Em
meio à profunda crise estrutural do capitalismo em sua fase neoliberal, que já
perdura por mais de três décadas no planeta, todos os olhos se voltam para a
América Latina como sinal de esperança a um mundo menos injusto, dilacerado por
guerras imperialistas, correntes migratórias atônitas de trabalhadores
desempregados, destruição da identidade dos povos etc.
Sobre
a atual situação da Europa nada mais instigante que o registro de Gabriel
Garcia Márquez, gigante da literatura universal, no prólogo aos Doze contos peregrinos, do porque teve
que refazer literalmente as anotações dos textos que compõem o seu livro.
Disse
ele que ao revisitar o Velho Mundo para atestar a realidade que fotografou em
sua mente e passou ao papel foi tomado por um impacto fulminante porque nada
mais tinha a ver com as suas recordações, a Europa atual estava tomada por uma
regressão assombrosa.
As
recordações reais lhes pareciam fantasmas da memória, enquanto que as recordações
falsas eram tão convincentes que haviam suplantado a realidade de modo que lhe
era impossível distinguir a desilusão da nostalgia, por isso que sentiu-se na
obrigação de recomeçar os contos do início, mais uma vez.
Mas o
problema é que ele escreveu isso durante os anos noventa e de lá para cá a
Europa e os Estados Unidos já ultrapassaram qualquer absurdo fantástico que uma
mente lúcida e brilhante como a de Gabriel Garcia Márquez pudesse imaginar.
Muito
menos as mudanças econômicas e geopolíticas que o planeta sofreu, de tal sorte
que a sua dolorida e sacrificada América Latina se transformasse no depositário
de transformações, laboratório de experiências sociais progressistas que sinalizam
ao mundo ocidental um bálsamo para as muitas feridas que lhe castigam.
Não
que essa América, que é a nossa, já tenha superado as seculares chagas sociais,
políticas, morais, econômicas que lhes foram impostas pelos antigos
colonizadores, depois pelas oligarquias regionais predadoras e os atuais neocolonizadores
especialmente anglo-americanos.
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