quarta-feira, 31 de julho de 2019
A autocrítica
Em recente discurso publicado pelo La Vanguardia, o presidente da França Emmanuel Macron surpreendeu o mundo com as suas declarações, já que o atual principal mandatário francês foi um executivo, e apadrinhado nas eleições presidenciais pela Casa Rothschild, da banca financeira internacional (MSIA, junho 2019).
Disse Macron: se os graves desequilíbrios da globalização financeira não forem corrigidos, a atual fase do capitalismo não puser fim aos seus excessos, a responsabilidade social não voltar a ser prioridade, as democracias correrão sérios riscos, até mesmo de uma nova guerra.
E prossegue: creio que a crise que vivemos pode conduzir à guerra e à decomposição das democracias. O liberalismo econômico e a “economia social de Mercado” experimentam uma crise profunda.
Para ele, com a globalização e as mudanças tecnológicas, se impôs um modelo neoliberal e um capitalismo de acumulação que perverteu o sistema anterior, surgido após a Segunda Guerra mundial, e o funcionamento das sociedades.
Reconhece que os ajustes brutais na Europa incidiram sobre os assalariados que experimentam retrocessos jamais conhecidos em tempos de paz. E que “os nossos fracassos são os que alimentam os extremismos”. Porque “temos um sistema em que o progresso macroeconômico se constrói sobre desequilíbrios regionais”.
Segundo o presidente francês, tal sistema é cada vez menos liberal (ou seja, menos democrático) e menos social, quer dizer, alimenta-se das desigualdades nas sociedades, devido à primazia da acumulação de renda e do corporativismo, que é o do sistema financeiro, lembramos.
Segundo ele, as consequências políticas e sociais desse quadro são muito preocupantes, porque os cidadãos, ao não se sentirem partícipes do progresso, passam a questionar o sistema e rechaçá-lo abertamente, abrindo caminho para ideologias radicais, no caso, de extrema direita, e acrescentamos “aos demagogos”.
E alerta sobre a realidade francesa: está em vias de desmantelar-se o consenso profundo sobre o que a democracia, o progresso e as liberdades individuais construíram desde o século XVII no País. Podemos acrescentar, com segurança, em boa parte do mundo.
Macron está sentindo os efeitos da profunda e multilateral crise política, social que se abate sobre a França, onde multidões saem semanalmente às ruas com fúria, transformando a nação e Paris, em um verdadeiro palco de violentos confrontos sociais.
De qualquer maneira, por lucidez, esperteza ou estratégia política, Macron disse verdades incontornáveis, que refletem um sentimento geral que se alastra, sobre a perda de rumos da globalização dominada pela alta finança especulativa, compartilhada, inclusive, pelas elites institucionais, em boa parte do mundo.
No Brasil, seria fundamental que os que se batem pela defesa da nação e do povo brasileiro, os democratas, os progressistas, também fizessem um esforço conjunto em repensar um autêntico projeto de País.
Repelissem a polarização de ódios difusos que só fraturam a nação, que tem levado a política em modo contínuo irracional e induzido, inclusive através de vias externas ao País.
Que auxiliam o domínio do capital financeiro global rentista, facilitam a agenda obscurantista do governo Bolsonaro, a sua política neoliberal radical e privatista, o desmantelamento do Estado brasileiro.
domingo, 21 de julho de 2019
O Mundo Pós-Ocidental
Resenha do livro "O Mundo Pós-ocidental - Potências emergentes e a nova ordem global", de Oliver Stuenkel:
Por Eduardo Bomfim
O livro de Oliver Stuenkel, O mundo pós-ocidental, potências emergentes e a nova ordem global, é uma valiosa fonte de consultas e um convite ao exercício da reflexão sobre as atuais transformações em curso na geopolítica internacional, onde o Brasil se encontra objetivamente inserido.
Em meio a um turbilhão de contradições e conflitos políticos em que estamos metidos, sempre carregados de temor e desorientação generalizados, Oliver nos aponta as causas das transições globais que estão envolvendo o mundo e procura descrever o rumo estratégico dos fenômenos que dizem respeito às sociedades e aos indivíduos, mesmo que eles não tenham a necessária clareza daquilo em que estão envolvidos, e isso inclui os dirigentes dos Estados nacionais, como tem sido o caso do Brasil. Seja no presente ou no passado recente.
Porque, praticamente quase todos os estudos acadêmicos, políticos, culturais, em vigor, baseiam-se numa tradição ocidentocrêntica dominante, e imposta há muito tempo, o que nos impede de refletir, até mesmo sob o ângulo dos nossos próprios interesses nacionais, sobre quais seriam os caminhos indicados em uma nova ordem global, em plena transição multipolar.
Assim, estamos raciocinando sob a linha de pensamento anglófilo, ocidentocêntrico, europeu, norte-americano, até mesmo quando, em alguns momentos da nossa diplomacia e economia externa resolvemos agir pensando no protagonismo nacional, inclusive em décadas anteriores.
Especialmente hoje, na linha dogmática, quase religiosa, da política externa do atual governo do presidente Bolsonaro, que se incorpora plenamente na visão do excepcionalismo excludente norte-americano, do mundo ocidental, em uma espécie de visão ideológica salvacionista, messiânica.
Onde qualquer outro método de análise da realidade, e estratégias, seria incorrer em uma espécie de ameaça à ordem mundial pré-estabelecida, em suas próprias mentes, quando essa realidade em movimento já vem ultrapassando galopantemente o credo que o governo professa, mesmo quando essa alteração, objetivamente em curso, nos seja amplamente favorável como Estado e nação.
Em primeiro lugar, para Oliver Stuenkel, sempre houve o mito de que o mundo teve a primazia do pensamento, da economia e da diplomacia puramente ocidentais, negando, ou desconhecendo as interpenetrações de outras culturas que agiram no desenvolvimento, inclusive científico, das grandes ondas e transformações nas sociedades.
Nos últimos mil anos, a difusão das ideias ao longo da História foi muito mais dinâmica, pluridirecional e descentralizada do que costumamos imaginar. Mas o que prevalece é uma visão anglófila da História, as relativizações das contribuições de outros povos, ou mesmo a negação, o desconhecimento das contribuições globais de outras civilizações.
Por exemplo, inúmeros conhecimentos importantes, fundamentais adquiridos, surgiram de normas, tecnologias, ideias, de outras fontes estrangeiras, não ocidentocêntricas, como da China, Índia, África e do mundo muçulmano, para se desenvolver, para florescer econômica e politicamente.
No entanto, é verdade que o idealismo e o excepcionalismo norte-americano foram fundamentais na construção da atual nova ordem internacional. Mas, os principais pensadores e acadêmicos nas relações internacionais, estabelecidos nos Estados Unidos, imaginam que o mundo entregou voluntariamente as rédeas do poder a Washington, negligenciando a distinção entre legitimidade e coerção, como fatores na consolidação da atual ordem liberal, exatamente como em qualquer sistema anterior.
Esse processo, de construção da Ordem liberal internacional, envolveu estacionar tropas norte-americanas nas potências derrotadas do Eixo na Segunda Guerra mundial; ameaças contra comunistas na França e na Itália, derrubada de governos recalcitrantes na América Latina, na África e na Ásia, esforços sistemáticos para impor as preferências políticas, ideológicas, culturais e econômicas em todo o mundo, nos lembra Oliver.
A leitura ocidentrocêntica e seletiva da História leva a uma superenfatização em agendas e atratividade cultural ocidentais, e minimiza o papel decisivo do poderio militar na criação e manutenção dessa Ordem global, afirma Oliver.
Muitos acontecimentos importantes ocorreram fora da Europa ao longo de toda História, como aqueles que ergueram e sustentaram o império Chinês, o Otomano e o Mongol. Assim como as regras de tolerância religiosa construídas na Índia no século XVI, sob a liderança do imperador mogol Akbar. A rebelião anticolonial haitiana no começo do século XIX, que inspirou escravos em todas as Américas, foi o evento mais importante na História dos Direitos Humanos, pois defendeu, diferentemente da Revolução Francesa, direitos iguais para toda a população, afirma Oliver.
Na verdade, o ocidentrocentrismo avoca para si vários fenômenos, episódios e valores que aconteceram em outros lugares, ou simultaneamente em muitas regiões.
É com esse viés receoso, oblíquo, que alguns estudiosos, acadêmicos, geopolíticos consideram a emergência de um mundo pós-ocidental, as relações Sul-Sul, a ascensão estratégica dos BRICS. Como se essa fosse uma Ordem Global caótica, desorientadora e perigosa.
Em primeiro lugar, porque ela sucede à hegemonia unipolar dos Estados Unidos após a Guerra Fria.
Depois, porque incorpora ao mundo ocidentocêntrico, novas e multilaterais formas de abordagens econômicas, sociais, comerciais, culturais e políticas, que já estão convivendo, lado a lado, com o pensamento ocidental anglo-europeu.
Stuenkel se aprofunda nesses fenômenos com densa análise acadêmica e geopolítica. Considera os BRICS como um fato estratégico, não um arranjo casual, ou uma sopa de letrinhas na moda, a China como uma potência econômica, comercial irreversível e preponderante, que veio para ficar.
É bem diferente do liberalismo global ocidentocêntrico com suas duas faces; nacionalismo liberal quando se trata dos seus interesses, e internacionalista imperial quando às expensas dos não ocidentais. Uma contradição endógena que sempre carrega ao longo dos tempos.
Um argumento que a práxis do cosmopolitismo liberal, convencida de que o espaço internacional é deles, e que precisa convencer as poucas sociedades atrasadas remanescentes no mundo, mas que, no entanto, se apoia na distribuição desigual, e não poucas vezes utiliza-se das práticas depredatórias do imperialismo do século XIX. Isso é o que se chama de Governança Global na atualidade.
Diz Oliver: todos os povos desenvolvem e sustentam seus próprios mitos sobre a história fundadora da sua tribo, nação ou civilização. Um dos elementos importantes desse mito diz respeito ao porquê de o grupo ser único e porque merece um lugar especial na História global. Como qualquer outra civilização, o Ocidente também incorreu no espírito forte de um excepcionalismo, nesse caso, excludente.
O sucesso econômico e militar da Europa fez com que os intelectuais europeus não esperassem nada menos que o domínio permanente do mundo, incluindo aí “uma missão civilizadora e cultural do resto da humanidade”.
A observação crítica no livro de Oliver Stuenkel não exclui também os teóricos marxistas europeus: como Marx, Hegel chamava a China de “semicivilização em putrefação” e, a não ser que o Ocidente lhes levasse o progresso, a Índia e a China estavam condenadas a permanecer numa “existência vegetativa perpétua e natural”.
Com efeito, o advento da Revolução Industrial e os primórdios do colonialismo europeu na Ásia pareceram criar uma narrativa tão irresistível que a maioria dos intelectuais se deixou seduzir pela noção de que o Ocidente havia fundado uma verdade universal e uma obrigação moral de guiar o resto do mundo, afirma Oliver.
Desenvolveu-se um sentido exacerbado de singularidade. Nesse processo Histórico, o pensamento liberal foi basicamente moldado pela relação desigual entre a Europa e o resto do mundo. O desejo de diálogo construtivo entre civilizações e de aprendizado mútuo, tão apreciado por pensadores anteriores, foi eclipsado pela soberba.
Assim, o ocidentocentrismo contribuiu para uma compreensão muito particular da História global, que Blaut chamou de “História tutelada”. Isso é comum hoje na América Latina, na África e em muitas partes da Ásia, onde a História da Europa é vista como muito mais importante que a de outras partes do Sul global. Uma dinâmica que Amartya Sen chamou de “a dialética da mente colonizada”.
Foi precisamente este padrão global que levou à situação extraordinária de hoje, na qual Países no Sul Global não sabem praticamente nada uns sobre os outros e, se o sabem, o conhecimento que possuem vem de brasileiros e sul-africanos que querem aprender mais sobre a China, por exemplo.
Mas o sentimento dominante atual quanto à ascensão protagonista da China, na Europa como nos Estados Unidos, é de medo, e os analistas costumam advertir que o avanço da China “eclipsará” o sol do iluminismo ocidental, que será apagado pela dominação econômica da China e por uma sombra que irá cobrir o mundo ocidental.
Um fenômeno semelhante pôde ser observado: o fim da Guerra fria levou pensadores nos Estados Unidos a se perguntarem se o fim da História tinha chegado, convenientemente, justo no momento da inigualada hegemonia dos Estados Unidos.
Mas Oliver considera que a ascensão do multilateralismo global competitivo, no lugar de um mundo unipolar, como um fenômeno objetivo, especialmente com as novas fronteiras comerciais e econômicas que vão sendo abertas pela China, veio para ficar. Onde as relações Sul-Sul vão compartilhar a nova geopolítica junto aos demais atores globais, já existentes.
Não se pode afirmar que essa nova realidade em curso, e suas decorrências, não vão ocorrer sem a ausência de conflitos ou confrontos de intensidade razoável.
Mas os fatos estão a indicar que o crescente aumento da geopolítica multilateralista, o protagonismo Sul-Sul, não estão se dando pela política da canhoneira, como ocorreu, ainda continua ocorrendo, com a hegemonia ocidentrocêntrica, e em particular com o sol poente do excepcionalismo estadunidense.
Ao contrário, a marca do multilateralismo vem se constituindo através do crescimento econômico, comercial e diplomático. Não lhe apraz, ou lhe é contraproducente, a via do confronto aberto, da hostilidade afrontosa, da guerra militar de conquista.
A verdade é que o mundo caminha a passos largos para o multilateralismo geopolítico. E se não se avizinha um mar de rosas, com certeza não será mais um capítulo da supremacia cultural, econômica, política, imposta através da intimidação militar, ou da hegemonia ideológica, do mito supremacista dos tempos atuais. Vale a pena conferir o livro de Oliver Stuenkel: O mundo pós-ocidental, potências emergentes e a nova ordem global.
Por Eduardo Bomfim
O livro de Oliver Stuenkel, O mundo pós-ocidental, potências emergentes e a nova ordem global, é uma valiosa fonte de consultas e um convite ao exercício da reflexão sobre as atuais transformações em curso na geopolítica internacional, onde o Brasil se encontra objetivamente inserido.
Em meio a um turbilhão de contradições e conflitos políticos em que estamos metidos, sempre carregados de temor e desorientação generalizados, Oliver nos aponta as causas das transições globais que estão envolvendo o mundo e procura descrever o rumo estratégico dos fenômenos que dizem respeito às sociedades e aos indivíduos, mesmo que eles não tenham a necessária clareza daquilo em que estão envolvidos, e isso inclui os dirigentes dos Estados nacionais, como tem sido o caso do Brasil. Seja no presente ou no passado recente.
Porque, praticamente quase todos os estudos acadêmicos, políticos, culturais, em vigor, baseiam-se numa tradição ocidentocrêntica dominante, e imposta há muito tempo, o que nos impede de refletir, até mesmo sob o ângulo dos nossos próprios interesses nacionais, sobre quais seriam os caminhos indicados em uma nova ordem global, em plena transição multipolar.
Assim, estamos raciocinando sob a linha de pensamento anglófilo, ocidentocêntrico, europeu, norte-americano, até mesmo quando, em alguns momentos da nossa diplomacia e economia externa resolvemos agir pensando no protagonismo nacional, inclusive em décadas anteriores.
Especialmente hoje, na linha dogmática, quase religiosa, da política externa do atual governo do presidente Bolsonaro, que se incorpora plenamente na visão do excepcionalismo excludente norte-americano, do mundo ocidental, em uma espécie de visão ideológica salvacionista, messiânica.
Onde qualquer outro método de análise da realidade, e estratégias, seria incorrer em uma espécie de ameaça à ordem mundial pré-estabelecida, em suas próprias mentes, quando essa realidade em movimento já vem ultrapassando galopantemente o credo que o governo professa, mesmo quando essa alteração, objetivamente em curso, nos seja amplamente favorável como Estado e nação.
Em primeiro lugar, para Oliver Stuenkel, sempre houve o mito de que o mundo teve a primazia do pensamento, da economia e da diplomacia puramente ocidentais, negando, ou desconhecendo as interpenetrações de outras culturas que agiram no desenvolvimento, inclusive científico, das grandes ondas e transformações nas sociedades.
Nos últimos mil anos, a difusão das ideias ao longo da História foi muito mais dinâmica, pluridirecional e descentralizada do que costumamos imaginar. Mas o que prevalece é uma visão anglófila da História, as relativizações das contribuições de outros povos, ou mesmo a negação, o desconhecimento das contribuições globais de outras civilizações.
Por exemplo, inúmeros conhecimentos importantes, fundamentais adquiridos, surgiram de normas, tecnologias, ideias, de outras fontes estrangeiras, não ocidentocêntricas, como da China, Índia, África e do mundo muçulmano, para se desenvolver, para florescer econômica e politicamente.
No entanto, é verdade que o idealismo e o excepcionalismo norte-americano foram fundamentais na construção da atual nova ordem internacional. Mas, os principais pensadores e acadêmicos nas relações internacionais, estabelecidos nos Estados Unidos, imaginam que o mundo entregou voluntariamente as rédeas do poder a Washington, negligenciando a distinção entre legitimidade e coerção, como fatores na consolidação da atual ordem liberal, exatamente como em qualquer sistema anterior.
Esse processo, de construção da Ordem liberal internacional, envolveu estacionar tropas norte-americanas nas potências derrotadas do Eixo na Segunda Guerra mundial; ameaças contra comunistas na França e na Itália, derrubada de governos recalcitrantes na América Latina, na África e na Ásia, esforços sistemáticos para impor as preferências políticas, ideológicas, culturais e econômicas em todo o mundo, nos lembra Oliver.
A leitura ocidentrocêntica e seletiva da História leva a uma superenfatização em agendas e atratividade cultural ocidentais, e minimiza o papel decisivo do poderio militar na criação e manutenção dessa Ordem global, afirma Oliver.
Muitos acontecimentos importantes ocorreram fora da Europa ao longo de toda História, como aqueles que ergueram e sustentaram o império Chinês, o Otomano e o Mongol. Assim como as regras de tolerância religiosa construídas na Índia no século XVI, sob a liderança do imperador mogol Akbar. A rebelião anticolonial haitiana no começo do século XIX, que inspirou escravos em todas as Américas, foi o evento mais importante na História dos Direitos Humanos, pois defendeu, diferentemente da Revolução Francesa, direitos iguais para toda a população, afirma Oliver.
Na verdade, o ocidentrocentrismo avoca para si vários fenômenos, episódios e valores que aconteceram em outros lugares, ou simultaneamente em muitas regiões.
É com esse viés receoso, oblíquo, que alguns estudiosos, acadêmicos, geopolíticos consideram a emergência de um mundo pós-ocidental, as relações Sul-Sul, a ascensão estratégica dos BRICS. Como se essa fosse uma Ordem Global caótica, desorientadora e perigosa.
Em primeiro lugar, porque ela sucede à hegemonia unipolar dos Estados Unidos após a Guerra Fria.
Depois, porque incorpora ao mundo ocidentocêntrico, novas e multilaterais formas de abordagens econômicas, sociais, comerciais, culturais e políticas, que já estão convivendo, lado a lado, com o pensamento ocidental anglo-europeu.
Stuenkel se aprofunda nesses fenômenos com densa análise acadêmica e geopolítica. Considera os BRICS como um fato estratégico, não um arranjo casual, ou uma sopa de letrinhas na moda, a China como uma potência econômica, comercial irreversível e preponderante, que veio para ficar.
É bem diferente do liberalismo global ocidentocêntrico com suas duas faces; nacionalismo liberal quando se trata dos seus interesses, e internacionalista imperial quando às expensas dos não ocidentais. Uma contradição endógena que sempre carrega ao longo dos tempos.
Um argumento que a práxis do cosmopolitismo liberal, convencida de que o espaço internacional é deles, e que precisa convencer as poucas sociedades atrasadas remanescentes no mundo, mas que, no entanto, se apoia na distribuição desigual, e não poucas vezes utiliza-se das práticas depredatórias do imperialismo do século XIX. Isso é o que se chama de Governança Global na atualidade.
Diz Oliver: todos os povos desenvolvem e sustentam seus próprios mitos sobre a história fundadora da sua tribo, nação ou civilização. Um dos elementos importantes desse mito diz respeito ao porquê de o grupo ser único e porque merece um lugar especial na História global. Como qualquer outra civilização, o Ocidente também incorreu no espírito forte de um excepcionalismo, nesse caso, excludente.
O sucesso econômico e militar da Europa fez com que os intelectuais europeus não esperassem nada menos que o domínio permanente do mundo, incluindo aí “uma missão civilizadora e cultural do resto da humanidade”.
A observação crítica no livro de Oliver Stuenkel não exclui também os teóricos marxistas europeus: como Marx, Hegel chamava a China de “semicivilização em putrefação” e, a não ser que o Ocidente lhes levasse o progresso, a Índia e a China estavam condenadas a permanecer numa “existência vegetativa perpétua e natural”.
Com efeito, o advento da Revolução Industrial e os primórdios do colonialismo europeu na Ásia pareceram criar uma narrativa tão irresistível que a maioria dos intelectuais se deixou seduzir pela noção de que o Ocidente havia fundado uma verdade universal e uma obrigação moral de guiar o resto do mundo, afirma Oliver.
Desenvolveu-se um sentido exacerbado de singularidade. Nesse processo Histórico, o pensamento liberal foi basicamente moldado pela relação desigual entre a Europa e o resto do mundo. O desejo de diálogo construtivo entre civilizações e de aprendizado mútuo, tão apreciado por pensadores anteriores, foi eclipsado pela soberba.
Assim, o ocidentocentrismo contribuiu para uma compreensão muito particular da História global, que Blaut chamou de “História tutelada”. Isso é comum hoje na América Latina, na África e em muitas partes da Ásia, onde a História da Europa é vista como muito mais importante que a de outras partes do Sul global. Uma dinâmica que Amartya Sen chamou de “a dialética da mente colonizada”.
Foi precisamente este padrão global que levou à situação extraordinária de hoje, na qual Países no Sul Global não sabem praticamente nada uns sobre os outros e, se o sabem, o conhecimento que possuem vem de brasileiros e sul-africanos que querem aprender mais sobre a China, por exemplo.
Mas o sentimento dominante atual quanto à ascensão protagonista da China, na Europa como nos Estados Unidos, é de medo, e os analistas costumam advertir que o avanço da China “eclipsará” o sol do iluminismo ocidental, que será apagado pela dominação econômica da China e por uma sombra que irá cobrir o mundo ocidental.
Um fenômeno semelhante pôde ser observado: o fim da Guerra fria levou pensadores nos Estados Unidos a se perguntarem se o fim da História tinha chegado, convenientemente, justo no momento da inigualada hegemonia dos Estados Unidos.
Mas Oliver considera que a ascensão do multilateralismo global competitivo, no lugar de um mundo unipolar, como um fenômeno objetivo, especialmente com as novas fronteiras comerciais e econômicas que vão sendo abertas pela China, veio para ficar. Onde as relações Sul-Sul vão compartilhar a nova geopolítica junto aos demais atores globais, já existentes.
Não se pode afirmar que essa nova realidade em curso, e suas decorrências, não vão ocorrer sem a ausência de conflitos ou confrontos de intensidade razoável.
Mas os fatos estão a indicar que o crescente aumento da geopolítica multilateralista, o protagonismo Sul-Sul, não estão se dando pela política da canhoneira, como ocorreu, ainda continua ocorrendo, com a hegemonia ocidentrocêntrica, e em particular com o sol poente do excepcionalismo estadunidense.
Ao contrário, a marca do multilateralismo vem se constituindo através do crescimento econômico, comercial e diplomático. Não lhe apraz, ou lhe é contraproducente, a via do confronto aberto, da hostilidade afrontosa, da guerra militar de conquista.
A verdade é que o mundo caminha a passos largos para o multilateralismo geopolítico. E se não se avizinha um mar de rosas, com certeza não será mais um capítulo da supremacia cultural, econômica, política, imposta através da intimidação militar, ou da hegemonia ideológica, do mito supremacista dos tempos atuais. Vale a pena conferir o livro de Oliver Stuenkel: O mundo pós-ocidental, potências emergentes e a nova ordem global.
sexta-feira, 19 de julho de 2019
O Marquês de Brinon, Embaixador da França em Paris, por Andre Motta Araujo
O Embaixador de Brinon se encaixava no modelo de um embaixador que se amoldava aos interesses do governo onde era acreditado e não servia ao interesse do governo que teoricamente representava.
O Marquês de Brinon, Embaixador da França em Paris
por Andre Motta Araujo
Com a derrota da França em Junho de 1940, a rendição formalizou-se pelo Segundo Armistício de Compiegne, pelo qual o território francês foi dividido em dois: o Norte sob protetorado alemão, chamado de ADMINISTRAÇÃO MILITAR ALEMÃ EM FRANÇA com sede em Paris, e o Sul como ESTADO FRANCÊS, com sede na cidade de Vichy, sem presença de tropas alemãs e todos os atributos de um Estado soberano.
O Chefe de Estado era o Marechal Petain e o Primeiro Ministro Pierre Laval. A Marinha de Vichy era a segunda da Europa, após a britânica, a rendição não incluiu a Marinha, que continuou sob controle do Governo de Vichy e sob comando do mítico Almirante Darlan. Continuaram sob controle do Governo de Vichy as colônias francesas na África, Argélia, Marrocos, Tunísia, Senegal, Costa do Marfim e Chade.
O Governo de Vichy recebia embaixadores de outros países, os Estados Unidos tinham em Vichy seu Embaixador até 1944, o Almirante Lehay, amigo pessoal do Presidente Roosevelt, por sua vez o Governo de Vichy tinha embaixadores em outros países, como o Brasil. Vichy, até a invasão americana da África do Norte francesa em 1942, era um Estado ficcional, mas legal, com os aparatos de um Estado soberano em seu território.
Nada mais ficcional, mas protocolarmente legal, que a nomeação por Vichy de um Embaixador junto ao um Governo estrangeiro, a Administração Militar Alemã em Paris, entidade governamental separada do Terceiro Reich, cujo titular era o General Otto von Stulpnagel. Petain e Laval selecionaram um nome especial para representar Vichy em Paris, cujas credenciais eram ser muito amigo dos alemães, o Marques de Brinon, personagem que, desde 1937, circulava na corte do fulgurante Embaixador da Alemanha nazista, Otto Abetz. Já publiquei aqui no blog artigo sobre Otto Abetz, figura chave na preparação do colaboracionismo prévio à invasão alemã e que explica a fácil vitória militar nazista em 1940.
Fernand de Brinon era apenas uma das figuras sinistras que vendiam a França aos nazistas, um ciclo que a história da França tenta esquecer.
O Embaixador de Brinon se encaixava no modelo de um embaixador que se amoldava aos interesses do governo onde era acreditado e não servia ao interesse do governo que teoricamente representava. Ele era “amigo dos alemães” e não fiel à França. Ora, ser “amigo” do governo onde deveria representar o interesse francês não era uma qualidade para um Embaixador, era uma desqualificação. Um Embaixador deve ser só fiel ao Estado que representa e não “amigo” do poder onde serve, seria como um advogado ser amigo da parte contraria, perante a qual deve ser oponente.
De Brinon não era o único personagem das trevas nesse cenário confuso preparatório da Segunda Guerra Mundial, ambiente propício aos crimes de lesa pátria quando as lealdades se confundem com “amizades suspeitas”.
Outros traidores a seus países apareceram como personagens das trevas.
Vidkun Quisling na Noruega virou Primeiro Ministro a serviço dos alemães, Leon Degrelle na Bélgica, Anton Pavlic na Croácia, traidores apareceram na Ucrânia e na Hungria, mas a França foi especial pela extensão e pluralidade de um colaboracionismo vergonhoso a serviço do ocupante, um processo que envolveu parte considerável da elite francesa.
Sir Neville Henderson, Embaixador britânico em Berlin até a declaração de guerra de 3 de setembro de 1939, era amigo demais dos nazistas, a tal ponto que contribuiu para a eclosão da guerra, ao viciar seus relatórios com informes enganosos sobre as intenções nazistas, era mais amigo dos alemães do que do Foreing Office onde reinava seu protetor, o também germanófilo Lord Halifax. Por suas amizades perigosas com os nazistas, Churchill carimbou Henderson com a expressão precisa “um homem nefasto”. Ser muito amigo do governo onde está acreditado não é uma vantagem para um Embaixador, é uma desqualificação, porque no limite esse diplomata vai mais ser útil ao governo anfitrião do que ao seu próprio governo. A diplomacia tem como premissa a defesa intransigente dos interesses do Estado representado e não a simpatia pelo País anfitrião, porque os interesses podem ser e são conflitantes, cada qual defende o seu.
De Brinon, como Quisling, Degrelle e os demais pró-nazistas traidores de seus países foram condenados depois da guerra à pena de morte por crime de lesa pátria a serviço de uma potência estrangeira, pena capital universal.
De Brinon foi executado por fuzilamento na prisão de Fresnes em Paris em 15 de abril de 1947 após sentença inapelável de um tribunal francês.
Mesmo nos grandes conflitos o mundo funciona por códigos atemporais, os Estados tem interesses geopolíticos a longo prazo ao correr da História, aliados em um ciclo podem ser adversários no ciclo seguinte e as lealdades se dão por raízes profundas que nada tem a ver com ideologia ou simpatia amizades ou camaradagem, Estados são entes atemporais e vida própria destacada de seus “governos de ocasião”, expressão clássica citada pelo General De Gaulle para se referir ao governo de Vichy no seu primeiro discurso após a espetacular fuga do solo francês para estabelecer um governo no exílio em Londres sob o nome de França Livre.
De Brinon e o colaboracionismo são desvios que a História coloca no arquivo morto, mas que devem ser lembrados como registro da complexidade que o tempo político pode produzir.
O Marquês de Brinon, Embaixador da França em Paris
por Andre Motta Araujo
Com a derrota da França em Junho de 1940, a rendição formalizou-se pelo Segundo Armistício de Compiegne, pelo qual o território francês foi dividido em dois: o Norte sob protetorado alemão, chamado de ADMINISTRAÇÃO MILITAR ALEMÃ EM FRANÇA com sede em Paris, e o Sul como ESTADO FRANCÊS, com sede na cidade de Vichy, sem presença de tropas alemãs e todos os atributos de um Estado soberano.
O Chefe de Estado era o Marechal Petain e o Primeiro Ministro Pierre Laval. A Marinha de Vichy era a segunda da Europa, após a britânica, a rendição não incluiu a Marinha, que continuou sob controle do Governo de Vichy e sob comando do mítico Almirante Darlan. Continuaram sob controle do Governo de Vichy as colônias francesas na África, Argélia, Marrocos, Tunísia, Senegal, Costa do Marfim e Chade.
O Governo de Vichy recebia embaixadores de outros países, os Estados Unidos tinham em Vichy seu Embaixador até 1944, o Almirante Lehay, amigo pessoal do Presidente Roosevelt, por sua vez o Governo de Vichy tinha embaixadores em outros países, como o Brasil. Vichy, até a invasão americana da África do Norte francesa em 1942, era um Estado ficcional, mas legal, com os aparatos de um Estado soberano em seu território.
Nada mais ficcional, mas protocolarmente legal, que a nomeação por Vichy de um Embaixador junto ao um Governo estrangeiro, a Administração Militar Alemã em Paris, entidade governamental separada do Terceiro Reich, cujo titular era o General Otto von Stulpnagel. Petain e Laval selecionaram um nome especial para representar Vichy em Paris, cujas credenciais eram ser muito amigo dos alemães, o Marques de Brinon, personagem que, desde 1937, circulava na corte do fulgurante Embaixador da Alemanha nazista, Otto Abetz. Já publiquei aqui no blog artigo sobre Otto Abetz, figura chave na preparação do colaboracionismo prévio à invasão alemã e que explica a fácil vitória militar nazista em 1940.
Fernand de Brinon era apenas uma das figuras sinistras que vendiam a França aos nazistas, um ciclo que a história da França tenta esquecer.
O Embaixador de Brinon se encaixava no modelo de um embaixador que se amoldava aos interesses do governo onde era acreditado e não servia ao interesse do governo que teoricamente representava. Ele era “amigo dos alemães” e não fiel à França. Ora, ser “amigo” do governo onde deveria representar o interesse francês não era uma qualidade para um Embaixador, era uma desqualificação. Um Embaixador deve ser só fiel ao Estado que representa e não “amigo” do poder onde serve, seria como um advogado ser amigo da parte contraria, perante a qual deve ser oponente.
De Brinon não era o único personagem das trevas nesse cenário confuso preparatório da Segunda Guerra Mundial, ambiente propício aos crimes de lesa pátria quando as lealdades se confundem com “amizades suspeitas”.
Outros traidores a seus países apareceram como personagens das trevas.
Vidkun Quisling na Noruega virou Primeiro Ministro a serviço dos alemães, Leon Degrelle na Bélgica, Anton Pavlic na Croácia, traidores apareceram na Ucrânia e na Hungria, mas a França foi especial pela extensão e pluralidade de um colaboracionismo vergonhoso a serviço do ocupante, um processo que envolveu parte considerável da elite francesa.
Sir Neville Henderson, Embaixador britânico em Berlin até a declaração de guerra de 3 de setembro de 1939, era amigo demais dos nazistas, a tal ponto que contribuiu para a eclosão da guerra, ao viciar seus relatórios com informes enganosos sobre as intenções nazistas, era mais amigo dos alemães do que do Foreing Office onde reinava seu protetor, o também germanófilo Lord Halifax. Por suas amizades perigosas com os nazistas, Churchill carimbou Henderson com a expressão precisa “um homem nefasto”. Ser muito amigo do governo onde está acreditado não é uma vantagem para um Embaixador, é uma desqualificação, porque no limite esse diplomata vai mais ser útil ao governo anfitrião do que ao seu próprio governo. A diplomacia tem como premissa a defesa intransigente dos interesses do Estado representado e não a simpatia pelo País anfitrião, porque os interesses podem ser e são conflitantes, cada qual defende o seu.
De Brinon, como Quisling, Degrelle e os demais pró-nazistas traidores de seus países foram condenados depois da guerra à pena de morte por crime de lesa pátria a serviço de uma potência estrangeira, pena capital universal.
De Brinon foi executado por fuzilamento na prisão de Fresnes em Paris em 15 de abril de 1947 após sentença inapelável de um tribunal francês.
Mesmo nos grandes conflitos o mundo funciona por códigos atemporais, os Estados tem interesses geopolíticos a longo prazo ao correr da História, aliados em um ciclo podem ser adversários no ciclo seguinte e as lealdades se dão por raízes profundas que nada tem a ver com ideologia ou simpatia amizades ou camaradagem, Estados são entes atemporais e vida própria destacada de seus “governos de ocasião”, expressão clássica citada pelo General De Gaulle para se referir ao governo de Vichy no seu primeiro discurso após a espetacular fuga do solo francês para estabelecer um governo no exílio em Londres sob o nome de França Livre.
De Brinon e o colaboracionismo são desvios que a História coloca no arquivo morto, mas que devem ser lembrados como registro da complexidade que o tempo político pode produzir.
sexta-feira, 5 de julho de 2019
Desemprego é o fracasso cruel do neoliberalismo brasileiro, por André Motta Araújo
O neoliberalismo vai destruir o próprio Estado onde esses economistas ganham dinheiro, embora boa parte não more mais no Brasil.
Desemprego é o fracasso cruel do neoliberalismo brasileiro
por André Motta Araújo
Política econômica se avalia pelo saldo entre custos e resultados. Por esse critério, a política econômica neoliberal que veio no pacote do PLANO REAL foi um desastre histórico na trajetória do Brasil como nação. Nunca antes se viram tantos pobres, miseráveis, desassistidos e desesperados no conjunto da população, como se vê hoje nas ruas das grandes, médias e pequenas cidades brasileiras, milhões de jovens cujo único futuro é ser entregador de pizza ou bandido, sem que a parcela da população que se isola em ilhas de vida confortável se perturbe com os miseráveis à sua volta.
A política econômica neoliberal com epicentro no Rio de Janeiro trouxe no seu conjunto as seguintes consequências:
1.DOMÍNIO DO BANCO CENTRAL PELO MERCADO FINANCEIRO
Domínio explícito demonstrado pela sistemática indicação de personagens do mercado financeiro para suas diretorias. Para confirmar o domínio do chamado BOLETIM FOCUS, onde a autoridade monetária recolhe a média das previsões dos economistas do mercado financeiro para orientar suas políticas.
A consequência é de que o Banco Central NÃO LIDERA O MERCADO, É LIDERADO POR ELE e todas as suas políticas não se endereçam aos interesses do País e do Estado nacional e sim aos interesses do mercado financeiro, desde a taxa Selic, à política cambial, à política de crédito, ao estimulo à concentração bancária.
2.PROTEÇÃO DOS ATIVOS FINANCEIROS À CUSTA DO CRESCIMENTO
O instrumento é o mecanismo de "METAS DE INFLAÇÃO” onde se privilegia A QUALQUER CUSTO SEM CRESCIMENTO a manutenção do valor dos ativos financeiros que consomem a maior parte do Orçamento da União, em pagamento de juros e seguros cambiais, variáveis que mantém constante em dólar os ativos do sistema financeiro em Reais, algo como R$ 8 trilhões, para o que o PAÍS NÃO DEVE CRESCER, porque o crescimento necessita de moeda nova e pode trazer o risco de desvalorizar a moeda velha detida pelo sistema financeiro. Para tal roteiro o Estado deve liquidar o BNDES e privatizar o que resta de suas estatais, a qualquer preço, no todo ou vendendo aos pedaços, como se faz hoje com a PETROBRAS, empobrecendo o Estado e o País e transferindo para o estrangeiro o controle da política nacional de energia e infraestrutura, criando o paradoxo de ser hoje de capital estrangeiro grande parte da indústria, energia, infraestrutura e mineração do País, enquanto os ricos brasileiros investem no exterior seus recursos, hoje brasileiros tem US$400 bilhões de dólares fora do País, recursos gerados no Brasil e transferidos para o exterior, um contrassenso que mostra ao que o neoliberalismo pode levar.
3.A PARALISIA DO CRESCIMENTO FEZ ESTAGNAR A ARRECADAÇÃO E COM ISSO A DETERIORAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS
Os serviços públicos essenciais de SAÚDE, EDUCAÇÃO, SANEAMENTO E APOIO SOCIAL AOS MUITO POBRES estão em fase acelerada de desmonte por falta de recursos, porque sem crescimento cai a arrecadação de impostos e continuam crescendo os custos de funcionamento da União, Estados e Municípios.
O sistema público de saúde está se arruinando em velocidade acelerada, as filas do SUS aumentaram muito, o nível de educação nunca foi tão baixo.
4.DESMONTE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA INDÚSTRIA, INFRAESTRUTURA, MEIO AMBIENTE, ENERGIA, TRABALHO, DEFESA, PESQUISA E CULTURA
Na visão neoliberal, políticas públicas nem devem existir porque o mercado tudo resolve. O raciocínio é falso. Nos EUA, centro da ideia de economia de mercado, o Estado tem fortíssima presença em todas as políticas públicas, os Departamentos de Trabalho e de Energia tem vastos orçamentos, a pesquisa é fortemente incentivada pelo Estado, há 11.000 estatais sob formas e denominações diversas como AUTHORITY ou BOARD que cuidam de saneamento, aeroportos, portos, rodovias, metrôs, ônibus municipais, seguros de hipotecas para moradias populares, trens de passageiros, rodovias, tudo ESTATAL.
Na Europa os sistemas de seguro saúde, educação, meio ambiente, energia, cultura, são largamente estatais, o Estado assistencial é fortemente presente, mesmo em países de economias ricas como Alemanha, países nórdicos, França, Suíça e Reino Unido.
O “neoliberalismo de exportação” que o Brasil assumiu, MESMO NOS GOVERNOS PETISTAS, foi repudiado em todo o mundo civilizado mais avançado, os países emergentes que mais crescem, como China e Índia, têm economias de planejamento sob Estados fortes e não Estados desmontados como no Brasil, onde apesar da carga fiscal ser altíssima, não tem Estado forte, o grosso da arrecadação de impostos se destina a juros da dívida pública e largos benefícios a corporações de funcionários públicos, que consomem salários e vantagens irreais e incompatíveis com a economia do País.
Não existe NENHUMA POSSIBILIDADE do Brasil voltar a crescer com um neoliberalismo tosco, provinciano, sem visão de Estado, voltado exclusivamente para o rentismo de pequena parte da população, enquanto 90% dos brasileiros veem sua qualidade de vida, e até de sobrevivência, se deteriorar ano a ano.
É impressionante que boa parte da elite brasileira não perceba o desastre visível, a olho nu, de uma política neoliberal para País pobre como algo inviável historicamente. Vargas, Juscelino, os governos militares perceberam isso, o governo FHC desprezou essa noção da realidade e criou a democracia dos banqueiros como se isso fosse o futuro do Brasil, hoje a REPÚBLICA DO FINANCISMO empobrece o País como um todo, embora alguns se saiam bem, hoje o Estado brasileiro e o conjunto da população brasileira é MAIS POBRE DO QUE HÁ DEZ ANOS, o País está empobrecendo sob o neoliberalismo.
UMA ESCOLA PRIMITIVA DE PENSAMENTO ECONÔMICO
A “Escola do Rio”, nome que dei ao pensamento neoliberal brasileiro da década de 90 (e título de meu livro sobre esse tema) é uma escola POBRE E SIMPLISTA de pensamento econômico, sem elaboração, sem renovação, sem imaginação, mera importação de meia dúzia de mantras de Madame Thatcher, que já foi post mortem suficientemente demolida no seu próprio País.
Hoje, o neoliberalismo de Mrs.Thatcher é algo maldito no Reino Unido, nas suas raízes estão a decadência industrial da Inglaterra, que levaram o País ao BREXIT. Mas, no Brasil dos “economistas de mercado”, esses dogmas continuam vivos por falta de inimigos naturais sem que seus propagandistas percebam que SEM ESTADO NÃO HÁ PAÍS SÓLIDO e, ao fim, o neoliberalismo vai destruir o próprio Estado onde esses economistas ganham dinheiro, embora boa parte não more mais no Brasil.
Um pais convulsionado pela miséria que o neoliberalismo criou vai tornar inviável os negócios dos neoliberais. Um País é um conjunto de pessoas e coletividades, não é só um mercado de câmbio e ações.
Desemprego é o fracasso cruel do neoliberalismo brasileiro
por André Motta Araújo
Política econômica se avalia pelo saldo entre custos e resultados. Por esse critério, a política econômica neoliberal que veio no pacote do PLANO REAL foi um desastre histórico na trajetória do Brasil como nação. Nunca antes se viram tantos pobres, miseráveis, desassistidos e desesperados no conjunto da população, como se vê hoje nas ruas das grandes, médias e pequenas cidades brasileiras, milhões de jovens cujo único futuro é ser entregador de pizza ou bandido, sem que a parcela da população que se isola em ilhas de vida confortável se perturbe com os miseráveis à sua volta.
A política econômica neoliberal com epicentro no Rio de Janeiro trouxe no seu conjunto as seguintes consequências:
1.DOMÍNIO DO BANCO CENTRAL PELO MERCADO FINANCEIRO
Domínio explícito demonstrado pela sistemática indicação de personagens do mercado financeiro para suas diretorias. Para confirmar o domínio do chamado BOLETIM FOCUS, onde a autoridade monetária recolhe a média das previsões dos economistas do mercado financeiro para orientar suas políticas.
A consequência é de que o Banco Central NÃO LIDERA O MERCADO, É LIDERADO POR ELE e todas as suas políticas não se endereçam aos interesses do País e do Estado nacional e sim aos interesses do mercado financeiro, desde a taxa Selic, à política cambial, à política de crédito, ao estimulo à concentração bancária.
2.PROTEÇÃO DOS ATIVOS FINANCEIROS À CUSTA DO CRESCIMENTO
O instrumento é o mecanismo de "METAS DE INFLAÇÃO” onde se privilegia A QUALQUER CUSTO SEM CRESCIMENTO a manutenção do valor dos ativos financeiros que consomem a maior parte do Orçamento da União, em pagamento de juros e seguros cambiais, variáveis que mantém constante em dólar os ativos do sistema financeiro em Reais, algo como R$ 8 trilhões, para o que o PAÍS NÃO DEVE CRESCER, porque o crescimento necessita de moeda nova e pode trazer o risco de desvalorizar a moeda velha detida pelo sistema financeiro. Para tal roteiro o Estado deve liquidar o BNDES e privatizar o que resta de suas estatais, a qualquer preço, no todo ou vendendo aos pedaços, como se faz hoje com a PETROBRAS, empobrecendo o Estado e o País e transferindo para o estrangeiro o controle da política nacional de energia e infraestrutura, criando o paradoxo de ser hoje de capital estrangeiro grande parte da indústria, energia, infraestrutura e mineração do País, enquanto os ricos brasileiros investem no exterior seus recursos, hoje brasileiros tem US$400 bilhões de dólares fora do País, recursos gerados no Brasil e transferidos para o exterior, um contrassenso que mostra ao que o neoliberalismo pode levar.
3.A PARALISIA DO CRESCIMENTO FEZ ESTAGNAR A ARRECADAÇÃO E COM ISSO A DETERIORAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS
Os serviços públicos essenciais de SAÚDE, EDUCAÇÃO, SANEAMENTO E APOIO SOCIAL AOS MUITO POBRES estão em fase acelerada de desmonte por falta de recursos, porque sem crescimento cai a arrecadação de impostos e continuam crescendo os custos de funcionamento da União, Estados e Municípios.
O sistema público de saúde está se arruinando em velocidade acelerada, as filas do SUS aumentaram muito, o nível de educação nunca foi tão baixo.
4.DESMONTE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA INDÚSTRIA, INFRAESTRUTURA, MEIO AMBIENTE, ENERGIA, TRABALHO, DEFESA, PESQUISA E CULTURA
Na visão neoliberal, políticas públicas nem devem existir porque o mercado tudo resolve. O raciocínio é falso. Nos EUA, centro da ideia de economia de mercado, o Estado tem fortíssima presença em todas as políticas públicas, os Departamentos de Trabalho e de Energia tem vastos orçamentos, a pesquisa é fortemente incentivada pelo Estado, há 11.000 estatais sob formas e denominações diversas como AUTHORITY ou BOARD que cuidam de saneamento, aeroportos, portos, rodovias, metrôs, ônibus municipais, seguros de hipotecas para moradias populares, trens de passageiros, rodovias, tudo ESTATAL.
Na Europa os sistemas de seguro saúde, educação, meio ambiente, energia, cultura, são largamente estatais, o Estado assistencial é fortemente presente, mesmo em países de economias ricas como Alemanha, países nórdicos, França, Suíça e Reino Unido.
O “neoliberalismo de exportação” que o Brasil assumiu, MESMO NOS GOVERNOS PETISTAS, foi repudiado em todo o mundo civilizado mais avançado, os países emergentes que mais crescem, como China e Índia, têm economias de planejamento sob Estados fortes e não Estados desmontados como no Brasil, onde apesar da carga fiscal ser altíssima, não tem Estado forte, o grosso da arrecadação de impostos se destina a juros da dívida pública e largos benefícios a corporações de funcionários públicos, que consomem salários e vantagens irreais e incompatíveis com a economia do País.
Não existe NENHUMA POSSIBILIDADE do Brasil voltar a crescer com um neoliberalismo tosco, provinciano, sem visão de Estado, voltado exclusivamente para o rentismo de pequena parte da população, enquanto 90% dos brasileiros veem sua qualidade de vida, e até de sobrevivência, se deteriorar ano a ano.
É impressionante que boa parte da elite brasileira não perceba o desastre visível, a olho nu, de uma política neoliberal para País pobre como algo inviável historicamente. Vargas, Juscelino, os governos militares perceberam isso, o governo FHC desprezou essa noção da realidade e criou a democracia dos banqueiros como se isso fosse o futuro do Brasil, hoje a REPÚBLICA DO FINANCISMO empobrece o País como um todo, embora alguns se saiam bem, hoje o Estado brasileiro e o conjunto da população brasileira é MAIS POBRE DO QUE HÁ DEZ ANOS, o País está empobrecendo sob o neoliberalismo.
UMA ESCOLA PRIMITIVA DE PENSAMENTO ECONÔMICO
A “Escola do Rio”, nome que dei ao pensamento neoliberal brasileiro da década de 90 (e título de meu livro sobre esse tema) é uma escola POBRE E SIMPLISTA de pensamento econômico, sem elaboração, sem renovação, sem imaginação, mera importação de meia dúzia de mantras de Madame Thatcher, que já foi post mortem suficientemente demolida no seu próprio País.
Hoje, o neoliberalismo de Mrs.Thatcher é algo maldito no Reino Unido, nas suas raízes estão a decadência industrial da Inglaterra, que levaram o País ao BREXIT. Mas, no Brasil dos “economistas de mercado”, esses dogmas continuam vivos por falta de inimigos naturais sem que seus propagandistas percebam que SEM ESTADO NÃO HÁ PAÍS SÓLIDO e, ao fim, o neoliberalismo vai destruir o próprio Estado onde esses economistas ganham dinheiro, embora boa parte não more mais no Brasil.
Um pais convulsionado pela miséria que o neoliberalismo criou vai tornar inviável os negócios dos neoliberais. Um País é um conjunto de pessoas e coletividades, não é só um mercado de câmbio e ações.
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