Em entrevista ao jornalista, escritor colombiano Plinio
Mendoza, Gabriel García Márquez, já falecido, revelou a fonte de inspiração
para escrever sua obra a um só tempo mágica e realista.
Diz ele que não inventou coisa alguma, extraiu da realidade
latino-americana a imaginação fértil, mística, exuberante do povo e os seus
subterfúgios como proteção contra o caudilhismo secular no continente, sempre
escudado pelo “grande irmão” do Norte.
Para García Márquez os ditadores que pontificaram na região
através dos tempos tinham em comum além da truculência, personalidades
delirantes e cita exemplos.
Em 1958 Pérez Jiménez fugiu da Venezuela, com o rosto inchado
por uma nevralgia horrível, e deixou na escada do avião por esquecimento uma
sacola entre as várias idênticas que levou consigo, com 11 milhões de dólares,
enquanto a Venezuela era tomada por um carnaval fora de época.
O Dr. Duvalier, o Papa Doc do sofrido Haiti, mandou
exterminar todos os cachorros pretos do País porque um dos seus inimigos, para
não ser assassinado, teria se transformado num cachorro preto.
O Dr. Francia do Paraguai, tido como filósofo por Carlyle,
fechou as fronteiras da nação irmã como uma casa, deixou só uma janela aberta
para que entrasse o correio, além disso ordenou que todo homem com mais de 21
anos devia casar.
Já o ditador teósofo Maximiliano Hernández Martínez de El
Salvador mandou forrar com papel vermelho toda a iluminação pública do País
para combater uma epidemia de sarampo e inventou um pêndulo para saber se os
seus alimentos estavam envenenados.
Juan Vicente Gómez da Venezuela tinha uma intuição incrível,
a faculdade de adivinho, porque fazia anunciar a sua morte e depois
ressuscitava.
Essa é a nossa sofrida América Latina, manancial da genial
obra literária de Gabriel García Márquez, que certamente começa a superar a
absurda tradição autoritária, com as próprias pernas, rumo a um novo ciclo de
crescimento sem as amarras colonizadoras.
Mas há uma minoria, felizmente, saudosa do cheiro da fruta
que raros desfrutavam, descrita nessa narrativa literal de o “Cheiro de Goiaba”
do escritor colombiano: a Ditadura.
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