sexta-feira, 30 de março de 2012

O Brasil, a China e a crise

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas e na Tribuna do Agreste:


Passados mais de quatro anos da eclosão da nova crise global do capitalismo não há no momento algum sinal de reversão das expectativas pessimistas quanto ao futuro dos trabalhadores, povos e nações.

Os fatores de instabilidade continuam presentes e tendem a se agravar. A saúde financeira dos Estados Unidos e Europa permanece crítica com o quadro dramático se acentuando em determinados Países como a Grécia, Espanha, Itália e Portugal e vários outros Estados nacionais que fazem parte da Comunidade Europeia.

No velho continente as medidas adotadas pelas elites no poder para conter a maré arrasadora do desastre econômico foram invariavelmente de conteúdo neoliberal ortodoxo, provocando um onda brutal de desemprego, violentos cortes nos gastos sociais, acentuada perda da soberania nacional.

Não se pode entender essa certeza de impunidade do capital financeiro global se não se considerar o caráter estratégico e imperial dos Estados Unidos que ademais estão investindo em uma nova expansão militar colonialista por vários continentes.

O Brasil até o momento vai indo na contramão desse cenário sinistro porque sustou, em parte, as orientações do liberalismo neo-ortodoxo em virtude da emergência de um novo ciclo de resistência política, com grande respaldo eleitoral e popular, vitorioso com as eleições presidenciais de 2002.

Mesmo assim continuam com desenvoltura no País as atividades do capital rentista global, do complexo midiático internacional parte integrante dos mesmos centros financeiros, responsável por uma agressiva propaganda cultural, política, ideológica norte-americana.

Um dos motivos centrais que vem possibilitando ao Brasil contínuas e positivas taxas de crescimento tem sido o extraordinário crescimento da China, a sua ávida necessidade de matérias primas, como aço, commodities agrícolas, e a nossa grande capacidade exportadora desses produtos. Mas a China é a China e nós somos nós.

O Brasil precisa aproveitar essa maré econômica favorável, mas temporária, recompor o parque industrial em crise, construir novas realidades em educação, saúde, infra-estrutura, defender a sua excepcional vitalidade cultural.

E através de um vigoroso movimento nacional alicerçado na unidade dos trabalhadores, na consciência popular, apoiado na intelectualidade, numa juventude engajada, edificar um avançado projeto de nação e de civilização.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Cavalo de Troia

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão e no Almanaque Alagoas:


Uma combinação de fenômenos negativos está levando o parque industrial brasileiro a uma crise aguda enquanto outros fatores estão provocando uma anemia ideológica e cultural da identidade nacional.

Todos os estudos sérios e relevantes demonstram que a indústria nacional de transformação tem perdido acelerado espaço no mercado interno ao tempo que cresce na proporção inversa a presença dos produtos importados. Nessa batida a tendência inevitável será o sucateamento da indústria de transformação do País.

As altas taxas de juros, as maiores do planeta, e a sobrevalorização da moeda brasileira são os dois principais fatores dessa verdadeira crise que afeta profundamente a própria soberania nacional.

Enquanto os bancos especialmente aqueles de investimentos auferem lucros fabulosos a nação caminha para uma verdadeira encruzilhada e tende a perder uma oportunidade histórica de em plena crise global do capitalismo acumular condições para uma nova etapa para o seu processo de crescimento econômico, um outro tipo de desenvolvimento.

Nos últimos dezessete anos e cinco mandatos presidenciais a perda de competitividade da indústria nacional só tem se acelerado e não existe exemplo de um País que tenha conquistado papel relevante na geopolítica mundial sem a correspondência da excelência dos seus produtos no mercado interno e no comércio exterior.

A desindustrialização do parque produtivo brasileiro é um problema de fundo estratégico e só pode ser enfrentado se houver vontade política o que implica em altos investimentos em ciência, tecnologia, prioridade maciça em educação etc.

Mas é preciso que o Estado nacional assuma o controle soberano da política cambial e suste os ganhos estratosféricos do capital especulativo. Porque sem isso qualquer discurso sobre o nosso futuro enquanto um País verdadeiramente soberano será figura de retórica.

Uma retórica insuflada por uma exortação desmedida sobre o crescimento econômico sustentado pela exportação de produtos primários, especialmente agrícolas, pelas condições internacionais favoráveis no contexto da crise capitalista global, com tempo determinado para se exaurir.

Para que esse oba-oba da grande mídia hegemônica mundial, sobre um Brasil nadando a largas braçadas sob um céu de anil rumo ao Olimpo não se transforme em um cavalo de Troia, impõe-se uma nova política econômica além de um verdadeiro projeto de nação.

Quando os verdes amarelam feio

O Editorial da Gazeta de Alagoas em sua edição desta quinta-feira:

Charge de Ênio Lins publicada na mesma edição da Gazeta de Alagoas

Novos vazamentos de petróleo na perfuração do Campo do Frade, situado na Bacia de Campos, Estado do Rio, põem a Agência Nacional de Petróleo em estado de alerta. Um comitê de trabalho foi criado para analisar detalhadamente o quadro.

Os problemas no Campo do Frade começaram em novembro do ano passado e recorrentes vazamentos têm sido denunciados pelos técnicos da ANP e pela mídia.

O mais instigante da questão não está no desastre em si, mas no silêncio radical dos grupos ambientalistas. Mormente agitados, explosivos, apopléticos, quando o tema tem a ver com projetos brasileiros de grande impacto desenvolvimentista (como a construção de estaleiros), o ativismo verde amarelou quando o escuro do petróleo espalhou-se na Bacia de Campos. Por que será? Por quem não estão a dobrar esses sinos verdejantes?

Será que é por que a empresa responsável pelo desastre não é brasileira? Se a responsabilidade estivesse sobre a Petrobras, e não sobre a Chevron, não será que a veia guerrilheira das ONGs do momento estariam a impulsionar corações e mentes em mais uma luta renhida sob uma tremulante green flag.

Onde estarão as brigadas verdejantes que tanto se esgoelaram contra o Novo Código Florestal? Onde andarão as verdes falanges que combatem sem tréguas, com toda energia, a construção da hidrelétrica de Belo Monte?

Certamente trata-se de um engano. Ou do desinteresse da mídia em cobrir as manifestações contra a Chevron. Quem sabe esses protestos estejam acontecendo alhures, na sede da empresa nos EUA?

O fato é que, a cada dia, fica mais evidente a manipulação política no radicalismo ideológico da causa ambientalista. Os alvos passam a ser as iniciativas para o desenvolvimento dos países emergentes (transformam-se em vilões o agronegócio e as ciências agronômicas e se endeusa o atraso da agricultura de subsistência), enquanto os danos ambientais causados pelas potências ocidentais são relegados a um honroso segundo plano quando não ao esquecimento puro e simples.

quinta-feira, 22 de março de 2012

90 anos do PCdoB com homenagem a Luciano e Marivone

Publicado no Vermelho:


Celebrando os 90 anos do Partido Comunista do Brasil, foi realizada sessão especial na Câmara Municipal de Maceió, na última segunda-feira, 19/03, quando foi concedido o título de cidadão de Maceió para Luciano Siqueira e Maria Yvone Loureiro.

Com o plenário da Câmara lotado, com a presença de militantes, filiados e amigos do PCdoB, dos vereadores Théo Fortes (PTdoB) e Heloísa Helena(Psol), além do presidente da Casa, Galba Novaes (PRB) e do vereador pelo PCdoB, Marcelo Malta, que propôs a realização da sessão especial e da concessão dos títulos, foram comemorados os 90 anos de fundação do Partido, com a homenagem a duas expressivas personalidades que representam tão bem a vivência de luta e dedicação por toda uma vida pelas causas do PCdoB, do Brasil e pelo socialismo.

A mesa que dirigiu os trabalhos, sob a presidência de Galba Novaes, foi composta pelo presidente estadual do PCdoB, Eduardo Bomfim, pelo pró-reitor Estudantil, Pedro Nelson, representando a Universidade Federal de Alagoas, pela diretora da UNE e da UJS, Cláudia Petuba, por Sinval Costa, representando a CTB, pelo vereador Marcelo Malta, pelo vice-prefeito de Marechal Deodoro, Dr. Petrúcio, e pelos homenageados Luciano Siqueira, deputado estadual pelo PCdoB em Pernambuco, e Maria Yvone Loureiro, dirigente estadual do PCdoB em Alagoas.

Após a abertura da sessão e do discurso do vereador Marcelo Malta, que relatou o apoio e a boa acolhida à sua proposição, para aqueles que têm o respeito e o carinho da sociedade alagoana e do povo de Maceió, foi realizada a cerimônia de entrega dos títulos de cidadãos maceioenses a Luciano Siqueira e Marivone, em clima de grande alegria, com a participação de seus familiares, filhos, neto e irmã de Marivone e da esposa e filha de Luciano, que o acompanharam de Recife a Maceió para esse que foi também um encontro com amigos de longa data, companheiros todos de muitas jornadas de luta.

Maria Yvone Loureiro, a Marivone, natural de Viçosa/AL, expressou toda sua emoção ao receber a homenagem da cidade de Maceió, lembrando sua longa trajetória de luta, desde a militância na juventude, em Recife, a prisão pela ditadura, e a sua vida em Maceió, seu ingresso no PCdoB e sua participação em todos os momentos políticos, nos movimentos da luta das mulheres, sempre dedicada às causas libertárias, falando da gratificação pelo reconhecimento do sentido maior dessa luta.

Marivone afirmou que sua vida tem sido uma história marcada por muita solidariedade, citando dentre tantos alagoanos e maceioenses, a vereadora Heloísa Helena, de quem foi suplente quando de seu mandato no Senado da República.


Luciano Siqueira, natural de Natal/RN e vivendo em Recife/PE desde jovem, destacou que sua presença na Câmara de Maceió devia-se menos à homenagem que recebia, que agradecia muito, mas muito mais pela comemoração dos 90 anos do PCdoB. Afirmou que ao falar da história de sua vida e militância está sempre falando da história do PCdoB. Contou vários episódios vividos durante a clandestinidade a que foi obrigado, com Luci, sua companheira, em terras alagoanas, em Maceió e Santana do Ipanema, onde vivia como vendedor ambulante para se sustentar e contribuir com o Partido.

Luciano destacou o bom momento vivido pelo PCdoB, as propostas elaboradas pelo Partido para um novo projeto de desenvolvimento para o Brasil, para a realização de reformas indispensáveis, que melhorem as condições de vida do povo brasileiro e que estabeleçam as condições para o avanço na construção do socialismo.

Eduardo Bomfim enfatizou a importância da homenagem a Luciano e Marivone, lembrando Brecht, que diz que aqueles que lutam por toda a vida, esses são os imprescindíveis. Destacou que neste momento em que o individualismo é tão difundido pela mídia hegemônica, é fundamental o exemplo desses que lutam e vivem, não por pragmatismo mas por uma causa, por generosidade e por idealismo. Afirmou que o PCdoB é um Partido que luta pelas causas do povo brasileiro, junto ao povo. Defendeu que o País busque a construção de um projeto civilizatório, não somente o crescimento econômico, num processo em que o PCdoB está ao lado de tantos outros partidos.

sábado, 17 de março de 2012

Uma justa homenagem

Celebrando os 90 anos do Partido Comunista do Brasil, serão homenageados pela Câmara Municipal de Maceió, por iniciativa do vereador Marcelo Malta, Luciano Siqueira, deputado estadual pelo PCdoB em Pernambuco, e Maria Yvone Loureiro, dirigente estadual do PCdoB em Alagoas, militantes que vêm dedicando toda a vida à luta pelas causas do PCdoB, do Brasil e pelo socialismo.


sexta-feira, 16 de março de 2012

O legado da dama de ferro

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão e no Almanaque Alagoas:


Um recente ensaio do sociólogo italiano Franco Cassano expõe a ideologia hegemônica da atual etapa da sociedade capitalista globalizada mesmo que algumas de suas conclusões possam ser questionadas.

Segundo ele as conquistas sociais dos anos sessenta (direitos trabalhistas, consumo de massa, expansão dos direitos sociais) teriam rachado o compromisso entre o capitalismo e a democracia clássica porque revelaram um Estado "perigosamente" exposto às pressões de baixo e a máxima "um indivíduo, um voto" mostrou-se incompatível com os imperativos da rentabilidade e do lucro.

Assim, o capital global numa intensa ofensiva iniciada nos idos de 1970 implementou uma estratégia de evitar o choque frontal, esvaziando a política, redimensionado drasticamente a sua esfera e o papel do Estado nação que já não seria o de dirigir mas garantir algum grau de coesão social, de não mais cultivar projetos ambiciosos, mas apenas remendar e tampar através das políticas compensatórias.

E aí acontece uma espécie de crime perfeito: a decadência da política é atribuída aos seus protagonistas enquanto o verdadeiro poder, o capital global, goza de total liberdade de movimento, impunidade e privilégios.

Com a débâcle da União Soviética e do chamado campo socialista ao leste da Europa, essa liderança unipolar fez-se mais contundente introduzindo um novo período de expansão colonial militar sob o tacão norte-americano e inglês apesar de óbvio declínio econômico, cultural.

Possibilitando que essa contra-ofensiva neoliberal permeasse uma capilar liderança ideológica conduzida principalmente através da grande mídia hegemônica mundial onde o imaginário social assume que o essencial da vida é o sucesso total, que você pode ser o que quiser, não importa de qual maneira, mas que a coletividade é o obstáculo à sua realização individual.

A ex-primeira ministra britânica Margareth Thatcher, a "dama de ferro", cuja biografia filmada acabou de ganhar um Oscar, mãe das políticas neoliberais, dizia que "a sociedade não existe, existem apenas os indivíduos" em uma clara apologia à lei da selva, ao leviatã.

A emergência dos BRICS é um novo alento num mundo conduzido em galopante regressão à barbárie e ao desvario. Para tanto é decisiva a luta de ideias que galvanize os trabalhadores, povos e as nações em defesa de uma nova alternativa econômica, social, bem mais justa para a humanidade.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Instável e perigoso

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão e no Almanaque Alagoas:


Durante a década de noventa a ofensiva das idéias neoliberais no mundo foi tão avassaladora que se tinha a impressão de um massacre político, teórico e ideológico contra todos os que compunham o campo de resistência a uma hegemonia unipolar.

Na época quem era de esquerda, defensor da soberania do seu País, ou mesmo inclinado à função do Estado como responsável pelas estratégias das políticas públicas achava-se acuado diante da carga de cavalaria contra as idéias progressistas e patrióticas.

A artilharia pesada das orientações do novo liberalismo econômico global ficava por conta da mídia hegemônica mundial atuando como uma orquestra afinada com notícias, debates pretensamente científicos, promessas de uma nova era mundial sem guerras, de intercâmbios científicos, tecnológicos, comerciais e muita, mas muita paz e democracia.

Ao mesmo tempo surgiam do nada para as livrarias, universidades, e imensos espaços de propaganda, vários teóricos entre eles o até então obscuro professor de uma faculdade norte-americana, financiado pelos centros de inteligência dos EUA, Francis Fukuyama que se tornou da noite para o dia em uma celebridade com as suas teses sobre filosofia mas sobretudo na economia.

Entre as suas constatações "científicas" as mais celebradas e difundidas eram o fim da História, a vitória total das forças defensoras de um modelo baseado única e exclusivamente no livre mercado absoluto, a morte dos Estados nacionais e em consequência a extinção das fronteiras nacionais.

Com o tempo as doutrinas neoliberais, as teses de Fukuyama, foram rejeitadas pela opinião pública em decorrência de desastres econômicos em todos os Países , incontáveis privatizações criminosas de empresas estatais, massacres dos direitos trabalhistas e dezenas de guerras imperialistas em quase todos os continentes.

Hoje algumas nações emergentes vão construindo uma outra alternativa, um outro cenário geopolítico, econômico, multilateral, especialmente os BRICS.

Mas a nova ordem mundial ainda detém a iniciativa liderada pelos EUA e a Inglaterra que conduzem uma nova guerra de expansão colonialista, associados ao capital financeiro e ao complexo midiático hegemônico internacional.

E constituem uma ditadura ideológica, cultural, temática a nível global em um planeta instável, perigoso, mergulhado em profunda crise exigindo tenaz resistência dos povos e nações.

quinta-feira, 8 de março de 2012

A visão crítica de Ênio Lins

Ênio Lins na Gazeta de Alagoas:


Em 8 de março de 1857 operárias de um cotonifício em Nova York se aquartelaram no interior da fábrica durante uma greve pela redução da jornada de trabalho de 16 para 10 horas diárias. A direção da empresa achou mais prático acabar com aquilo de vez tocando fogo na fábrica com as grevistas dentro. E assim fizeram. Estima-se que 130 trabalhadoras tenham morrido no incêndio.
Em 1910, durante uma conferência feminista internacional, na Dinamarca, a comunista Clara Zetkin (foto) propôs que a data de 8 de março, marcada por essa tragédia americana, fosse convertida num dia mundial de luta pelos direitos da mulher. Aprovada a moção, no ano seguinte já foram registradas manifestações em alguns países. Nos anos 70 é que a data passa a ser mais amplamente comemorada no mundo ocidental, com manifestações de rua.
Entretanto, a partir dos anos 90, os eventos do 8 de março passam por certa pasteurização ideológica, migrando do rubro combativo para a cor-de-rosa angelical, com proeminência de peças publicitárias melosas,distribuição de flores, loas e prendas do tipo doméstico.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Crescimento e desequilíbrios

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão e no Almanaque Alagoas:


Os indicadores continuam demonstrando que o Brasil persiste na senda do crescimento econômico e vem aumentando significativamente a riqueza nacional.

A reversão, em parte, da aplicação da doutrina neoliberal ortodoxa possibilitou uma maior inserção do Estado nacional nas orientações econômicas e em políticas sociais que se expressam através da redução dos indicadores de pobreza do País.

O Brasil é indubitavelmente uma nação em ritmo persistente de crescimento apesar da crise internacional do capitalismo que tem provocado uma diminuição dessa tendência que já se faz duradoura.

Mas sempre é importante um olhar mais apurado sobre as características em que se dá esse processo ascensional da riqueza nacional.

A economia não só se encontra ligada às orientações políticas mas é determinada por ela na grande maioria das circunstâncias muito embora não haja nisso uma decorrência automática ou mecânica.

Também é verdade que uma das principais características da arte e ciência do fazer política é a correlação de forças, a identificação dos campos aliado e adversário, a capacidade de conduzir programas ou objetivos mais imediatos de acordo com as possibilidades concretas que a realidade permite.

Portanto é sob esse quadro conceitual descrito muito sucintamente que podemos analisar o atual momento em que vive a sociedade brasileira. E os indicadores sobre a realidade mostram certas contradições que ainda não se coadunam com um projeto de civilização que as maiorias almejam.

Os números relativos à violência, saúde pública, educação, infra-estrutura continuam críticos e as políticas do governo federal e estaduais possuem caráter compensatório.

O capitalismo continua no Brasil a tendência histórica de crescimento combinado, desigual e de distorções regionais. E em meio a essa mesma tendência acentuam-se manifestações de disparidades econômicas, estagnação, abismos sociais, como revelam recentes dados divulgados pelo Valor Econômico sobre o Estado de Alagoas.

Mesmo em São Paulo, carro chefe do crescimento capitalista nacional, respeitáveis centros de estudos indicam que surgem (ou se acentuam) fenômenos de patologias sociais. Porque nada menos que 30% dos moradores da capital paulista apresentam distúrbios mentais, típicos do sistema econômico.

Por essas e outras fica evidente que o Brasil ainda carece de um projeto de nação e de civilização.

Combate à "ecolatria"

Texto de Luciano Rezende publicado no Vermelho:



Uma OMC ambiental?

A Rio+20 não será uma conferência mundial sobre meio ambiente, como alguns querem fazer crer. Será uma Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que extrapola a temática ambiental. Seu tema, aliás, é “a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza”. (grifo meu).

Importante fazer esse esclarecimento, pois acentuar apenas a vertente ambiental do desenvolvimento sustentável é, de fato, obsessão de algumas ONGs ambientalistas e da União Europeia, notadamente França e Alemanha, que querem pautar o meio-ambiente de forma isolada no evento. O governo brasileiro está certíssimo ao resgatar também os outros dois pilares que compõem esse tripé da sustentabilidade: o econômico e o social.

É preciso exorcizar aquilo que o embaixador brasileiro André Aranha Corrêa do Lago, em entrevista ao Valor Econômico desta semana, chamou de o “espírito de Estocolmo”, referindo-se à primeira conferência ambiental da ONU, ocorrida em 1972, onde se produziu um relatório que ressuscitava as surradas teses malthusianas de que nunca iria haver recursos naturais suficientes para todos e que a solução, portanto, seria controlar a população e o crescimento econômico dos países em desenvolvimento. A tese de que o problema ambiental do mundo é que se tem pobre demais e recursos naturais de menos, está voltando à baila.

Os neomathusianos querem classificar o mundo em duas categorias, os que já chegaram a um alto padrão de consumo e querem manter o posto, e aqueles que ficaram para trás e devem ficar por lá mesmo. Escondem-se sob o manto da “ecolatria” – espécie de adoração à natureza –, que isola o ser humano do debate ambiental e desconsidera os interesses da classe trabalhadora e a soberania das nações.

Nessa toada, a nova proposta da União Europeia, a ser apresentada na Rio+20, é a da criação de uma nova agência ambiental nas Nações Unidas, nos moldes da Organização Mundial do Comércio (OMC), ou da Organização Mundial do Trabalho (OIT). A ideia seria inaugurar a World Environment Organization (WEA), ou Organização Mundial do Meio Ambiente (OMMA, na sigla em português). Alguns países latinos já se pronunciaram temerosos que uma agência do gênero sirva para encobrir ações comerciais protecionistas dos países ricos.

A posição do Brasil parece ser a mais coerente: fortalecer o já consolidado Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), que aos 40 anos de existência pode ser tornar uma organização mais poderosa, com a participação e contribuição universal dos países, além de o Conselho Econômico e Social (Ecosoc) da ONU incorporar a temática ambiental e se transformar num Conselho de Desenvolvimento Sustentável. O fato é que o mundo não tem hoje nenhuma organização ambiental como a FAO é para a agricultura ou a OMS é para a saúde. O Pnuma, hoje, é apenas um programa e o seu fortalecimento seria importante, concebendo o desenvolvimento sustentável como um grande guarda chuva, que trabalhe com três pilares, o ambiental, o econômico e o social, sem que o meio ambiente seja abordado desvinculado do desenvolvimento. Ou vamos aceitar dois padrões de consumo, para país rico e pobre?

O fato de Brasil, China, Índia e outros países em desenvolvimento estarem aumentando o consumo de milhões de pessoas, deve ser comemorado. Claro que isso representa um enorme desafio para o meio-ambiente, que não será solucionado restringindo o consumo destas pessoas.