quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Totens

Meu novo artigo:


Segundo informações da Bloomberg, o restrito clube de bilionários globais acrescentou às suas fortunas em 2017 mais de 1 trilhão de dólares, perfazendo um total de 5,3 trilhões em 26 de dezembro, um aumento de 20,4% em relação à mesma data do ano passado, sendo os dos setores de tecnologia os que mais enriqueceram.

No mesmo período as desigualdades sociais entre os povos e nações aumentaram substancialmente. Trata-se de um retrato irretocável dos tempos contemporâneos, do capital financeiro mundial, onde esses indivíduos especulam suas fortunas.

Essa estratosférica acumulação de capital adquiriu tal dimensão a partir da virada do 2o milênio com a total desregulação dos fluxos financeiros, beneficiados com o fim da chamada Guerra Fria desde os idos dos anos 80 do século XX.

O domínio do Mercado ultrapassa o aspecto econômico, vai ao campo das ideias, exercendo implacável ditadura do pensamento único onde a agenda dominante, difundida através da grande mídia e redes sociais, é uniforme para quase todos os Países, à exceção dos que reconfiguraram seus paradigmas para o novo milênio como, por exemplo, a China e a Rússia, destacadamente.

No mundo ocidental esse processo da financeirização global promoveu o aumento das desigualdades econômicas e sociais em escala abissal, além de uma perplexidade cultural, política, e uma desorientação geral com o desmoronamento de conceitos que soçobraram com a Velha Ordem.

Em seu lugar o Mercado impôs, sem “ditaduras”, por formas “democráticas”, critérios ideológicos e comportamentais que facilitam sua estratégia hegemônica.

O mundo ocidental viu-se em um shopping ideológico, com prateleiras enfileiradas de causas que o “consumidor” tem para chamar de suas, como totens de espuma e recicláveis, ausentes de sentido comum, universal ou nacional.

Uma sensação de orfandade em literalmente todas as direções, a emergência de fundamentalismos, intolerâncias, a primazia do “ativista” emocional pseudorradical contra o esforço analítico, o utilitarismo como regra. Mitos são erguidos e derrubados no volátil tempo digital.

O Brasil encontra-se enredado nessa arapuca, até pela sua condição geopolítica, e dela só conseguirá sair através da luta política democrática unitária. E um projeto estratégico de desenvolvimento adequado às condições do novo milênio.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

A questão nacional

Meu novo artigo:


Um tema que antecede aos outros questionamentos fundamentais na realidade brasileira é a questão nacional. Daí, tantos falam sobre a necessidade de refundação de um projeto que reoriente o País nas turbulências do 2o milênio.

Nenhuma nação, protagonista das épocas atuais, abdicou um centímetro sequer da primazia dos seus objetivos estratégicos, especialmente aquelas que por dimensões continentais, condições geopolíticas, econômicas, riquezas naturais, possuem características Históricas de liderança regional ou global.

E o Brasil, como já se falou, é grande demais para ser pequeno, no teatro da geopolítica mundial.

Somos herdeiros de um vasto território continental que manteve a sua unidade, apesar de várias lutas separatistas em sua formação como País, seja no período colonial ou até mesmo no século XX.

Enquanto a chamada América espanhola fragmentou-se em dezenas de nações, apesar do imenso sacrifício libertador e unitário de Simon Bolívar, que ao fim da sua vida já não tinha nem mais uma pátria pela qual lutar e por ela morrer, como afirmou Gabriel García Márquez.

Essa herança dos nossos recentes antepassados é um fato objetivo porque esse é o Brasil atual, real, mesmo que alguns historiadores tentem negá-lo ou que as correntes econômicas do novo liberalismo, educados em Wall Street ou na City de Londres, procurem destruí-la com esmero.

Ou então algumas mentalidades autodenominadas como “progressistas” que olham com desprezo para o nosso contínuo Histórico, vários aferrados a fórmulas esquemáticas, sem entenderem que elas obedeceram a contextos específicos e que “fórmulas sociais” como se fossem mágicas, sejam quais forem, só se repetem como “farsa ou tragédia”.

Tanto uns como outros contornam o Brasil, sua formação antropológica, largas potencialidades, importam conceitos da agenda da globalização financeira e sua governança mundial. Na economia, sociologia etc., em uma espécie de cosmopolitismo colonizado.

A luta democrática vai se defrontar com outro teste de fogo em 2018. Mas a vida demonstra que as eleições, por si mesmas, não são a “maravilha curativa” de todos os nossos males. Sem um projeto estratégico de nação, vamos repetir, de uma maneira ou de outra, as crises estruturais nos acompanham como uma praga recorrente que não consegue ser erradicada.

sábado, 9 de dezembro de 2017

Política real e virtual

Meu novo artigo:


Já se disse que estar conectado na redes sociais é menos custoso, em todos os sentidos, que estar “engajado” nas atividades concretas no mundo real, porém consideravelmente menos produtivo em seus efeitos, consequências na manutenção das conquistas individuais ou coletivas fundamentais.

Quem primeiro atinou para essa conclusão irrefutável foram exatamente os que mais se beneficiaram dessa nova modalidade dita pós-moderna: os donos do mundo.

Ou seja, o capital financeiro global e seus organismos internacionais hegemônicos, as suas ONGs que promovem incessantemente a agenda dominante do politicamente correto em uma sociedade de Mercado deificada, glorificada ao extremo.

Quando se diz “incessantemente” é útil atualizar o sentido da palavra. Isso quer dizer que não se passa um minuto, em termos planetários, sem a promoção de um conjunto de ideias hegemônicas incorporadas por vários estratos sociais, inclusive aqueles ditos “mais esclarecidos”.

As “forças sociais digitais”, aparentemente antagônicas entre si, utilizam-se dessas mesmas agendas, com modificações adaptáveis às suas visões de mundo, interesses ou privilégios adquiridos.

Apesar das opiniões nas redes sociais, quem continua dando as narrativas ideológicas e políticas continua sendo a grande mídia hegemônica global, também em versão digital, que promove as ideias do grande capital rentista.

Assim o poder de “enxame”, como abelhas, dos ativistas digitais é relativo. Quem dá as cartas é a luta real pelo poder. Isso explica, mais que outra coisa, a perda relativa de força das “correias sociais organizadas”. Mas não só delas.

O impedimento da ex-presidente Dilma e a entronização do nefasto Temer é revelador tanto para os que a defenderam quanto aos que propugnaram a sua queda. A “orfandade” geral sobressai nos 96% da rejeição ao “presidente”.

A criminalização da política “enojou” a muitos mas hoje, aqui, em qualquer lugar do planeta quem faz História, indica os rumos, são os confrontos entre os interesses nacionais, das grandes maiorias, com as elites globalistas vinculadas ao capital financeiro no Brasil e no mundo.

É vital a luta de ideias, o pulso da realidade, a definição dos aliados, ampliar, não se isolar, independência, lucidez. A vida não para, nem a política que converge para grandes choques em 2018.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

A ideologia do liberalismo

Meu novo artigo semanal:


Tem razão o Papa Francisco ao afirmar: quando a sociedade (local, nacional, mundial) abandona na periferia uma parte de si mesma, não há programas políticos, recursos policiais ou de inteligência que possam assegurar, minimamente, a tranquilidade.

O pensamento ultraliberal, hegemônico a partir do 2o milênio, tem sido a mola propulsora de uma economia global excludente das grandes maiorias e constitui, igualmente, uma ideologia mundial que impulsiona um relativismo totalitário sobre todas as coisas que dizem respeito à vida humana.

Coabitamos uma dupla tragédia: uma exclusão social epidêmica, associada à quase absoluta ausência de rumos sobre nós enquanto indivíduos, comunidades, regiões, nações e humanidade.

De tal forma que até, como exemplo, o compositor anarco-contestatório dos anos setenta passados, Raul Seixas, que galvanizou e continua inspirando jovens, inclusive nas periferias da cidades, com suas toadas tipo “prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”, esvaziou-se de sentido na rebeldia contra o sistema que os oprime.

O componente do relativismo na mensagem globalista hegemônica, através da grande mídia, transmitida via redes sociais, busca pulverizar as esperanças transformadoras.

E em seu lugar, impõe-se, é o termo que soa correto, uma tendência obsessiva que incita, continuamente, a começar recorrentemente sem sair do mesmo lugar, sem se ter em conta as lições apreendidas.

Como se o mundo estivesse em modo contínuo, começando sempre do zero ad infinitum. Daí a ambição de inaugurar-se até o ex-ser humano. Esse é, por exemplo, o espírito da Era da Falibilidade no livro do influente megaespeculador financeiro George Soros com suas ONGs e discursos do politicamente correto.

Há uma crescente insatisfação das grandes maiorias sociais, não importa religião, cor, opção sexual, nacionalidade, contra o status quo do Mercado financeiro global.

A sobrevivência do Brasil está ligada tanto à soberania econômica, territorial, quanto à sua identidade cultural, às permanências e renovações enquanto civilização singular. Na tenaz resistência à ideologia de terra arrasada da globalização rentista. Assim, faz-se incontornável a unidade do povo brasileiro em refundar um amplo projeto de nação, de sociedade promissora.