terça-feira, 31 de julho de 2018

Pagar para ver

Meu novo artigo:


Nos 18 anos do novo milênio vários fenômenos econômicos, sociais, culturais, políticos, provocaram mudanças no que prevalecia durante o século XX. De tal forma que aquilo que consagrava os conceitos usuais quase perdeu o significado, transmutaram radicalmente.

A globalização financeira impôs as suas agendas que, diga-se de passagem, não são originais mas emprestadas de velhas ambições da plutocracia mundial, das grandes potências globais.

Em 1995 Gerard Colby e Charlotte Dennett publicaram o livro Seja feita a vossa vontade, uma denúncia sobre a tentativa da conquista da Amazônia durante quatro décadas pelo magnata Nelson Rockefeller, herdeiro de um império petrolífero, e o visionário, fanático religioso norte-americano, Cameron Townsend.

Os alvos eram a conquista da Amazônia, a evangelização das populações indígenas. Por trás dos esforços de ambos se formou uma extensa rede de interesses políticos, econômicos, acadêmicos, que resultou em ataques à natureza, espionagem, patrocínio a ditaduras, genocídios, exploração predatória de riquezas naturais etc.

O prestígio dos Rockefeller ainda existe, um falso ambientalismo surge na atual agenda do capital rentista e as antigas cobiças estratégicas permanecem.

Às velhas agendas hegemônicas somam-se as que pontuam o discurso dos magnatas da especulação através da grande mídia, formatando uma plataforma uníssona de causas do “politicamente correto”, várias em sua origem auto justificáveis, mas que se transformam no alfa e ômega de ativistas de setores médios, inclusive progressistas.

O que vem facilitando o butim sobre as riquezas nacionais, os interesses estratégicos da nação, no desmonte do Estado brasileiro, da democracia, das conquistas sociais, o retrocesso no processo de industrialização do País etc.

Na crise da Nova Ordem Mundial a “onda” da “desglobalização” financeira chega tardiamente ao Brasil, daí a subalternidade da nação em profunda crise institucional e cultural. É a era das incertezas.

Nada indica que a saída a essa crise geral, onde ergue-se em modo de piloto automático o discurso das aparências, será o rumo nacional, democrático, do desenvolvimento, da democracia. Nos anos 30, frente à tibieza e à imobilidade dos oposicionistas, surgiu o nazifascismo com danos letais à humanidade. Estão pagando para ver.

quinta-feira, 26 de julho de 2018

As derrotas do globalitarismo

Meu novo artigo:


Em programa de televisão sobre o livro A noite do meu bem, seu autor Ruy Castro, como apresentador da série em três capítulos disse: quando do piano de Tom Jobim saía uma das suas obras musicais, quase todas geniais, o mundo e nós ficávamos melhores, pelo menos por algum tempo.

O maestro japonês Ryuichi Sakamoto regendo a orquestra filarmônica de Tóquio falou: será que estamos envolvidos pela raiva? Como não podemos deixar essa raiva solta por aí, vamos acalmá-la para poder salvar as nossas almas. E conduziu a orquestra para sua música Little Buddha.

Uma das coisas mais óbvias neste milênio tem sido a implacável busca de desconstrução das obras culturais que valorizem a vida humana e substituí-las por produções de mercado, sem alma, referências, sentimentos, pautadas por uma ditadura da estatística e do marketing.

O resultado tem sido o tempo do ódio, da ausência de valores que referenciem as sociedades no mercado de trabalho, em uma competição desvairada que se espalha por todos os lados e atividades, públicas ou privadas, tornando a vida desértica, árida como a superfície lunar.

As consequências são catastróficas, reina o espírito mais pragmático, que se espraiou como a peste na Idade Média, fazendo tantas ou mais vítimas que ela, tornando a existência pobre como nos quinze minutos de fama nas redes sociais, espelhada nas celebridades que nada têm a dizer a si mesmas ou ao próximo.

As novas gerações têm pago alto preço ao terem nascido nessa era do Homo Demens em que a ausência de sonhos provoca a estupefação como na tela de Munch, O Grito: a pessoa externando o terror absoluto.

A globalização financeira conduziu os povos a uma encruzilhada tenebrosa, destruindo a cultura das nações, o sentido de pertencimento e identidade comuns, a soberania, além da vaga de milhões de refugiados das guerras, errantes em novos Êxodos.

O tribalismo social e outros fenômenos produtos do globalitarismo dos megaespeculadores do rentismo predador, rejeitado por todos os lados e cada vez mais, aproximaram de novo a humanidade do fantasma do nazismo, sob um liberalismo econômico requentado e falido.

No Brasil, como em todo mundo, ergue-se a batalha pela soberania nacional, a vida democrática, a paz, o desenvolvimento econômico, o progresso social, em antídoto às trevas.

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Razões de Estado e Capital

Meu novo artigo:


O decano dos jornalistas norte-americanos, Gay Talese, afirmou: “o politicamente correto é tão opressivo e tão ditatorial... é a ideia da (falsa) virtude. E a pior coisa do mundo é a (falsa) virtude. É a justiça desses novos crentes. Caso contrário és um infiel, e deve-se matar o infiel. E tem que se seguir um certo código de conduta e ter uma atitude ortodoxa, sem poder desviar um mínimo”.

Dias atrás um dos veículos online da grande mídia publicou: às vezes uma fake news, notícia falsa, é incontornável, mesmo que contrarie o fato real. Ou seja, às vezes, é melhor a mentira que a verdade.

Que isso tenha se tornado uma rotina na mídia global é algo óbvio, mas que tenha adquirido conceito normativo é a Pós-verdade, a Pós-História.

Mas não se deve ficar surpreso com tais afirmações, elas representam hoje as razões de certos Estados nações, combinadas com as do Grande Capital, do rentismo predador.

Em certo sentido o Politicamente Correto é sucedâneo das formulações na Guerra Fria, mesmo que diferente dos argumentos utilizados durante aquele período.

Mas ele tem a função de substituir um certo vazio deixado pela chamada Guerra Ideológica da época, arregimentando ativistas de setores médios em função de certas causas, como no politicamente correto, com vistas a preencher um deserto de ideologias que foram determinantes entre 1945 e 1989, no século XX.

O professor Viriato Soromenho Marques da universidade de Lisboa diz que Charles de Gaulle, líder da resistência na 2a Guerra Mundial e presidente francês, afirmou que a Guerra Fria, inclusive a ideológica, só podia ser entendida considerando os interesses de Estado da ex-URSS e dos EUA à época.

E que para tanto, afirma Viriato, é necessário entender as teses de Carl von Clausewitz em seu clássico Da Guerra, cuja essência está em quatro formulações:
1- Os sujeitos da guerra moderna são os Estados dotados de interesses potencialmente idênticos. 2- A guerra é a continuação da política por outros meios. 3- O objetivo da guerra é a vitória que se atinge quando se impõe a nossa vontade política ao inimigo. 4- A vitória implica, geralmente, a destruição militar do inimigo.

Os conceitos de Clausewitz continuam atuais, embora o mundo tenha mudado, até porque a Guerra Fria adquiriu hoje as novas formas da Guerra Híbrida.

quinta-feira, 12 de julho de 2018

Soberania e democracia

Meu novo artigo:


A grave crise que vive o País aponta para um processo de refundação das estruturas nacionais, que indique a necessidade de uma nova Constituição, de novos rumos em uma desgovernança multilateral das estruturas do Estado brasileiro.

Porque a verdade é que os desencontros que o Brasil está vivendo não encontram respostas factíveis no atual quadro que presenciamos nem se trata de uma situação conjuntural. Pelo contrário, deita raízes em um impasse de evidentes fadigas de material bem mais profundas.

Nessas condições, gravíssimas, duas questões são fundamentais: a defesa da soberania e o profundo apego à democracia. Porque sem a soberania, a nação não tem significado. E sem a democracia qualquer alteração de rumos é profundamente falsa.

Sem a via democrática os caminhos resvalam para um cenário de mil desertos, onde a aridez de soluções pontua, porque é consequência da ausência do debate democrático, sem a opinião pública, enfim, do povo brasileiro.

A nação se encontra agredida por uma Guerra Híbrida cuja finalidade tem sido a desconstrução do País. Nesse sentido, o objetivo tem sido o esmaecimento não só da democracia, mas da própria existência do Estado nacional.

A maioria das forças políticas não está se dando conta dos imensos perigos que vivemos, encontram-se desorientadas por plataformas meramente específicas, conduzidas por agendas eleitorais que abstraem a gravidade dos problemas em que estamos submergidos, dos movimentos geopolíticos que tornam o País alvo de ações desestabilizadoras seríssimas.

Não custa ser redundante afirmar que sem o desenvolvimento econômico não há solução para a sociedade. E sem nação não há a sociedade brasileira. É exatamente esse o objetivo que determinadas pautas políticas e eleitorais procuram desviar: a discussão do presente, sobre o nosso futuro.

O esgarçamento das instituições do Estado indica que a manutenção da nossa sobrevivência como País soberano está em risco e é fundamental a nossa reestruturação estratégica.

A 5a maior nação do planeta vive um processo crônico de desintegração desde 2013 em que se multiplicam discursos superficiais ao nosso destino, movidos por agendas induzidas ou pelo capital financeiro ou de tipo neofascista, quando a saída é o desenvolvimento econômico, a sobrevivência como nação democrática.

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Uma agenda constitutiva

Meu novo artigo:


Desde a fase mais aguda da Guerra Híbrida contra o Brasil em 2013, cresceu na grande mídia, nas redes sociais, uma intensa campanha com vistas à fratura do espírito de identidade nacional.

Não há a menor dúvida sobre o caráter sofisticado dessa nova forma de conflito capaz de destruir um País sem a presença de tropas estrangeiras.

Esse é o traço determinante das formas de Guerra Híbrida, surgida nesse novo milênio com as revoluções científica, tecnológica, nas comunicações, que tornaram possível lançar via centros globais midiáticos movimentos cataclísmicos contra nações alvos.

A grande mídia global, associada ao capital financeiro, do rentismo predador, transformou-se em uma arma vital para os objetivos desestabilizadores utilizados pelas grandes potências mundiais através desse novo instrumento militar tremendamente destruidor.

Mas para tanto é preciso que seja disseminada a cizânia em estágio avançado, a cooptação de setores médios e acadêmicos e acima de tudo a formação de “enxameamentos sociais” antagônicos, a estratégia da desesperança, a perda da perspectiva da identidade em comum.

Por exemplo, não assistimos, salvo iniciativas isoladas, apesar de ótimas condições técnicas e artísticas, uma grande peça de teatro, um filme que mostre as contradições (digamos, dialéticas) típicas da História sobre a epopeia da construção de Brasília, os anos JK, a interiorização geopolítica do País, a época áurea da música popular, do Cinema Novo, que continuam encantando o mundo.

Ou a Revolução de 1930 que iniciou a transformação de um Brasil agrário em industrial urbano, incluindo históricos direitos trabalhistas.

Ou então a Batalha de Guararapes em Pernambuco que gestou o nosso espírito de nação. Nem mesmo sobre nossos personagens na literatura, ciência etc. Não devem existir porque esses são temas constitutivos, distintivos da nossa formação.

As ONGs dos megaespeculadores não financiam tais iniciativas, só aquelas que fraturam ou, exclusivamente, as “culturas transversais”.

Parte da intelectualidade, inclusive da militância progressista, se encontra intimidada pela onda do “politicamente correto”, paralisada por um sentimento de impotência. O Brasil é inevitável, mas em todas as áreas, cultural ou política, é fundamental a luta por essa agenda que nos seja constitutiva.