sábado, 3 de julho de 2021

O coveiro do presidente


Por Eduardo Bomfim


O assassinato do jovem presidente Kennedy provocou uma onda de consternação emocional no mundo, e nos Estados Unidos - a política é um jogo fundamental, mas pesado, em qualquer lugar do planeta.

O seu cortejo funerário teve a presença de centenas de políticos e estadistas de vários Países. Multidões se aglomeraram na rua, para ver passar o caixão do presidente, em uma carroça puxada por dois magníficos cavalos com uma guarda de honra de militares em trajes de gala.

Aglomerados em um local reservado, estavam mais de cinco mil jornalistas e fotógrafos para cobrir o evento.

Jimmy Breslin, um dos mais prestigiados jornalistas dos EUA, talentoso, polêmico e original, disse: tem alguns milhares de repórteres aglomerados no mesmo lugar, isso não vai dar para mim, todos vão escrever a mesma coisa sob o mesmo ângulo.

Breslin resolveu fazer algo original, como sempre fazia, resolveu rastrear o coveiro designado para abrir a cova de Kennedy.

Descobriu como fora o seu dia. Que acordou, como sempre, às 6h30, comeu ovos com bacon, com a sua esposa, pegou o ônibus rumo ao cemitério de Arlington onde iria exercer a sua profissão de toda a sua vida.

Clifton Pollard, humilde trabalhador negro, naquele domingo, já sabia que iria cavar a cova de Kennedy, recebendo 3 dólares por hora de serviço. Sem hora extra.

Vestiu o seu macacão cinza e tomou o seu destino, o cemitério. Ele não viu o cortejo e tinha gente demais no enterro, não conseguiu chegar perto do túmulo que cavara horas antes. Não tem problema, depois eu dou uma passada lá para ver como ficou.

Perguntado por Breslin sobre o túmulo de Kennedy que cavou, Pollard respondeu: foi uma honra.

A coluna diária de Jimmy Breslin era a mais lida dos Estados Unidos. Ele deu vida a um homem negro, pobre, anônimo, perdido na multidão dos ignorados e esquecidos. O título dessa matéria de Breslin: “Foi uma honra”. Considerada como uma das obras primas do jornalismo norte-americano.