quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Neofascismo e o Brasil


Por Eduardo Bomfim


As ideias extremistas, de tipo neonazista, sempre apareceram ao longo da História, especialmente no século XX, quando eclodiram, simultaneamente, cataclismos econômicos, sociais e geopolíticos.

Já se disse que o fascismo, ou o nazismo, é a expressão mais elevada e agressiva do grande capital financeiro globalizado, frente à necessidade de continuar a impor aos povos as sua estratosféricas taxas de acumulação rentista, mesmo que isso leve ao empobrecimento acelerado e desesperador da população mundial.

Mas, enganam-se aqueles que pensam que o fascismo-nazismo é um fenômeno de “massas” que engloba, apenas, uma determinada parcela das elites econômicas de um País.

Os promotores, sim, mas com certeza as massas manobráveis pelos seus gritos de guerra odientos, surgem das camadas populares, e extratos da classe média, tendencialmente, em decadência. Ou até mesmo pelo sentimento de uma sensação difusa de ameaça, de segmentos da alta classe média.

Em meio a esse caldeirão extremamente tóxico, a vanguarda de militantes mais aguerridos nazifascistas, surgem de setores analfabetos, desordeiros, criminosos reais ou em potencial, delinquentes em geral. Típico do fascismo.

Quando o teórico nipo-americano Francis Fukuyama, publicou O fim da História, após a consolidação de um mundo unipolar, sob a hegemonia absoluta dos Estados Unidos do Presidente Reagan e da primeira-ministra inglesa Margaret Thatcher, a dama de ferro, ele profetizou um mundo de paz, harmonia, e crescimento eternos.

Mas o que se deduz, de lá para cá, é que, em verdade, se anunciavam os primeiros ensaios das sociedades atuais, desestruturadas, os trabalhadores indefesos diante da precarização de suas organizações sindicais, estudantis, e outras afins. Fukuyama profetizou, às avessas do que pretendia afirmar, os primeiros passos do ovo da serpente nazifascista, que cresce exponencialmente nos dias atuais.

Com a nova ordem multipolar consolidada, pipocam as guerras regionais ou por procuração. O conflito na devastada Ucrânia, promovido pelos EUA, OTAN, as constantes Revoluções Coloridas mundo afora, o crescimento das indústrias armamentistas, as corporações midiáticas globais de uma nota só, os golpes de Estado que surgem, aparentemente, brotando do chão, são exemplos de feroz luta contra a nova ordem multipolar.

Noventa anos após a ascensão de Adolf Hitler ao poder na Alemanha, ressurge no mundo, e no Brasil, o neonazismo, nesse caldo de cultura social extremamente desorientado, perigosamente tóxico, com as teorias negacionistas, as versões conspiratórias sobre tudo e qualquer coisa, as Fake News, a ideia do supremacismo branco racista, até no Brasil, que é uma nação fundamentalmente mestiça.

No Brasil, antes mesmo de Bolsonaro, quando ficou mais evidente o fenômeno, as mudanças em curso, impostas pelo capitalismo neoliberal deixaram em sua esteira, dezenas de milhões de pessoas desempregadas ou em insegurança alimentar aguda.

O termo liberdade, foi reduzido ao conceito de liberdade absoluta do Mercado. Assim, a democracia reguladora das relações jurídicas, sociais e políticas, passou a ser considerado como um obstáculo ao próprio capitalismo e às iniciativas empreendedoras do indivíduo. Ou seja, a liberdade, a democracia, seriam um empecilho ao capitalismo. Daí a ampla difusão da visão totalitária, do golpismo.

Além disso, as gigantes controladoras digitais se aproveitam desse cenário em crise, visto que a polarização política e ideológica lhes são extremamente lucrativas no crescimento dos seus algoritimos.

A luta principal da atualidade contra o nazifascismo não pode se restringir à polarização entre o conservadorismo que nega o progresso, as posturas reacionárias versus as agendas identitárias da “nova esquerda”.

Porque essas não respondem às demandas desesperadas de centenas de milhões de pessoas e, assim, não irão impedir o avanço do fascismo que, demagogicamente, vem acenando com falsas soluções para os seus dramas imediatos e gritantes.

É preciso denunciar as mazelas do capital financeiro e rentista, as políticas belicistas do Império e aliados, ajudar aos amplos setores sociais vítimas de brutal penúria e exploração, propugnar pela organização, sob novas bases, modernas, dos grandes extratos sociais, acenar com as bandeiras da solidariedade, coletiva e individual, o espírito do humanismo contra o veneno do ódio que se espalha como rastilho de pólvora. E nesse mundo conflagrado, propor a união pela soberania nacional.