quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Luta Histórica

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:



Há 60 anos suicidava-se Getúlio Vargas depois de sofrer violentos ataques por parte da grande mídia da época, acusado de corrupção, transformar o governo num “mar de lama”. Cercado, adotou como saída política a morte.

A ação extrema de tirar a própria vida reverteu contra os adversários o quadro político da nação, além da célebre carta testamento, acurada análise da realidade do País, pondo em ação milhões de brasileiros irados contra as forças que urdiam o golpe de Estado.

Mas o que estava em jogo era algo mais profundo que derrubar pela força Getúlio, definiam-se com nitidez duas visões distintas de como conduzir os destinos da nação que polarizaram os rumos políticos, acadêmicos do País com certas variações porém sempre em torno do mesmo tema.

De um lado os que defendem o papel estratégico do Estado brasileiro como elemento propulsor do desenvolvimento econômico, no combate às desigualdades sociais, na defesa da soberania nacional.

De outro, ontem como hoje, estão forças alinhadas aos conceitos do liberalismo econômico, adversas ao protagonismo do Estado nacional nas definições dos rumos do Brasil seja no plano da economia ou erradicação da pobreza.

Já o velho liberalismo com a centralização, concentração do capital financeiro global transmutou-se em neoliberalismo.

E os que defendem o papel estratégico do Estado no desenvolvimento econômico, redução dos abismos sociais, a incorporação da sociedade no projeto nacional, passaram a ser considerados “populistas”, idealizadores do “autoritarismo popular” diz o ex-presidente FHC.

Apesar das transformações econômicas, tecnológicas globais e no Brasil, essas duas correntes distintas, com nuances atuais, estão de novo em intenso confronto.

O campo nacional, popular em defesa da reeleição da presidente Dilma versus Aécio Neves, a grande mídia, a ortodoxia neoliberal, sua vertente política derrotada desde as eleições de 2002 inspirada nas teses do sociólogo, ex-presidente FHC.

Já a candidatura de Marina indica conflitos entre setores do Mercado, é óbvio projeto da mídia oligárquica, uma espécie de fundamentalismo messiânico teatral para consumo, a negação da política via uma falsa “nova política”. Mas na verdade o que está em cheque é o contínuo Histórico entre duas visões antagônicas disputando os rumos do Brasil.



quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Sordidez

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:



Todos que lutaram contra o arbítrio, pelo retorno da plenitude democrática, o fizeram em virtude de várias propostas ao Brasil, algumas distintas umas das outras a depender do partido ou grupo social, a esmagadora maioria deles na clandestinidade, mas havia algo fundamental que unificava, a intensa asfixia das liberdades políticas em nosso País.

O retorno da democracia há 29 anos, maior período da nossa História republicana, indica que essa batalha política, de ideias, passou a ser travada, especialmente após o início do século XXI, em patamares mais arejados porém submetidos a fatores econômicos, sociais, ideológicos sob a hegemonia quase absoluta da nova ordem mundial, do capital financeiro internacional.

Que detém, com mão de ferro, o monopólio global da informação utilizando-se da revolução tecnológica, novos instrumentos da informação digital, para impor através desses meios o controle dos povos e das nações seja por vias militares ou pela tentativa de assegurar a prevalência de uma espécie de ditadura mundial do pensamento único e controle das sociedades por parte do Mercado.

Quem achava ficcional essa moldagem orwelliana imposta à humanidade deve ter motivos para compreender a realidade a partir das denúncias de Edward Snowden e Julian Assange revelando ao mundo a sofisticada rede de manipulação, espionagem das nações e cidadãos tendo como centro de poder o capital financeiro concentrado, centralizado sob a batuta da sua guarda pretoriana os Estados Unidos.

O surgimento dos BRICS pôs em curso a modificação dessa realidade geopolítica, econômica, autoritária, unipolar, como transição a outra via multipolar, mais democrática, adversa aos fundamentos da ortodoxia monetária neoliberal.

O Brasil, um dos principais integrantes dos BRICS, vem sendo alvo de intensos ataques dessa Ordem esgotada mas por isso mesmo brutal, insana, que utiliza-se da sua força midiática global e regional, como arma de chantagem e desestabilização.

A campanha presidencial em curso é um exemplo cabal da violência contra a democracia, soberania nacional, a tentativa de empalmar o poder central num cenário de sordidez, grotesca manipulação usada contra a reeleição da presidente Dilma, transformando a eleição num festival de conspirações, delírios, crises montadas. A luta será intensa.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Agosto

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:



O trágico falecimento do ex-governador de Pernambuco, candidato à presidência da República, Eduardo Campos, do PSB, insere-se na superstição consagrada no imaginário do povo brasileiro sobre o caráter nefasto do mês de Agosto na política nacional.

Em meio a suicídios, renúncias, tentativas de golpes de Estado, mortes, Agosto é um mês que desde há muito tempo na cultura do País a todos sobressalta, inclusive aqueles que não acreditam em destino ou determinismo histórico, venha de onde vier.

Mas a verdade é que o acidente aéreo fatal que vitimou Eduardo Campos, quatro de seus assessores e dois tripulantes, em Santos, impactou a sociedade brasileira como há muito tempo não se via, porque tratava-se de um político de carreira promissora, jovem, com 49 anos, governador exitoso em seu Estado, deixou o mandato com elevados índices de aprovação popular.

Tive a oportunidade de conhecer Eduardo Campos em algumas ocasiões, inclusive em Alagoas em um verão de alguns anos atrás no litoral norte do nosso Estado em conversa informal, agradável, com o atual Ministro dos Esportes Aldo Rebelo e o prefeito de Olinda Renildo Calheiros, na época deputado federal pernambucano.

De Eduardo ficou-me a impressão de um político hábil, conhecedor dos problemas da realidade contemporânea, envolvente, articulador eficiente, apesar de muito jovem, com imensa vontade de jogar o seu papel no cenário institucional nacional.

Chamou-me atenção a prudente, arisca desconfiança com quem ainda não conhecia bem no convívio da labuta política, coisa que, acredito, herdou do avô Miguel Arraes, eminente figura da luta nacional, popular, sertanejo calejado no exercício do poder, curtido em longos anos de exílio e sofridos Agostos.

Como a política é o fermento das sociedades, para o bem ou para o mal, será óbvia a discussão sobre a sucessão da sua candidatura no PSB, a herança eleitoral, as consequências do seu precoce desaparecimento.

Em um quadro político em que forças retrógadas, poderosas conspiram diariamente contra os interesses da nação, a democracia, o seu legado será motivo de acirrada disputa, tentativas de manipulação.

Sinto, comovido, a morte trágica do jovem Eduardo Campos, lembrando a frase do nosso grande Oscar Niemeyer para o qual a vida é um sopro. Façamos bom uso dela para o bem do Brasil.

sábado, 9 de agosto de 2014

Circo de Horrores

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


Se o historiador egípcio, mas efetivamente de trajetória acadêmica britânica, Eric Hobsbawm, cunhou o século XX como a era dos extremos, algum outro estudioso da História deverá denominar essas primeiras décadas do 3º milênio como o mais cabal exemplo, em larga escala, da insanidade contra a humanidade.

A primazia global, quase absoluta, das forças insaciáveis do Mercado, subordinando as sociedades, nações, indivíduos, organismos internacionais aos objetivos sem ética, escrúpulos, compaixão, pudores ou limites, ao capital financeiro global lembra, metaforicamente, os tempos degenerados de Calígula ou Nero, da escrachada decadência do império romano.

Se algum magnata rentista ainda não providenciou a nomeação vitalícia do seu cavalo ao Senado, como fez Calígula, o mesmo não se pode afirmar que o outro, Nero, continue inédito quando pela mais óbvia demência, impunidade, resolveu incendiar Roma como fonte de inspiração poética.

Sob o acumpliciamento da grande mídia global e congêneres regionais, Israel promove escandaloso genocídio contra o povo palestino que luta pelo direito de constituir-se em nação há décadas, sempre brutalmente massacrado ao exemplo dos diais atuais.

Por trás das tímidas censuras dos órgãos mundiais que deveriam sustar o terror perpetrado na faixa de Gaza revelam-se interesses geopolíticos imperialistas dos Estados Unidos, promotores de falsa agenda social global onde se inclui, cinicamente, a defesa dos Direitos Humanos.

A profusão de conflitos regionais pelas áreas de petróleo, expansão geopolítica, tem provocado ondas de guerras, como um circo de horrores itinerante, dezenas de milhões de mortos que não param de crescer, centenas de milhões de refugiados vagando pelos mares onde sobreviventes dão nas costas das nações do 1º mundo como nas praias italianas.

Outros crimes não menos terríveis são perpetrados contra a soberania dos Países no afã do capital financeiro assaltar os Bancos Centrais, desestabilizar regimes democráticos, como no Brasil, as campanhas de agressões sistemáticas contra os BRICS.

Já se disse que "vivemos tempos assustadores". Mas ou nós os enfrentamos ou vão ficar ainda mais tenebrosos. Assim, impõe-se a luta pela dignidade humana, a paz, a autodeterminação das nações, a democracia ameaçada, o progresso social.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

A economia do terror

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:

A humanidade viu completar dias atrás os 100 anos da eclosão da primeira grande guerra mundial, formidável carnificina humana apenas superada pela subsequente 2ª guerra mundial, 1939-1945.
Com o fim da bipolarização geopolítica global, depois da debacle da extinta União Soviética, em muito pouco tempo assistiu-se o surgimento de dois vertiginosos fenômenos, a hegemonia da chamada Nova Ordem Mundial do grande capital financeiro e a entronização da geopolítica unipolar sob o domínio imperial dos Estados Unidos.

A esses dois novos processos históricos acompanhou uma espetacular enxurrada de formulações teóricas, políticas, ideológicas, econômicas, filosóficas com o objetivo de não só justificá-los mas aniquilar qualquer resistência contra esses novos tempos.

Tanta foi a euforia das forças do Mercado e imperialistas que chegou-se a proclamar como irrefutável o fim da História, promoveram-se obscuros intelectuais a exemplo do nipo-americano Francis Fukuyama, gurus da pós-modernidade anunciada.

Que profetizavam a fantasiosa paz infinita, o fim das guerras, conflitos regionais, o desaparecimento das fronteiras e respectivos Estados nacionais, e o cidadão passaria a ser de um mundo único, portanto o indivíduo global, eclético, desprovido de identidade ou raízes.

Numa relação direta entre uma suposta cidadania e o Mercado. Mas nesse sistema, o único internacionalismo permitido, assimilado, efetivo é o do capital rentista, das corporações globais.

Assim o que se viu foi a prevalência das armas imperiais contra o planeta, a tentativa de destruição dos Estados nacionais na gula insaciável de mais espaços ao capital financeiro através do autoproclamado neoliberalismo, a perda de conquistas sociais históricas dos trabalhadores, setores médios etc.

As correntes migratórias de milhões de trabalhadores aos Países do 1° mundo estão confinadas nos discriminados subúrbios, em novos apartheids, como mão de obra barata, desenraizada, destratada, mas irredenta.

Com a consolidação dos BRICS, a crise estrutural do capital, a escalada das agressões imperialistas, surge escancarada a face dessa economia do terror, indicando que será renhida a luta por outra ordem global multilateral, democrática, de progresso, justiça social, soberania dos povos, autodeterminação das nações.