sexta-feira, 29 de abril de 2011

O memorando NSSM-200

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão e no Santana Oxente:


Há nos tempos atuais uma intensa batalha de ideias na disputa do poder pelas matérias primas do planeta que vem sendo combinada com intervenções militares, por parte de certas nações do chamado primeiro mundo, em especial através de um agressivo consórcio anglo-franco-americano e países agregados de menor destaque.

Esse movimento global age com uma estratégia em forma de pinça. Mescla o uso da força com a promoção de ideologias que divulgam, falsamente, a causa pela salvação do planeta que estaria ameaçado pela destruição ambiental.

Mas a verdadeira luta ambiental teria que denunciar o caráter predador desse sistema capitalista, em particular nessas décadas da nova ordem mundial que agravaram sobremaneira a degradação do meio ambiente, a obsolescência planejada da produção industrial, as crises sanitárias internacionais, o consumismo desenfreado etc.

A mesma nova ordem mundial arquiteta do neoliberalismo, que conduziu a humanidade a uma profunda crise econômica provocando uma intensa recessão nos países, a penúria social que se alastra, a perda de conquistas sociais históricas que remontam ao fim da segunda guerra mundial.

Além disso, ela é responsável por uma crise de civilização por ela mesma desenhada e que tenta repassá-la como se fosse uma crise dos povos, dos trabalhadores e da sociedade em geral, induzindo as pessoas ao niilismo, à apatia e à falta de perspectiva com relação ao futuro.

Assim, transita uma certa ideologia ambientalista cuja essência é a de um retorno a estruturas econômicas pré-industriais, uma espécie de volta esotérica ao estágio inicial da humanidade e que tem pressionado o Brasil para estancar o desenvolvimento dos seus imensos recursos naturais, das tecnologias avançadas, do Pré-Sal, da usina hidroelétrica de Belo Monte etc.

Mas o que está em disputa são as reservas naturais estratégicas do planeta que o Brasil detém, muitíssimo cobiçadas por esse consórcio imperial que também é o promotor das atuais agressões militares em todo o mundo.

Essa falsa tese ambientalista adversária do desenvolvimento energético industrial produtivo, respeitando-se a natureza, tem a mesma fonte teórica dos argumentos neo-malthusianos contidos no memorando NSSM-200 do governo norte-americano da década de setenta, que defendia a esterilização maciça das mulheres brasileiras e do terceiro mundo porque elas representavam um risco ao abastecimento alimentar do planeta.

Haroldo Lima: O sentido das “mudanças” no socialismo em Cuba


Em um ensaio de natureza teórica, Haroldo Lima, membro do Comitê Central do PCdoB e Diretor Geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), faz uma análise do que tem sido chamado de mudanças no socialismo de Cuba. O resultado é um longo e profundo artigo. Reproduzimos aqui alguns trechos de seu texto, que pode ser lido na íntegra em:

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=152722&id_secao=7


Por Haroldo Lima
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Ao surgir a “Cuba Socialista”, há cinquenta anos, foi como se uma estrela-guia passasse a iluminar o firmamento americano. Naquela época, não se esperava que nessa parte do mundo, e tão perto dos Estados Unidos, fosse surgir o “território livre das Américas”, hasteando a rubra bandeira do socialismo. E a revolução cubana tornou inamovíveis as trincheiras da soberania de Cuba, ao tempo em que empreendia as grandiosas tarefas da construção do socialismo.

Cedo os Estados Unidos puseram-se a campo para liquidar com tanta audácia e passaram a sórdidas e permanentes agressões, como a invasão da baia dos Porcos, as inúmeras tentativas de assassinar o líder principal da Revolução, Fidel Castro, as várias sabotagens, tudo culminando com o covarde bloqueio comercial, econômico e financeiro instituído em 1962, por dezenove vezes condenado pela ONU, mas até hoje em vigor.

Os percalços da construção socialista em Cuba foram e estão sendo enfrentados com a tenacidade e heroísmo de seu povo, de seu Partido e de seus líderes, com Fidel à frente. E as conquistas começaram a se acumular. O país passou a ter uma defesa sólida, baseada em forças armadas bem treinadas e povo mobilizado. E, aspecto principal, avançou sobremaneira no terreno social. Segundo a Wikipédia, “Cuba tem uma taxa de alfabetização de 99,8%, uma taxa de mortalidade infantil inferior apenas a de alguns países desenvolvidos e uma expectativa de vida média de 77,64”...

... parte dessas dificuldades, as relacionadas com a pouca base industrial, o sistema colonial e o atraso cultural, faz-nos lembrar dos requisitos preliminares à emergência do socialismo – relações próprias de capitalismo desenvolvido – indicados pelos fundadores do socialismo científico. A ausência desses pré-requisitos em algum país contribui para transformá-lo em um “elo frágil” da cadeia do imperialismo mas, como alertou Florestan Fernandes, “o 'elo frágil', se facilita a revolução, interfere de modo profundamente negativo em sua evolução”. Segundo Florestan, “os obstáculos resultantes do colonialismo, do atraso cultural e do desenvolvimento desigual tenderão a interferir no processo revolucionário, retardando-o, deformando-o ou o interrompendo” (F. Fernandes, Em Defesa do Socialismo, 1990).

Os desafios do momento e o Congresso de “mudanças”


Apesar de tudo, Cuba conquistou grandes vitórias, especialmente no campo social, mas não só. Desde 2002 cresce, quase sempre, a uma média superior a 5%, tendo atingido de 11% a 12% em dois anos consecutivos. Mas, problemas de fundo foram se acumulando na economia cubana, decorrentes de sua herança estrutural. Em 1991, com a dissolução da União Soviética, que lhe comprava 60% do açúcar e lhe fornecia petróleo e manufaturas, a situação se agravou. Esforços inauditos foram feitos e resultados até surpreendentes foram conseguidos, mas no limiar do sacrifício. Novos problemas e grandes prejuízos sucedem, a partir de adversidades climáticas (16 furacões entre 1998 e 2008). A crise capitalista de 2008, ainda não superada, provoca, por fim, a redução do seu crédito internacional.
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É neste contexto, de convicção quanto à necessidade de manutenção do socialismo e de dificuldades e apreensões quanto aos mecanismos de garanti-lo e desenvolvê-lo, que se realizou o 6º Congresso do Partido Comunista de Cuba, entre 16 e 19 de abril passado. O Partido mostrou-se à altura dos desafios, e soube tomar medidas para preservar o socialismo, fazendo mudanças consideradas imprescindíveis. O Informe do camarada Raúl Castro foi o ponto alto do Congresso. Discutido durante três dias, foi aprovado.

O Informe diz que, “com total segurança”, a “vontade do povo” é de “atualizar o Modelo Econômico e Social, com o objetivo de garantir a continuidade e irreversibilidade do socialismo, assim como o desenvolvimento econômico do país e a elevação do nível de vida, conjugados com a necessária formação de valores éticos”.
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Desenvolvendo e atualizando o Modelo Econômico e Social


Ponto importante das proposições é o que aborda a questão central da atualização do Modelo Econômico e Social: “o incremento do setor não estatal da economia”. De saída o Informe enfrenta a questão que geralmente é suscitada. Significará esta medida o início do abandono do socialismo? Será o caminho da privatização, tão a gosto do neoliberalismo? Raúl Castro, enfático, responde: “O incremento do setor não estatal, longe de significar uma suposta privatização da propriedade social, como afirmam alguns teóricos, está chamado a converter-se em um fator de fortalecimento da construção do socialismo em Cuba”...

O Estado, nos termos do Informe, poderá “elevar sua eficiência nos setores fundamentais da produção, que são propriedade de todo o povo, e conseguirá afastar-se da administração de atividades não estratégicas para o país”; estará pronto para “defender a soberania e a independência nacional”; “continuará, em condições mais favoráveis, assegurando a toda a população, por igual e de maneira gratuita, os serviços de Saúde e Educação, protegendo-os mediante os sistemas de Seguridade e Assistência Social, promovendo a cultura física e o esporte em todas as suas manifestações e defendendo a identidade e a conservação do patrimônio cultural e a riqueza artística, científica e histórica da Nação.”
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A linha das mudanças propostas pelo Informe é oportuna e decorre da decisão do Partido de Cuba de perseverar no caminho socialista. Riscos haverá, mas sobre eles, vale o vaticínio do deputado Ariel: “Nós, os cubanos, sabemos que estamos correndo muitos riscos. Mas o maior risco é não mudar”. E vale o prognóstico de Raúl Castro: “Estamos convencidos de que a única coisa que pode derrotar a Revolução e o Socialismo em Cuba, pondo em risco o futuro da Nação, seria nossa incapacidade de superar os erros que cometemos durante mais de cinquenta anos e os novos que poderão ocorrer.”

Conclusão


As mudanças encaminhadas no 6º Congresso do Partido Comunista Cubano têm sentido histórico. Tranquiliza os revolucionários de todo o mundo quanto às possibilidades da Ilha superar suas deficiências, ganhar produtividade em seu trabalho e, assim, perseverar no vitorioso rumo socialista, abrindo perspectiva de melhorias amplas para seu povo. Essas mudanças são a resposta dos comunistas cubanos a problemas que já foram registrados em outras ocasiões, por dirigentes de outras experiências socialistas do mundo.

O primeiro registro é da situação enfrentada por Lênin, quando encabeçou a Nova Política Econômica , a NEP, no início de 1921, para vigorar na Rússia socialista, pouco antes da criação da União Soviética. A economia passaria a contar com empreendimentos privados e a propriedade estatal situava-se nos pontos estratégicos. Em janeiro de 1923, um ano antes de morrer, Lênin escreveu seu trabalho Sobre a Cooperação, e aí afirma: “Com efeito, todos os grandes meios de produção em poder do Estado e o poder do Estado em mãos do proletariado; a aliança deste proletariado com os milhões e milhões de pequenos e microcamponeses; a direção dos camponeses pelo proletariado etc.; por acaso não é disto que se necessita para edificar a sociedade socialista completa, partindo da cooperação (...) que antes alcunhávamos de mercantilista?”.

O segundo registro foi o que se deu na China, em 1978, quando o camarada Deng Xiaoping, às voltas com problemas de baixa produtividade do trabalho, formulou a teoria do “socialismo com peculiaridades chinesas”. Dita teoria foi tendo muitos desdobramentos conceituais, chegando hoje o PC da China a caracterizar a economia do seu país como “socialismo de mercado”. Um balanço feito no 15º Congresso do PC da China, no final de 1997, pelo camarada Jiang Zemin, secretário-geral do Partido, traça o perfil básico do modelo econômico em desenvolvimento na China, que se pode reproduzir nesses tópicos: “vive a China a etapa primária do socialismo”; “uma economia socialista de mercado está em construção”; “o socialismo requer posição dominante da propriedade pública e o desenvolvimento paralelo de diferentes formas de propriedade”; “a posição dominante da propriedade pública deve manifestar-se principalmente através da predominância dos ativos públicos sobre o total dos ativos da sociedade e do controle do setor de propriedade estatal sobre os aspectos fundamentais da economia nacional”; “o setor estatal tem o papel dirigente no desenvolvimento econômico”; “a propriedade pública pode e deve tomar diferentes formas”; “a propriedade coletiva é um componente importante do setor público da economia”; “e o setor não público – empresas privadas e individuais – é um componente importante da economia de mercado socialista da China”.

Registre-se ainda que o Partido do Trabalho do Vietnã também empreende a construção do socialismo em seu país, reservando a propriedade estatal aos pontos vitais da sua economia.

Por último, lembremos que Marx e Engels nunca descreveram formas concretas de como seria o socialismo, inclusive porque não viveram esta experiência. O que mais fizeram foi sinalizar traços gerais sobre o socialismo e o comunismo. Na Crítica ao Programa de Gotha, Marx acentua que a sociedade comunista se originaria da capitalista e, por isso, apresentaria, “durante um longo período”, “em todos os aspectos, o selo da velha sociedade de cuja entranha procede”. E Engels, em famosa carta a Otto Breslau, em agosto de 1890, faz essa reflexão: “Assim, se temos partidários suficientes entre as massas, poder-se-á logo socializar a grande indústria e a grande agricultura latifundiária, desde que o poder político esteja em nossas mãos. O mais virá mais ou menos rapidamente. E tendo a grande produção, seremos donos da situação”.

As experiências socialistas da China e do Vietnã têm feito grandes progressos. As “mudanças” do socialismo em Cuba foram para fortalecer o socialismo. Este o sentido das mudanças.

Que após o 6º Congresso do PC de Cuba, este “território livre das Américas” revitalize suas forças para continuar a dar, como sempre fizeram, sua contribuição valiosa à causa universal do socialismo.

Marivone Loureiro em documentário sobre a saga das presas políticas do Bom Pastor

Publicada no jornal Tribuna do Sertão em sua edição desta segunda-feira, 25/04, matéria dos jornalistas Vladimir Barros e Bernadino Souto Maior relata que mais de 30 anos depois, 17 das 24 presas, entre elas, a alagoana Maria Yvone Loureiro Ribeiro, a Marivone, dirigente estadual do PCdoB/AL, que pertenceu nos “anos de chumbo” ao PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário) e que ficou presa no período no Presídio Feminino Bom Pastor, voltaram a Recife para uma gravação de um documentário sobre a saga das presas políticas do Bom Pastor. O documentário - de aproximadamente 20 minutos, com lançamento previsto para o dia 17 de junho, colheu depoimento das presas políticas que vivenciaram momentos de terror, mas também compartilharam histórias de alegria.

O documentário é dirigido pela pernambucana Tuca Siqueira. O filme integra o projeto Marcas da Memória, capitaneado pela Comissão da Anistia do Ministério da Justiça.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Renato Rabelo: o elo perdido de FHC, o ideólogo da oposição


Em artigo publicado semana passada, para a revista Interesse Nacional, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso assumiu mais uma vez o papel de ideólogo da oposição. Renato Rabelo, presidente nacional do PCdoB, faz uma séria análise:

Por Renato Rabelo

Ao tentar buscar a essência do movimento real da sociedade brasileira, FHC procura o elo perdido entre a realidade conforme ele a vê e a centelha que poderia colocar fogo na pradaria, tendo em vista a fragilidade da atual estratégia desorganizada e dispersa da oposição. Um pouco antes, o ex-governador Aécio Neves (PSDB-MG) já havia discursado da tribuna do Senado Federal, com pompa e circunstância, tentando se assenhorear – sem sucesso – da orientação principal da linha oposicionista.

Visão estreita do processo

Utilizando um formato quase acadêmico, o ex-presidente FHC literalmente joga a toalha acerca da possibilidade de a voz oposicionista tocar os corações e mentes das classes sociais menos favorecidas. Eis a primeira constatação de seu pensamento: sua visão de classe social – e o conteúdo básico da orientação oposicionista – somente teria condições de atingir os setores médios e não todos os setores da sociedade.

Ao negar a disputa pelo “povão”, não compreende que uma das grandes características de nosso tempo está na capacidade de autonomia subjetiva do que se compreende por povo brasileiro. Quando se afirma que sua visão parte de um pressuposto elitista, é porque está em função de a observação sobre o “público-alvo”: acreditar que as classes médias – antes de lutar pela manutenção de seu próprio status quo – seriam mais capazes que os setores populares de discernir entre o certo e o errado em matéria de política.

Esse raciocínio está fundamentado na presunção aristocrática de considerar o povo como uma simples massa de manobra, ao bel-prazer deste ou daquele núcleo de poder, e que as políticas sociais do governo Lula funcionaram apenas como uma política de simples cooptação. É preciso levar em conta que o alargamento da base material desta grande massa foi não apenas um elemento de cooptação, e sim uma condição objetiva para a elevação da consciência social. E esse fenômeno atingiu em cheio uma linha política de oposição que sempre esteve desconectada dos mais profundos anseios populares no Brasil.

Este é o ponto: as massas populares – neste ciclo inaugurado pelo governo Lula – tiveram a chance de distinguir entre um governo que deu de ombros à aguda seca do Nordeste em 1998 e outro que pôs os interesses populares imediatos no leme da política cotidiana do governo. A universalização dos programas sociais é apenas a ponta do iceberg, que pode ser exemplificada também com outras iniciativas de envergadura, como a transposição do rio São Francisco e as oportunidades que se abrem com outras obras de infraestrutura e de reforma urbana na região.

A história e a política ensinam que uma visão estreita de mundo é fruto da exacerbação de um único aspecto da realidade como forma de explicar o todo. Creditar – como faz FHC – pura e simplesmente aos programas distributivos o sucesso de Lula prova que a oposição e seus lugares-tenentes na mídia, na academia e no próprio aparelho de Estado ainda não conseguem enxergar além de seus horizontes. Tudo leva a crer que, a julgar por esse corte puramente metodológico, a oposição poderá continuar perdida por muito tempo.

Para ler o texto na sua íntegra, veja em:

http://www.pcdob.org.br/noticia.php?id_noticia=152597&id_secao=3

Sorrentino: o desafio e a potencialidade da Organização do PCdoB

O 7º Encontro Nacional sobre Questões de Partido realizado entre os dias 15 e 17 de abril, reuniu em São Paulo mais de 500 dirigentes do PCdoB de todos os estados do Brasil. O evento teve como norte a discussão sobre a organização do Partido e o estreitamento das ações partidárias entre o Comitê Central e os Comitês Municipais. Acontecimento inédito na vida do PCdoB por seu porte.

O Secretário Nacional de Organização do PCdoB, Walter Sorrentino, apresentou informe ao 7º Encontro, em sua abertura na sexta-feira à noite.

Destacou Sorrentino que “O PCdoB não é apenas um partido maduro quanto ao que quer, ao que propõe para o Brasil. Não é tampouco apenas o mais antigo partido político do país, sempre em atividade permanente desde 1922. É ainda hoje o partido que mais dedica energias à organização militante e consideramos isso grande serviço à luta pelo socialismo tanto quanto à democracia no Brasil. Um partido do presente para antecipar o futuro”.

Afirmando que o informe do presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, havia traduzido os desafios estratégicos do ponto de vista tático, dos caminhos a percorrer, acrescentou: “Precisamos partir disso para um partido mais forte eleitoralmente, na ação política e de massas junto aos movimentos sociais, na luta de ideias. Precisamos de maior inserção na sociedade, para falar a todos os trabalhadores e todo o povo. Nosso alvo são os trabalhadores, os jovens, as mulheres, as forças intelectuais que debatem o rumo do Brasil em cada área de atuação, todo o povo trabalhador em nosso país. O projeto político que apresentamos tem uma adesão social determinada, falamos e representamos a esses setores, e isso precisa se intensificar, pois é a força motriz de tudo que fazemos e representamos.

Por consequência, queremos também o partido maior, mais estruturado desde as bases militantes, como suporte às vitórias políticas pretendidas. A linha política de estruturação partidária aponta para um partido comunista de quadros e de massas, com a cara do povo brasileiro, que cultive o sentido estratégico de nossa luta por novo projeto nacional de desenvolvimento como caminho para o socialismo. Um partido com identidade socialista perante o país, que tenha fronteiras definidas quanto ao que seja ser membro do Partido. Um partido igual aos demais no cenário brasileiro, mas profundamente diferente, pois luta por seu Programa determinado, formula um projeto político único a cada momento que deve compromissar todos com unidade e disciplina, e tem caráter militante comprometido”.

Afirmou Walter Sorrentino: “Política e organização formam um bloco orgânico, não se dissociam. A organização materializa a política; na verdade se organiza a aplicação da política decidida. Então, se a organização serve à política, é hora de a política servir mais à organização, no sentido de ajudar a organizar a militância de base. Sem política justa não há organização estável; dada uma política justa, entretanto, a batalha pelo seu sucesso se decide na capacidade de organizar e mobilizar os militantes e o povo”.

Insiste nos objetivos do encontro de organização: “bases partidárias carecem de ter quadros experimentados e dedicados como pivôs. Sem isso, espontaneamente, elas se dispersam na atividade. E, o que falta, em segundo lugar, essencialmente, é estabelecer a cada momento a pauta e agenda das atividades. Pauta, agenda e quadros de base: essa a chave para dar vida mais duradoura às bases, tendo por moldura o projeto político e a pauta de luta que o partido traçou”.

“Comitês Municipais, quadros intermediários e de base precisam ocupar o centro da tela do radar do trabalho partidário nos Estados. Esse é um dos 3 objetivos gerais da Política de Quadros do 12º Congresso. Quanto à direção nacional, perseguirá o maior dos objetivos, que é formar a futura geração dirigente do PCdoB para os próximos 10-15 anos, contando com os comitês estaduais. Mas nunca perderemos de vista que a maior escola de formação de quadros é a vida militante regular nas fileiras do partido e isso se dá desde as bases”.

Concluiu repetindo as últimas palavras da Carta-compromisso que veio a ser aprovada pelo 7º Encontro Nacional sobre Questões de Partido:

“O PCdoB inicia a jornada do nonagésimo ano de fundação. Isso nos impulsiona a elevar a identidade comunista do PCdoB, cuja necessidade avulta nos tempos presentes em que crescem as pressões ideológicas e políticas pelo rebaixamento do papel estratégico do partido comunista. Com o legado que recebemos desde 1962 na reorganização revolucionária do PCdoB, na luta travada no 8º congresso para extrair lições da crise do socialismo, no enfrentamento da onda neoliberal, até a reformulação programática, estratégica e da construção partidária renovada, queremos seguir adiante para legar às gerações futuras de comunistas um partido consciente de sua indispensabilidade para transformações revolucionárias, forte, combativo e unido, para servir ao povo trabalhador e ao Brasil”.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

O atual espírito da História

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho e na Tribuna do Sertão:


Não creio que haja para uma pessoa, com razoável discernimento das coisas, alguma dúvida sobre a época sombria em que vive o mundo na atualidade.

Sob a inclemente aridez de uma crise global da economia resultante da desvairada acumulação e concentração do capital financeiro mundial, as nações entram em crise profunda e a conta recai, como sempre, sobre os trabalhadores em particular e a sociedade em geral.

Desta vez a profundidade da crise não vem poupando sequer os países mais ricos como é o caso da Europa, sem falar dos Estados Unidos da América, porque é por lá que se localiza o epicentro desse terremoto econômico.

Paralelamente a todo esse contexto financeiro e social gravíssimo, cresce a extrema direita por todos os lados muito especialmente no velho continente e nos EUA.

O que representa um movimento estratégico desse próprio capital global de contenção das manifestações populares profundamente penalizadas pelas medidas de aguda recessão.

Medidas essas adotadas pelos governos conservadores que tentam minimizar os efeitos da bancarrota nos Estados nacionais atingidos, adotando o receituário do FMI e das políticas neoliberais.

Em decorrência das agudas contradições que vão se gestando aumentam os conflitos entre os movimentos sociais que vão às ruas em protestos e as forças policiais que os reprimem.

Mas as tendências agressivas do grande capital financeiro não se restringem à adoção de medidas econômicas recessivas e de profundos cortes nos direitos sociais das populações.

Nesse contexto mundial em que estamos vivendo ressurgem as guerras de agressão e pilhagem contra as nações e suas matérias primas.

A Líbia é atacada por uma coalizão americana, francesa e inglesa sob a bandeira da OTAN. Já na Costa do Marfim também reaparece, como um surto de nostalgia colonial, a mão pesada e armada do neocolonialismo francês. A beligerância intervencionista se estende ao continente africano.

Na Síria o que é sistematicamente divulgado pela imprensa são as ações de terroristas financiados por esses mesmos governos visando desestabilizar essa nação.

Assim, o atual espírito da História é o da reafirmação intransigente da soberania, autodeterminação, respeito à integridade territorial e econômica de todos os povos contra as intervenções dessa aliança imperial.

domingo, 17 de abril de 2011

Mãos ao alto

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho e na Tribuna do Sertão:


A onda de insatisfação que varre os Estados Unidos e muito especialmente os Países europeus, e que infelizmente não é divulgada em sua exata dimensão pela grande mídia hegemônica internacional e nacional, não para de crescer.

Ela revela que a crise mundial da economia longe de arrefecer, cresceu em profundidade e extensão. Uma das suas faces mais explícita na atualidade é a onda de especulação financeira que está por trás dos aumentos dos preços das commodities de alimentos e energia.

Quer dizer, a cada bolha que estoura como a imobiliária em 2008, outra ou outras são infladas em uma ganância de lucro absolutamente irracional e sem nenhum controle.

Sabe-se que além da especulação com os alimentos e energia há uma substancial tendência de aumento dos preços das matérias primas em geral. E se um País pode se beneficiar dessa crise em um primeiro momento a decorrência quase que inevitável será a contaminação geral de todas as economias em ultima instância.

Ou seja, ao final prevalecerá um salve-se quem puder. E nesses casos sempre a conta é transferida para os mais fracos. Essa é a lei inexorável do capitalismo.

Não se deve no atual contexto mundial de permanente agravamento dos conflitos armados nos vários continentes e aumento das tensões por todos os lados em larga escala, esquecer que as soberanias nacionais e as democracias transformam-se em conceitos frágeis como uma porcelana.

Os fóruns internacionais e as regras civilizadas entre os Países por onde transita o exercício da diplomacia tem sido postos de lado e substituídos pelos recursos armados e ainda se invocam os diretos humanos e as liberdades democráticas como pretextos para se aviltar a autodeterminação dos povos.

Enquanto isso, órgãos como o FMI, de amarga memória aos brasileiros, agem contra as soberanias econômicas que são vítimas dos ataques especulativos externos, sempre acompanhados de aliados internos.

Nesses momentos é que surge na grande mídia hegemônica das nações em crise econômica a famosa frase: para uma situação crítica como a que vive o País o jeito é aplicar um remédio amargo para salvar o paciente.

Há que se tomar medidas acautelatórias em nossa política externa e no controle da economia em um mundo que se precipita em uma fase dramática de instabilidade geopolítica e das finanças.

sábado, 9 de abril de 2011

O Imperativo Energético

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho e na Tribuna do Sertão:


O violento terremoto seguido de um tsunami que destruiu boa parte de uma região do Japão reabriu, mais uma vez, a discussão sobre as fontes de energia no mundo em decorrência do acidente nuclear com as usinas atômicas, afetadas pelas duas catástrofes simultâneas que abalaram a nação asiática.

No entanto, o rumo que vem tomando o debate sobre a questão energética beira o irracionalismo e a ausência quase que total de base científica. Na realidade ele se encontra carregado de profundo tom ideológico cujo conteúdo central baseia-se na negação da possibilidade do ser humano continuar a exercitar o seu destino biológico de animal inteligente.

Trata-se assim de negar pela inteligência o papel da própria inteligência humana. Coisa que só o homem é capaz de fazê-lo. E isso é na realidade uma tendência filosófica pessimista e autodestrutiva típica de uma época em que predomina uma crise de civilização.

A chamada nova ordem mundial vai chegando, mais cedo que se imaginava, a um impasse sem reparos. E a elite financeira mundial que dela mais se beneficiou, porque foi a arquiteta principal desse projeto civilizacional, busca induzir a humanidade ao niilismo total e a um horizonte sombrio e sem futuro com o objetivo de imobilizá-la de qualquer perspectiva emancipacionista.

Daí que surgem concepções baseadas em falsas premissas científicas que buscam introduzir um processo regressivo na civilização humana partindo de uma hipotética volta às origens dos métodos de produção e consumo das sociedades. Uma espécie de retorno idílico ao estágio natural.

Essas são concepções perigosamente restritivas e seletivas, porque nelas seguramente não cabe a esmagadora maioria da população humana.

Já a economia do desperdício, do consumismo desenfreado, da obsolescência planejada, da destruição ambiental, das crises sanitárias estruturais, esses são males típicos de um sistema, que podem ser evitados.

É nesse contexto que se insere a discussão sobre alternativas energéticas, mais especificamente a atômica. Alternativa essa de que os EUA e a Europa jamais vão abrir mão porque dela dependem em mais de 75% das suas respectivas gerações de energia para a indústria e consumo residencial.

Quanto ao Japão ele retornaria ao final do século dezenove se abdicasse da sua produção energética atômica e parte considerável da sua população sucumbiria fisicamente. Enfim, o pessimismo cultural não irá resolver o futuro da civilização e os grandes desafios da humanidade.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Cem milhões por hora

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho e na Tribuna do Sertão:


Cem milhões de dólares foi o que custou nas primeiras horas, aos Estados Unidos, Inglaterra, Itália e França para atacarem militarmente a Líbia, de acordo com o Wall Street Journal. De lá para cá não se sabe quanto mais aumentou a despesa, mas seguramente já vai em uma quantia fabulosa.

O mais paradoxal dessa situação toda é que essa intervenção militar e a sua astronômica contabilidade financeira se dá no momento em que centenas de milhares de ingleses e europeus vão às ruas em protesto contra a crise econômica e social.

Ao mesmo tempo crescem as manifestações de intolerância e racismo contra estrangeiros nos EUA e comunidade européia e a última delas foi divulgada ao vivo pela mídia global, contra a seleção brasileira em Londres nesse fim de semana passado.

E se não bastassem os sinais de ebulição, as notícias dão conta do crescimento institucional da extrema direita tanto nos Estados Unidos quanto na Europa. Portanto, quando se fala que há uma convulsão das ruas árabes também é certo afirmar que no primeiro mundo as coisas também vão se deteriorando cada vez mais.

As intervenções militares imperiais e o cerco midiático à opinião pública internacional em relação aos objetivos e ações agressivas desses países, nas fronteiras árabes e outros lugares do planeta, representam um contrafluxo histórico.

É como se estivéssemos retornando sob novas condições históricas aos primórdios do colonialismo sem disfarces. Mas todos percebem as novas ofensivas invasivas dessas nações hegemônicas em quase todos os cantos da Terra.

Ao mesmo tempo essas potências vão promovendo fortemente certas políticas pelo mundo que incorporem ativistas às suas causas, o que demanda altos investimentos financeiros até porque cresce muito o repúdio internacional às ações belicosas imperiais.

Assim o que estamos presenciando são progressivos sinais de esgotamento da nova ordem mundial, provocando uma crise de civilização. Uma civilização erigida à imagem e semelhança dos seus construtores responsáveis.

Nessa batida em que vamos presenciando o tom cada vez mais elevado das ameaças, o aumento das intervenções militares, os brasileiros devem se cuidar. Não há economia, continente ou nação imune a esse cenário internacional turbulento e sombrio.