terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Cidadãos nascem dos sentimentos

Meu novo artigo:


Retorno ao cientista político norte-americano Mark Lilla, porque existe na atualidade uma espécie de recorrência quase monocórdica no pensamento acadêmico conhecido.

De tal forma que parece existir uma aridez de criatividade, como se os fenômenos sociais estivessem definitivamente diagnosticados, cabendo simplesmente a sua aplicação ao mundo real sem mais questionamentos.

Mas o que assistimos é um exercício de imposições de linhas ideológicas hegemônicas, sustentadas através de interesses poderosos, cujo ápice são os grandes grupos financeiros, o capital rentista mundial e, óbvio, a grande mídia hegemônica associada.

Como um deserto de ideias inovadoras, uma aparente ausência de múltiplas análises críticas da realidade. Não que essas interpretações inexistam, mas porque são patrulhadas por essas correntes hegemônicas, sejam do politicamente correto ou pelos grupos da autodenominada “nova direita radical”.

Isso tem uma lógica, tendo em vista que esses atuais campos antagônicos, retroalimentam-se um do outro através da polarização. É uma época de muitas certezas inconsistentes, onde os “ideologismos” determinam a priori a explicação dos fenômenos em curso.

Assim, a realidade resta prisioneira de visões estratificadas, causando tempestades de sentimentos irracionais e ódios difusos com, no mínimo, duas consequências: não se consegue compreender as sociedades de maneira racional e muito menos é possível, nessas circunstâncias, superar o clima de intolerância furibunda que reina geral, inclusive no Brasil.

Mas a verdade é que para além dessa pretensa unanimidade de “certezas ideológicas” há muita gente trabalhando, produzindo ótimos estudos e opiniões nas áreas econômica, política, geopolítica, nas ciências sociais etc., que não se encaixam no figurino da grande mídia ou desses grupos.

É o caso do brasileiro Oliver Stuenkel que escreveu, inclusive, O mundo pós-ocidental - potências emergentes e a Nova Ordem Global, de Christian Edward Lynch, cientista político, também brasileiro, que publicou, entre vários, o ensaio Saquaremas e Luzias, de Camille Paglia, ítalo-americana acadêmica, estudiosa da questão feminina, do escritor, empresário André Araújo, do próprio norte-americano Mark Lilla. E muitos, muitos outros.

São estudiosos contemporâneos que vão na contramão daquilo que é imposto como explicações inquestionáveis dos fatos, promovendo, em geral, ativismos ideológicos delirantes em vários quadrantes.

Por isso é que Mark Lilla diz em O progressista de ontem e o do amanhã, que existe à direita uma ideologia que questiona a existência de um bem comum, nega nossa obrigação de apoiar concidadãos, mediante ação governamental.

E à esquerda uma ideologia institucionalizada em áreas acadêmicas, que tem uma obsessão com vínculos individuais e grupais, aplaude o eu autocentrado e vê com suspeita qualquer invocação de um nós democrático e universal.

Acompanhamos um pugilato entre antípodas viscerais, que fratura o espírito de pertencimento comum de um povo, como o nosso.

O Brasil precisa construir alternativas e confluências - não de unanimidades porque toda unanimidade é burra - mas de um amplo, largo pacto que auxilie a sociedade na busca dos seus rumos estratégicos e mais elevados.

Quanto aos indivíduos, é vital compreender que ninguém nasce cidadão. Eles são produzidos, e às vezes as circunstâncias Históricas cuidam disso. A cidadania é resultado de sentimentos que se desenvolvem. Sentimentos não podem ser ensinados, eles necessitam ser evocados.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Areia movediça

Meu novo artigo:


Existem coisas que estão determinando os rumos no mundo: os grandes financistas, os megaespeculadores rentistas, as disputas econômicas internacionais por espaços de produtos no mercado, e a nova correlação de forças na geopolítica global.

É jogo duro onde as verdadeiras intenções vão sendo embutidas em invólucros sofisticados, prontos para a venda aos consumidores “privilegiados” nas sociedades de cada País.

Falo “privilegiados” porque a maioria das pessoas no planeta não possui poder de compra desses excedentes oferecidos na competição que estamos vivenciando, mal tem como adquirir os gêneros de primeira necessidade para a sobrevivência.

Os financistas, os megaespeculadores rentistas, como George Soros, estão acumulando fortunas estratosféricas, enquanto a economia das nações cresce a níveis ridículos ou negativos.

Essa é uma das causas das grandes crises sociais em um mundo repleto de convulsões cujas origens aparentemente são distintas. Mas só nas aparências. A sabedoria popular tem suas razões: em casa que falta pão todos brigam e ninguém tem razão.

Raras vezes na História contemporânea as nações tiveram crescimento tão pífio, as mais sortudas, porque a maioria vive estado de calamidade crônica.

As vagas de refugiados rumo à Europa, aos Estados Unidos, agora na América do Sul, têm duas causas: as guerras, travadas por recursos naturais ou motivações geopolíticas, e a fome literal, catastrófica como a epidemia da peste na Idade Média.

Cabe à grande mídia usar os recursos do diversionismo sobre as razões do fenômeno, que se alastra como um rastilho de pólvora, pondo em seu lugar agendas socialmente fragmentárias, jogando parcelas da população umas contra as outras, tais como nas Políticas Identitárias, no falso ambientalismo, omite as reais origens de milhões de refugiados, os motivos das guerras etc.

Essa mídia, associada às finanças globais, e as que sustentam as estratégias das grandes potências, são máquinas formidáveis de desinformação da opinião pública.

Como na Venezuela. Interesses econômicos, geopolíticos, administração interna, resultaram num quadro explosivo em uma região até então sob razoável controle de conflitos globais, cuja liderança natural e mediadora é a do Brasil.

A errática condução econômica, hoje sob a batuta de Maduro, as fabulosas reservas de petróleo, os interesses geopolíticos dos EUA, da Rússia e comerciais da China, atraíram a crise global para a América do Sul e às fronteiras do Brasil.

O governo Bolsonaro atua com a linha, ultrapassada, da época da Guerra Fria. O mundo e o jogo atual são outros. O Brasil não pode abrir mão do seu protagonismo diplomático Histórico. Ou o País reorienta a sua estratégia diplomática ou vamos pagar alto preço para sair dessa areia movediça.