quinta-feira, 30 de março de 2017

Defesa da nação

Meu novo artigo semanal:


Ao final da Segunda Guerra mundial a humanidade viu-se frente a uma bipolarização global. De um lado um grande campo político, militar, territorial, que se estendia das imensidões da Ásia até grandes regiões da Europa Oriental e Central, sob a liderança da extinta União Soviética.

De outro lado, encontravam-se os Estados Unidos, que extremamente fortalecidos assumiam o papel de guardiães do sistema capitalista, “líder” do chamado mundo ocidental, já que as antigas potências coloniais, ou neocoloniais, praticamente ruíram após 1945.

O que sobrou de imponente do antigo passado colonial transformou-se em estertores decadentes de uma época, onde o maior exemplo foi o grande império britânico, o qual costumava afirmar “que nele o sol nunca se punha” porque sempre havia em qualquer rincão da Terra um pequeno ou grande território com a bandeira tremulando, representando os domínios de “Sua Majestade”.

Com a debacle da URSS, e o surgimento da unipolaridade mundial, a hegemonia dos Estados Unidos sobre os povos foi quase absoluta, a humanidade viu-se numa quadra de guerras intervencionistas que ainda persistem, apesar da reconfiguração geopolítica para um cenário de multilateralidade global.

A crise estrutural capitalista de 2008 provocou abalos no planeta, mudou a face da economia e da sociedade norte-americana, em clara decadência, indicou uma viragem geopolítica intensa e evidenciou os tentáculos do capital rentista com sua governança mundial sem território específico ou bandeira.

Os povos convivem com os malefícios imperiais dos EUA, em estado de exaustão, mas enfrentam um poderoso adversário, o capital especulativo, as instituições globais por ele cooptadas, sua mídia hegemônica. Embora cada vez mais contestado pelas sociedades, inclusive pela via eleitoral.

O golpe de Estado no Brasil, com Michel Temer no poder, a sistemática criminalização da vida política, o autoritarismo ululante, a destruição do parque produtivo nacional, público e privado, o desmantelamento dos Históricos direitos trabalhistas. Tudo isso faz parte da ofensiva do capital rentista, pirata e insaciável.

É essencial a formação de uma frente nacional e democrática em favor do País, de suas riquezas ameaçadas, contra o abate implacável das conquistas sociais, a tenaz defesa do Estado brasileiro.

terça-feira, 21 de março de 2017

Alvo em movimento

Meu novo artigo semanal:


O recente protagonismo do Brasil na geopolítica internacional iniciou, a grosso modo, com a modernização efetivada pela revolução de 1930 sob a liderança de Getúlio Vargas.

Que implantou além das leis trabalhistas, a CLT, a criação das indústrias de base decisivas ao impulso industrial do País.

Esforço que implicou na visão dos interesses nacionais. Durante a Segunda Guerra mundial Vargas, com a iminência do País em combate na Europa, firmou um pacto com os EUA, uma ponte aérea militar entre Natal, Rio Grande do Norte, e Dakar, na África. Em tremenda luta dos povos contra o nazifascismo.

A contrapartida americana foi o apoio à construção da Siderúrgica de Volta Redonda, e outros projetos.

Visando a soberania nacional, Getúlio exigiu a desativação das bases militares dos EUA ao final da guerra, especialmente no Nordeste como, por exemplo, os esquadrões aéreos de caça a submarinos alemães que infestavam o Atlântico Sul afundando navios de carga e passageiros.

O que indica autoridade política, estadismo, que surgem às nações em ocasiões estelares, dizia Stefan Zweig.

Juscelino impulsionou a economia nacional com a indústria automotora, cumpriu o sonho da interiorização estratégica do País com a fundação de Brasília.

Enfrentou adversários que pretendiam o País mero exportador de produtos agrícolas in natura, atrasado.

O Brasil, incluindo também as gestões do presidente Lula e Dilma Rousseff, acumulou conhecimento, tecnologia, a participação de empresas brasileiras estatais e privadas no comércio exterior.

Com o golpe de Temer, e o argumento do combate à corrupção, o País encontra-se sob virulenta ação do Mercado financeiro, de potências mundiais, da grande mídia, com o objetivo de sustar seu protagonismo como liderança global de porte médio.

Dificultar investimentos estratégicos em educação, saúde, infraestrutura, a superação das desigualdades sociais Históricas, além de abater os direitos trabalhistas, privatizar as empresas estatais, aniquilar setores privados, todos fundamentais à condição de ator internacional.

Como dizem Lourdes Casanova e Julian Kassum em recente publicação: o Brasil é hoje um alvo em movimento. Portanto, cabe a defesa da nação, sua originalidade cultural e civilizacional, o direito de um lugar ao sol entre os povos, a legitimidade democrática.

quinta-feira, 16 de março de 2017

Brasil e Mercado

Meu novo artigo semanal:


O processo de acumulação do capital parasitário atingiu uma dimensão nunca vista antes.

Fez-se uma inaudita destruição dos direitos dos povos, das identidades culturais das nações, a desqualificação das elevadas conquistas e valores da humanidade ao longo dos séculos.

Constituíram-se acima do espírito do Direto, convenções internacionais, uma Governança Mundial onde o Mercado incorporou organizações globais e a grande mídia, tornando-as associadas aos seus objetivos de acumulação parasitária.

Um poder gigantesco, difícil de ser nomeado, sem fronteiras, bandeira ou território, mas que exerce uma ditadura econômica, ideológica sem precedentes.

Boa parte das políticas internacionais, e das nações, dão-se através de personalidades públicas, ou grupos partidários, que foram cooptados ou aderiram às estratégias do capital rentista.

Aos olhos dos povos tornou-se difícil distinguir matizes programáticas antes óbvias, salvo determinadas posições sobre assuntos pontuais que não ameaçam a hegemonia do capital rentista e às vezes fazem parte da sua “agenda social global”.

Mas é crescente a insubordinação mundial contra os efeitos terríveis da globalização financeira, como agora no Brasil vítima de um golpe que “emponderou” o governo Temer sob a proteção da grande mídia e estamentos identificados com o Mercado.

Que desejam criminalizar a única forma da sociedade participar dos destinos da nação, a via política democrática, assim como as conquistas sociais, trabalhistas, promover o desmonte estatal e privado, anular o protagonismo do País conquistado em décadas, como liderança global de porte médio.

Estudo divulgado no El País, maior jornal espanhol, indica que o Brasil em 2050 será a quinta economia global depois da China, Índia, EUA, Indonésia, pela ordem.

É uma conclusão que provoca insônia entre as nações mais ricas, ou seja, das grandes economias quatro delas serão de Países emergentes em poucos anos, inclusive o Brasil.

Assim, por posição estratégica, extensão continental, imensas riquezas, população, capacidade industrial, originalidade civilizacional e cultural, é certo constatar que a onda autoritária, antinacional que vivemos é temporária, menor que o País e o seu futuro, desde que tenhamos como norte a centralidade da questão nacional e os direitos do povo brasileiro.

quinta-feira, 9 de março de 2017

O que está em jogo

Meu novo artigo semanal:


É impossível entender o que acontece no Brasil se abstrairmos a geopolítica global, o processo de desconstrução de alguma coisa parecida com um projeto de Estado e a centralidade da questão nacional.

Porque o que se vem intentando é a total submissão do País ao Mercado financeiro, aos interesses estratégicos do EUA, por mais complicado que seja após as eleições presidenciais norte-americanas.

Além do alinhamento incondicional à ortodoxia neoliberal, que já não é praticada sequer nos EUA, grande parcela das elites brasileiras formada numa visão de subalternidade e dependência da nação, adotaram a política de completa subordinação ao capital financeiro, ao rentismo mundial.

O que assistimos no Brasil desde 2013 tem sido uma cortina de fumaça, com o apoio da grande mídia empresa associada ao Mercado financeiro, com o objetivo de sustar o ativo papel do Brasil nas relações multilaterais, no teatro da geopolítica mundial.

Para tanto fabricou-se uma “revolução colorida” como as que foram encetadas em várias partes do mundo, adequada às particularidades de um País de dimensões continentais, com um parque industrial complexo, uma população que supera duzentos milhões de habitantes, uma massa crítica intelectual desenvolvida, riquezas naturais imensas.

Busca-se retroceder o protagonismo do País, construído em décadas, a modernização implementada nas conquistas sociais do trabalhadores, destruir o parque industrial, comercial, empresarial, seja estatal, como a Petrobras, ou privado, desde que tenha relevância interna ou mundial.

A fragmentação do tecido social fomentada por tempestades de ódios difusos é uma rotina numa época em que é decisiva ampla unidade contra a globalização financeira neoliberal.

O Mercado vem procurando demonizar a crescente insubordinação dos povos contra as catastróficas resultantes da globalização financeira, da acumulação rentista em escala nunca antes vista, além da bancarrota dos Estados nações e respectivas sociedades.

À oposição ao governo Temer, e tudo que ele representa econômica, social, politicamente, também é essencial o combate aos que desejam conduzir o País à total subalternidade econômica e geopolítica. É fundamental ao povo brasileiro a união em torno de um projeto nacional, democrático de desenvolvimento estratégico e soberano.

sexta-feira, 3 de março de 2017

A crise da crise

Meu novo artigo semanal:


Uma das maiores neuras, na atualidade, da grande mídia hegemônica nativa, além da profunda crise que corrói o governo Temer, é a onda de notícias falsas divulgadas nas redes sociais.

Em relação às noticias falsas, fake em inglês, idioma que tem avançado tremendamente nos últimos anos sobre o patrimônio linguístico e riquíssimo do português brasileiro, dizia o escritor prêmio Nobel de literatura José Saramago, esse assunto, o dos fakes, tem mexido com os nervos da grande mídia empresa monopolista.

A grande mídia está perdendo o protagonismo de criar suas próprias versões sobre os rumos do País. Sim, porque o monopólio midiático associado ao Mercado financeiro deixou de ser imprensa que informa, mesmo que parcial e de grupos.

Essa mesma mídia passou a ser um dos centros definidores de poder no Brasil. Mas as notícias falsas, ou fakes, plantadas nas redes sociais por robôs digitais, estão se transformando em sérios concorrentes ao seu papel ideológico onipresente que produz suas próprias realidades. O feitiço volta-se contra o feiticeiro.

Já se disse que na luta pelo poder em tempo real, e não virtual, em qualquer parte do mundo, uns ganham e outros perdem. E quando algum campo político perde é porque outros atores ganharam, já que nos jogos de poder não há variações ilimitadas.

Com a deposição da presidente Dilma através de articulação do monopólio da informação, do Mercado financeiro, grupos adversários do patrimônio nacional, entronizaram no poder Michel Temer que adotou política econômica, desmonte das conquistas trabalhistas, catastróficas, diluvianas.

Rejeitado em grandes manifestações de rua que pipocaram no carnaval, o governo Temer transformou-se numa ponte para o caos, o nada. Há sinais de que o Mercado, grupos políticos, a grande mídia, desejam descartá-lo. Só não sabem exatamente como substituí-lo e por quem. Ainda.

O País que vive grave quadra institucional, econômica, social, entra em novos dias turbulentos. A crise dos poderes da República é dramática. Uma nação continental com imensas riquezas, vasto potencial industrial perigosamente à deriva.

Urge uma frente política ampla que aglutine as grandes maiorias sociais em torno de um projeto nacional de desenvolvimento estratégico, democrático e soberano que reverta o cenário em que se encontra a nação.