sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Alternativa ao totalitarismo

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:

 
 
Após a debacle da União Soviética e do chamado campo socialista europeu a humanidade viu surgir um outro tipo de civilização que apesar de herdar elementos capitalistas fundamentais da etapa anterior caracteriza-se por modificações substanciais nas relações econômicas, geopolíticas, sociológicas e ideológicas.

Mesmo com a presença de um significativo campo distinto ao sistema estabelecido, especialmente a China e outros Países de projetos socialistas, além dos Países emergentes, os BRICS, novo polo global alternativo à hegemonia das nações capitalistas centrais, ainda é determinante a nova ordem mundial consolidada definitivamente em escala planetária no início dos anos noventa do século passado.

Uma dominação brutal, avassaladora, atingindo todos os continentes, destruindo sistematicamente conquistas arduamente alcançadas durante os últimos sessenta e sete anos desde o final da Segunda Guerra Mundial, especialmente nos Países de capitalismo avançado em virtude das lutas dos trabalhadores e demais camadas assalariadas mas também como estratégia à crescente influência das ideias sociais provenientes do campo socialista que em seu apogeu contabilizava dois terços da humanidade.

Nessas circunstâncias havia uma intensa polarização ideológica, permanente luta política, consideráveis espaços para movimentos de longo curso, como dos não alinhados, lutas de libertação contra o neocolonialismo, por caminhos nacionais soberanos, independentes.

Nesse período foi intensa a vida intelectual em todos os aspectos, filosófico, artístico, científico, e havia no ar uma convicção no progresso como condição essencial ao futuro da humanidade.

Com a hegemonia da nova ordem mundial neoliberal, após o final da guerra fria que custou aos EUA parte fundamental da sua atual dívida pública interna, impôs-se a destruição do espírito libertário dessa época, em seu lugar emergiu um tipo de civilização baseada na deificação do mercado global, do indivíduo sob tutela, na liberdade sub judice direcionada ao consumo.

Essa ordem mundial totalitária que escraviza a força de trabalho internacionalizada está conduzindo a humanidade a uma crise econômica, multilateral, inigualável e que apesar de ainda dominante encontra-se exaurida com claros sinais de contestação das nações, dos trabalhadores, em luta por uma alternativa de civilização renovada, emancipadora, democrática.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Dor indescritível

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


O assassinato de vinte crianças e seis adultos em uma escola primária dos Estados Unidos, revela uma tendência patológica crescente na sociedade norte-americana que se expressa na sequência de episódios idênticos ocorridos nos últimos anos com um grande número de vítimas fatais.

Demonstra igualmente os sinais mais que evidentes da exaustão, infelizmente não em estágio final, de um tipo de civilização regressiva, militarizada, totalitária, erigida pela nova ordem mundial da qual a nação americana, como o grande e único império da era contemporânea, tem sido tutora e guardiã armada.

O capital financeiro global, o complexo industrial militar norte-americano, associados à megaestrutura midiática mundial  de informação, propaganda, são os que determinam os desejos das pessoas, os sonhos de consumo, a cultura, a ideologia dominante na maior parte do planeta nos últimos anos.

Na mesma linha a indústria cinematográfica dos Estados Unidos deu a sua horrível parcela de contribuição para que se assentasse em escala planetária a visão alienante, distorcida, paranoica, bélica, desse mesmo tipo de civilização regressiva.

A violência na sociedade norte-americana tem as suas próprias especificidades mais profundas que o fenômeno da delinquência desenfreada. É produto da visão de que cada norte-americano é um guerreiro super-homem, invencível, armado até os dentes, confrontando a humanidade, associada a um puritanismo repressor.

Assim, ao que parece a realidade superou a ficção transformando Laranja Mecânica, livro de Anthony Burgess sobre a patologia da violência e maldade insanas adaptado para o cinema por Stanley Kubrick, numa espécie de versão edulcorada dos fenômenos reais da sociedade americana.

Essa mesma grande mídia mundial hegemônica procura agora, diante da recorrência quase endêmica dos brutais assassinatos como os ocorridos na escola primária de uma pequena cidade dos EUA, produzir a sua opinião centrada na constatação de que existem nas mãos de civis 300 milhões de armas de fogo vendidas em milhares de lojas espalhadas no País.
 
Esse é um lado tenebroso do diagnóstico embora a verdade seja mais trágica, o povo norte-americano está pagando alto preço em sofrimento e dor indescritíveis pela cultura que lhes foi imposta para forjar o "destino manifesto" de indivíduos superiores imbatíveis, acima do bem e do mal, da sua própria vida e a do próximo.
 

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Objetos não identificados

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


A nova ordem mundial continua ditando em múltiplos aspectos a agenda a ser seguida pelas nações e os povos sempre tendo como centro ideológico, midiático, a complexa, poderosa rede de difusão, propaganda anglo-americana.

Uma das suas faces é a agenda social global que por denominação não reflete projetos nacionais, conjunturais, programáticos partidários mas a sua própria escala mundial determinada originariamente.

Não é de se estranhar assim, a relativização na interpretação dos fenômenos Históricos de abrangência global ou regional correspondente à permanente desconstrução ideológica dos acontecimentos econômicos, sociais e políticos.

Daí é que vem o alerta do falecido historiador Eric Hobsbawm para o qual as novas gerações que herdaram um mundo unipolar da nova ordem mundial estariam submetidas a uma espécie de presente contínuo em que o passado, mesmo o passado recente, não representa valor algum.

Assim é que se observa, através da chamada terceira revolução tecnológica na comunicação, uma gama de informações fragmentárias, desconexas, uma cultura de mosaico em que tudo é ao mesmo tempo significativo e nada é importante, segundos após aparecer num "site" da Internet ou nas redes sociais.

Igualando na mesma escala de grandeza a desestabilização de continentes pela subversão armada através da grande potência imperial, os pródigos litígios ambientais na Amazônia brasileira, a gravidez da princesa bretã, a difusão das imagens de uma onça adotando um gato órfão em um zoológico europeu ou o vídeo de um hipotético objeto voador não identificado, UFO, filmado nos gélidos Países nórdicos.

Mas como em política inexistem objetos voadores não identificados, o tsunami institucional que estamos assistindo diariamente através da grande mídia nacional hegemônica, por exemplo, pode ser traduzido como luta pelo poder, independente dos seus desdobramentos ou consequências.

O que estamos presenciando é algo maior que a ante sala de uma sucessão ordinária, estão em curso sinais inequívocos de uma séria crise política que avança a cada dia que passa, urdida com riqueza de detalhes como se fosse uma novela, capítulo a capítulo, cujo objetivo central é a vacância presidencial.

Não se tem claro qual a tática do governo mas ou ele reage, defende-se dos intensos ataques, dentro da legalidade constitucional, ou a médio prazo, corre grave risco de se espatifar.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Niemeyer

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


A morte de Oscar Niemeyer na noite desta quarta-feira de Dezembro gerou imediatamente um dilúvio de notícias no País e ganhou as páginas digitais dos principais órgãos de comunicação do planeta. Pode-se dizer com absoluta tranquilidade e segurança que o Brasil ficou sem a presença física de uma figura singular, um arquiteto de talento excepcional mas em compensação a eternidade ganhou um gênio universal.

Além dessa genialidade que deixou sua marca em Brasília, no Rio de Janeiro, em Pampulha, no Memorial da América Latina em São Paulo e tantos mais mundo afora, Niemeyer foi um comunista íntegro, firme nas suas convicções emancipadoras denunciando as injustiças no Brasil e as incoerências de uma civilização regressiva, totalitária, gerada pela nova ordem mundial.

Em 2003 tive o privilégio de conhecê-lo quando secretário de cultura do Estado de Alagoas na tentativa de convencê-lo a desenhar um memorial em homenagem à Graciliano Ramos e para minha surpresa ele não só concordou com a ideia como disse que o faria sem cobrar um tostão do governo alagoano. Infelizmente a ideia nunca foi posta em prática.

Mas a conversa com o arquiteto que imaginava levaria alguns minutos em virtude da sua agenda cheia estendeu-se para nossa alegria por quase três horas em seu escritório de amplas e sinuosas janelas com vista para a Avenida Atlântica, Copacabana, numa manhã carioca.

Quando cheguei ao escritório, acompanhado pelos irmãos Vitor e Vinícius Palmeira, Niemeyer dava uma espécie de palestra informal para um bando de jovens arquitetos alemães, depois soube que aquilo fazia parte de uma romaria  internacional de estudantes, profissionais da Arquitetura ao escritório de Copacabana.

Ficamos ali esperando o fim da palestra intermediada por um tradutor quando Niemeyer denunciou como fascista o presidente Bush em meio a observações sobre linhas e traços para espanto e risos nervosos dos alemães.

Grande parte do tempo que passamos com Niemeyer o assunto girou sobre o que achávamos da política, da vida, sobre o partido etc. Sobre ele mesmo, coisa nenhuma, nada.
 
Por fim tiramos umas fotografias com uma máquina que na rua percebemos quebrada, corremos ao escritório, explicamos o constrangimento e depois de uma gostosa gargalhada, com ótimo humor, ele posou para novas fotos, uma das quais, ampliada, guardo com emoção em casa pendurada na parede do meu gabinete, para sempre.
 

sábado, 1 de dezembro de 2012

O Brasil na crise global

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


A crise estrutural financeira internacional associada à desintegração da nova ordem mundial, precocemente senil, vem provocando a falência de um determinado tipo de civilização, erigida conforme as necessidades do atual processo de acumulação, centralização do capitalismo, mais enfaticamente no século XXI.

Por outro lado, grande parte das sociedades passaram a assemelhar-se, com raras exceções, em uma espécie de espelho distorcido e farsesco, com as idiossincrasias culturais, ideológicas, antropológicas da sociedade norte-americana, essa nova Roma dos tempos pós-modernos, incorporando inclusive antinomias próprias da maior potência imperial de todos os tempos.

O fenômeno objetivo da expansão capitalista provocou a relativização da soberania dos Estados nacionais, impulsionou o ambicionado projeto do governo mundial dessa nova ordem, desfigurou o espírito moderador originário das Nações Unidas, gestou os grandes males que afligem a humanidade na atualidade.

E não há como dissociar esse processo da função imperial que exercem os Estados Unidos como um exército sem fronteiras, acima de quaisquer convenções, acordos internacionais referendados pela comunidade das nações ou até mesmo aqueles que venham a ser assinados.

Apesar da emergência de uma nova realidade geopolítica econômica, comercial, militar, o que ainda determina mesmo são as estruturas constituídas por essa nova ordem mundial provocando um encadeamento de crises de múltiplas faces que não arrefecem, ao contrário, se estendem e se intensificam pelo planeta.

A débâcle financeira alastra-se, agrava-se como, por exemplo, a tragédia da Grécia em crise agônica, os crescentes sinais de desintegração da Espanha além da maré de desemprego que avança por toda a Europa.

O Oriente Médio conflagrado, o continente Africano imerso numa escalada de violentos conflitos armados "inter-étnicos", entre as nações da região, de caráter neo-colonialista, além da corrida armamentista dos Estados Unidos na Ásia circundando a China.

Quanto ao Brasil o que se pretende é evitar um inadiável projeto de desenvolvimento nacional soberano, cooperação econômica e solidariedade política junto aos povos irmãos da América do Sul, sem o que irá afundar no pântano da crise global e das ambições expansionistas contra as suas riquezas, população e território continental cobiçado.