sexta-feira, 10 de maio de 2013

Nossa América

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertao, no Almanaque Alagoas, no Tribuna do Agreste e no Santana Oxente:


 
Em meio à profunda crise estrutural do capitalismo em sua fase neoliberal, que já perdura por mais de três décadas no planeta, todos os olhos se voltam para a América Latina como sinal de esperança a um mundo menos injusto, dilacerado por guerras imperialistas, correntes migratórias atônitas de trabalhadores desempregados, destruição da identidade dos povos etc.

Sobre a atual situação da Europa nada mais instigante que o registro de Gabriel Garcia Márquez, gigante da literatura universal, no prólogo aos Doze contos peregrinos, do porque teve que refazer literalmente as anotações dos textos que compõem o seu livro.

Disse ele que ao revisitar o Velho Mundo para atestar a realidade que fotografou em sua mente e passou ao papel foi tomado por um impacto fulminante porque nada mais tinha a ver com as suas recordações, a Europa atual estava tomada por uma regressão assombrosa.

As recordações reais lhes pareciam fantasmas da memória, enquanto que as recordações falsas eram tão convincentes que haviam suplantado a realidade de modo que lhe era impossível distinguir a desilusão da nostalgia, por isso que sentiu-se na obrigação de recomeçar os contos do início, mais uma vez.

Mas o problema é que ele escreveu isso durante os anos noventa e de lá para cá a Europa e os Estados Unidos já ultrapassaram qualquer absurdo fantástico que uma mente lúcida e brilhante como a de Gabriel Garcia Márquez pudesse imaginar.

Muito menos as mudanças econômicas e geopolíticas que o planeta sofreu, de tal sorte que a sua dolorida e sacrificada América Latina se transformasse no depositário de transformações, laboratório de experiências sociais progressistas que sinalizam ao mundo ocidental um bálsamo para as muitas feridas que lhe castigam.

Não que essa América, que é a nossa, já tenha superado as seculares chagas sociais, políticas, morais, econômicas que lhes foram impostas pelos antigos colonizadores, depois pelas oligarquias regionais predadoras e os atuais neocolonizadores especialmente anglo-americanos.
 
Porém o que se constata até o momento é o rumo das mudanças e por isso é que existe uma febril, constante, abrasadora conspiração reacionária externa norte-americana e interna dos que só se sentem confortáveis em meio a um contexto doentio que as maiorias teimam em mudar para melhor, como um continente que se ergue por inteiro desejoso de ser um território livre e independente.

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