quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Apocalípticos e integrados

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste, no Santana Oxente e no pcdobalagoas.org.br:


O mundo literário lamenta o falecimento do grande pensador italiano Umberto Eco (1932-2016) e ao mesmo tempo celebra a rica produção intelectual de homem lúcido no mundo ocidental e dos tempos contemporâneos.

Especializado em filosofia, semiologista, medievalista, autor de vários tratados, obras de ficção de repercussão, Umberto Eco também foi, de várias maneiras, um crítico e ensaísta sobre a globalização, a matriz neoliberal e a ideologia dominante no atual período Histórico que vivenciamos.

Autor de O Nome da Rosa e o Pêndulo de Foucault, entre vários best-sellers, lançou em 2015 outro livro polêmico, Número Zero, uma narrativa ácida sobre o atual papel da grande mídia hegemônica global.

Com Apocalípticos e Integrados (1964) traça uma crítica à grande mídia mergulhada numa visão elitista e nostálgica da cultura, ao tempo em que numa atitude cúmplice divulga os produtos culturais ocultando o modo como são produzidos.

Em Número Zero mostra como a chantagem política seria o motor de um jornal que jamais seria publicado, mas sua edição experimental era o próprio mote de uma sórdida trama que, embora ficcional, correspondeu, de fato, à vida política italiana no final do século XX.

Para um dos seus personagens, essa grande mídia não é feita para revelar mas para encobrir as notícias que interessam aos grupos oligarcas que em última instância ditam as regras na sociedade.

As reflexões de Eco têm valor universal já que a preponderância das forças do Mercado financeiro, das corporações legais, ou mais ou menos subterrâneas, continuam dando as linhas editoriais da mídia hegemônica.

É o que acontece no Brasil, e na América Latina, quando os mesmos atores arquitetam o retorno econômico para a via ultraliberal e o democrático rumo a um Estado de Exceção.

Sob a idealização de que a retomada da democracia por si só resolveria os nossos grandes problemas, o País procura agora, imerso em substancial crise institucional, o norte que afirme um projeto nacional de desenvolvimento estratégico, as grandes reformas sociais inadiáveis, o Estado de Direito indeclinável, a soberania ameaçada.

Assim, nessa peleja não há uma terceira via. Ou se está com o progresso social, a autonomia nacional, ou, de um jeito ou de outro, alinha-se com o retrocesso econômico e institucional.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Além dos limites

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste, no Santana Oxente e no pcdobalagoas.org.br:


Em 1999 dois coronéis da nova geração de militares chineses, Qiao Liang e Wang Xiangsui publicaram o livro: A Guerra Além dos Limites. Conjecturas sobre a Guerra e a Tática na era da Globalização.

Em substancial ensaio sobre arte militar, questões financeiras, tecnológicas, geopolíticas, eles dizem que a primeira regra do que consideram como Guerra Irrestrita é a de que não existem regras, nada é proibido.

Desde os grandes ataques especulativos financeiros, considerados por eles como capazes de efeitos devastadores equivalentes aos maiores conflitos militares da era contemporânea, à “fabricação” de guerras regionais cujos fins são a posse das riquezas naturais, espaços geomilitares.

Nesses 16 anos do século XXI as opiniões dos analistas chineses mostraram-se acertadas, e mais, os instrumentos da “Guerra sem limites” aperfeiçoam-se na medida em que as inovações tecnológicas avançaram.

Mas o caminho bélico continua a determinar a conquista das riquezas em disputa. É o que acontece, por exemplo, com o que já é possível chamar a estratégica Batalha da Síria.

Ali a velha Ordem encontra-se atolada em uma junção de fatores catastróficos tendo que enfrentar a sofisticada capacidade militar russa, que defende o Estado Sírio e seu governo contra grupos fanáticos terroristas, dos quais os EUA e aliados perderam as rédeas, acontecendo atentados como os de Paris.

Além de uma vaga de centenas de milhares de refugiados rumo à Europa fugindo dos conflitos movidos pelo controle de riquezas naturais, geopolíticos, no Oriente Médio e África.

Mesmo longe do principal teatro de operações, o Brasil, que faz parte dos BRICS, também tem sido atingido pela Guerra sem Limites via sistemática campanha de desconstrução da sua autoestima, identidade cultural, institucional, fragmentação social.

O País vem sendo empurrado através de meticulosa, difusa tempestade midiática, na tentativa de uma conflagração interna com vistas a se impor um novo tipo de Estado de exceção.

Para que quando anêmico, convulsionado, dividido, fragilizado, fiquem expostas suas riquezas naturais, integridade territorial.

Assim, é essencial defender os valores democráticos, a soberania nacional, a legitimidade do governo Dilma, as instituições republicanas, e melhor assimilarmos os fenômenos globais dos novos tempos.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

A encruzilhada

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste, no Santana Oxente e no pcdobalagoas.org.br:


Só há sentido na existência do Estado se existe a comunidade nacional. A sociedade brasileira, como as demais, é formada pelo seu contínuo histórico, suas permanências e renovações.

O desenvolvimento das nações não é linear, acontece por meio de contradições algumas antagônicas, outras secundárias.

Sempre, ao longo do processo de construção nacional, desenvolve-se uma permanente luta entre forças conservadoras do status quo versus as grandes maiorias que pelejam pelas grandes transformações.

Essas anseiam pelo desenvolvimento econômico, a distribuição justa da renda nacional, o investimento maciço em infraestrutura, a geração de empregos, salários dignos, uma estrutura de saúde pública eficiente para a sociedade.

Mesmo que todas essas premissas estejam presentes, elas seriam incompletas se for ausente ou precário o investimento estratégico em educação. Desde um excelente ensino básico às universidades públicas de qualidade, que garantam o acesso das maiorias à cultura, ao conhecimento, ao mercado de trabalho em condições justas na disputa por um lugar ao sol.

Qualquer discurso hoje sobre a sociedade brasileira baseada nos critérios do mérito, a “meritocracia”, é falso porque, salvo exceções, só camadas das elites, e alguns setores médios, têm condições de disputar com êxito um espaço no arco das profissões, acesso a funções bem remuneradas via concurso público, porque a realidade age como um estreito funil para as maiorias.

O Brasil avançou na luta contra as desigualdades sociais, a miséria diminuiu substancialmente, as condições de vida melhoraram muito, mas a necessidade de grandes saltos continua urgente para que a nação supere a realidade de um País elitista e socialmente apartado.

O que a grande mídia hegemônica golpista, o “Mercado” rentista, as elites que detêm 1% da riqueza nacional mais temem é esse salto estratégico que, pasmem, são, na verdade, reformas no âmbito de País capitalista para alcançar índices de nação desenvolvida. O que mostra o nível das forças retrógradas no País.

O Brasil, que não está condenado à eterna condição de emergente, vive numa encruzilhada: ou avança rumo ao desenvolvimento soberano, industrializado, com justiça social, ou vê passar a chance de, em meio à crise global, alcançar novos patamares entre a comunidade das nações.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Os guardiões

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste, no Santana Oxente e no pcdobalagoas.org.br:


O “Mercado” financeiro global adquiriu tamanha força que é espetacularmente desproporcional ao conjunto das instituições que compõem o espectro das sociedades. Mais que isso, ele possui hoje a capacidade de capturar para os seus interesses concretos o próprio Estado nacional.

Essa realidade não se restringe às nações emergentes mas também aos aparelhos dos Estados nas sociedades mais desenvolvidas, aquelas que estão situadas acima da linha do Equador cuja referência marítima é o Atlântico Norte.

Mas é uma tremenda falácia a tese do desaparecimento do Estado-nação, uma formulação associada à ideia do “Fim da História”.

Tese de Francis Fukuyama, um obscuro acadêmico nipo-americano, que do dia para a noite, financiado pelo Departamento de Estado norte-americano, alcançou notoriedade porque suas falsas conclusões serviram como uma luva aos interesses expansionistas dos EUA, ao tempo que era a apologia que faltava à supremacia do Mercado global.

Com o fim da bipolarização geopolítica mundial deu-se extraordinária centralização, concentração do capital, especialmente o parasitário, tanto como a consolidação da hegemonia unipolar do Estado norte-americano como instância imperialista sem precedentes.

Daí é possível afirmar que não existe supremacia dos interesses do “Mercado” financeiro parasitário dissociado dos objetivos estratégicos dos Estados Unidos e um seleto grupo de Países aliados, mas em plano subalterno aos EUA.

Nessas décadas de interesses convergentes, imbrincados, formou-se um imenso exército de intelectuais e “especialistas” cuja função central tem sido criar “consensos” para respaldar essas duas “divindades” via grande mídia hegemônica, parte inseparável de uma “governança mundial”.

Com a realidade dos BRICS, o relativo declínio imperial dos EUA, a prolongada crise capitalista, o “consenso” imposto através das ideias, finanças e armas transformou-se em dissenso, conflitos entre a velha ordem e os novos protagonistas.

É o que explica a função da grande mídia hegemônica, que deixou de ser “imprensa”, mesmo tendenciosa e elitista, para se tonar guardiã da Velha Ordem Mundial substituindo até os setores de oposição no Brasil. Cabe ao povo brasileiro a lucidez da luta em defesa do País, da democracia, e o protagonismo de nação solidária no cenário mundial.