segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Fique com os princípios

Meu novo artigo:


Ao se ler o livro O progressista de ontem e o do amanhã, do cientista político Mark Lilla, tem-se a certeza que os seus argumentos e análises referem-se igualmente ao recente processo eleitoral realizado no Brasil, quase que literalmente.

De tal forma que por aqui também parece existir a polarização entre os Partidos Democrata e o Republicano dos Estados Unidos, especialmente o confronto das políticas Identitárias fomentadas desde os anos 80, hoje sob a hegemonia do clã dos Clintons, apoiada pelas estratégias dos grandes especuladores financeiros do tipo George Soros e outros, versus uma outra casta de financistas aliada ao presidente Trump.

Os Democratas norte-americanos, afirma Mark Lilla, teriam abandonado as grandes linhas de administração e políticas que falavam para o conjunto da nação e assumiram a orientação multiculturalista de parcelas da sociedade, que passaram a condenar as grandes maiorias sociais por injustiças cometidas às chamadas minorias.

Espertamente Donald Trump tirou proveito da crise estrutural, da desindustrialização que vive os EUA e pôs a culpa nos Democratas, sob a orientação do estrategista e marqueteiro Steve Bannon. O mesmo que atuou nas eleições no Brasil.

As políticas Identitárias atuais dos Democratas e o discurso demagógico, chauvinista da ala de extrema direita Republicana de Donald Trump representam um dos tempos mais medíocres da História dos Estados Unidos.

De tal forma é a influência dessas duas correntes em disputa nos EUA, aqui no Brasil, que jornalistas, analistas afirmam que os blogs, portais, a grande mídia e o mundo da política nativa encontram-se cada vez mais alinhados e semelhantes à linha dos Democratas e Republicanos norte-americanos.

Exatamente nas coisas eivadas de uma carga ideologizada fora da realidade, que serve a interesses que promovem a desunião do povo brasileiro tais como uma antropologia binária, que não é a nossa formação Histórica policrômica, mestiça, a nossa visão de um Estado laico, a tradição do culto de sincretismos religiosos tradicionais celebrados em muitas manifestações populares como as afro-católicas, por exemplo.

O governo Bolsonaro possui claros sinais de uma política incongruente onde se misturam alguns interesses nacionais com um neoliberalismo extremado da Escola de Chicago que já não é praticado nem nos EUA, onde se pauta a independência do Banco Central, mas não o dos EUA, eufemismo para doação do nosso BC às finanças globais, uma reforma da Previdência Social que privilegia o sistema financeiro, penaliza a classe média e os pobres, privatização desbragada de empresas estatais estratégicas etc. etc.

A sua política externa é uma cópia, com tintas de religiosidade puritana, da visão supremacista do governo Trump.

Pior, desvia-se da tradição multilateralista do Itamaraty na mediação diplomática, dos nossos objetivos nacionais, abrindo mão da liderança regional hemisférica, cujas consequências têm sido a crescente presença geomilitar da Rússia, a comercial da China, na região perigosamente conflituosa como a Venezuela. Resultado do vácuo que vai sendo deixado pela nossa ausência de uma diplomacia estratégica eficiente, mediadora e propositiva.

Essas potências estão jogando o jogo delas, o Brasil é que está abrindo mão do seu papel Histórico.

Já setores de “esquerda” insistem no discurso Identitário, que a levou a uma derrota eleitoral “acachapante” e plebiscitária, cuja matriz é patrocinada por megaespeculadores como George Soros e ONGs que atuam no mundo visando desestabilizar, fraturar os povos.

É surreal a existência de 800 mil ONGs atuando alegremente no País, muitas delas contrárias à nossa soberania, desenvolvimento econômico, associadas a Países que sabotam o nosso protagonismo internacional.

Assim, diante desse caldo tóxico de ódios, intolerâncias mil, “guerras ideológicas”, da pós-verdade onde o que menos vale é a análise concreta da realidade concreta, a racionalidade, é aconselhável ficar com os princípios indeclináveis em defesa da nação, do espírito progressista, das liberdades democráticas.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Conceitos na pós-verdade

Meu novo artigo:


Estamos vivendo uma época plena do fenômeno da pós-verdade, que não se iniciou ontem, já faz um certo tempo. Daí que assistimos correntes de opiniões lastreadas nessa construção nefasta em todos os sentidos.

Porque nele o que importa não é a veracidade sobre a realidade propriamente dita, mas a versão que se faz dela, daquilo que interessa acreditar, do que é útil a essa ou àquela linha de pensamento, ou de um determinado grupo político.

É uma ilusão achar que a pós-verdade se restringe ao pensamento, às ideias, ela age em todos os sentidos, e é possível afirmar que através dela pode se ganhar ou perder o poder político, portanto, interage com os interesses econômicos e os fatores sociais.

Existem várias correntes de opinião pública conduzidas por “ideologias” formuladas em meio a fantasias teóricas e políticas, que não se sustentam na análise concreta da realidade concreta. É como se fosse uma nova forma de teologia.

Porém, a teologia não pretende abarcar o ramo do concreto, mas da subjetividade relativa “à infinitude do ser”, mesmo que ela recorra aos fatos Históricos e alguns ramos da ciência.

Já a pós-verdade intervém de maneira direta no mundo concreto e material da política, nas relações de produção, nos conflitos sociais. Por isso, o que importa é “a minha verdade”, conforme os “meus interesses ou do meu grupo”.

Dessa maneira a pós-verdade tem algo de um messianismo pagão, que pode resvalar facilmente ao campo do fanatismo e, em consequência, à aversão agressiva contra todos os que não se enquadrem nos critérios da sua interpretação da realidade, com o prejuízo da comprovação do experimento científico dos fatos em discussão.

Constituem-se assim, em muitos casos, uma legião de ativistas embalados por uma paixão e um conjunto de ideias e éticas, mas sempre decepcionado com o mundo ou o seu País, já que elas não são realizáveis ou compatíveis com os dados da vida concreta.

A pós-verdade é, dessa maneira, a desrealização quanto ao mundo, e de um ativismo individual e coletivo, paradoxalmente, cheio de energia combativa e ao mesmo tempo depressivo, o que conduz quase sempre a um processo de vitimização do grupo de ativistas em relação ao conjunto da sociedade.

Não se pode afirmar, é certo, que as consequências da pós-verdade não sejam democráticas, porque elas atingem hoje tantos setores à direita quanto à esquerda que, quase sempre, buscam polarizar a sociedade, provocando muitas vezes enormes malefícios a essa última.

Nesse sentido, a pós-verdade traz um grande prejuízo à lucidez individual e coletiva, pode acarretar, dependendo da situação e do contexto, um perigo à construção elevada dos valores nacionais, democráticos, à convivência social. O Brasil, encontra-se contaminado por formas de delírio cuja origem vem desse fenômeno nocivo, a pós-verdade.