quinta-feira, 20 de junho de 2013

Realidade e paradoxos

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:
 
 
Graciliano Ramos, mestre da literatura mundial, ilustre alagoano, comunista, dizia que no Brasil existe uma minoria de opulentos, uma classe média instruída e na base da sociedade uma maioria de gente vivendo como bichos, reduzidos à luta pela sobrevivência, levando uma vida ordinária.
Porém o Brasil mudou e de lá para cá, com altos e baixos, percalços de todos os tipos, especialmente nos últimos anos houve a incorporação de imensa parcela da população a patamares mais elevados de vida com acesso a bens de consumo antes inimagináveis.

Segundo estatísticas a chamada classe C é composta atualmente por cem milhões de trabalhadores denominados, talvez equivocadamente, como a nova classe média brasileira.

O Brasil cresceu economicamente, transformou-se substancialmente mas é sabido que quanto mais se melhora de vida mais aumenta o nível de aspirações e a consciência da realidade social em que se vive.

A questão de fundo sobre as gigantescas manifestações estudantis, populares no País é que apesar dos avanços a realidade brasileira continua profundamente desigual, injusta para com as grandes maiorias. O recado que vem das ruas não é contraditório com aquele que veio das urnas mas indica um paradoxo evidente.

Não é aceitável que uma nação possua a segunda maior frota de helicópteros particulares do mundo e tenha um sistema de transportes público de péssima qualidade num País hoje essencialmente urbano onde as maiorias levam horas para chegar ao trabalho e tantas horas iguais para retornar aos seus lares.

Não é necessário pertencer aos estratos mais populares para constatar as condições em que a população é submetida nos serviços públicos de saúde mesmo que a existência dele já seja uma conquista num mundo que avança para a sua privatização a passos largos. Idêntico diagnóstico acontece com a educação ou segurança pública.

Os atores políticos, as instâncias governamentais em todos os níveis priorizaram as relações institucionais mas ficou debilitada a organização social massiva, programática, identificada com os reclamos mais profundos da sociedade brasileira.

Quanto aos desdobramentos das manifestações, sabe-se que em política não existem espaços vazios, mas cabe aos segmentos políticos avançados extrair as lições exatas dos acontecimentos e apresentar um renovado projeto social estratégico, patriótico, consequente com a urgência que a realidade exige.

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