sexta-feira, 29 de julho de 2011

Do multiculturalismo ao fascismo

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão e no Santana Oxente:


Os atentados ocorridos na Noruega com mais de setenta mortos podem parecer algo casual, mas na realidade refletem uma tendência ao fascismo de parcelas das elites, e do capital financeiro internacional, que vão se descartando de outro discurso por eles elaborado, sintetizado na chamada doutrina do multiculturalismo.

Quando meses atrás o primeiro ministro da Grã Bretanha, David Cameron, e a chanceler alemã, Angela Merkel, anunciaram em entrevista coletiva a morte do multiculturalismo, na verdade o que estava acontecendo era uma inflexão estratégica em relação a essa agenda multicultural global desses quarenta anos de hegemonia neoliberal e da nova ordem mundial.

As teses multiculturalistas reinaram olimpicamente durante toda essa época como argumento para suprimir as fronteiras nacionais e ao mesmo tempo foram difundidas com o objetivo de desarmar, dividir, fragmentar as lutas dos povos e trabalhadores dos Países, objetivando quebrar o espírito de unidade arduamente perseguido ao longo de várias dezenas de anos.

Os exemplos mais emblemáticos de resistência dos povos têm sido as grandes lutas antiimperialistas desde o início do século 20 que enxergam na centralidade da grandeza nacional o elemento decisivo para a conquista da plena soberania, associada, em muitos casos, a projetos de transição para uma sociedade mais avançada, o socialismo.

Esse discurso sobre a extinção das fronteiras, vistas como ultrapassadas, foi disseminado como uma pretensa etapa superior da humanidade, na verdade subordinada a uma maior globalização do capital, que exclui os conceitos históricos e culturais dos Países, proporciona uma grande mobilidade internacional da força de trabalho e o aviltamento da sua remuneração.

E a esse projeto contra as nações e o mundo do trabalho o ideólogo norte-americano Francis Fukuyama adicionou a farsa sobre o “fim da História”.

Porém, a crise sistêmica capitalista, o desemprego generalizado entre as nações do primeiro mundo, os efeitos colaterais das agressões imperiais, como o terrorismo, transformou o multiculturalismo em um estorvo à nova ordem mundial. A criatura já não mais interessa aos seus criadores.

Ressurge assim uma doutrina mais eficaz à hegemonia e à acumulação sôfrega do capital financeiro internacional.

Os atentados na Noruega só revelam a ponta do iceberg. O que estamos presenciando mesmo é a proliferação de organizações neonazistas já disputando parcelas do poder na Europa, enquanto nos EUA avança a direita fundamentalista, a exemplo do Tea Party.

O complexo industrial militar-midiático

Uma análise do jornalista Wang Fang, no Diário do Povo Online, publicada no Vermelho:



O dilema institucional da mídia ocidental

Afinal, começam a ouvir-se vozes até nos EUA, na Austrália e em outros países, que exigem ampla investigação e reavaliação dos princípios éticos do jornalismo e imposição de medidas para supervisionar jornalistas e jornais.

O escândalo já ultrapassou os limites da imprensa e causou reações em cadeia nos círculos policiais e políticos; o premier britânico David Cameron enfrenta a maior crise política desde que assumiu o governo.

O escândalo dos telefones grampeados não é aberração provocada por uma ou outra empresa jornalística ou um ou outro jornalista que esquece a própria responsabilidade social e abusa, individualmente, da liberdade de imprensa. O escândalo reflete o dilema institucional em que a imprensa ocidental e o sistema democrático representativo enfrentam desde sempre, em seu processo de desenvolvimento.

Na história do jornalismo ocidental, os meios massivos sempre falam muito da “liberdade” e batem tambor a favor do estabelecimento e desenvolvimento do sistema democrático capitalista. A imprensa ocidental sempre se apresenta como “o Quarto Poder”, que seria independente do Executivo, do Judiciário e do Legislativo, e que seria “um príncipe não coroado”, que distribuiria fatos e verdades e protegeria a justiça e a sociedade.

Contudo, quando subiu a maré dos monopólios e da fusão de empresas, as empresas de comunicação de massa sempre foram parte interessada no processo. Nos anos 1980, 50 grandes empresas controlavam praticamente todo o jornalismo de massa nos EUA. Em meados dos anos 1990, esse número já estava reduzido e todo o poder já estava concentrado em apenas dez empresas.

Hoje, no século 21, a imprensa está praticamente monopolizada nos EUA, controlada por apenas cinco grupos financeiros, entre os quais Time Warner, Walt Disney e News Corporation. A empresa News Corporation, de Rupert Murdoch, alcança vários continentes e é proprietária de 40% dos jornais do mundo, entre os quais o Times e o News of the World. Nos EUA, a mesma empresa controla vários veículos, todos de grande circulação ou audiência, entre os quais o Wall Street Journal, a rede Fox de televisão, Movie.com e dúzias de estações de televisão. Além disso, mais de 70% de todos os jornais com sede na Austrália pertencem à mesma empresa.

É absolutamente impossível falar de liberdade de imprensa, senão em sentido absolutamente superficial e oco, ante o processo de fusão de megaempresas que leva, exclusivamente, ao monopólio do direito de expressão.

Artigo recentemente publicado, intitulado “O capital é mais forte que a liberdade: Murdoch venceu”, diz que os jornalistas dos EUA têm de enfrentar a triste realidade de que rezam pela mão do único deus que efetivamente reconhecem; e que não se chama “liberdade de imprensa”; chama-se “capital”.

W. Lance Bennett, professor norte-americano, disse que todos os políticos e grupos políticos, inclusive o presidente, os senadores, grupos de interesse e radicais, conhecem ou deveriam conhecer a importância da imprensa para suas carreiras políticas. Grupos multinacionais de comunicações já controlam completamente não só os veículos, como empresas, mas também já constituíram poderosíssimos grupos de interesses, nos quais se interconectam os negócios, a política, veículos e profissionais que, todos esses, constituem uma elite que existe exclusivamente para proteger os interesses dessa elite.

Agências governamentais e as corporações de comunicações cooperam, mais do que se interfiscalizam. Os políticos acabam por aprender a usar a imprensa e algumas vezes têm, mesmo, de render-se à imprensa – quando não a subornam diretamente – para aumentar o próprio poder ou ganhar status graças ao auxílio da imprensa.

Segundo matérias publicadas na imprensa britânica, Andy Coulson, ex-editor-chefe do jornal News of the World e ex-principal assessor de comunicações do primeiro-ministro britânico David Cameron, foi preso, há algumas semanas, acusado de participar no grampeamento ilegal de telefones. Ligado por laços fortes com todo o mundo dos jornalistas ingleses, Coulson teve papel decisivo na campanha eleitoral que levou Cameron ao poder, como candidato dos Conservadores, nas eleições do ano passado. Peter Oborne, principal editor de política do jornal Daily Telegraph, disse que, nos últimos 20 anos, o fator decisivo para qualquer candidato que desejasse alavancar sua carreira política foi aproximar-se de Murdoch e conquistar sua simpatia.

Para maximizar interesses comerciais, vários jornais e jornalistas sempre usaram meios ilegais – escutas e grampos clandestinos e ilegais, suborno e chantagem – para obter informações exclusivas e a proteção de políticos e policiais. Agências governamentais, às quais deveria caber fiscalizar e coibir esse comportamento de jornais e jornalistas, mantiveram-se cegas, para não se indispor com jornalistas e jornais – o que foi como autorizar e legitimar os crimes ‘da mídia’. O escândalo das escutas clandestinas, agora, afinal, expôs completamente as relações complexas e obscuras que há entre jornais, jornalistas, policiais e outros funcionários corruptos.

O que ainda se chama no Ocidente “liberdade de imprensa” acabou por condenar grandes países ocidentais democráticos à degradação de um círculo vicioso no qual “a imprensa modela a opinião pública; a opinião pública pressiona os políticos; e os políticos, em colusão com jornais e jornalistas, trabalham a favor de seus próprios interesses” – sempre privados, jamais públicos.

Nos estágios iniciais das guerras no Iraque e na Líbia, todos os grandes jornais do Reino Unido e dos EUA deram massiva divulgação a vitórias da coalizão, e sempre ignoraram o trágico grande número de civis mortos e a brutalidade da guerra. Indústrias que fabricam armas, empresas de comunicação e agências do governo constituíram comunidades de interesses, usando todos os meios possíveis para manipular, modelar e controlar a opinião de seus cidadãos.

O monopólio é o predador natural da liberdade. Os grupos globais de televisão e jornais, beneficiários, hoje, dos sistemas de comunicação de massa e, agregados a esses, também os sistemas da democracia ocidental, não têm medido esforços para homogeneizar as necessidades de alguns grupos domésticos, oferecendo sempre informação limitada e enviesada; e também se dedicam a reforçar estereótipos negativos contra outros povos e outros países.

Há muito tempo, a voz dos países pobres e emergentes foi suprimida das discussões sociais no ocidente, pela influente indústria da mídia ocidental. A mídia ocidental é responsável pela abissal desigualdade de informação entre países ricos e países pobres – e essa desigualdade construída inevitavelmente fez aumentar as desigualdades políticas e econômicas.

A indústria da mídia modela a opinião pública, mas não escapa da influência do poder político e da economia. No seu último editorial, antes de o jornal ser fechado, News of the World admitiu: “Nós perdemos o rumo”. Mas há outra pergunta no ar, a espera de resposta: “O que mais toda a imprensa ocidental perdeu?”.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

O outono dos centuriões

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão e no Santana Oxente:


A nova ordem mundial, cujo início oficioso remonta aos primeiros anos da década de setenta passada nos Estados Unidos e na Europa, muito especialmente na Inglaterra, começa a dar os sinais evidentes de claro esgotamento.

Sob as lideranças do então presidente norte-americano Ronald Reagan e da ex-primeira ministra britânica Margareth Thatcher, durante os anos setenta do século passado, as teses do neoliberalismo assumiram rapidamente a hegemonia mundial como uma doutrina de amplo espectro, que envolvia questões sobre a economia, filosofia, geopolítica, diplomacia etc.

Além dessa ofensiva da maior expansão e concentração do capital global, ocorreu pouco tempo depois, em 1989, a débâcle das primeiras experiências socialistas vitoriosas na humanidade que tinham como referência fundamental a URSS, provocando a extinção da chamada bipolaridade mundial.

O somatório desses grandes episódios históricos, sociais e políticos acarretou a consagração da denominada nova ordem mundial. Mas o primeiro grande fator que possibilitou essa nova configuração planetária deu-se em 1944 nos estertores da segunda guerra mundial.

Foi quando o padrão-ouro como moeda global foi substituído pelo dólar como referência universal na famosa conferência de Bretton Woods. Pode-se dizer que de todas as batalhas em que os Estados Unidos se envolveram durante a segunda guerra essa vitória foi uma das mais significativas, considerando, é claro, o papel de ter sido um dos protagonistas da luta dos aliados contra o nazi-fascismo.

No entanto para o exercício do imenso poder imperialista que os EUA passaram a exercer até os dias atuais, dois outros fatores foram decisivos: a revolução tecnológica aplicada a um poderoso complexo industrial militar e a gigantesca máquina de inteligência e propaganda ancorada nas indústrias culturais e midiáticas, com tentáculos por todos os continentes.

A tal ponto que hoje em dia a força militar e essa mídia hegemônica global transformaram-se em violentas armas de guerra que vêm sendo usadas de maneira combinada e simultânea.

Mas as agressões militares sistemáticas, a crise econômica mundial com as suas gravíssimas consequências, inclusive na economia norte-americana, vão pondo em cheque os EUA que são cada vez mais repudiados como os centuriões da nova ordem mundial, em um mundo que resiste e em transição para um novo concerto internacional entre os povos e as nações.

sábado, 16 de julho de 2011

Delírio especulativo

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão e no Santana Oxente:


A crise econômica internacional continua em seu itinerário pela Europa fazendo novas vítimas entre as nações do velho continente. Desta vez os países atingidos são a Espanha e a Itália que sofreram delirantes ataques do capital especulativo internacional.

Assim, além da Grécia, Irlanda e Portugal, se acercam do abismo duas outras economias que não podem ser consideradas como periféricas da zona do Euro. Ao contrário, as duas se encontram entre as cinco maiores potências econômicas da Europa.

Esses novos ataques especulativos contra a Espanha e a Itália envolvem uma população somada de mais de cem milhões de habitantes e duas complexas sociedades industrializadas europeias.

Isso sem falar que foi rebaixada ainda mais a nota da dívida soberana da Irlanda. Esse País entrou em uma zona de turbulência desenfreada, uma espécie de cúmulo-nimbo das finanças, provocada pelo capital rentista.

Por outro lado a aproximação de uma moratória da estratosférica dívida norte-americana é cada vez mais real devido ao limite do endividamento público dos Estados Unidos que está chegando perto do seu teto constitucional.

Mesmo que a possibilidade do calote americano possa ser relativizada em decorrência do dólar como moeda padrão universal, o que é pertinente, e, por conseguinte, o governo dos Estados Unidos resolva inundar a economia internacional com sua moeda, em um nível bem maior do que já se encontra, aprofundando mais ainda a atual crise econômica internacional do capitalismo, a desmoralização generalizada da nova ordem mundial atingirá gravíssima dimensão.

Mas apesar dessa crise global que já atinge em cheio os Estados Unidos, o Japão e a Europa, lançando ao desemprego centenas de milhões de pessoas em todo o mundo, a grande mídia hegemônica nacional tergiversa sobre a gravidade da situação através de recorrentes manchetes diversionistas.

Assim, o governo brasileiro precisa adotar urgentes medidas que sustem a sobrevalorização do Real, que impeça os ataques do capital especulativo, reduza as taxas de juros em órbita e prepare as condições objetivas para um vigoroso fortalecimento industrial e do mercado interno.

Se iniciativas corajosas forem tomadas sem hesitações, a nação, os trabalhadores, o povo brasileiro em geral poderão emergir desse quadro internacional de bancarrota sistêmica em novas e favoráveis condições históricas ao desenvolvimento econômico e de avanços na justiça social.

sábado, 9 de julho de 2011

Os ricos da crise

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão e no Santana Oxente:


A Grécia mergulhou no precipício e Portugal com a espada nas costas caminha na mesma direção aguardando a sua vez. Esse é o panorama das economias de grande parte das nações europeias assaltadas pelo capital financeiro internacional, na fila dos condenados esperando a execução iminente.

O mundo tem sido jogado em uma aventura enlouquecida em consequência da ganância inerente ao capital em sua voracidade sem freios e própria do seu caráter que de tempos em tempos mergulha os Países em tragédias, muito particularmente as massas assalariadas, a juventude, os aposentados etc.

Essa crise atual, iniciada em 2008, também tem sido um momento de decadência da nova ordem neoliberal que reinou absoluta, apesar da tenaz resistência dos povos, nas últimas quatro décadas nos Estados Unidos e na Europa, determinando os rumos da economia global.

No Brasil as orientações da nova ordem mundial e sua doutrina neoliberal foram implantadas muito especialmente durante os dois mandatos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e seus efeitos ainda não desapareceram de todo, até porque, embora haja um novo contexto de multipolaridade econômica mundial, elas ainda ditam os rumos globais.

Atualmente os dois motores principais que mantêm a hegemonia das linhas da nova ordem mundial, além das estratégias econômicas dos centros decisórios capitalistas nos EUA e na Europa, têm sido a força militar e a poderosa máquina midiática global com ramificações em todos os Países.

O poder de fogo bélico e da mídia global têm sido ao longo dessas décadas impostas às nações e aos povos como verdadeiras armas de guerra, e assim precisam ser compreendidas, objetivando o domínio e a subordinação das sociedades. Ao ponto de terem erigido um tipo de civilização regressiva, ultra-individualista e reacionária e que hoje se encontra em crise geral.

Portanto a resistência contra essa ordem imperial hegemônica, mesmo em gravíssima crise, sempre tem combinando a luta de ideias com a defesa da soberania das nações, algumas delas agredidas violentamente através de ofensivas militares e midiática combinadas e ao mesmo tempo.

Mas nessa aldeia global em tenebrosa crise, enquanto o desemprego mundial já atingiu a casa de 211,5 milhões de trabalhadores, as grandes fortunas do planeta, uma ínfima minoria da população, aumentaram em quase 10% o fastio da opulência em meio a esses tempos danados.

Vera Romariz: Pincéis

A amiga Vera Romariz, escritora e poetisa, nos envia sua crônica que dedica ao grande pintor alagoano Pierre Chalita e sua companheira Solange:

                                                                   
                                                                               Comer o passado como pão de fome                             
                                                                               Sem tempo de manteiga nos dentes
                                                                                                              Fernando Pessoa

Nas últimas. Foi essa a tradução canhestra que fiz da voz da amiga, lenta e triste ao telefone, anunciando que ele partiria em breve. Estava no hospital. Nas últimas. Apesar da longa doença, da cadeira de rodas, sempre o associei a pincéis em movimento. Bom também ouvir sua voz grave e forte ecoando na casa antiga e bela do Farol, entre amigos, telas, cães e sorrisos. Como vê-lo agora?

Cheguei ao quarto assustada, passos difíceis de coordenar. Na entrada, em uma pequena soleira, simpáticos familiares de origem árabe formavam uma rede afetiva e comovente. De seu quarto (“nas últimas”) saiu a amiga, com um meio sorriso cansado, bela e digna, atenta a minha chegada. Entrei tão devagar, um santuário. A companheira conversou com ele, delicada e amorosa como sempre fora, e me anunciou. Então eu pude vê-lo. Inconsciente, olhos em algum ponto que não sabia precisar, vi que sua mão direita se movia em círculos. Ela traduziu, com serenidade: ”Ele está pintando. Um transgressor. Sempre”. O que dizer? Talvez o apelido carinhoso, de uso particular. ”Oi, Pierrito”. A cena era tão pietà, de Michelangelo, ela cuidando do corpo fragilizado dele com esse zelo matricial de mulheres fortes e sensíveis.

Mas as mãos eram pincéis que tinham vida própria, uma teimosa sobrevivência de vida na arte. Pareciam metonímias contraditórias de um corpo em partida. Soltas, surreais, lembravam o movimento das telas intensas, apaixonadas, furacão de cores e afetos. Nelas vejo impressa a memória dos almoços alegres da casa antiga. Lá ele era maestro. Risos, brincadeiras, pequenas e tolas piadas de bem querer. Gente que chegava sorridente e apressada. E o amigo pintor em uma alegria impune de camponês satisfeito diante de um bom prato, devorando o prazer de viver “sem tempo de manteiga nos dentes”.

Os pincéis caminham pela cidade, voam. Pássaros? Quebram vidraças incômodas. Moleques? Captam seres e imagens, penetram em igrejas, tocam um allegro ou um presto no piano esquecido, abraçam a mulher amada e gargalham diante da tola notícia de que foram embora. Tão vivos. Eu os vejo sempre dançando nas tardes azuis de minha cidade, driblando o quarto de hospital, o tempo e os limites, como longas fogueiras assanhadas na noite nordestina. Olá, Pierrito.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

H. Dobal, um poeta particular

Recentemente o amigo Osmar Júnior, deputado federal do PCdoB pelo Piauí, me presenteou com o documentário “H. Dobal, um homem particular”, filme de Douglas Machado sobre o poeta piauiense Hidemburgo Dobal – H. Dobal, considerado o maior poeta do Piauí e reconhecido como um poeta brasileiro de estatura comparável a de outros dos maiores nomes de nossa poesia.

O documentário revela um grande poeta, além de mostrar a terra e o povo piauienses, a cidade de Teresina, cenário da juventude do poeta, de quem falam seus amigos de então, que formavam um grupo de intelectuais jovens, sempre a discutir literatura, filosofia e política, reunidos nas praças de Teresina.

O filme, além de entrevistas com o próprio H. Dobal, apresenta depoimentos de vários desses amigos da juventude, dentre outros intelectuais piauienses, jornalistas, poetas, professores de literatura, escritores, de membros das Academias Brasileira e Piauiense de Letras, e leituras de vários de seus poemas.

Sobre H. Dobal escreveu Manuel Bandeira, em sua apresentação no primeiro livro do poeta, “O Tempo Consequente”, publicado em 1966: ... Mas eu prefiro dizer o poeta total, o poeta por excelência, do Piauí e de outros sertões brasileiros onde “o homem é mais pobre do que as cabras”, e como neles estas são magras! Lendo os versos do piauiense vemos, positivamente “vemos”, tudo o de que ele nos fala. ... Só mesmo um poeta “ecumênico” como Dobal podia fixar a sua província com expressão tão exata, a um tempo tão fresca e tão seca, despojada de quaisquer sentimentalidades, mas rica do sentimento profundo, visceral da terra.

Aqui, dois de seus poemas publicados no “O Tempo Consequente”:

Fazenda

São trinta cabeças
de gado cabrum.
Criação miúda
sem qualquer ciência.
Somente um chiqueiro
defesa noturna
que bem cedo aberto
o dia lhes dá.

Rústicas a vida
de qualquer maneira
sabem extrair.
Mas vem da morte
sua serventia
o couro e a carne para o homem
mais pobre do que elas.


Réquiem

Nestes verões jaz o homem
sobre a terra. E a dura terra
sob os pés lhe pesa. E na pele
curtida in vivo arde-lhe o sol
destes outubros. Arde o ar
deste campo maior desta lonjura
onde entanguidos bois pastam a poeira.

E se tem alma não lhe arde o desespero
de ser dono de nada. Tão seco é o homem
nestes verões. E tão curtida é a vida,
tão revertida ao pó nesta paisagem
neste campo de cinza onde se plantam
em meio às obras-de-arte do DNOCS
o homem e os outros bichos esquecidos.

domingo, 3 de julho de 2011

Renato Rabelo: a natureza do capitalismo, a crise, o mundo em transição e os avanços progressistas das nações latino-americanas

Reproduzimos parte do pronunciamento do presidente do PCdoB, Renato Rabelo, no seminário "Governos de esquerda e progressistas na América Latina e no Caribe - Balanço e perspectivas":


O capital – como uma besta-fera – não pode ser enjaulado, controlado. A essência da lógica capitalista é a reprodução do capital, buscando sempre o lucro máximo. Em conseqüência sua natureza é determinada pela instabilidade e irracionalidade tornando-se suas crises inexoráveis e irreversíveis. O acordo internacional de Bretton Woods, 1944, já sob hegemonia histórica dos Estados Unidos (o dólar passa a ser moeda de reserva, conversível em ouro), tinha como finalidade domesticar o capital, tentando prevenir abalos sistêmicos como o acontecido nos anos 20 e 30 do século passado. Foi estabelecido um “modo de regulação” e formada uma instituição internacional multilateral, como o FMI, provedor de liquidez em última instância.

Esse ânimo regulatório, provocado pela crise de 1929/30, nos marcos da II guerra mundial e do avanço do socialismo, não chegou a completar três décadas. Ele já se desfaz em 1971, com a decisão unilateral do fim da conversibilidade, dólar em ouro, pelos Estados Unidos. Na década de 70 o capitalismo já patinava em baixa produtividade, seu lucro médio declinava e o sistema exigia, para salvar o próprio capitalismo, tornar a circulação do capital livre e desimpedida.

Em 1979, os Estados Unidos, a grande potência capitalista hegemônica deflagra o aumento da taxa de juros, para fortalecer o dólar, impondo maiores perdas aos países periféricos endividados como Brasil – crise da dívida externa. A partir do centro capitalista estadunidense, é imposta a marcha da liberalização financeira globalizada. Desde aí, as regras de “regulação” vão caindo, impondo-se as “virtudes” do que se convencionou denominar de neoliberalismo, um conjunto de prédicas baseadas na abertura financeira para os países dependentes e desregulamentação financeira nos países centrais. Era imposto um novo consenso que levou a enaltecer o papel reorganizador absoluto do mercado, numa relação entre liberalização das contas de capital e desregulamentação financeira, provocando, na busca do lucro máximo do capital, a expansão insustentável do crédito, a injeção de “bolhas” nos mercados financeiros, já implicando na recorrência de sucessivas crises bancárias, cambiais e de endividamento nos países da chamada periferia.

A natureza do capitalismo não pode ser mudada. Se for alterada, deixa de ser capitalismo. Buscam-se sim arranjos nos marcos do próprio capitalismo. Fracassou a tentativa estabelecida em 1944 de prevenir crises como a que sacudiu a economia em 1930. Sucedeu uma situação ainda mais liberal e globalizada do que antes, agora apoiada numa dinâmica que conta com os meios modernos de comunicação. Inverteram-se as regras macroeconômicas do pós-guerra. A consumação da financeirização da economia em escala mundial levou a hipertrofia da esfera financeira, alcançando o capital seu auge especulativo e parasitário. Os desequilíbrios cumulativos se acentuaram e enormes fluxos de capitais financeiros, sem lastro, caminharam desenvoltos entre as economias centrais. Como em toda crise há um detonador. Inexoravelmente esse curso de crescente excitação liberalizante fez explodir a crise com o default do Lehman Brothers, nos Estados Unidos. Foi o sinal do desmoronamento da edificação neoliberal. Desencadeou-se uma derrocada da atividade econômica global. Os mercados financeiros tornaram-se perdidos. Em meados de 2007 se instalou, assim, mais uma crise sistêmica do capitalismo, de maior dimensão e profundidade que as anteriores de 1875 e 1930. A crise, por ser sistêmica, atingiu em cheio os países centrais. Ainda segue e se desdobra cujo epicentro agora é a Europa, sem previsibilidade do que realmente sucederá.

A “mão visível do Estado” veio em socorro dos setores dominantes capitalistas. No centro do sistema estão eles, que devem ser salvos para salvar o próprio sistema. Como sempre, às parcelas majoritárias da população, os trabalhadores, nesses momentos da crise capitalista, lhes são impostos pesadas perdas, levando-os ao desemprego massivo, ao retrocesso de conquistas sociais, ao desespero, à fome e ao abandono de maiores parcelas do povo.

O consenso de Washington e o êxito da resistência dos povos latino-americanos e caribenhos


           Chefes de Estado da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) reunidos em Cancún

O novo consenso, com a volta da liberalização global, imposto pela hegemonia dos Estados Unidos, desde 1979, tomou uma forma mais autoritária e impositiva nos países latino-americanos e caribenhos. O chamado Consenso de Washington impôs a estes países premissas e regras de abertura financeira, Estado mínimo, privatização da economia, desenvolvimento que somente beneficiava uma parte da população (universalização versus foco social). A eles só caberiam uma escolha, um pensamento único, um consenso: a integração plena com as economias centrais pelo caminho da livre circulação de capitais, mercadorias e informações.

A aplicação da linha neoliberal, sustentada pelo consenso impositivo de Washington, aprofundou e agravou, sobretudo, os impasses nacional, econômico e social que vivia o continente latino americano e caribenho. Avançaram as desigualdades, a exclusão social, a dependência econômica, a submissão política, vincando mais fundo a desesperança dos povos dessa região. O período das ditaduras militares, seguido da fase neoliberal, que teve seu ápice na década de 1990, condicionou profundo efeito cumulativo regressivo nesse vasto continente.

Essa foi a causa mais profunda da emergência de ascendente movimento de resistência na America do Sul e Central, que deu lugar ao surgimento de um ciclo progressista inédito e peculiar, de caráter nacional, antiimperialista e democrático. Cuba Socialista venceu heroicamente o período excepcional que viveu após o fim da URSS. E nova situação política na América do Sul despontou com a vitória de Hugo Chaves, na eleição presidencial da Venezuela, em 1998. Desde então, esse novo ciclo compreende hoje quase toda América do Sul, com a posse em 2010 de Pepe Mujica, no Uruguai, e a vitória recente de Olanta Umala, no Peru. E progride na América Central.

A crise capitalista sistêmica, iniciada em 2008, reforçou mais ainda a razão e a convicção do caminho percorrido pelos povos latino americanos e caribenhos, que vêm numa luta contínua para reforçar suas soberanias, superar os ditames neoliberais, democratizar a sociedade, incorporar os deserdados aos frutos do desenvolvimento e abrir caminho para edificação de uma nova sociedade, como acontece na Venezuela, Bolívia e Equador, hasteando desde já a perspectiva de uma transição ao socialismo segundo suas particularidades.

Os países da América Latina compreendem distintas formações sociais e econômicas; as forças à frente de cada governo possuem diferenciadas origens, orientações e objetivos estratégicos; e seu ascenso aos governos nacionais resulta de distintos níveis de acumulação de forças por parte dos setores populares. Por isso, há uma diversidade de processos políticos em curso. Mas, de conjunto, a atual tendência que se desenvolve na América Latina e Caribe tem um sentido geral comum, que aponta para mais soberania das nações, para a busca de aprofundar a democracia e os mecanismos de participação popular, por mais direitos para as massas trabalhadoras e as maiorias do povo e por uma ênfase especial na integração continental de “Nossa América”. A derrota do projeto da ALCA, estratégia que tinha um objetivo abrangente dos Estados Unidos, de integração das Américas sob seu pleno comando, já demonstrou uma viragem do curso político em marcha nesse vasto continente.

Produto dessa inédita realidade vivida pela America Latina e Caribe avança, no seu conjunto, por meio de diversos e complementares mecanismos, a integração continental solidária, cujo sentido estratégico é a conformação de um pólo sul e latino-americano de países soberanos com projetos nacionais e um futuro comum compartilhados. Como afirma Celso Amorim, ex-ministro de Relações Exteriores: “Em um mundo cada vez mais marcado pela competição entre blocos, o nosso bloco é e tem de ser a América do Sul”. No caminho da integração, o passo histórico significativo foi a constituição da Comunidade dos Estados Latino Americanos e Caribenhos, a CELAC, resultante de duas cúpulas no Brasil e no México em que, pela primeira vez, a América Latina e o Caribe se reuniram por autoconvocação, sem a presença dos EUA ou de países europeus. Marcada pelo simbolismo da reintegração de Cuba, a CELAC é um passo decidido na ruptura com o “pan-americanismo” e prepara o terreno para a América Latina exigir numa só voz o fim do profundamente injusto bloqueio estadunidense a Cuba.

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A encruzilhada histórica: capitalismo eterno, ou surgimento de uma nova sociedade, socialista

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Evidenciam-se os limites históricos do capitalismo. É mais nítido do que em qualquer outro período histórico o abismo que separa o capitalismo e o imperialismo das aspirações da humanidade, e torna-se indispensável e urgente a luta por uma nova ordem internacional e um novo sistema econômico e social – o socialismo. O sistema capitalista e o modelo neoliberal, vigente nas últimas décadas, entrou em um grande impasse, desmoralizando seus partidários e apologistas, que pregavam sua infalibilidade.

O capitalismo não é uma formação política, econômica e social eterna. Cada vez mais os povos e os trabalhadores se aproximarão da encruzilhada histórica: capitalismo ou um sistema social superior, cuja alternativa é o socialismo. Nesse sentido é essencial extrair ensinamentos das experiências vividas. Temos convicção que uma das grandes lições que se deve extrair das primeiras experiências de construção do socialismo no século 20 é a idéia de que não há nem modelo único de socialismo nem caminho universal de conquista do poder político. As revoluções vitoriosas do século passado, cada uma delas, na Rússia, na China, no Vietnã, em Cuba seguiram caminhos próprios. A partir da teoria revolucionária marxista-leninista e do pensamento nacional avançado de cada formação econômica social específica, cada povo e cada força revolucionária construirá seu próprio caminho ao socialismo, e construirá o socialismo de acordo com a sua realidade nacional. A luta pelo empreendimento socialista dá seus primeiros passos na cena da historia. Tem sua infância na historia, distinto do capitalismo que já anda na sua terceira idade avançada na historia. Sua vida é a própria manifestação da senilidade do sistema.
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Para ler o pronunciamento de Renato Rabelo na íntegra veja em : http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=157830&id_secao=7

Aldo: causa ambiental virou pretexto para ingerência imperialista

O deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), relator do Código Florestal aprovado em maio na Câmara Federal, afirmou nesta quinta-feira, 30/06, que as grandes potências passaram a usar o meio ambiente como “bandeira” para manter a ordem mundial, em evento promovido pelo PCdoB e pelo PDT em São Paulo, onde Aldo foi ovacionado por mais de 300 lideranças políticas, partidárias, sindicais e sociais. O Vermelho publicou matéria assinada por André Cintra, aqui reproduzida.


“Bandeiras generosas e autoexplicativas, como a democracia, a liberdade e os direitos humanos, são usadas como falso pretexto para a invasão e dominação de países. Agora, como assume abertamente o (ex-vice-presidente americano) Al Gore no livro Terra em Balanço, a ‘luta’ da atualidade é a luta em defesa do meio ambiente. É a forma de interferir nas nações pobres”, denunciou o parlamentar.

Aldo citou o exemplo da ofensiva liderada pelos Estados Unidos sobre o Iraque e o Afeganistão. “É claro que esses países têm problemas de direitos humanos. Mas por que foram invadidos? Os americanos estão realmente preocupados com esse tema? Ou há uma estratégica questão energética que faz essas invasões recompensarem?”

O debate não tem nada de novo, conforme o parlamentar comunista. “(O economista inglês Thomas) Malthus, no século 19, já dizia que não há lugar para o pobre ‘no grande banquete da natureza’. Ao que (o filósofo alemão Karl) Marx reagiu, acusando Malthus de ter produzido um libelo contra a humanidade.”

Para Aldo, os segmentos ambientalistas nunca tiveram “preocupação alguma” com a soberania nacional e com o bem-estar dos povos. Nem tampouco manifestam interesse em fazer do Brasil “um país forte, desenvolvido e respeitado”. É nesse ponto que os discursos de ambientalistas e imperialistas convergem. “Me parece que o meio ambiente não é o fim, mas o meio, dessas correntes.”

A novidade, segundo Aldo, é que os ativistas assumiram a linha de frente das pressões contra os avanços do Código Florestal brasileiro. “Eles são poderosos. Em parcerias entre o Ministério do Meio Ambiente e o Greenpeace na Amazônia, quem está mais bem equipado é o Greenpeace, com barcos e helicópteros sofisticados”, diz Aldo. “Acharam que podiam intimidar o Congresso Nacional, a começar pelo relator, com campanhas sórdidas. Mas o que prevaleceu, nos debates, foi o bom senso.”

“Nenhum brasileiro e nenhum interesse nacional são prejudicados com o novo Código”, agrega Aldo, admitindo que seu relatório, após tantas emendas, consiste numa “vitória parcial”. Na opinião do parlamentar, trata-se do “relatório possível”, que ajuda a “quebrar certos paradigmas” e garantir segurança jurídica a mais de 5 milhões de famílias que trabalham no campo, sobretudo os pequenos agricultores.

“No Nordeste, mais da metade das propriedades rurais tem, no máximo, cinco hectares e renda de menos de um salário mínimo. No meu estado, Alagoas, são 65% de propriedades nessas condições”, relatou. “Se você aplicasse à risca as regras absurdas vigentes, com 20% de reserva legal e 30 metros de APP (Áreas de Preservação Permanente), apenas 0,6% das propriedades do Nordeste sobreviveriam, teriam atividade agropecuária hoje. Foi pensando em corrigir essa distorção que elaboramos nosso relatório.”

De quebra, ao permitir o aperfeiçoamento da produção agropecuária no Brasil, o Código Florestal relatado por Aldo impulsiona o país no comércio internacional. “Me perguntaram no (programa) Roda Viva se realmente há competição entre o Brasil e outras nações nessa área alimentar. Ora, até mesmo dois pipoqueiros, um de cada lado da calçada, competem. Uma padaria está competindo com a outra. Imaginem as nações. Qual nação quer ser superada por outra — ainda mais depois que chegou ao topo?”

Em pesquisas sobre legislações ambientais pelo mundo, o deputado do PCdoB constatou que nenhum país valoriza tanto a preservação ambiental quanto o Brasil. “A Europa tem 0,3% de mata nativa, e o Brasil, 60%. Sabemos conciliar dois patrimônios irrenunciáveis, que são o meio ambiente e o desenvolvimento nacional.”

Aldo também desafiou a corrente ambientalista a gastar sua agressividade contra as potências, em vez de querer sufocar os países em desenvolvimento. “Reserva legal? Isso só existe aqui. Por que essas ONGs ambientalistas internacionais não vão a seus países de origem para exigir que eles tenham metade ou apenas um terço da reserva legal do Código Florestal do Brasil?”

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Viragem histórica

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão e no Santana Oxente:


Assim como as nações que compõem os BRICS a economia do Brasil continua dando sinais de robustez. Mesmo tendo que diminuir o ritmo do desenvolvimento econômico em decorrência das ameaças da volta da inflação.

O que é uma tendência global da economia que vem combinando recessão com inflação. Em nosso caso, a questão está centrada unicamente no fantasma inflacionário. Mas, como dizia o poeta Vinícius de Moraes, são demais os perigos desta vida.

E são múltiplos os sobressaltos que temos passado para nos mantermos no curso do atual ciclo virtuoso de desenvolvimento econômico que o País vem atravessando.

O fortalecimento do dólar tem sido uma dessas pedras em nosso caminho porque tem dificultado sobremaneira as nossas exportações além de vários outros problemas decorrentes.

Apesar de certas correntes de economistas afirmarem que a valorização do Real é um processo irreversível em consequência da pujança do crescimento nacional, o correto seria afirmar que os EUA e o capital financeiro internacional desvalorizaram artificialmente a moeda padrão universal como um golpe premeditado, comercial e financeiro, contra as demais nações.

Além disso, as constantes agressões militares do consórcio anglo-americano, e aliados servis, em várias regiões do planeta, estão provocando sistemática desestabilização nas relações econômicas globais.

A crise das finanças internacionais iniciada em 2008 com as ações criminosas dos bancos norte-americanos e europeus atinge uma etapa crítica com a débâcle das nações da periferia do euro, Portugal, Espanha, Bélgica, Irlanda, além da tragédia grega.

Mesmo assim o Brasil vive na atualidade uma transformação de grande magnitude em sua economia. De 2003 a este ano 48,7 milhões de brasileiros ascenderam às classes A, B e C, o equivalente à população da Espanha, que vai afundando passo a passo.

Assim, o mundo se encontra em uma época de mudanças profundas e ao mesmo tempo em uma agonia da ordem mundial sob a hegemonia dos EUA que intensificam sua histeria bélica para manter o domínio mundial.

Investem também em uma criminosa ofensiva midiática global onde procuram a todo custo impor aos povos seus conceitos bizarros sobre democracia, direitos humanos, soberania nacional etc. Uma época, sem dúvida, de grande viragem histórica.