sexta-feira, 29 de março de 2013

Os sentidos do Multiculturalismo

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


Durante o auge da doutrina neoliberal na década de noventa, Francis Fukuyama, teórico oficial da Nova Ordem mundial recém imposta aos povos, profetizava, com a soberba típica dos poderosos, que a História tinha acabado.

A tradução literal de tamanho disparate era a falsa conclusão de que haviam desaparecido as contradições antagônicas entre as classes sociais e de quebra extinguia-se também a existência de uma potência militar imperialista e o seu papel agressor contra os Países no planeta.

Mais que uma constatação propositalmente errônea, era a conclamação aos trabalhadores e demais camadas assalariadas e às nações que lutavam por um lugar ao sol, à mais óbvia capitulação da luta social emancipadora e da soberania nacional.

A vida demonstrou exatamente o contrário, jamais a humanidade presenciou em qualquer outra etapa da História do capitalismo uma exploração de classes com a brutalidade que assistimos nos tempos atuais e em nenhuma outra época o imperialismo, no caso o norte-americano, promoveu, com tanta impunidade, genocídios, guerras de agressão, espalhando o terror, a morte pelos continentes.

O capital financeiro desencadeou a mais violenta espoliação do mundo do trabalho gestando um modelo de civilização selvagem, da barbárie, destruindo sem o menor pudor os mais elevados valores construídos pela humanidade.

Acobertados por uma mídia hegemonizada em escala global e em cada País, o capital financeiro, os Estados Unidos da América, trataram de impor aos assalariados, às nações, a sua própria agenda, o multiculturalismo.

Cujo sentido é fomentar a ideia de que já não se trata de priorizar a luta pela soberania nacional e a emancipação social, substituindo-as por causas fragmentárias, setoriais, algumas auto-justificáveis, com o intuito de sustar a construção de projetos estratégicos de autonomia dos Países, promover o diversionismo, fragilizar a luta pela emancipação do mundo do trabalho.

A demonização de Hugo Chávez, da luta do povo venezuelano, tem essa marca de um “mau exemplo” aos povos latino-americanos porque ali se forjou uma unidade popular e um forte sentimento de luta pela soberania dessa nação sul-americana.
 
Sem os quais, inclusive no Brasil, os avanços serão passíveis de retrocesso, a consciência política esmaecida, a mobilização popular precária, a hegemonia conquistada incompleta, efêmera, temporária.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Tempos selvagens

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


Nos tempos atuais a informação atingiu uma escala de poder, hegemonia sem precedentes desde o século vinte, uma opinião de classe imposta por centros difusores internacionais baseados nos Estados Unidos da América e na Grã-Bretanha que se encarregam de espalhar ao mundo, ao Brasil, a “notícia do momento”, a opinião política, a ideologia cultural do mercado globalizado.

Fenômeno que só pôde acontecer em virtude do intenso processo de expansão, concentração do capital financeiro a partir da Nova Ordem Mundial, da relativização da soberania dos Estados nacionais, das organizações internacionais outrora sustentadas por pactos fundados em equilíbrio de forças que já não mais existem.

Essas instituições que adquiriram credibilidade após a Segunda Guerra Mundial foram capturadas pelas novas condições geopolíticas surgidas no fim dos anos noventa e se transformaram em uma espécie de correias de transmissão dos interesses de uma única potência mundial do grande capital financeiro, referendando lucros estratosféricos e aventuras bélicas.

O que possibilitou a esse capital um espetacular domínio do planeta uniformizando hábitos e modos antes diferenciados pela diversidade das formações históricas, antropológicas, nacionais, regionais, um poder sem precedentes na História, determinando códigos, regras, leis, constituindo na prática uma espécie de governança global oficiosa.

Garantindo os interesses do mercado que instituiu padrão único de consumo, as variações são ditadas por alguns cartéis internacionais que impõem e combinam os preços das mercadorias, a cidadania das pessoas relativizada ou mesmo subtraída.

Com o fortalecimento dos BRICS, Brasil, Rússia, Índia, África do Sul e China que em poucas décadas transformou-se na segunda economia mundial, nascem as condições de um cenário internacional diferenciado ao tempo que eclode uma nova crise estrutural do capitalismo, dos seus mecanismos desvairados, delirantes de especulação.
 
A Nova Ordem envelheceu, entrou em decadência, com inquestionáveis traços de selvageria, totalitarismo, agressão às nações, aos povos etc. O grande desafio das forças patrióticas, progressistas, inclusive no Brasil, é de encontrar caminhos para a transição a um outro modelo de sociedade que reafirme a soberania das nações, um regime social avançado empenhado no efetivo desenvolvimento das potencialidades humanas coletivas e individuais.
 

sexta-feira, 15 de março de 2013

Crise de uma civilização

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


São poucas as pessoas que se aventuram a declarar que estamos vivendo um período de avanço civilizacional sem confundir com a atual revolução científico tecnológica, mesmo que em vários Países existam políticas de resistência às consequências dos efeitos catastróficos do que se denomina Nova Ordem Mundial.

Trata-se de uma época iniciada nos anos noventa, portanto muito recente, quando a economia de mercado assumiu dimensões totalizantes livre das amarras impeditivas aos objetivos da expansão, centralização e concentração do grande capital em escala jamais vista em toda História.

Esse imenso salto da globalização do mercado, das finanças, reside principalmente em dois fatores: a natureza expansionista intrínseca ao próprio capitalismo, de acumulação sem limites ou fronteiras, e as condições políticas favoráveis às suas demandas e ambições.

A debacle do campo socialista na Europa destravou as amarras geopolíticas que obstaculizavam essa radical alteração, modificando a economia, fazendo retroceder em todos os aspectos a vida política, social, ideológica, cultural, comportamental, ambiental a nível mundial.

No início essa hegemonia foi tão intensa que qualquer contestação à nova doutrina econômica neoliberal passou a ser condenada como uma postura acadêmica, política jurássica, alusão ao período em que os dinossauros existiam na face da Terra.

Estaríamos assim no auge da harmonia final, as fronteiras nacionais inúteis, teríamos chegado ao término da História dizia o teórico neoliberal da moda o nipo-americano Francis Fukuyama.

Se olharmos hoje para o mundo o que vemos? Duas décadas de guerras sangrentas movidas pelas ambições de uma única potência militar, milhões de mortos e refugiados pelos continentes, a divinização da riqueza em substituição aos grandes valores universais, gerando em pouco tempo uma civilização de profundo mal estar.

A violência crônica, pandemias como a do crack alimentando os cofres do capital financeiro - escândalo divulgado pela mídia internacional, individualismo, o não diálogo, um salve-se quem puder, fobias, intolerâncias, milhões de desempregados na Europa e EUA, não foram gestados pelos cidadãos comuns mas por essa civilização em grave impasse.
 
Cabe às nações, aos povos encontrar a unidade, as alternativas reais a essa Idade Média pós-moderna imposta às maiorias em proveito de um restrito círculo de privilegiados.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Veias abertas da América Latina

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


Nestes tempos de brutal hegemonia da nova ordem mundial do capital financeiro onde a grande mídia hegemônica global e as nacionais a ela subalternas, determinam o que é falso ou verdadeiro, certo ou errado, politicamente correto ou incorreto, a trajetória de luta de Hugo Chávez por uma Venezuela independente, socialmente mais justa é um marco de destemor patriótico de engajamento pela emancipação dos mais pobres, dos deserdados do seu País.

Combatido pelas forças reacionárias, agredido intensamente pelas grandes potências, em especial os Estados Unidos da América, que contra ele e o povo venezuelano promoveram várias tentativas de golpe de Estado, inclusive armado, Hugo Chávez foi firme na sua missão de transformar a realidade de um País secularmente rico, um dos maiores produtores de petróleo do mundo, mas dominado por oligarquias predadoras, cercado de miséria por todos os lados.

O ódio ao sonho de Simon Bolívar de uma América soberana e de avanços sociais, abraçado por Chávez, atraiu a ira, a sistemática conspiração imperialista que mobilizou além das próprias armas políticas, financeiras, ideológicas, de inteligência como a CIA, ainda perfilou em torno dessa causa torpe suas reservas, a fina flor da reação fóbica em vários Países, especialmente da América do Sul que pretextando análises críticas ou acadêmicas, miram baterias de fogo midiáticas contra a Venezuela.

No Brasil o método de tratamento de punhos de renda combinado com o porrete fez e continua fazendo escola na América Latina por parte dos segmentos obscurantistas que apoiam de todas as maneiras efetivas, sem falar nas inconfessáveis, iniciativas que atentam contra a soberania das outras nações e dos seus respectivos povos.

A minha geração conviveu com esse tipo de coisas, de grupos que se refastelaram com o arbítrio, aqui no Brasil e no Cone Sul, sem nenhuma transparência jurídica dos seus lucros obscuros e hoje incorporam-se, como os EUA, em campanhas até sobre Direitos Humanos contra os quais, no mínimo, foram cúmplices.

Chávez honrou a sua jornada na terra como lutador pela independência da sua pátria, abraçando a causa do desenvolvimento social. Cabe aos cidadãos venezuelanos, únicos detentores da própria soberania, continuar a luta titânica pelo desenvolvimento, o progresso humano entre as veias abertas, sangradas, da América Latina, como já disse Eduardo Galeano.

 

sexta-feira, 1 de março de 2013

Pesos e medidas

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:




Enquanto a jovem blogueira cubana em suas livres andanças pelo Brasil é acompanhada com um estardalhaço que só se justifica pela alergia insuportável que a grande mídia hegemônica externa-interna nutre pela nação cubana, a sua determinação de honrar o seu direito inalienável à soberania e integridade territorial, outro episódio, esse sim de extrema gravidade, é tratado com absoluto fastio pelos maiores órgãos de imprensa do mundo e no País.

Trata-se do caso do cidadão australiano Julian Assange exilado na embaixada do Equador em Londres, impedido de deixar o edifício da representação diplomática, cercada por acintoso aparato de segurança policial e da inteligência inglesa, impossibilitado de deixar a Inglaterra rumo à nação que lhe concedeu asilo.

Julian Assange é um ativista político dos recursos digitais que revolucionaram a comunicação democratizando a produção da informação, difusão das notícias, as relações entre as pessoas, indivíduos, comunidades em escala local, regional ou planetária.

Porém esse cidadão cometeu a ousadia máxima de denunciar ao mundo, através da Internet, documentos valiosos sobre as atividades clandestinas e subversivas das grandes potências, particularmente dos Estados Unidos e OTAN, as fraudes cometidas contra os cidadãos por parte das grandes corporações financeiras obtidas ilicitamente em uma época de crise econômica, falência de Estados nacionais, desemprego massivo dos assalariados no primeiro mundo.

Mesmo encurralado na embaixada do Equador Assange lançou um livro publicado no Brasil em janeiro deste ano reafirmando suas denúncias e ampliando suas observações sobre o que considera a grande ameaça da atualidade, o controle das pessoas, Países através da Internet pelas potências imperiais no maior sistema de vigilância, espionagem da História da humanidade.

Denuncia os perigos que pairam sobre a soberania dos Estados emergentes, que sob a justificativa de combater o crime organizado os EUA e aliados estariam construindo novo controle político, militar, sabotando as estruturas digitais, industriais e de governos nacionais no que os dirigentes norte-americanos classificam como a batalha do futuro, a ciber-guerra.
 
São pesos e medidas distintos usados pela grande mídia e os EUA sobre direitos humanos, liberdade e soberania das nações. Cabe aos povos encontrar formas de resistência contra graves ameaças com que se defrontam.