sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Pressões e constrangimentos

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:

Henry Kissinger, ex-Secretário de Estado norte-americano.

O escritor francês Honoré de Balzac em meio a sua produção literária de valor universal tal como a Comédia Humana, resolveu catalogar desde 1830 as Máximas e Pensamentos de seu conterrâneo Napoleão Bonaparte e não é à toa que se disse que Balzac está para a literatura assim como Napoleão está para a História.

Assim o gênio de Napoleão ficou sistematizado através de minuciosa pesquisa de outro gênio, deixando-nos um legado sobre filosofia, arte, política, doutrina militar e geopolítica onde entre várias considerações há aquela em que ele afirma que uma nação se recupera de todos os reveses quando ela mantém a sua superfície.

Não foi com outra razão que a Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados promoveu em 2002 um seminário, com a presidência do deputado Aldo Rebelo, sobre Política de Defesa para o Brasil no século XXI reunindo estudiosos da matéria.

Na justificativa do seminário, dizia Aldo Rebelo, a sociedade brasileira retomou a preocupação com temas que muitos julgavam definitivamente sepultados nos escombros do Muro de Berlim: Estado, soberania, independência nacional, forças armadas etc.

O assunto não só se revelou atual como o cenário mundial mostra-se em processo de agravamento onde a “doutrina da intervenção em assuntos internos das nações” tornou-se um espetáculo grotesco transmitido pela mídia hegemônica como própria aos fundamentos da nova ordem global.

Acrescente-se à frase de Napoleão a superfície continental do Brasil e temos à vista os desafios de Defesa Nacional do povo brasileiro detentor em última instância da soberania do País numa época em que se multiplicam as pilhagens aos recursos naturais de nações indefesas em vários continentes.

Mesmo que não se dê crédito às inúmeras provas documentadas sobre as históricas ambições imperiais relativas ao Brasil, que se considere a frase do então vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, em 1989: Ao contrário do que os brasileiros pensam a Amazônia não é deles mas de todos nós.
 
Afinal, estão pondo em prática o conselho do estrategista mor dos Estados Unidos, Henry Kissinger, quando afirmou: Os Países industrializados não poderão viver da maneira como existiram até hoje se não tiverem à sua disposição os recursos não renováveis do planeta. Terão que montar um sistema de pressões e constrangimentos garantidores da consecução de seus intentos.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

No Mali ou em Caetité

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


Extração de urânio: mina em Caetité, na Bahia

Um dos principais objetivos do complexo midiático hegemônico global é a desinformação da opinião pública internacional, além da promoção de uma agenda social ideológica diversionista em relação às questões cruciais na ordem do dia que dizem respeito aos interesses dos indivíduos e nações do mundo.

O papel determinante desse polvo de mil tentáculos com ramificações na grande maioria dos Países é fazer prevalecer condições à expansão do lucro do capital financeiro em escala planetária, em processo de centralização e concentração apesar da crise econômica ou mesmo utilizando-se dela.

Segundo informações divulgadas pela revista Resenha Estratégica, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Anders Fogh Rasmussen, disse que a Aliança Atlântica passa a ter “uma missão global, onde os Aliados considerem que os seus interesses estejam sendo prejudicados”.

O que deve ser traduzido como “Guerra sem Fronteiras por Recursos” onde a diplomacia vincula-se à intervenção militar aberta.

Assim os membros europeus da OTAN devem ampliar os gastos militares já que os Estados Unidos aumentaram a sua cota financeira com a Aliança de 63% para 72% nesses doze anos mesmo com a crise econômica que os atinge e à Europa.

Ao tempo em que crescem as notícias, através da grande mídia sob a batuta anglo-americana, de uma nova fase da “guerra ao terror e ao islamismo radical” na África que poderá “levar anos ou décadas”.

Mas o que está em jogo são os imensos recursos naturais do continente, sob ocupação militar da OTAN e do AFRICOM norte-americano, destacadamente o norte da região rico em jazidas de urânio, combustível para a energia atômica em franca expansão no primeiro mundo.

Já as reservas brasileiras de urânio somam hoje 309.307 toneladas, a sétima do mundo, devendo crescer ainda mais com o potencial da Província Uranífera de Lagoa Real em Caetité, Bahia.

Nessa guerra suja por recursos estratégicos o Brasil com a maior concentração de biodiversidade do planeta, a Amazônia, incontáveis recursos naturais extremamente cobiçados, tem sido alvo de intensas ações diversionistas  através da mídia hegemônica externa-interna.
 
O objetivo central tem sido a tentativa de fragmentação da unidade social, das organizações populares, a fragilização do sentimento nacional, fundamentais à luta indeclinável pela integridade territorial e soberania do País.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Civilização do desalento

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


Existem dois tipos de indivíduos que vivem sob as condições da nova ordem global neoliberal hegemônica desde a década de noventa passada e assim seguindo nesses primeiros treze anos do novo milênio.

Aqueles que por razões econômicas, ideológicas, políticas, sentem-se contemplados e as grandes maiorias do planeta atordoadas pelos múltiplos fenômenos que atingem com violência os seus cotidianos.

São fenômenos resultantes das políticas impostas às nações através da oficiosa governança global, a nova etapa de acumulação do capital financeiro mundial, produzindo um tipo de civilização regressiva à época do fascismo derrotado ao fim da Segunda Guerra Mundial.  

Assim, é importante procurarmos entender essa contemporaneidade, combinado ao permanente combate contra as políticas neoliberais, às denúncias das incursões armadas do complexo imperial contra os povos, especialmente o anglo-americano, acobertadas pela mídia hegemônica ligada a esses interesses.

Ou então não será possível compreender a sensação geral de “sofrimento e dor associados ao desalento” que atinge as sociedades que anseiam atônitas por algum outro tipo de civilização, onde milhões procuram socorro espiritual em  dezenas de instituições religiosas eletrônicas.

São agressivos os mecanismos de controle social através da revolução eletrônica-cibernética, a criminalização das difusas manifestações de inconformismo das massas, as restrições das garantias individuais, tidas como “inevitáveis ao crescimento populacional”, na verdade resultantes de uma crise sistêmica, gerando o “vazio das subjetividades sociais”.

A concessão de existir em troca do pleno direito de viver, frase de Chico Buarque, tornou-se, de novo, sentença viva. Proliferam leis, regras de todos os tipos, estéticas, comportamentais, e os indivíduos vivem na iminência da penalização, que vão num crescendo porque esse tipo de civilização é manancial inesgotável de males.

Cidadãos forçados a padrões de consumo inatingíveis, desapropriados de valores humanistas, instados à lei da selva, hipocondrias, fobias, narcisismos, sob uma ordem desigual onde os responsabilizados não são os seus mentores.

Os fundamentos da globalização neoliberal permeiam tanto os regimes conservadores quanto governos socialmente mais democráticos como no Brasil. Um dos grandes desafios da atualidade será encontrar os caminhos para suplantá-los.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

A solução final de Taro Aso

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


Dias atrás o ministro das finanças do Japão, Taro Aso, setenta e dois anos, foi protagonista de uma declaração que resume, simboliza, o pensamento neoliberal da nova ordem mundial, o processo civilizatório hegemônico imposto ao mundo através da consigna: ao mercado, ao capital e ao lucro tudo, sem nenhum pudor ou limites.

Para o chefe de uma das três maiores economias do planeta, considerada padrão de qualidade de vida no primeiro mundo, "os idosos devem se apressar e morrer porque estão dando prejuízo às finanças nacionais".

A expectativa de vida no Japão é a segunda mais alta do mundo, 86 anos para as mulheres e 79 para os homens. Mas para o dito ministro, que inicia a própria trajetória de longevidade, esse avanço conquistado desde a segunda metade do século XX é absurdo.

Porém o seu raciocínio não é original, permeia o espírito atual de toda economia global de mercado, exerce intensa pressão em qualquer lugar do planeta, inclusive no Brasil. Inusitadas são as palavras contundentes vindas de uma autoridade desse País oriental que até pouco tempo atrás era conhecido pelo culto à sapiência dos anciãos como uma tradição.

Na verdade o ministro revelou o ponto de vista dominante da nova ordem global: as sociedades devem servir ao processo de acumulação, concentração da riqueza, jamais o seu contrário, a riqueza produzida coletivamente deve ser revertida para o usufruto, melhorias das condições de vida das populações.

As grandes empresas transnacionais de previdência privada, que auferem lucros fabulosos, devem estar exultantes com a sentença de Taro Aso, uma peça destacada, entre muitas, dos sinais desses tempos e civilização impostos por essa ordem global totalitária.

E nunca será demais lembrarmos que durante a ascensão do nazismo os povos levantaram-se politicamente, e em armas, inclusive contra a tese de Hitler da "Solução Final", cuja essência era a "eliminação dos deficientes físicos, excepcionais, homossexuais, idosos e doentes terminais, raças impuras, judeus, ciganos, além de comunistas" etc.

Assim o que o Sr. Taro propôs foi uma espécie de economia da solução final pós-moderna: apressem-se a morrer todos os idosos para o bem das finanças e pronto. Sob o fastio, a indiferença da grande mídia hegemônica mundial como se ele tivesse aconselhado aos japoneses que plantassem mais rosas ou camélias nos jardins das suas residências.