Portugal a África, América Latina. Adaptaram-se aos climas como os franceses, além da Itália bem antes de Garibaldi e Anita, brasileira, na luta pela unificação da nação mediterrânea.

A Copa do mundo é êxito de audiência mundial na TV, de público nos estádios, turistas estrangeiros, recorde de gols, hospitalidade brasileira inclusive a primeiros ministros, realezas, presidentes etc. Vista como a Copa das Copas seja quem for o campeão, esperamos que o Brasil.

Já a teoria de Gobineau é desmascarada há muito tempo. Se assim não fosse a única explicação para os jogadores brasileiros que se amoldam ao gélido inverno europeu ou asiático como Daniel Alves, do árido sertão de Juazeiro, Bahia, é que eles seriam incríveis acrobatas genéticos.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Novo marco civilizatório

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:

A Copa Mundial de futebol além de uma iniciativa do governo Dilma é uma reafirmação de protagonismo da sociedade brasileira, do Estado nacional, daí a contrariedade da parte de certas potências hegemônicas.
A doutrina dos dez pontos da “insurgência pacífica” do cientista social Gene Sharp, tido como novo teórico da CIA, aplicada em vários lugares do mundo tem sido claramente utilizada no País.

Partindo de contradições efetivas nas sociedades, não há nações que não as tenham, essa nova forma de intervenção em assuntos internos dos Países busca situações limites, como um nervo exposto de um dente, procurando acuar os governos ou mesmo derrubá-los.

Apoiada pelos interesses geopolíticos norte-americanos, que subsidiam o complexo midiático mundial sob sua orientação, incluindo o cibernético, a “insurgência pacífica” alastra-se por onde interessa à política externa estadunidense ou nas regiões em que esteja sendo contestada.

Mas no cenário mundial são graves as dificuldades por que passa o establishment erguido com o objetivo de impor dois vetores fundamentais: o capital especulativo global e a hegemonia dos EUA.

A emergência dos BRICS é certamente um dos pontos nodais na inflexão da Nova Ordem que avança ao estágio da senilidade.

Porém existem outras nações com peso regional, aspirações econômicas, importância estratégica, conflitadas com essa geopolítica mundial unilateral.

A alta dos preços do petróleo, a novíssima Guerra do Iraque das forças extremistas armadas do Estado Islâmico e do Levante que deflagram violenta ofensiva contra o regime pró-americano faz com que os EUA busquem inusitado apoio do Irã nesse conflito na região. Um cenário inflamável.

A crise financeira que varre a Europa, os EUA, a sinuca de bico dos Estados Unidos na Ucrânia, as labaredas consumindo o Oriente Médio, a África sob agressões externas são faces dantescas dessa realidade.

Já o Brasil realiza com êxito, até aqui, evento esportivo global. Mais de 1 bilhão de telespectadores, 600 mil turistas, com a consigna da amizade entre os povos. Na América do Sul, a paz está à vista na Colômbia. Enfim, um continente com muitos problemas a superar mas sem guerras.

Continuemos assim, protagonistas da luta pelo progresso econômico, social, por um novo marco civilizatório para a humanidade.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Globalização e futebol

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:

No último amistoso à Copa Mundial de futebol da seleção norte-americana em Boston, chamou a atenção dos jornalistas um slogan em inglês no estádio traduzido ao espanhol e português.
Dizia “Uma nação. Uma equipe”. Significa para os Estados Unidos, num evento transmitido para mais de um bilhão de pessoas, mesmo que eles não sejam uma referência internacional do futebol, a reafirmação do sentimento de coesão nacional.

Um conceito que devia servir a todos os povos tanto quanto a nossa hospitalidade que deve ser aplicada sem exceções durante o evento.

Quanto aos EUA o slogan é útil aos desígnios do seu constitucional “destino manifesto proclamado por Deus” em comandar a humanidade através da sua cultura, civilização, geopolítica.

O Brasil ao sediar a Copa Mundial de futebol sofre duplo ataque, seja porque é um País vocacionado à prática do futebol, fator integrante da nossa cultura, pentacampeão mundial, seja porque é uma das nações emergentes integrantes dos BRICS, a 7ª economia global.

Para o Mercado, a geopolítica anglo-americana, o mote é utilizado para querer transformar a Copa Mundial de futebol numa reedição social do furacão Katrina, o Brasil em terra arrasada, nem que para isso tenha que “morrer também o mar” como dizia Garcia Lorca.

Exacerbando nossas vicissitudes, fabricando através da grande mídia tempestades de surtos coletivos com o objetivo de anular nossas virtudes de povo criativo, realizador, o nosso sentimento de autoestima, a capacidade de fazer algo relevante à confraternização entre as nações do mundo.

Quando bombardeiam a Copa do Mundo o que desejam mesmo é sufocar o espírito em comum do povo brasileiro. E de um Estado soberano.

Contando para isso com a falácia difundida pelo Mercado, aceita por alguns setores contemplados com a “sociologia do desgosto com o Brasil”, de uma falsa cidadania global, de um cosmopolitismo artificial porque não é real, num fictício mundo sem fronteiras.

Quando na realidade vários povos já dizem um contundente não à hegemonia unipolar da Nova Ordem mundial.

Porque o que está em curso, em várias partes do planeta, é a luta intensa pela ressoberanização dos Países, em defesa de outra ordem global multipolar que assegure a autodeterminação das nações, a democracia, a paz e o progresso social da humanidade.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

O labirinto espanhol

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:

Guernica de Pablo Picasso
 
A abdicação do rei Juan Carlos da Espanha para o filho Filipe não pode ser vista fora do contexto da crise capitalista que abate o continente europeu além de outras razões, como as denúncias de privilégios contra a monarquia etc. É uma crise das instituições espanholas.
A transição da longeva ditadura franquista para o regime democrático foi solução negociada entre as elites da nação ibérica e europeias com apoio do povo espanhol.

A ditadura de Franco foi implantada na Espanha às vésperas da 2ª guerra mundial apoiada pela Alemanha nazista que disputava a hegemonia imperialista com armas, depois de uma cruenta guerra civil com mais de 1 milhão de mortos.

Uma tragédia eternizada pelo gênio de Pablo Picasso em seu quadro Guernica cidade devastada por um ataque aéreo alemão um dos episódios brutais do século XX.

Numa época marcada pela crise internacional do sistema capitalista iniciada em 1929 no Crash da Bolsa de valores de Nova York cujas consequências, dizem os economistas, são muito parecidas com a crise que vivemos atualmente em pleno século XXI.

Assim entre uma violenta guerra civil, uma odiosa ditadura e a abdicação do rei Juan Carlos eclodiram abalos financeiros globais e na Espanha.

Atualmente nossos irmãos espanhóis contabilizam milhões de desempregados, jovens na maioria, quebra do sistema previdenciário, decadência da classe média etc.

Além de um País fraturado em várias províncias que reivindicam autonomia separatista, falando idiomas distintos.

Já o Brasil do século XXI transformou-se na 7ª economia mundial, integrante dos BRICS, vem crescendo persistentemente apesar da crise capitalista mundial que o afeta.

Mas que tem conseguido cultivar virtudes antropológicas de povo uno, republicano, sem movimentos separatistas, uma única língua, dimensões e riquezas continentais.

Esse é creio, o legado estratégico pelo qual devemos lutar na defesa da emancipação social, democracia, da soberania nacional num cenário global de crise, desorientação de rumos.

Afinal, até aqui, o destino não nos reservou o infortúnio em vida do grande Simon Bolívar, o Libertador, que segundo Gabriel García Márquez, depois de muito lutar pela independência da América espanhola, as intrigas políticas e ambições regionalistas deixaram-no sem uma pátria pela qual se sacrificar.