A morte de Oscar Niemeyer na noite desta quarta-feira de Dezembro gerou imediatamente um dilúvio de notícias no País e ganhou as páginas digitais dos principais órgãos de comunicação do planeta. Pode-se dizer com absoluta tranquilidade e segurança que o Brasil ficou sem a presença física de uma figura singular, um arquiteto de talento excepcional mas em compensação a eternidade ganhou um gênio universal.
Além dessa genialidade que deixou sua marca em
Brasília, no Rio de Janeiro, em Pampulha, no Memorial da América Latina em São
Paulo e tantos mais mundo afora, Niemeyer foi um comunista íntegro, firme nas
suas convicções emancipadoras denunciando as injustiças no Brasil e as incoerências
de uma civilização regressiva, totalitária, gerada pela nova ordem mundial.
Em 2003 tive o privilégio de conhecê-lo quando
secretário de cultura do Estado de Alagoas na tentativa de convencê-lo a
desenhar um memorial em homenagem à Graciliano Ramos e para minha surpresa ele
não só concordou com a ideia como disse que o faria sem cobrar um tostão do
governo alagoano. Infelizmente a ideia nunca foi posta em prática.
Mas a conversa com o arquiteto que imaginava levaria
alguns minutos em virtude da sua agenda cheia estendeu-se para nossa alegria
por quase três horas em seu escritório de amplas e sinuosas janelas com vista
para a Avenida Atlântica, Copacabana, numa manhã carioca.
Quando cheguei ao escritório, acompanhado pelos irmãos
Vitor e Vinícius Palmeira, Niemeyer dava uma espécie de palestra informal para
um bando de jovens arquitetos alemães, depois soube que aquilo fazia parte de
uma romaria internacional de estudantes,
profissionais da Arquitetura ao escritório de Copacabana.
Ficamos ali esperando o fim da palestra intermediada
por um tradutor quando Niemeyer denunciou como fascista o presidente Bush em
meio a observações sobre linhas e traços para espanto e risos nervosos dos
alemães.
Grande parte do tempo que passamos com Niemeyer o
assunto girou sobre o que achávamos da política, da vida, sobre o partido etc.
Sobre ele mesmo, coisa nenhuma, nada.
Por fim tiramos umas fotografias com uma máquina que na rua percebemos quebrada, corremos ao escritório, explicamos o constrangimento e depois de uma gostosa gargalhada, com ótimo humor, ele posou para novas fotos, uma das quais, ampliada, guardo com emoção em casa pendurada na parede do meu gabinete, para sempre.
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