sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Paris está em chamas




Na Segunda Guerra mundial, a França que era considerada o maior exército do mundo, foi derrotada e ocupada em tempo recorde, seja porque o exército nazista tinha desenvolvido uma técnica militar relâmpago, as famosas blitzkrieg, mas também por fatores internos.

Parte considerável das elites francesas da época, civis e militares, eram abertamente pró germânicas. De tal forma que, segundo historiadores, dividida, a capitulação do seu exército foi inevitável.

Sobrou a resistência contra a ocupação que se resumia a alguns poucos milhares de combatentes em território francês, clandestinos, imortalizados em livros e filmes, como o excelente “O exército das sombras”, e o documentário “A tristeza e a piedade”, formado por nacionalistas e comunistas.

O colaboracionismo das elites francesas foi tão explícito que Hitler “concedeu” à França um governo autônomo, o governo de Vichy, cuja capital ficava no sul do País.

Parece inacreditável, mas esse governo tinha inclusive um embaixador em Paris, ocupada militarmente pelas tropas nazistas. O Marquês de Brinon, um germanófilo incontestável.

No entanto, o general De Gaulle, com a nação derrotada, de forma humilhante, recusou-se a participar de tamanha farsa e fugiu, com algumas poucas divisões, para a Inglaterra e formou outra resistência que denominou o “governo francês no exílio”.

O que provocou constante irritação ao primeiro-ministro Churchill, porque ele desejava que os soldados franceses, e o seu general, fossem apenas mais uma legião de lutadores contra o nazismo, que vinham de todas as nações europeias ocupadas para a Inglaterra, que lutava bravamente contra a expansão militar de Hitler sob a liderança formidável do dirigente inglês, apesar de ser um conservador.

Se a Grã-Bretanha não estivesse sob o comando político de Churchill teria capitulado à ofensiva nazista. Sua bravura, coragem pessoal, capacidade política e oratória, fizeram com que o povo inglês, sob a sua liderança, aguentasse as maiores provações, com uma Londres submetida a bombardeios diuturnos, literalmente ardendo em chamas com dezenas de milhares de civis mortos sob as bombas da força aérea alemã.

Mas de Gaulle usava diariamente a rádio BBC de Londres, em nome do governo francês no exílio, contrariando o líder inglês, porque sabia que a França estava humilhada pela capitulação vergonhosa, e considerava que com a vitória dos Aliados o destino do seu País era imprevisível, poderia ser fatiado em, no mínimo, duas nações sob a supervisão dos Aliados vitoriosos.

Com a derrota do exército de ocupação alemão na França, e a libertação de Paris, exigida por De Gaulle, porque a capital francesa era um objetivo militar secundário na marcha para Berlim, o líder francês teve outra escaramuça com os comandantes aliados, e exigiu que as tropas francesas entrassem primeiro na capital e ele pessoalmente marchasse sob o Arco do Triunfo nos Campos Elísios, há exatos 75 anos, mostrando que, de colaboracionista, a França passava a libertar Paris ao lado dos aliados vitoriosos.

Finda a guerra com a derrota da Alemanha nazista, De Gaulle viu-se diante de uma França espatifada. Os resistentes que foram massacrados, torturados e mortos em grande número. Começou a revanche contra as centenas de milhares de colaboracionistas pró-nazistas. Era quase iminente uma guerra civil.

De Gaulle, com a autoridade conquistada, e pensando na França, declarou: todos foram resistentes, à exceção de minorias, as aberrações. Ele sabia que isso não era verdade, mas tinha que unir o povo francês e não o dividir irreversivelmente.

Com o “governo no exílio”, a entrada triunfal em Paris com suas tropas à frente nos Campos Elísios, e o mito de que “todos foram resistentes, à exceção de uma minoria”, de Gaulle praticamente refundou a França, que estava fraturada, humilhada, envergonhada ao mais baixo nível.

Foram três grandes gestos e iniciativas que o elevaram à condição de grande Estadista.

Por um acaso do destino, várias décadas após, anos 90, eu estava em Paris quando acompanhei pela televisão a mais alta condecoração francesa ao então comandante de ocupação alemão de Paris, general Von Choltitz, já muito velho.

Durante a retirada das tropas nazistas da capital francesa, frente ao avanço dos aliados, Hitler ordenou-lhe que implodisse totalmente Paris. O general alemão, mesmo com um telefonema de Hitler: “Paris está em chamas?”, disse que sim, mentindo.

De Gaulle, Estadista, refundou literalmente a grande nação francesa e a humanidade hoje deve a existência de Paris como patrimônio arquitetônico da humanidade, a um general alemão que desobedeceu a Hitler, assim como aos bravos combatentes da resistência francesa. A História nos ensina muitas coisas.

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Binarismo ideológico




Não é segredo para ninguém que o mundo, e o Brasil, vai mergulhando de cabeça em uma época de grande convulsão, que acarreta uma desorientação generalizada entre as pessoas, jamais vista na humanidade.

Essa onda de perplexidades, falta de rumos e projetos, reflete por um lado a existência de novos paradigmas nas sociedades a serem codificados, assim como situações manipuladas, a serviço de grandes potências globais, associadas aos interesses do capital financeiro especulativo global.

Dessa forma, o maniqueísmo no campo das ideias nada de braçadas, ditando o que é certo e o que é errado na grande mídia, redes sociais, fomentando polarizações furibundas, ondas inconciliáveis de grupos ativistas extremamente radicalizados, cujas ideias antagônicas encontram-se distantes da análise concreta da realidade concreta. São batalhas entre dogmas.

Conversando com uma lúcida, dileta amiga, ela me disse que não se contrapunha a certas formulações ou visões sobre os acontecimentos em curso, em grupos nas redes sociais, “para não causar rusgas” entre velhos conhecidos.

Chegamos à conclusão que na verdade não se tratavam de “rusgas” mas, o que existe é uma espécie de chantagem moral, beirando ao inquisitorial, já que o ponderador ou discordante, corre o risco de uma condenação, expurgo ou isolamento, seja a sua opinião correta ou não.

Muitos que lerem esse artigo vão concordar, silenciosamente, com essa afirmação, mas não vão externá-la em seus devidos aplicativos, nas redes sociais, por óbvias razões.

Grande parte, ou o total, dessa intolerância extremada vem das cadeias de mídias globais, associadas ao capital rentista internacional, cuja máxima é a quebra do sentido de unidade dos povos, de um clima saudável de convivência democrática, no confronto das ideias sob o prisma da tolerância na troca de opiniões.

Porque não pode, e não deve haver, cotejamento de opiniões, muito menos sociabilidade, razoavelmente cordial. Trata-se de um fenômeno mundial, não só no Brasil.

E na ausência de projetos, rumos, muitas forças políticas, grupos de ativistas, preferem adequar seus discursos ao que prevalece na grande mídia, abdicando do raciocínio crítico sobre os fenômenos em curso, seja por receio de execração, ou por esperteza com vistas a ser acolhido pelas “bolhas” decorrentes dessa guerra de cibernética de Quinta Geração, em pleno vigor.

Uma Guerra de Quinta Geração, que é bastante real, que vem servindo aos desígnios e interesses estratégicos das grandes potências, do capital financeiro especulativo, assim como a própria globalização financeira não é um fenômeno “neutro”, encontra-se associado a esses mesmos interesses.

O binarismo ideológico imposto ao Brasil, que se encontra muito extremado, serve a idênticos objetivos, e prolifera, especialmente, em meio aos estratos da classe média e entre os grupos sociais mais instruídos das elites urbanas, promove a fratura do tecido nacional, deixa à margem as grandes maiorias nativas, que procuram uma forma de sobrevivência em meio a uma onda de desemprego galopante.

Assim como desvia-se das mais graves ações do governo Bolsonaro, tais como as privatizações em massa do valioso patrimônio estatal brasileiro, a reforma da Previdência, cujas consequências serão dramáticas para a sociedade, para os segmentos médios, os trabalhadores, ou seja, a maioria dos 210 milhões dos brasileiros, além da sistemática e brutal criminalização da vida política etc.

É como diz o ditado popular: enquanto se agridem de um lado e do outro da rua, a exemplo dos identitaristas versus os conservadores fanáticos, a caravana do neoliberalismo radical da escola de Chicago, do governo, de Paulo Guedes, passa, quase, incólume. Com a nação dividida, fraturada, movida a fake news, ou notícias propositalmente parciais, com intenções óbvias e palpáveis.

Nesse quadro, é fundamental a união do povo brasileiro em torno de seus objetivos fundamentais, buscar com determinação aquilo que una as grandes maiorias, não o que as dividem.

Promover um projeto de nação para esse novo milênio conturbado e ameaçador, defender a nossa soberania, física e econômica, em um mundo globalizado, absolutamente sem regras, ferozmente competitivo.

Nunca foi tão atual a frase de Albert Einstein: “nenhum problema pode ser resolvido pelo mesmo estado de consciência que o criou. Para poder encontrar novas respostas, é necessário aprender a ver o mundo de uma maneira nova. É preciso ir mais longe”. Estamos diante dessa grave encruzilhada.

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

O alvará da manicure e outras irrelevâncias do plano econômico inexistente, por Andre Motta Araujo

É uma loucura completa em qualquer País, rico ou pobre, achar que o mercado resolve todos os problemas econômicos, isso é uma fantasia louca.



O alvará da manicure e outras irrelevâncias do plano econômico inexistente
por Andre Motta Araujo


O neoliberalismo é uma máquina de transferência de renda dos mais pobres aos mais ricos. O neoliberalismo NUNCA FOI UM PLANO ECONÔMICO DE GOVERNO. O mercado é apenas um espaço que o Estado estabelece para atuação de agentes privados na troca de mercadorias e serviços, mas esse espaço não tem por obrigação criar um projeto de País, é apenas um espaço de trocas. É impossível um Governo atuar sem políticas públicas que coordenem o CONJUNTO das necessidades da população. O mercado não tem nem a obrigação e nem a capacidade de administrar essas necessidades e carências.

É uma loucura completa em qualquer País, rico ou pobre, achar que o mercado resolve todos os problemas econômicos, isso é uma fantasia louca.

Nos EUA, exemplo para tantos idiotas neoliberais, o Estado é o mais forte do mundo e opera por políticas públicas fortíssimas, O ESTADO GUIA A ECONOMIA.

Há um enorme Departamento do Trabalho, de nível ministerial, criado em 1913, com orçamento de 14 bilhões de dólares e 19.000 funcionários, algo que no Brasil extinguimos irresponsavelmente. Um Departamento de Energia que traça TODA A ESTRATÉGIA de petróleo dos EUA, criou o fracking, o projeto de exploração da rocha betuminosa, criou do zero uma política de etanol de milho com mega subsídios. Um poderoso e tradicional Departamento de Comércio, algo que também extinguimos no Brasil, com políticas de turismo, um banco para pequenas e médias empresas (Small Business Administration). O Escritório de Comércio Exterior (USTR) que cuida de tarifas e acordos comerciais.

São ESTATAIS nos EUA aeroportos, portos, rodovias, água e esgoto, usinas hidroelétricas (porque envolve água), trens de passageiros, metrôs, ônibus coletivos nas metrópoles, seguro rural, muito mais amplo que no Brasil, seguros de hipotecas para moradias (duas companhias), o banco de exportações (Eximbank), o banco para indústria naval (Maritime Commission), o banco para exportação de armas (Defense Security Cooperation Agency). Os Estados Unidos são administrados por POLÍTICAS PÚBLICAS e não pelo mercado, como pretendem os toscos ultra neoliberais brasileiros, o time da “PUC-Rio” e Casa das Garças.

Na crise de 2008, que desmontou o mercado e ameaçava quebrar os maiores bancos e seguradoras americanos, assim como a General Motors, foi o Tesouro que emitiu o cheque de US$ 708 bilhões que salvou todos.

O ESCAPISMO DO PLANO GUEDES

Agora os neoliberais cariocas (com raras exceções, os que comandam a economia são todos do Rio, o Estado mais falido do Brasil) apresentam como projeto de País providências ridículas, como dispensar de alvará cabeleireiros, manicures e botecos. Isso não tem nada a ver com crescimento. O Brasil teve o maior crescimento do mundo entre 1950 e 1980 com todos os alvarás e burocracias. Tudo pode ser melhorado, mas não é isso que faz crescer.

O mais poderoso automóvel não sai do lugar sem motor de arranque e este é o Estado, aqui, em Washington, em Berlim, em Pequim, em Nova Delhi.

A manicure que poder fazer as unhas sem alvará precisa, antes de mais nada, de CLIENTES e esses só existirão quando voltarem os empregos.

Os empregos dependem de indústria e infraestrutura, grandes compradores de indústria eram as ESTATAIS, uma vez vendidas tudo vai ser comprado nos países donos das empresas, é da lógica, o Brasil chegou a ser o maior fabricante de hidrogeradores do mundo (Siemens e Voith) para o grupo Eletrobras e de motores elétricos a prova de explosão para refinarias e plataformas de petróleo para a Petrobras (minha firma foi a primeira), as estatais PUXARAM o crescimento, agora 100% dos navios sonda e navios petroleiros são comprados na Ásia, para alegria dos neoliberais cariocas, fecharam os estaleiros nacionais e, por baixo, 60.000 empregos. Os EUA não cometeram esse erro, parte dos navios que compõe a frota americana tem que ser fabricados nos EUA.

OS NEOLIBERAIS NÃO TÊM A MINÍMA IDEIA SOBRE O FUTURO DA ECONOMIA BRASILEIRA

Não têm ideia, não têm projeto, não têm visão, não têm a mínima preocupação da URGÊNCIA das famílias sem renda, não se comovem com as 23.000 fábricas que fecharam nos últimos dois anos, das 270.000 lojas que enterraram sonhos de pequenos empresários, não são economistas de País, são operadores de mesa de câmbio e juros, e seu único tema é ”BRASIL VENDE TUDO”. Esse pessoal vai enterrar o futuro do Brasil.