sexta-feira, 27 de março de 2015

Geopolítica do caos

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste, no Santana Oxente e no pcdobalagoas.org.br:


Parece que foi há séculos a tese defendida pelo historiador nipo-americano Francis Fukuyama que na década de 90 passada saiu da obscuridade acadêmica e entrou no rol das celebridades com a sua proclamação sobre o Fim da História.

Fukuyama não elevou-se naturalmente ao patamar de conhecido intelectual, foi catapultado pelo sistema, a Nova Ordem Mundial, em tendência de consolidação global através da concentração, centralização do capital financeiro.

Exatamente no mesmo período, aconteceu outro fenômeno de proporções gigantescas, o processo de oligopolização da grande mídia como correia de transmissão da ideologia que passaria a ser constituída como uma espécie de ditadura mundial do pensamento único.

Na época produziu-se uma falsa euforia como se a humanidade tivesse finalmente passado a uma etapa mais elevada num mundo sem fronteiras, as guerras lembranças desagradáveis de um tempo distante, a economia gerando pleno emprego, as pessoas obteriam o status de cidadãos do mundo.

A realidade não só desmentiu a profecia do historiador, colaborador da CIA, como mostrou o seu reverso, décadas trágicas onde pontificam agressões militares que não podem ser acompanhadas pelo cidadão comum tal a profusão e velocidade com que ocorrem.

Vivenciamos uma série de abalos sistêmicos do capital, raros períodos de crescimentos medíocres, combinado com a decadência persistente da economia global, penúria dos povos mergulhando as nações no atoleiro financeiro, além de calamidade social inclusive no primeiro mundo como Europa e os Estados Unidos.

A Nova Ordem mundial passou a utilizar-se da intervenção armada através dos EUA como substituta do processo de acumulação na crise capitalista crônica, daí o surgimento do neofascismo como fenômeno social, a tentativa de recolonização de Países soberanos como o Brasil.

Qualquer análise da atual conjuntura no País não pode desconhecer a linha da Geopolítica do Caos fomentada pelo capital rentista, as ações imperiais desestabilizadoras em curso no mundo e América Latina.

Assim a batalha política travada no Brasil para assegurar o mandato da presidente Dilma, legitimamente eleita, contra manobras golpistas é parte indissociável do cenário geopolítico, exige a formação de ampla frente democrática e patriótica em defesa da nação ameaçada.

quinta-feira, 19 de março de 2015

O cerne da crise

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste, no Santana Oxente e no pcdobalagoas.org.br:


Após as duas manifestações da semana passada o cenário político entra em uma etapa mais complexa, radicalizada.

A nação assistiu a uma ofensiva jornalística, notícias diversionistas, desfile de “celebridades” dos grupos midiáticos onde houve de tudo menos o caráter da informação, mesmo a informação de classe, mais com o sentido de conspiração antidemocrática, golpista.

Já o combate à corrupção, que tem com justeza indignado a população brasileira, vem sendo o pretexto para atrair setores médios da sociedade com vistas a motivos, esses sim, inconfessáveis.

Até porque o maior dos escândalos de corrupção no País tem sido convenientemente varrido para debaixo do tapete, o chamado Swiss Leaks, de correntistas que utilizam bancos suíços para fraudar, desviar fortunas bilionárias para fora do Brasil incluindo aí barões da mídia oligárquica.

Essa mídia global e congêneres nativas estão associadas, subordinadas, é o termo melhor, ao capital rentista internacional compondo junto a outras instâncias a chamada governança da Nova Ordem Mundial.

As iniciativas golpistas, ensaiadas no País em 2013, são fomentadas em várias partes do mundo, especialmente contra os BRICS e nações que prezam a soberania. Revelam processos de desestabilização monitorados por centros globais de poder.

Mas a crise capitalista avançou sobre os cofres dos Países com escorchantes mecanismos de pagamento dos serviços da dívida pública, ajustes fiscais etc.

Também é óbvio que a nação necessita modificar o atual modelo político assim como de um novo Projeto Nacional de Desenvolvimento. De  inovação científica, tecnológica que suste o processo de desindustrialização da economia nacional, possibilitando competividade externa, ampliando em qualidade, quantidade o mercado de trabalho interno retomando o crescimento econômico do País sob bases mais avançadas.

O cerne da crise política está na brutal pressão contra o governo para impor novas, duras medidas de arrocho fiscal, rendição incondicional às políticas monetárias ortodoxas, com desemprego como na Europa, ou a substituição do governo através do golpe por elites alinhadas com a banca rentista.
 
Mobilizar as maiorias sociais, garantir o mandato legítimo da presidente Dilma, em defesa do Brasil, da democracia ameaçada, são questões cruciais do momento.

 

"EUA desestabilizam democracias na América Latina", diz Moniz Bandeira

O cientista político e historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira denuncia que os EUA por meio de órgãos como a CIA, NSA (Agência Nacional de Segurança) e ONGs continuam na tentativa de desestabilizar governos progressistas da América Latina, como os da Venezuela, Argentina e Brasil.

Moniz Bandeira é o brasileiro indicado ao Prêmio Nobel de Literatura de 2015. A indicação foi feita pela União Brasileira de Escritores (UBE), a pedido da Real Academia Sueca.

Em seu comunicado a respeito da indicação o presidente da UBE explicou o porquê da escolha: "Moniz Bandeira é um intelectual que vem repensando o Brasil há mais de 50 anos. Com fundamentação absolutamente consistente, suas narrativas são exercícios da literatura aplicada ao conhecimento dos meandros da política exterior, não só do Brasil mas de outros países cujas decisões afetam, para o mal ou para o bem, a vida, a nacionalidade e a própria identidade brasileira".

Transcrevemos aqui a entrevista concedida por ele, por e-mail, uma vez que reside na cidade alemã de Heidelberg, onde é cônsul honorário do Brasil, publicada no Vermelho:

O líder do PT, Sibá Machado, comentou nas redes sociais que a CIA tem atuado nas tentativas de desestabilização de governos democráticos na América Latina. Como o senhor avalia isso, diante de vários episódios históricos que mostram os EUA por trás da desestabilização de governos de esquerda e progressistas?
Moniz Bandeira – Washington, há muito tempo, cria ONGs com o fito de promover demonstrações empreendidas, com recursos canalizados através da USAID, National Endowment for Democracy (NED) e CIA; Open Society Foundations (OSF), do bilionário George Soros, Freedom House, International Republican Institute (IRI), sob a direção do senador John McCain, etc. Elas trabalham diretamente com o setor privado, municípios e cidadãos, como estudantes, recrutados para fazerem cursos nos Estados Unidos. Assim o fizeram nos países da Eurásia, onde de 1989 ao ano de 2000 foram criadas mais de 500.000, a maioria das quais na Ucrânia. Outras foram organizadas no Oriente Médio para fazer a Primavera Árabe.

A estratégia é aproveitar as contradições domésticas do país, os problemas internos, a fim de agravá-los, gerar turbulência e caos até derrubar o governo sem recorrer a golpes militares. Na Ucrânia, dentro do projeto TechCamp, instrutores, a serviço da Embaixada dos Estados Unidos, então chefiada pelo embaixador Geoffrey R. Pyatt, prepararam, desde pelo menos 2012, especialistas, profissionais em guerra de informação e descrédito das instituições do Estado, a usar o potencial revolucionário da mídia moderna – subvencionando a imprensa escrita e falada, TVs e sites na Internet – para a manipulação da opinião pública, e organização de protestos, com o objetivo de subverter a ordem estabelecida no país e derrubar o presidente Viktor Ianukovitch, em fevereiro de 2014.

Essa estratégia baseia-se nas doutrinas do professor Gene Sharp para descrever como derrubar um governo e conquistar o controle das instituições, mediante o planejamento das operações e mobilização popular no ataque às fontes de poder nos países hostis aos interesses e valores do Ocidente (Estados Unidos). Essa estratégia pautou em larga medida a política de regime change, a subversão em outros países, sem golpe militar, incrementada pelo presidente George W. Bush, desde as chamadas “revoluções coloridas” na Europa e Eurásia, assim como na África do Norte e no Oriente Médio. Explico, em detalhes e com provas, como essa estratégia se desenvolve em meu livro A Segunda Guerra Fria, e, no momento estou pesquisando e escrevendo outra obra – A desordem mundial - onde aprofundo o que ocorreu e ocorre em vários países, sobretudo na Ucrânia.

Além da CIA, como os EUA atuam contra os governos de esquerda da América Latina?
Não se trata de uma questão ideológica, mas de governos que não se submetem às diretrizes de Washington. Uma potência mundial, como os Estados Unidos, é mais perigosa quando está perdendo a hegemonia do que quando expandia seu Império. E o monopólio que adquiriu após a Segunda Guerra Mundial de produzir a moeda internacional de reserva – o dólar – está sendo desafiado pela China, Rússia e também pelo Brasil, que está associado a esses países na criação do banco internacional de desenvolvimento, como alternativa para o FMI, Banco Mundial etc. Ademais, a presidenta Dilma Rousseff denunciou na ONU a espionagem da NSA, não comprou os aviões - caça dos Estados Unidos, mas da Suécia, não entregou o pré-sal às petrolíferas americanas e não se alinhou com os Estados Unidos em outras questões de política internacional, entre as quais a dos países da América Latina.

O governo da Venezuela tem denunciado a participação de Washington em tentativas de golpe. O mesmo poderia estar acontecendo em relação ao Brasil?
Evidentemente há atores, profissionais muito bem pagos, que atuam tanto na Venezuela, Argentina e Brasil, integrantes ou não de ONGs, a serviço da USAID, National Endowment for Democracy (NED) e outras entidades americanas. Não sem razão o presidente Vladimir Putin determinou que todas as ONGs fossem registradas e indicassem a origem de seus recursos e como são gastos. O Brasil devia fazer algo semelhante. As demonstrações de 2013 e as últimas, contra a eleição da presidenta Dilma Rousseff, não foram evidentemente espontâneas. Os atores, com o suporte externo, fomentam e encorajam a aguda luta de classes no Brasil, intensificada desde que um líder sindical, Lula, foi eleito presidente da República. Os jornais aqui na Alemanha salientaram que a maior parte dos que participaram nas manifestações de domingo, dia 15, era gente da classe média alta para cima, dos endinheirados. 

Que interesses de Washington seriam contrariados, pelo governo do PT, para justificar a participação da CIA e de grupos empresariais de direita, como os irmãos Koch (ramo petroleiro), no financiamento de mobilizações contra Dilma? O pré-sal, por exemplo?
Os interesses são vários como expliquei acima. É muito estranho como começou a Operação Lava-Jato, partir de uma denúncia “premiada”, com ampla participação da imprensa, sem que documentos comprobatórios aparecessem. O grande presidente Getúlio Vargas já havia denunciado, na sua carta-testamento, que “a campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. (...) Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobras e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculizada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente”.

Como o senhor interpreta o surgimento de grupos de direita no Brasil, com agenda totalmente alinhada aos interesses dos EUA?
Grupos de direita estão no Brasil como em outros países. E despertaram com a crise econômica deflagrada em 2007-2008 e que até hoje permanece, em vários países, como o Brasil, onde irrompeu com mais atraso que na Europa. E a direita sempre foi fomentada pelos interesses de Wall Street e do complexo industrial nos EUA, que é ceivado pela corrupção, e onde a porta giratória – executivos de empresas/secretários do governo – nunca deixa de funcionar, em todas as administrações.


Há entre os organizadores dos protestos, gente francamente favorável à privatização da Petrobrás e das riquezas nacionais, com um evidente complexo de vira-latas diante dos interesses estrangeiros. Como analisar esse movimento à luz da história brasileira? De novo o nacionalismo versus o entreguismo?
Está claro que, por trás da Operação Lava-Jato, o objetivo é desmoralizar a Petrobrás e as empresas estatais, de modo a criar as condições para privatizá-las. Porém, estou certo de que as Forças Armadas não permitirão, não intervirão no processo político nem há fundamentos para golpe de Estado, mediante impeachment da presidenta Dilma Rousseff, contra a qual não há qualquer prova de corrupção, fraude eleitoral etc., elemento sempre usado na liturgia subversiva das entidades e líderes políticos que a USAID, NED e outras entidades dos EUA patrocinam.
                                      

quinta-feira, 12 de março de 2015

Golpismo sem pudor

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste, no Santana Oxente e no pcdobalagoas.org.br:


As ações golpistas de setores retrógrados nativos continuam recrudescendo com o incentivo aberto, a participação do capital rentista a desferir violentos petardos de ataques especulativos com altas estratosféricas do dólar etc., aumentando em curto espaço de tempo ganhos parasitários espetaculares.

Ao tempo em que a mídia hegemônica nativa abandona qualquer pudor em relação à informação jornalística, mesmo como informação de classe. Ligada às áreas financeiras predadoras internacionais e associadas internas, atua com enorme desenvoltura em meio ao processo de desestabilização econômica, social, política, institucional em curso no Brasil.

Essa mídia oligárquica, arquiteta minuciosamente um cenário caótico abrangente no País reeditando seu traço Histórico fundamental: a aliança absoluta com os mais graves movimentos de lesa-pátria que em períodos distintos atingiram a nação e o povo brasileiro.

Repete à exaustão a máxima proferida por Goebbels, ministro da propaganda nazista do III Reich: que era preciso repetir uma falácia de maneira recorrente até que adquirisse o caráter de verdade inquestionável.

Torna-se óbvia a tentativa de ao desmoralizar empresas estatais estratégicas, como a Petrobrás, os interesses forâneos possam capturar as riquezas nacionais, promovam, sem necessidade dos leilões com moedas podres dos anos noventa passados, o assalto ao rico patrimônio das riquezas continentais do Brasil.

Insatisfeitos com as concessões relativas ao tripé macroeconômico em vigor e diante da profundidade da crise capitalista global que assola o mundo especialmente a comunidade europeia e os Estados Unidos, resolveram adotar a política de terra arrasada contra a nossa pátria e a nível internacional.

Nem que para isso procurem defenestrar nossa democracia arduamente conquistada, revogar conquistas sociais imprescindíveis às grandes maiorias da sociedade, que viviam apartadas da vida econômica, social, como párias, sub-gente, sem acesso aos bens de consumo mais elementares.
 
O momento é de unidade e luta de todos os democratas, patriotas, em defesa da soberania nacional, da democracia seriamente ameaçada, lucidez na articulação de ampla frente política em torno da governabilidade, do mandato constitucional da presidente Dilma contra o movimento golpista no País.

sábado, 7 de março de 2015

A internacional do terror midiático

Texto de Aram Aharonian, jornalista e diretor da Telesur, publicado no Carta Maior:


Hoje, todas as luzes de alarme permanecem acesas no norte e no sul diante das intenções restauradoras da velha ordem neoliberal. As forças mais reacionárias do mundo intensificaram suas campanhas para desestabilizar novamente vários governos latino-americanos – o venezuelano, no social, econômico e militar; o argentino, no financeiro, por exemplo, em uma experiência que pode ser aplicada a qualquer outro país latino-americano cujos recursos naturais interessem às potências centrais.

A crescente e orgânica participação dos meios de comunicação cartelizados – nacionais e estrangeiros – na preparação e no desenvolvimento das guerras e planos desestabilizadores promovidos por e dos Estados Unidos demonstra que estes se transformaram em verdadeiras unidades militares. Se há 40 anos era necessária a ação das forças armadas para impor seu projeto, hoje o cenário de guerra é simbólico e taques e baionetas não fazem falta: basta o controle dos meios hegemônicos para impor modelos políticos, econômicos e sociais.

A guerra se transfere ao espaço simbólico, à batalha ideológica, à guerra cultural e, portanto, as armas para essa nova confrontação são diferentes. Já não são metralhadoras, mas microfones, computadores, telefones, câmeras de vídeo... A guerra para impor imaginários coletivos se dá através de meios cibernéticos, audiovisuais e gráficos.

Os meios comerciais de comunicação confiscaram a liberdade de expressão e, precisamente, aprisionaram-na para usá-la como refém. Diante desse poder, os indivíduos não valemos nada. Os meios se tornaram despóticos e impiedosos, como nunca qualquer reizinho ou ditadorzinho já foi. Uma vez que acusam e condenam, não há como apelar a ninguém.

O terror midiático


A arte da desinformação foi um elemento chave em todos os conflitos bélicos desde a Antiguidade. Falamos de três mil anos: já naquela época, não se tratava de escrever a realidade dos fatos, a história verdadeira, mas de confrontar percepções, imaginários coletivos da sociedade a favor, é claro, da cultura dominante, dos poderes fáticos, incluindo – em tempos mais recentes, por volta do século XVII – as diversas igrejas.

É claro que as agências internacionais de notícias surgiram para afiançar o poder colonial das potências europeias, sobretudo na África e na Ásia, e também é claro que cada vez que surge um conflito, a imprensa do sistema é a encarregada de silenciar qualquer opinião independente, eliminar o debate e o desentendimento, para orquestrar as respostas emocionais em massa a seus interesses.

Já em 1982, os britânicos haviam aplicado a férrea censura de imprensa e a verdade oficial durante o conflito com a Argentina no Atlântico Sul, experiência que serviu para sua aplicação posterior em Granada, na Somália, no Iraque, no Afeganistão e em muitas outras regiões. Hoje, a frente da direita latino-americana e mundial – incluindo o governo dos Estados Unidos, alguns de seus aliados incondicionais da região e outros da União Europeia – assumiu protagonismo ativo desde fevereiro de 2014 em seus ataques midiáticos contra a Revolução Bolivariana e os governos de Argentina e – em breve – Brasil.

As três redes privadas mais importantes de jornais da América Latina se uniram para “difundir informações (leia-se manipulações, distorções, mentiras, difamações) sobre a situação na Venezuela”. Internamente, as campanhas de imprensa querem provocar cansaço nos cidadãos, e semear no exterior um imaginário coletivo de repressão, autoritarismo, uma sensação de caos e ingovernabilidade.

A Argentina enfrentou em 2014 uma extorsão financeira sem precedentes. Os especuladores que compraram títulos da dívida por 48 milhões de dólares conseguiram em Nova York uma sentença de retorno por 500 milhões. Essa fraude retrata como funciona o capitalismo atual, sistema que empurra nossos países mais e mais ao padecimento. Os abutres repetem a mesma coisa que já fizeram em outros lugares, como o Peru, e ameaçam toda a região.

Ainda que o cenário afete especificamente a Argentina, ele deixa qualquer dívida soberana sob a garra dessas pessoas. Em 2014, a dívida representava 104% do Produto Interno Bruto nos EUA, 93% na Espanha, 132% na Itália, 129% em Portugal, 78% na Alemanha, 175% na Grécia, 123% na Irlanda e 90% no Reino Unido.

O precedente dessa decisão judicial vai muito além do prejuízo contra a Argentina e coloca em risco qualquer reestruturação futura da dívida... com o olhar direcionado à periferia europeia.

Paralelamente, no Brasil, desatou-se uma furiosa ofensiva midiática contra a estatal petroleira Petrobras, apoiando as demandas do fundo abutre Aurelius. Existe, sem dúvida, uma intenção de provocar um descalabro financeiro na região, com apoio de setores internos, que colaboram com esses interesses sem questionar suas “práticas mafiosas”. Existe uma estratégia mais generalizada que está utilizando a questão financeira como campo de batalha contra determinados processos políticos. Em 2014, levaram a Argentina ao default e atacam o Brasil. É uma guerra sem armas, ocorrendo no terreno judicial e com objetivos políticos.

Ninguém estranhou o fato de os meios hegemônicos argentinos terem manejado a informação e a opinião para se alinhar à posição dos credores, denegrindo e ridicularizando a posição de seu país e minimizando a informação sobre os apoios solidários recebidos de todos os países latino-americanos e caribenhos, do Grupo dos 77 (mais de 120 países e desenvolvimento, mais a China), e dos Brics, entre outros.

A aposta das transacionais e dos fundos abutres, referendada de modo cartelizado pelos grupos midiáticos hegemônicos em nível regional, internacional e interno, foi a de criar tumulto na população diante de uma “iminente” corrida bancária e cambial, diante do embargo de ativos petroleiros nacionalizados. E a cartilha se repete na Venezuela, na Argentina e no Brasil.

Nos nossos tempos, marcados pelo neoliberalismo, vícios como a cobiça e o individualismo se transformaram em virtudes, exaltadas por Hollywood por meio da homogeneização dos meios de comunicação.

Devemos lembrar que o conceito de terrorismo midiático está relacionado a um emaranhado de estratégias políticas, econômicas, sociais e psicológicas que buscam criar realidades fictícias, medos coletivos e transformar mentiras em verdades que permitem manipular a sociedade de acordo com o conflito ou com o inimigo em questão.

Se partimos da ideia de que, para o poder, qualquer sujeito considerado uma ameaça a seus interesses é concebido como inimigo de guerra, então o terrorismo midiático parte do fato de que a guerra psicológica utiliza uma caracterização simplista e maniqueísta (bom/mau, negro/branco) para descrever o inimigo. A chamada propaganda negra não é outra coisa senão a construção de alguns nomes, alguns relatos, algumas categorias, algumas imagens que ordenam os acontecimentos a partir de um eixo de destruição do outro. Esse processo é feito ocultando a verdade, e sobretudo mentindo acerca dela, conforme observa Florencia Saintout, da Universidade argentina de La Plata.
 
Mas a resposta – dos governos atacados – a essas matrizes terroristas midiáticas foi reativa e não proativa, propositiva, informativa. Foi baseada em denúncias (o que é próprio de uma etapa de resistência, e não de construção) e na preocupação pela solidariedade passiva. Na Venezuela, foram mensagens inundadas por consignas, inserções, mensagens solidárias (que ninguém lê e outros, no norte, arquivam em suas bases de dados), lamentos, imobilidade.
 
A falta de fontes de informação verdadeira, oportuna e para todos facilita o trabalho da direita de impor imaginários coletivos através de uma imprensa – rádios, meios cibernéticos fixos e móveis, televisões, jornais, revistas – totalmente cartelizada atrás da mensagem única, produzida pelas usinas no exterior e em cada um de nossos países.


Tradução de Daniela Cambaúva

quinta-feira, 5 de março de 2015

Escalada neofascista

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Tribuna do Agreste, no Santana Oxente e no pcdobalagoas.org.br:


O jornalista Aparício Torelly, o Barão de Itararé, impedido de noticiar à época a gravidade do momento político saiu-se com a máxima: há algo no ar além dos aviões de carreira.

Hoje o Barão de Itararé não teria necessidade de recorrer a ambiguidades jornalísticas para escrever sobre a realidade institucional porque há no Brasil a mais irrestrita liberdade política e de imprensa.

No entanto o processo de concentração, controle da mídia de várias formas, chegou a um nível quase que absoluto seja em dimensão global quanto no País, assumiu proporção de monopólio da informação sobre os fatos e sua versão.

Já é recorrente proclamar que essa mídia hegemônica encontra-se há alguns anos associada às estratégias do grande capital financeiro mundial, à ideologia das políticas monetárias neoliberais, junto aos grupos mais retrógrados inclusive no Brasil.

Essas forças compõem o que passou-se a denominar a Governança Mundial reunindo o aparato do complexo ideológico de informação global, congêneres regionais, o mundo das finanças além de organismos internacionais que outrora tinham relativa independência nos conflitos do planeta.

A decadência relativa do poder econômico do império anglo-americano e associados, o surgimento dos BRICS em transição a outra realidade multipolar financeira, comercial, aumentou a violência das agressões bélicas sob a batuta dos EUA.

As iniciativas de desestabilização dos Estados soberanos através do fomento de crises institucionais detalhadamente arquitetadas com apoio da mídia oligárquica, do capital rentista vão assumindo em vários lugares o caráter de lesa-pátria, ações montadas com objetivo de capturar as riquezas dos Países.

A China, Rússia, o Brasil, assim como Argentina, Venezuela encontram-se sob disseminadas articulações golpistas. Mas as duas primeiras nações têm maiores condições de autonomia, resistência, por vários motivos inclusive Defesa militar.

Os democratas, patriotas brasileiros precisam reagir às conspirações da Nova Ordem mundial, de setores reacionários nativos, via escalada de teor neofascista contra a nossa soberania e a democracia na tentativa de depor o governo da presidente Dilma legitimamente eleito.

Essas são as duas questões centrais que desatam vários outros nós da grave crise política que envolve a nação.