sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Quem paga a conta

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste, no Almanaque Alagoas e no Santana Oxente:

As maquinações da política externa norte-americana têm sido reveladas pelo ex-agente da NSA, agência de espionagem dos Estados Unidos, Edward Snowden, através de fartas denúncias sobre escutas, grampeamentos de lideranças políticas, além dos cidadãos comuns, empresas estratégicas das nações na busca de informações que garantam os interesses imperiais, chauvinistas, da maior potência do planeta.
O que não tem sido mostrado são os objetivos mais amplos da Inteligência dos EUA em que pesem os fundamentados relatos já divulgados por estudiosos, especialistas e jornalistas.

Também não são segredos as relações estreitas do grande complexo midiático hegemônico mundial com as orientações da CIA associadas às ações desestabilizadoras dos Estados Unidos contra os mais diversos Países do mundo. Esse não é um contexto recente, vem de longa data.

Em 2008 a jornalista inglesa Frances Stonor Saunders publicou um livro intitulado “Quem pagou a conta? A CIA na guerra fria da cultura”, revelando o massivo financiamento do governo americano à organizações e associações de direita em nível global mas que em inúmeras vezes apoiou entidades culturais, grupos de escritores, intelectuais divergentes dos Países comunistas ou de orientação popular, bem como de governos soberanos, uma prática, ao que tudo indica, que jamais cessou.

Outro ex-agente da CIA e professor universitário, Chalmers Johnson recentemente falecido, publicou três volumes de grande repercussão entre eles o livro Blowback no mesmo diapasão de alertas sobre os custos e as consequências da política externa americana, as ações de espionagem e provocações dos vários governos norte-americanos.

O historiador Moniz Bandeira vem escrevendo várias obras sobre o mesmo tema lançando agora, em 2013, “A Segunda Guerra Fria” com substanciais informações sobre as manobras geopolíticas dos Estados Unidos que vêm treinando inclusive ativistas e mercenários de linha insurgente com o aberto intuito de desestabilizar nações emergentes.

Assim, o Brasil pela dimensão continental e papel geopolítico estratégico tem sido igualmente alvo desse movimento dos EUA onde estão incluídas também as ambições sobre a Amazônia brasileira e as recentes descobertas das riquíssimas jazidas petrolíferas submarinas em suas águas territoriais.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

As urnas do Chile

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste, no Almanaque Alagoas e no Santana Oxente:

Nas últimas décadas o mando do capital financeiro fez-se avassalador, associado ao poder imperial unilateral dos Estados Unidos, impondo aos povos uma economia desastrosa pródiga em catástrofes de todas as maneiras onde as mais emblemáticas são a tragédia econômica-social que assola as nações europeias e a fome endêmica que atinge um terço da população do continente africano.
O processo de controle do grande capital não se restringiu às áreas econômica, militar, ocupou outros espaços com o objetivo de garantir a mais completa transformação das nações à sua imagem e semelhança, formatando a ideologia do pensamento único, apoiando-se para tanto no monopólio da informação de massas em escala mundial no intuito de combater qualquer pensamento crítico antissistêmico.

Um dos conceitos ditados pelo Mercado global foi a “política do possível” retida a projetos limitados, às ações de tipo “compensatórias” desprovidas de horizontes com um longo curso.

Para fazer crer que o futuro é uma inusitada recorrência ao mesmo ponto de partida, confiscando anseios, avanços estruturais, sonhos de saltos aos novos tempos, às aspirações de superar contextos nacionais incompletos, travando o necessário projeto soberano como se os Países estivessem ancorados numa espécie de maldição da eterna dependência, da subordinação infinita.

No intuito de fazer valer a cultura do pragmatismo elementar, do ativismo limitado, conformista, que pontificou nas últimas décadas, dentre as várias opções políticas, iniciativas institucionais nos Países inclusive aqueles de economia emergente.

As viragens na geopolítica mundial, a emergência dos BRICS, a crise do capital global, seus efeitos nos Países do 1º mundo, derrotaram essa doutrina mas que ainda se impõe, pela via do longo tempo de uso, como um mal estar em um esférico “presente contínuo” inclusive entre as novas gerações, como disse o historiador Eric Hobsbawm.

Um balanço crítico dos governos democráticos com políticas sociais na América Latina, as derrotas da ortodoxia neoliberal, a recente vitória no Chile de Michelle Bachelet podem ser vigorosos estímulos às lutas de resistência nacional, popular em pleno curso, às grandes utopias transformadoras de conteúdo histórico, universal, opostas a essa civilização em crise do Mercado global.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Civilização da barbárie

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste, no Almanaque Alagoas e no Santana Oxente:


A Nova Ordem Mundial determinou de maneira hegemônica, nas últimas três décadas, um modelo de civilização cuja primazia é a realização das vontades irrefreáveis do capital global acima do direito internacional, rasgando-o quando tem sido necessário.

Forjando um tipo de sociedade uniforme, presente em quase todas as nações do planeta onde a maioria das pessoas vive sob as diretivas compulsivas do lucro, do capital rentista, com uma agenda social global fragmentária, e o que importa é a exibição pública da riqueza, o culto à celebridade, à fama, levados ao limite.
Os grandes valores humanos, arduamente conquistados durante séculos contra o obscurantismo, intolerância, o enlouquecido fanatismo, o ódio, foram empurrados para algum lugar na consciência dos povos onde se processa a resistência.

Essa ideologia do pensamento único espalhada ao planeta, associada à economia neoliberal, constituiu além de hostil, feroz destruição financeira e social, uma profunda crise antropológica onde mais que em qualquer época recente nega-se a relevância, o lugar do ser humano na edificação das sociedades, substituído pela deificação da mercadoria.

Se em outros períodos esse fetiche típico do mercado era exercido com certo pudor em nome de algo fantasiosamente relevante, hoje o valor nominal do indivíduo reside na condição dele adquirir e exibir produtos diferenciados e quanto mais inacessíveis aos demais maior o seu prestígio na escala social.

Não é casual que atualmente cultue-se ideologicamente como algo absolutamente normal nas sociedades sob a chamada Nova Ordem Global o protagonismo da aparência física pessoal mas que transforma esses mesmos indivíduos em objetos-mercadorias na disputa pelas vagas ao mercado de trabalho.

Essa enxurrada cultural de valores artificiais provoca nas comunidades surtos de bestialidades constituindo o vazio fundamental para a selvageria individual, coletiva, inominável em que fenômenos de barbárie social como o ocorrido no estádio de futebol em Joinville tendem a se ampliar se não forem contidos dentro da lei.

Assim, é imprescindível o crescimento econômico sem o qual nada se constrói mas, impõe-se como decisivo, um outro projeto de sociedade humana a essa crise civilizacional em que o mundo se encontra mergulhado, inclusive o Brasil.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Sequestro da política

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste, no Almanaque Alagoas e no Santana Oxente:

Foram a primeira-ministra da Grã-Bretanha, Margareth Thatcher, e Ronald Reagan, ex-presidente dos Estados Unidos, ator de quinta categoria do cinema americano, que deram início ao período neoliberal válido para quase todos os Países iniciando uma época dramática para a humanidade.
Com o domínio absoluto do capital rentista, associado à força unilateral da única superpotência efetiva, os EUA, consolidou-se a hegemonia do liberalismo fundamentalista, adaptado ao período contemporâneo.

Assim foi possível edificar a mais contundente ditadura do pensamento único que a humanidade conheceu em todos os tempos expandindo-se sobre a cultura, mídia, artes, comportamento, economia, filosofia, conceitos “científicos”, relações internacionais etc, formatando a dita “Governança Mundial”.

Como vaticinou a Dama de Ferro tratava-se de pôr em prática a tese que “não existe a sociedade, o que existe são os indivíduos e o Mercado”, uma espécie de ligação direta, sem intermediários, entre a doutrina neoliberal ortodoxa e as populações.

Mas, para manter a “aparência civilizada” tornava-se vital a “Intermediação” entre as políticas neoliberais conduzidas por suas agremiações qualificadas, seguidoras dessa doutrina, e os indivíduos desprovidos da cidadania, retidos à condição primária de consumidores, ou seja, a manutenção da forma clássica de democracia representativa.

Daí porque a contínua tentativa de sequestro da própria atividade política do seio do Estado nacional, dos povos, para torná-la refém do círculo estreito do Mercado de onde, esse é o desejo, a política não deve extrapolar, ao tempo em que se busca divorciá-la das sociedades através da estratégia de sua criminalização, meticulosa propaganda de descrédito, deixando-a ao puro deleite dos prepostos do capital global.

Assim cabe aos brasileiros patriotas, democratas, progressistas desejosos em fazer avançar a luta por um projeto de desenvolvimento soberano, o fim das históricas, abissais desigualdades sociais, combater a dispersão e a fragmentação social pretendidas, protagonizar a solidez, a defesa do Estado nação, distinguir nos fenômenos a essência da aparência, apoiar a lúcida, organizada união popular através da luta política, verdadeiro, único caminho das mudanças aqui e em qualquer outro lugar do mundo.