sexta-feira, 28 de maio de 2010

Crise de identidade e ligações perigosas




Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho e na Tribuna do Sertão:




Nesta quarta-feira passada em um programa de debates na televisão a cabo e, sem nenhum pudor, em campanha para o candidato José Serra, a âncora que comanda o espaço reuniu dois cientistas políticos para avaliar as possíveis alternativas aos tucanos que se debatem em um impasse na estratégia eleitoral, aparentemente insolúvel.
Só que um dos especialistas convidados não era bem um analista do quadro político, mas um candidato a marqueteiro nas hostes do PSDB.
E foi ele mesmo quem sugeriu, clara e abertamente, ao partido do ex-governador paulista assumir a feição ideológica de direita. Mais concretamente deveria identificar-se com a linha adotada pelo reacionário PP de José Maria Aznar da Espanha.
De acordo com o cidadão que nos foi apresentado pela comentarista global, a única saída ao PSDB seria uma carta programática objetivamente antiestado, assumidamente repressiva, definitivamente defensora do neoliberalismo.
Argumenta que os tucanos estão conduzindo a campanha do seu candidato no rumo de uma esquizofrênica crise de identidade porque José Serra apresenta-se ao povo brasileiro como uma espécie de pós Lula, mas no mesmo rumo do governo Lula.
Nesse caso, diz ele, ao povo o mais lógico será mesmo votar na própria candidata do presidente, a Dilma. Ainda no mesmo raciocínio os neoliberais dessa maneira perdem porque não possuem uma tática eleitoral própria e perdem de novo ao abandonar as suas origens ideológicas, programáticas e teóricas.
Assim, seria essa uma das razões da queda acelerada de José Serra e a ascensão fulminante de Dilma Rousseff, o que não deixa de ser verdade. E proclama, nessa batida a candidata de Lula pode ganhar as eleições ainda no primeiro turno.
Caberia ao PSDB invocar “o programa monetarista e ortodoxo radical de Margareth Tatcher na Inglaterra, a linha privatista da administração Reagan nos EUA, a perseguição aos imigrantes proposta pela extrema direita francesa de Jean Marie Le Pen e pelos espanhóis do PP”.
É uma equação complicada ao PSDB porque ou afunda em crise de identidade ou assume as citadas ligações perigosas com a direita mundial. E também não podem combater o projeto de desenvolvimento econômico com inclusão social do governo Lula e sua candidata, Dilma, porque estariam se contrapondo à esmagadora maioria dos brasileiros.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Como fabricar uma crise


Publicado na Resenha Estratégica:


Como na Ásia há 13 anos, os atuais problemas na eurozona são reais, especialmente na sua parte Sul: excesso de capitais externos, déficits em conta corrente e bolhas de dívida pública e imobiliárias, além de consumo financiado por crédito em vez de investimentos produtivos e intensivos em tecnologia. Mas estes problemas foram o pretexto para o ataque especulativo ao euro. Os protagonistas principais do ataque foram os mesmos que na "crise asiática": instituições financeiras, fundos de hedge e agências de risco anglo-americanas.


Desde o início de 2010, as agências de risco degradaram os títulos da dívida grega à categoria de "lixo" (junk). Com isto, os investidores institucionais não podiam manter títulos "lixo" em seus portfólios e, conseqüentemente, os custos de refinanciamento da dívida pública grega explodiram. No início de março, os juros exigidos para os títulos gregos de dois anos eram de 6,1%, subindo para 23,2% em 7 de maio, quase quadruplicando em apenas dois meses.


Não havia qualquer base econômica ou financeira para justificar tamanha explosão literal de juros. Nenhum país, independentemente de suas condições econômicas e financeiras, pode pagar juros tão elevados sobre seus títulos públicos. Este fato óbvio foi usado para espalhar rumores sobre uma iminente bancarrota estatal, não apenas na Grécia, mas também em Portugal, Espanha e Irlanda. A partir de 4 de maio, os mercados de títulos estatais gregos, portugueses e espanhóis se tornaram ilíquidos.


Por cima disso, deflagrou-se uma campanha sobre uma iminente "ruptura" da eurozona. Recorde-se que, em 8 de fevereiro, o Wall Street Journal publicou um relato sobre uma reunião de administradores de fundos de hedge em Nova York, para preparar um ataque especulativo contra o euro (Resenha Estratégica, 3/03/2010). Desde então, um número crescente de especialistas e jornalistas financeiros anglo-americanos se juntaram ao coro sobre a "ruptura" do sistema do euro, entre os quais George Soros, Nouriel Roubini, Paul Volcker, Ambrose Evans-Pritchard e outros.


Nem a "crise grega" nem a "crise do euro" eclodiram espontaneamente - ambas foram orquestradas. O que ocorreu costuma ser chamado "percepção de risco assimétrica": dois atores enfrentam problemas similares, mas um deles consegue ser percebido como se estivesse em melhores condições que o outro, mesmo sem qualquer base objetiva para tanto. Para o ano fiscal de 2010, a dívida pública dos EUA atingirá 10,1% do PIB, contra 11,8% no Reino Unido e 6,6% na média dos 16 países integrantes da eurozona. Como lembrou recentemente o ex-secretário do Tesouro estadunidense Paul O'Neill, os EUA também podem "seguir o caminho da Grécia" (Bloomberg, 19/05/2010).

O Baião nosso de cada dia


Publicado na revista Brasil, Almanaque de Cultura Popular:


A origem das batidas do sertão, agreste e zona da mata perde-se mesmo de vista. Humberto Teixeira, parceiro de Luiz Gonzaga, arriscou: “O baião tem três ou quatro séculos. Talvez seja a música mais autêntica do Brasil”.

A partir dos anos 1940 e 1950, período de forte industrialização, os ritmos nordestinos espalharam-se com seu povo por todo o País. Passaram de regionais a nacionais. Podemos nomear uma espécie de Santíssima Trindade à frente desse movimento: Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e João do Vale.

O baião e sua família foram a resposta brasileira à invasão estrangeira de polcas, tangos e boleros no período. E perpetuaram-se na nossa cultura. Para Gilberto Gil, a música brasileira tem duas dinastias supremas. O samba é uma. O baião, a outra.

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segunda-feira, 24 de maio de 2010

Rabelo reafirma soberania nacional: complexo de vira-lata acabou


Estive participando da reunião da direção nacional do PCdoB (seu Comitê Central) realizada durante este fim de semana em São Paulo. O presidente do Partido, Renato Rabelo, destaca em sua intervenção a política externa brasileira e o crescente papel que o país tem no cenário mundial. Analisa ainda a disputa eleitoral nacional:

“Estamos em outro momento. O Brasil não vive mais sob a ótica da submissão às grandes potências. Acabou o tempo do complexo de vira-latas”, disse Renato Rabelo na abertura da reunião.

“Pouco a pouco vai ficando mais claro que Dilma é a favorita e que o páreo não será fácil para Serra”, afirmou em sua intervenção.

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sábado, 22 de maio de 2010

O plebiscito


Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho e na Tribuna do Sertão:


A batalha eleitoral que já começamos a viver vai definir quais os rumos que o Brasil e Alagoas vão tomar nos próximos quatro anos. Não se trata simplesmente de mais um outro pleito comum no jovem processo democrático nacional surgido da vitória do povo brasileiro contra o arbítrio em 1985.

Na verdade o que se encontra em disputa são dois projetos econômicos, sociais e políticos antagônicos. Um deles representa a receita neoliberal que governou o País durante os oito anos do presidente Fernando Henrique Cardoso, cujas consequências mais nefastas foram a estagnação econômica, o desemprego, a humilhação da soberania nacional.

Muito embora os neoliberais estejam presentes por todo o território nacional, fundamentados em uma doutrina dogmática e de mentalidade colonizada, na política e no modo de ver a vida, portanto na cultura em seu sentido mais amplo, o quartel general deles se encontra nos centros financeiros da Avenida Paulista e habitam áreas dos jardins paulistanos.

O outro projeto é fundamentalmente o da defesa da soberania nacional em todas as suas variantes, econômica, social, política e a própria integridade física do nosso vasto território continental.

O que implica no fortalecimento do Estado brasileiro como elemento indutor dos segmentos produtivos, públicos ou privados, além da responsabilidade para com os investimentos de caráter social. São milhares de ações na área de infra-estrutura, em saúde, educação, estradas, setor naval, aeroportuário, habitacional etc.

Nesses oito anos cresceu extraordinariamente o mercado de trabalho formal no Brasil, o poder aquisitivo da grande maioria da população e diminuiu o percentual de miseráveis no País, o mercado interno transformou-se na principal alavanca do crescimento nacional, produzindo em consequência, um desenvolvimento real e auto-sustentado.

Mais de 80% do povo brasileiro tem apoiado no fundamental o governo Lula apesar do intenso bombardeio de uma mídia hegemônica conservadora, de caráter antidemocrático, antinacional e avessa à emergência social dos segmentos populares.

Aos setores nacionalistas, desenvolvimentistas e às esquerdas alagoanas torna-se fundamental a construção paciente e serena do consenso, ou da ampla maioria, de uma coalizão ao lado do presidente Lula e da candidata Dilma Roussef. Porque o que vamos vivenciar será um pleito nacional e estadual de conteúdo nitidamente plebiscitário.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Cláudia Petuba participa do seminário “A Mulher Propondo Rumos à Política”


A Associação Brasileira das Mulheres de Carreira Jurídica (ABMCJ/AL), por iniciativa de sua presidente Eloína Braz, em parceria com a OAB/AL e a Escola Judiciária do TRE/AL, promove nos dias 08, 09 e 10 de junho o Seminário “A Mulher Propondo Rumos à Política”. O evento acontecerá no auditório do prédio sede da OAB/AL, no centro de Maceió.

Segundo Eloína Braz, presidente da ABMCJ/AL, “a idéia é debater ações que promovam o desenvolvimento econômico, político, social e cultural de nosso Estado”.
O seminário tem como tema "A mulher apresentando rumos para uma nova forma de ação governamental" e contará com a participação de representantes de nove partidos políticos atuantes em Alagoas. O PCdoB será representado pela diretora da UNE e pré-candidata a deputada federal, Cláudia Petuba.
Nossos parabéns à ABMCJ/AL e à sua presidente, Eloína Braz, pela iniciativa.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Chico de Assis fala sobre meu blog, política e cultura




Recebido de nosso amigo, o ator Chico de Assis:


Meu caro amigo Eduardo

Gostaria de parabenizá-lo pelo seu Blog. Uma grande fonte de informação. Tenho observado seus valiosos artigos sobre a soberania nacional e a união das forças progressistas para uma caminhada mais sólida em busca de um Brasil mais justo para com seu povo. Tudo isso está claro em seus artigos e de colaboradores do seu Blog.

Daria uma simples sugestão; buscar uma identidade alagoana; pois alagoano é Eduardo, um homem que coloca, já faz tempo, sua vida em defesa das causas alagoanas. Quando éramos " poucos " e combatíamos em busca de moinhos de vento, lá estava entre nós Eduardo, como um general, reunindo a tropa com as armas de sonho em punho imaginando e sonhando com um novo amanhã. E o amanhã, tornou-se hoje.

Mas o guerreiro, chegança, pastoril, coco de roda, cavalhada, aboio do vaqueiro do sertão ou as tarrafadas do pecador nas lagoas de Mundaú, Manguaba, Roteiro etc... quem viveu e vive é Eduardo. Um intelectual, um homem que tem os olhos voltados para os simples, mas sabe como poucos combater o bom combate.

Eduardo, nosso povo gostaria de vê-lo falar dele, de sua identidade, de suas alegrias e esperanças, pois alagoano é Eduardo um general que sabe combater um bom combate.

Seu Blog é seu maior veículo de comunicação, reflete seu pensamento cristalino, quem quiser saber quem é Eduardo, visite seu Blog e lá saberá não só quem ele é mas o que pensa.

Obs: Isto é só a observação de um amigo....

domingo, 16 de maio de 2010

Posse da nova diretoria do SINTEP em um grande ato


Estivemos na noite da última sexta-feira, 14/05, no auditório da Faculdade de Alagoas – FAL, em Jaraguá, no ato de posse da nova diretoria do Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimento de Ensino Privado de Maceió – SINTEP, eleita para o triênio 2010-2013, quando a entidade passará a ser presidida por Robson Câmara, dirigente estadual do PCdoB. Nossos parabéns a toda a diretoria do SINTEP e, em particular, a Robson Câmara.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

A economia do terror

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão e no Santana Oxente:

As notícias dão conta de que a Europa patina em uma grave crise, e pacotes fiscais neo-ortodoxos são aplicados para estancar a sangria econômica na zona do Euro, vítima do assalto pelo capital especulativo, a única coisa realmente globalizada no planeta.
No Brasil a Federação Brasileira dos Bancos, Febraban, reconhece que o produto interno bruto nacional, o PIB, crescerá por volta de 6,3% este ano, significando que o País terá um extraordinário desenvolvimento econômico em meio a uma profunda crise de caráter mundial.
Um terremoto nas finanças internacional que, como ponta do iceberg, apresentou-se na quebradeira dos grandes bancos de investimentos norte-americanos, abalou as estruturas da economia global, provocando a recessão e agora atinge em cheio a Comunidade Europeia.
E na Europa esses primeiros e fortes sismos acontecem exatamente nas chamadas economias mais frágeis como a Grécia, Portugal, Espanha e dizem os especialistas, também a Itália.
Não faltam também informações abalizadas, e notícias da imprensa, dando conta sobre um violento ataque especulativo contra o Euro em geral e os Países citados em particular.
Quer dizer, o capital financeiro parasitário atua como os predadores que percebem uma presa com algum tipo de dificuldade ou fragilidade e prontamente se lançam sobre a vítima com uma voracidade e sede de sangue ilimitadas, e em pouco tempo o que resta mesmo é a carcaça e a mais pura fedentina.
Mas a grande mídia hegemônica nacional repercute os fatos considerando tal atitude como algo perfeitamente natural e própria da “dinâmica saudável das regras naturais do mercado” e do sistema.
Tanto mais que recentemente divulgou, alegremente, a notícia de que conservadores alemães teriam proposto aos gregos que vendessem uma das suas ilhas, patrimônio da História da civilização grega e ocidental, para saldar a sua dívida.
Já os acordos do FMI e do Banco Central Europeu com a Grécia impõem o chamado choque fiscal neoliberal, massacre dos assalariados, tão conhecidos pelos brasileiros na era FHC.Quanto ao crescimento nacional essa mídia hegemônica é contra e defende a sua frenagem porque representaria uma economia super aquecida, exigindo, excitada, juros altos, apostando em escalada inflacionária. Trata-se de um condenável ato de terrorismo contra o povo brasileiro.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Renato Rabelo escreve sobre Ho Chi Minh: um dos mais sofisticados revolucionários surgidos no século XX


Renato Rabelo escreve sobre Ho Chi Minh em artigo publicado na página do PCdoB:


Ho Chi Minh foi – sem margem para dúvidas – um dos mais sofisticados revolucionários surgidos no século XX. Se para Maquiavel a política ganha status de ciência, em Lênin a tática – movimento imediato da luta dos trabalhadores – foi alçada ao grau de ciência. Em Ho Chi Minh essa ciência da tática ganha contornos práticos que merecem destaque em função da complexidade e o nível de barbárie impostos pelo capitalismo ao socialismo, sobretudo na Ásia.


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quarta-feira, 12 de maio de 2010

Sader: Lula se re-encontra com Vargas




Texto de Emir Sader publicado no Conversa Afiada:
1932: revolução ou golpe?
As declarações do Lula no Sindicato dos Metalurgicos de São Bernardo, afirmando que o movimento de 1932 em São Paulo foi um golpe e não uma revolução, acompanhado da constatação de que nenhum espaço público de importância leva o nome de Getúlio, o estadista mais importante do Brasil no século XX, têm uma dupla importância.

Em primeiro lugar, representa uma autocrítica de uma geração de sindicalistas muito hostil ao Getúlio nas suas origens e por um bom tempo. Nascida para a política durante a ditadura militar, aquela geração de sindicalistas desenvolveu forte ojeriza contra o Estado, no que assimilavam desde o regime militar até o sindicalismo nascido com Getúlio, incluindo a oposição ao imposto sindical e ao atrelamento dos sindicatos ao Estado através dele.

Lula reconheceu, a partir da análise comparativa da história brasileira, da sua própria experiência de governo e da atitude da oposição – incluindo a imprensa de direita – as similitudes com a luta do Getúlio. A trajetória da esquerda brasileira entre Getúlio e Lula – que eu analiso no primeiro capítulo do livro “O Brasil, entre o pasado e o futuro”, que organizei com o Marco Aurélio Garcia, publicado pela Boitempo e pela Perseu Abramo – é o fio condutor para entender o Brasil de hoje e a história do movimento popular brasileiro. A inauguração de uma auditório com o nome de Getúlio Vargas no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, representa esse importante resgate e a reivindicação da luta nacionalista histórica no Brasil com as lutas contemporâneas contra o neoliberalismo.

No entanto, uma outra conotação é tão importante quanto essa. O movimento de 1932 representou uma tentativa da elite paulista de recuperar o poder, arrebatado pelo Revolução de 1930, que representaria a mais importante e mais popular transformação política que o Brasil teria ao longo de todo o século passado. O movimento tinha um sentido claramente elitista e separatista, com o lema “Non ducor, duco” – “Não sou conduzido, conduzo”, – com a idéia de que São Paulo seria a “locomotiva da nação” e o resto, vagões lentos e pesados, que São Paulo carregava. Tinha um sentido separatista e antinacional, opondo-se aos projetos que Getúlio começava a implementar.

Desde Washington Luis – carioca adotado pela elite paulista, notabilizado por sua frase “A questão social é questão de polícia” – que São Paulo não conseguiu eleger um presidente – até que outro carioca adotado pela elite paulista, FHC, se elegeu. Mesmo sendo o estado mais rico, não conseguia se erigir em líder do país. Os tucanos resgataram esse papel, essa continuidade com 1932, representando a elite branca dos jardins da capital paulista, que busca falar em nome do estado que abriga a maior população nordestina do Brasil.

O governo de FHC traduziu isso da forma mais clara: governo dos banqueiros, que desprezou o desenvolvimento e o resto do país, para priorizar a estabilidade monetária e remunerar aos bancos com taxas de juros que chegaram a 48% – em janeiro de 1999, numa das três crises e cartas de intencao do FMI a que FHC levou o país.

O mesmo sentimento de arrogância, de suposta elite nacional, foi herdado pelos tucanos. As declarações que escaparam a Serra de que a culpa pela deterioração da educação em São Paulo – uma evidência que fala muito mal de quem governou o estado mais rico do Brasil há década e meia – era dos nordestinos, pelo afluxo deles ao estado, expressa esse sentimento de elite “ bem cheirosa” , como se disse agora, com grande eloquência.

É como se essa elite branca de São Paulo odiasse o Brasil e preferisse ter nascido em um país da Europa ocidental ou nos EUA, sem se dar conta que a São Paulo real representa uma amostra de todo o Brasil, bastando recordar que é a cidade que abriga a maior quantidade de nordestinos. Mas essa elite não se sente ligada ao Brasil, tem uma atitude discriminatória, olha com um olhar superior para os outros estados e regiões.

Os tucanos, com FHC, Serra, representam esse espírito da elite paulista. Luiza Erundina foi um caso de exceção: uma mulher nordestina e de esquerda governando a cidade. Essa elite considera Marta Suplicy como tendo traído suas origens de classe, ao desenvolver uma política social dirigida prioritariamente aos mais pobres.

Ter apontado o papel de Getúlio na história do Brasil, para redefinir o caráter de 1932, como fez Lula, demonstra como os nordestinos imigrantes não têm porque ficar subordinados à visão e aos interesses da elite paulista. Há uma outra São Paulo, que constrói cotidianamente a riqueza do Estado, que não se identifica com a elite dos jardins paulistanos e da imprensa conservadora paulista.

sábado, 8 de maio de 2010

Luís Nassif: Percalços de Serra na pré-campanha


Publicado no blog de Luciano Siqueira:


Percalços de Serra no inicío da pré-campanha

Por Luís Nassif


Começo de campanha é um Deus nos acuda para qualquer um. As duas campanhas estão dando cabeçadas. Mas, à medida que se selecionam e se divulgam cabeçadas só de um lado (Dilma), passa-se a impressão que o outro lado (Serra) tem uma campanha impecável. Até meu amigo Ricardo Kotscho ficou com essa impressão.

O episódio é interessante para demonstrar o poder de influência da cobertura da mídia, quando seleciona os fatos para divulgar. O relatório encaminhado abaixo, pelo leitor, é prova cabal disso.

Suponha que o aparato da mídia tivesse dado ênfase aos fatos abaixo relacionados – e se calado ante os desajustes na campanha de Dilma. A impressão que ficaria é a campanha de Serra desarticulada e a de Dilma impecável. Quando ambas estão dando suas cabeçadas normais nas largadas.

De Leitor

Ele disse que ia criar a Defesa Civil Nacional e teve de esquecer o assunto, porque ela já existe.

Ele disse que ia acabar com o Mercosul e teve de dar uma entrevista à Folha, para dizer que não era bem assim, depois de ser criticado dentro e fora do país.

Ele disse que vai resolver o problema da segurança criando um Ministério, e uma semana depois explodiu o aumento recorde da criminalidade em São Paulo, obra dele.

Ele misturou religião com antitabagismo e ficou mal com ateus e fumantes.

O chefe da campanha dele foi apanhado registrando sites de baixaria na internet.

O deputado amigo dele foi apanhado falsificando um depoimento da Marília Gabriela.

Ele corre atrás de todas as agendas dela. Pediu pra ir à Fiemg, pediu pra ser convidado no aniversário da Conceição, pediu pra ir outra vez ao Datena.

Ela foi aplaudida de pé na festa da Conceição. Ele foi ignorado.

No Primeiro de Maio, ele teve de se refugiar em Camboriú, porque nenhuma central sindical queria tê-lo no palanque.

Ele posou ao lado de um governador investigado pela Polícia Federal. E disse que não está informado sobre o inquérito…

A turma dele acusa estatais de pagar palanques do Primeiro de Maio, mas o governador suspeito pagou a festa de Camboriú.

Ele ainda não apareceu no Rio à luz do dia (só de noite, na festa da Conceição), porque não tem palanque pra subir.

Nem ao Rio Grande do Sul, pra não aparecer com a governadora.

Não tem palanque em Pernambuco, terra do presidente do partido dele.

Não tem no Ceará, terra do mais importante senador do partido dele.

Ele espalha que tem o apoio do PTB e do PP, mas ninguém viu a cor desse apoio.

O único partido que se decidiu, de março pra cá, foi o PSB. Pela adversária dele.

Os dois partidos de sua aliança, DEM e PPS, naufragaram no escândalo de Brasília.

Ele não fez uma só agenda com mulheres, artistas, caminhoneiros, movimentos, gente comum. Só com empresários e aliados.

Os dois institutos que lhe dão vantagem nas pesquisas estão sob suspeita de manipulação de amostras.

Ele foge do Fernando Henrique como o diabo da cruz.

Mas foi o primeirão a dar os parabéns ao Lula pela lista da Time.

Realmente, uma das campanhas teve muitos problemas na largada…

sexta-feira, 7 de maio de 2010

O nacional e o regional


Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão e no Santana Oxente:


Na disputa eleitoral deste ano dois fatores decisivos estarão em destaque e no centro de todas as discussões, debates e programas defendidos pelas agremiações ou coalizões partidárias, a centralidade da questão nacional e as urgências dos projetos regionais.
São os dois eixos imprescindíveis, nesta atual eleição, à jornada de exercício da construção permanente da soberania social, ao cidadão e à cidadã do Brasil. Mas essa autonomia é determinada pelo elemento decisivo que é exatamente o rumo do País.
Ou seja, a centralidade da questão nacional ordena e subordina o aspecto regional. Dessa maneira, o presente e o futuro de Alagoas, por exemplo, não serão traçados à revelia dos caminhos a serem escolhidos através do voto democrático, em relação ao futuro próximo do Brasil.
E é exatamente isso que, neste momento, nos faz, a todos, um só povo, o povo brasileiro, condutor do destino nacional. O que se dará pela escolha livre e democrática acerca de qual projeto político, econômico e social vamos todos nós referendar através das urnas em toda a vasta e imensa nação continental brasileira.
Não é por acaso que muito se fala que estamos diante de um confronto eleitoral de conteúdo e caráter plebiscitário.
Porque este é um momento histórico, assim como vários outros em nosso itinerário, em que o povo brasileiro irá escolher entre a continuação de um projeto nacional de desenvolvimento soberano e de inclusão social, aperfeiçoando-o em suas deficiências, ou regrediremos aos dogmas neoliberais de feição antidemocrática, antinacional e antipopular.
Os resultados das próximas eleições deverão influenciar rigorosamente, inevitavelmente, tanto o futuro de Alagoas quanto o dos demais Estados da federação, sem nenhuma exceção.
A correlação de forças que surgirá das urnas em outubro próximo será determinante ao futuro do País e da terra dos marechais.
E é exatamente por isso que defendemos a união de todos os brasileiros patriotas, democratas e desenvolvimentistas, em torno da continuidade desse projeto nacional sob a atual liderança do presidente Lula.
Em jogo estará, além da estratégica presidência da República, a renovação do Senado e da Câmara dos deputados, além dos governadores e Assembleias Legislativas. Enfim, vamos participar e decidir o futuro em meio a uma intensa luta de ideias, em um ambiente radicalizado, como poucos, em nossa História.

Serra no Nordeste por Ênio Lins


Charge de Ênio Lins publicada na Gazeta de Alagoas.


quinta-feira, 6 de maio de 2010

Excelente papo no botequim


















Plínio Lins nos entrevistou sobre os mais diversos assuntos, inclusive as eleições de outubro próximo, na sua ótima Conversa de Botequim na noite da última terça-feira no restaurante Rapa Nui.

Um abraço ao grande jornalista, ao pessoal do Quintal Cultural, a Ricardo Cabús, idealizador do Papel no Varal, aos atores Paulo Poeta e Chico de Assis e a todos os amigos que lá estiveram.

Serra é um ET. Não é da oposição nem da situação


Publicado na página Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim:


O Conversa Afiada recebeu o seguinte e-mail do amigo navegante Nildo:

Paulo,
O Serra esteve em Porto Alegre hoje e um repórter fez a seguinte pergunta ao Serra:
Governador, o senhor tem dito que irá dar continuidade ao Governo Lula. Como o senhor garante isto sendo opositor e crítico do governo atual?
E o Serra respondeu:
“Eu não me coloco como candidato de oposição nem de situação. Eu me coloco como o candidato do futuro”.
Como assim, candidato do futuro? A eleição é este ano. Será que ninguém avisou a ele?
Se não é de oposição nem de situação é o que? Quer dizer que o Serra não é uma coisa nem outra?


Outra perguntinha: como ministro do Planejamento, foi o senhor que planejou o apagão do FHC?

sábado, 1 de maio de 2010

Conversa de botequim: entrevista por Plínio Lins


A Conversa de Botequim acontece todas as terças, às 21:00hs (mais ou menos), na choperia Rapa Nui, na orla da Ponta Verde. Na próxima terça-feira, 4 de maio, o jornalista Plínio Lins estará nos entrevistando.

Convidamos a todos os amigos que nos acompanham neste blog a comparecer.


Aldo Rebelo: “Parte das ONGs quer imobilizar o país”


Preocupado com a questão da soberania brasileira em relação à Amazônia, o deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB) defende que há quem queira imobilizar o desenvolvimento nessa parte do país.
Veja aqui a entrevista concedida por Aldo Rebelo ao Portal Vermelho:


Portal Vermelho: O atual código é lesivo aos pequenos produtores?

Aldo Rebelo: O Código não é lesivo, mas as mudanças introduzidas no código, nos anos 90, sim. Porque obrigam o pequeno agricultor, que tem 10 hectares, a dispor de 20% de sua área para a Reserva Legal. Se a propriedade tiver área destinada a Área de Proteção Ambiental (APP) – que é rio, riacho, nascente, qualquer curso d’água, morro ou encosta-, essa propriedade está inviabilizada, porque o produtor não consegue tirar da propriedade a renda necessária para sobreviver. Diante disso, vende a propriedade.
A agricultura brasileira já é uma atividade distante do jovem, porque é um trabalho duro, penoso, de remuneração incerta, hoje de pouco reconhecimento social, porque o agricultor é visto como inimigo da natureza. Então eles preferem abandonar essa atividade e ir para as cidades.

A outra consequência nociva da atual legislação é que facilita a reconcentração da propriedade da terra, porque ela tem uma brecha, a chamada compensação, que permite que aquele que usa toda a sua propriedade possa comprar uma outra área para fazer a sua Reserva Legal. Então aquele agricultor mais rico compra a área do mais pobre. Isso já está acontecendo em larga escala. Não podemos aceitar. Então eu pergunto: será que algumas dessas ONGs têm consciência disso? Ou agem para que isso aconteça? É preciso encontrar uma solução, até pela concentração demográfica nas cidades.

Vermelho: Está sendo pensada então uma legislação que diferencie as obrigações dos grandes e pequenos produtores?

Aldo: É possível, naquilo que for procedente, porque a legislação ambiental pode proteger o pequeno produtor, mas não deve se tornar um instrumento de vingança e perseguição do grande produtor. Os problemas sociais ou trabalhistas da grande propriedade não vão ser resolvidos no Código Florestal, mas no plano da luta social. A grande propriedade, quando produtiva, tem contribuído para o abastecimento interno de alimentos e para a exportação, o que gerou excedente, ajudando a segurar a situação da economia brasileira no momento de crise. É preciso então ter também essa compreensão.

Mas você pode, na legislação, proteger a pequena agricultura, que é mais frágil, mas também proteger a grande e média, principalmente no confronto dessa agricultura com a dos países ricos. Não temos por que tomar partido de um produtor de soja americano contra um produtor de soja brasileiro, por que aqui há problemas sociais ou trabalhistas na área da soja. É preciso saber onde está a questão social e onde está o interesse nacional.

Vermelho: Quais os efeitos, no meio ambiente, do agronegócio voltado para a produção de combustível?

Aldo: A produção de biodiesel, da energia renovável, tem origem diversa. Pode ser do etanol, da mamona ou soja. E esse esforço que não é apenas no Brasil, mas no mundo, pode, aqui, ser compatibilizado com uma forte agricultura voltada para a produção de alimentos. Acho que o Brasil tem reserva para ser um grande produtor de energia renovável e de alimento. Pode combinar a pequena, média e grande propriedade.

Quando se trata do estado brasileiro, acho que os instrumentos para alcançar esses objetivos, têm que levar em consideração as desigualdades e os desequilíbrios do país, que são numerosos: diferenças regionais, de propriedade, uso de tecnologias, diferença de propriedade mais ou menos intensiva em capital.

Há uma agricultura semi-capitalista, que não tem grande importância como agricultura de negócios, mas que tem um papel social, assenta milhões de pessoas na terra, oferece uma opção de vida que aquelas pessoas escolheram, emprega muita gente, impede que muitos se dirijam às cidades. Não é porque não engatou sua atividade no mercado de commodities que você tem que sacrificar.

Vermelho: O senhor é a favor de manter a Reserva Legal e as Áreas de Proteção Permanente tais como aplicadas hoje?

Aldo: Embora a RL e a APP não existam no direito ambiental e florestal de nenhum país europeu ou dos EUA, creio que o Brasil deve preservar os dois conceitos, adaptando-os às necessidades do país - à proteção da natureza e do desenvolvimento, da agricultura, da pecuária e da infra-estrutura, com as exceções que couberem. Um exemplo de exceção clara é o pantanal mato-grossense. Seria insanidade proibir a pecuária lá, embora esteja dentro de uma APP. Mas já está tão provado que é uma atividade sustentável, que se pratica sem degradação, que é insanidade adaptá-la a uma legislação que não conheça exceção. Precisamos preservar os conceitos, mas adaptando-os às necessidades.

Vermelho: O senhor é a favor de uma legislação ambiental estadualizada ou regionalizada?

Aldo: A Constituição já estabelece que a União deve fazer a norma geral, ou seja, a lei geral, e que a lei específica seja feita pelos estados e municípios. Em Santa Catarina, há uma lei muito contestada pelos ambientalistas, mas que foi aprovada por um amplo leque de forças políticas, sociais e econômicas. Uniu desde trabalhadores da agricultura até a federação das indústrias. Não houve um voto contra na Assembleia. Não sei se a lei de Santa Catarina é a melhor, mas sei que só surgiu porque a legislação nacional não deu conta de resolver os conflitos em Santa Catarina.

E outra coisa é que não se pode proteger o meio ambiente simplesmente a partir da União. Tem que integrar estados e municípios num esforço de construção de um programa de preservação ambiental, que não é só uma lei, mas extensão, orientação técnica, educação, mobilização na defesa do meio ambiente. Talvez mais de 90% dos municípios não tenham nem secretaria de meio ambiente.
O Ibama pode adivinhar o que está acontecendo em uma cidade do interior do Amazonas? É muito difícil. Tem que integrar o município nisso. Esse esforço o estado não faz. Baseia a defesa do meio ambiente apenas na punição, nas iniciativas espetaculares, televisivas, de chegar com polícia federal, prender um e outro. Mas isso resolve o quê?

Vermelho: Os projetos em análise estão atentos à garantia da soberania brasileira, em especial no que diz respeito à preservação da Amazônia?

Aldo: : Os projetos estão voltados para resolver problemas práticos e demandas das bases dos deputados. A questão da Amazônia foi posta por mim, porque tenho grande preocupação com a ofensiva das ONGs. Há os minérios nas terras indígenas, a grande bacia do Rio Amazonas. Há ali uma cobiça secular. As três guianas - de colonização holandesa (hoje Suriname), francesa (Guiana Francesa) e inglesa (hoje apenas Guiana) - não estão ali por acaso. É como se fossem sentinelas de três grandes impérios, que tentaram ocupar o Vale do Amazonas nos séculos 16, 17 e 18. Foram três séculos de luta dos portugueses para nos legar aquela Amazônia. Os ingleses nos tomaram 20 mil quilômetros quadrados, em pleno século 20, do atual território de Roraima.

Então fica aquele território (Amazônia), que representa 60% do país, mas que contribui com apenas 8% da nossa riqueza, do nosso PIB, condenado ao atraso, porque não se pode fazer uma estrada, uma hidrovia, um porto, um aeroporto. O sujeito para ter 200 hectares para produzir precisa comprar mil hectares, porque 80% da propriedade tem que ser destinada à reserva legal.

Tenho preocupação com o destino da Amazônia. E acho que no Brasil nem sempre as autoridades levam em conta os riscos a que estamos expostos naquela vastidão, que tem 10 mil quilômetros de fronteira desabitada.

Vermelho: Como as forças políticas se colocam nessa discussão sobre o código?

Aldo: Os partidos, provavelmente, vão esperar o relatório. Todos têm interesse em defender o meio ambiente e também a produção. Pode haver visões distintas de como defender essas questões, mas, como partido, não. O problema é que nem sempre os partidos dominam a agenda de seus governantes.

Vermelho: Este tema estará em pauta na campanha presidencial? Há uma pré-candidata ambientalista...

Aldo: Há a tentativa de se impor artificialmente esta agenda, principalmente para a classe média. O povo deseja a proteção do meio ambiente, mas sua primeira preocupação é com a comida barata. Digo para os meninos de classe média das ONGs ambientalistas que eles nunca viram uma família discutindo o preço da carne, do feijão, da lata de óleo. Suas famílias discutem férias na Disney, na Europa, compra de equipamentos eletrônicos.

O povo precisa de alimento barato. Está interessado no desenvolvimento. Há uma geração de jovens que precisa de emprego. Se o país não se desenvolver, como vai ter trabalho para o nosso povo? Uma parte das ONGs quer imobilizar, paralisar o país. Imobiliza a fronteira agrícola, a mineral, a infra-estrutura. Então eu vejo que a agenda que predomina é a do desenvolvimento com preocupação ambiental. Quem desprezar o desenvolvimento, vai se dar mal.

Vermelho: Isso é um recado para a senadora Marina Silva?

Aldo: Não. Ela não precisa disso. Tem lá as suas idéias e compromissos.

Vermelho: O senhor foi um crítico da gestão dela no Ministério de Meio Ambiente...

Aldo: Sempre tive ressalvas às orientações da ministra Marina no Meio Ambiente. Convivemos respeitosamente, mas sempre em linhas diferentes, desde a Lei de Biossegurança, até a demarcação de terras indígenas, a relação da agenda ambiental entre Brasil, europeus e Estados Unidos. Nunca aceitei posição de intimidação ao Brasil. Nunca reconheci a autoridade moral dos países ricos nessa matéria para que viessem nos dar lições. Sempre respeitei, tive convivência até certo ponto fraterna com ela (Marina), mas tenho grande distância das opiniões que ela defende nesse assunto.

Vermelho: Mas a sua crítica é só à gestão da Marina ou à política ambiental brasileira de forma geral?

Aldo: A política ambiental brasileira foi, na prática, a gestão dessas ONGs. Na gestão da ministra Marina e na gestão anterior, do governo de Fernando Henrique. Essa é que é a verdade. Não houve uma ruptura. Houve uma continuidade. Lamentavelmente foi isso.

Vermelho: O senhor acha que a Câmara votará as mudanças no Código esse ano ainda?

Aldo: Se depender de mim, vota. Mas não depende de mim, e, sim, do plenário.

Todo o sentimento do mundo

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho e na Tribuna do Sertão:

A campanha eleitoral que se aproxima se revestirá de uma importância diferenciada das outras recentes que aconteceram. Os próximos meses mostrarão que acontecerá um embate decisivo ao futuro do Brasil.
Nos estados regionais é bem possível que as paixões e as rivalidades arraigadas entre grupos ou personalidades superem por algum tempo o sentido mais geral de um grande confronto de proporções históricas que estará presente cada dia dos debates, nas ruas, na mídia ou nos comícios.
E alguns poderão tentar rebaixar o nível e o espírito verdadeiro dessa disputa. Porque a esses, na contramão dos anseios, esperanças do povo brasileiro, resta somente fulanizar o discurso, desviar o assunto do que está em jogo, na impossibilidade de apresentar com transparência à sociedade o seu alinhamento político.
Dificilmente conseguirão, no entanto, manter uma linha diversionista por muito tempo porque a gravidade do momento e a profundidade do que estará por se decidir não permitirá que se esconda o confronto das propostas e os programas antagônicos em duelo titânico na sociedade brasileira.
Na verdade a nação estará mais uma vez perante uma incrível encruzilhada histórica, assim como esteve em vários outros momentos do seu jovem itinerário. Pode-se afirmar que essa encruzilhada não será de menor estatura do que a luta dos brasileiros contra o regime de arbítrio que perdurou vinte e um anos, na qual a nação saiu vencedora.
Será uma tremendo duelo entre as grandes maiorias e um determinado segmento das elites nativas associado a um projeto que comumente se chama de neoliberal e todas as suas consequências, testado e posto em prova nos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso.
Que conta com o enfurecido e descontrolado engajamento de uma parcela da grande mídia hegemônica nacional, toda poderosa, sem nenhum pudor para com as regras do conceito básico da informação que venha a ser minimamente imparcial.
Essa mesma mídia que apesar do brutal esforço não conseguiu sustar a aprovação do governo Lula por mais de 80% dos brasileiros.
Será uma árdua disputa, que se revestirá de profundo caráter plebiscitário, entre o atual projeto nacional soberano, de desenvolvimento com inclusão social, versus o ultrapassado e nefasto dogma neoliberal.Ao povo brasileiro valerá a consciência social, associada ao espírito do poeta ao declarar que só tinha duas mãos e todo o sentimento do mundo.