domingo, 1 de setembro de 2019
Economia brasileira, terra arrasada, por Andre Motta Araujo
No caminho que hoje segue, sem uma política econômica, o Brasil está rumando para o desastre social e financeiro, com ou sem recessão mundial.
Economia brasileira, terra arrasada
por Andre Motta Araujo
Antes das eleições de 2018 o programa CENTRAL DAS ELEIÇÕES da GLOBONEWS entrevistou o então banqueiro de investimentos Paulo Guedes como pré-ministro do candidato Bolsonaro. O “Posto Ipiranga” disse, aos berros e não aceitando questionamentos, que “nos primeiros seis meses de governo vou privatizar empresas e vender bens da União, arrecadando 2 TRILHÕES DE REAIS”. A afirmação era completamente estapafúrdia, alucinada, maluca, mas Guedes rispidamente NÃO ACEITOU ponderações e questionamentos da equipe de jornalistas do programa, era essa sua verdade impositiva.
MACROECONOMIA
Para gerir a política econômica de um País, especialmente de um País grande e complexo, requer-se um profissional experiente em QUESTÕES DE ESTADO. Se for economista, tem que ser versado em MACROECONOMA, o que é muito diferente de conhecer bolsa, ações, compra e venda de empresas.
No mundo dos “economistas de mercado”, aqueles que seguem o hoje desmoralizado neoliberalismo de Hayek, Thatcher e Reagan, que provocou o empobrecimento do Reino Unido e a mega crise financeira de 2008 nos EUA, mesmo entre o clube da “Casa das Garças”, o fechado círculo do neoliberalismo carioca, há nomes muito mais preparados que Paulo Guedes, elemento do baixo clero do neoliberalismo do Leblon, de pouco ou nenhum prestígio nesse círculo. Nomes como Armínio Fraga e Gustavo Franco são infinitamente mais experientes que Guedes para pilotar a economia de um País, abstraindo a minha completa discordância com o pensamento neoliberal esgotado da PUC-Rio, escrevi até um livro crítico sobre isso.
A relação entre MACRO E MICROECONOMIA é a mesma que existe entre veterinário, enfermeiro e cardiologista. Todos lidam com sangue, agulhas e termômetros, mas suas funções são completamente diferentes. O MACROECONOMISTA tem a visão do todo, dos conjuntos, dos problemas da produção, é um profundo conhecedor de POLÍTICAS PÚBLICAS, daquelas que dependem das funções de Estado e não de mercado. Este é parte, e não o fim, de uma política econômica, onde há conflito de interesses permanente, e cabe ao Ministro arbitrar o conflito distributivo, com atenção ao social.
Já o MICROECONOMISTA tem um campo bem mais restrito que não serve para dirigir a política econômica de um grande País. É o caso de Guedes.
A AUSÊNCIA DE POLÍTICA ECONÔMICA
Pela primeira vez, desde 1930, o governo brasileiro não tem nenhuma política econômica para o semestre, para o ano, para o mandato até 2022.
Não há nenhum plano coerente, com medidas que se inter-relacionam, com providências coordenadas, com uma visão de conjunto que tenha um objetivo definido, com meios e metas. Cortar gastos, e muito mal cortados, apenas no lado dos mais fracos e desassistidos, vender todos os bens da União, isso não é um plano econômico, não chega a nenhum lugar que faça alguma lógica para um País com um terço da população desocupada e sem renda.
Reformas por si só não são um plano econômico, mesmo porque seus resultados só emergem no longo prazo e não tem o condão de, isoladamente, promover crescimento. Reformas são, ao fim, reajustes e redistribuição de renda produzida, e não geram renda nova, falta o motor do crescimento.
Acreditar que o mercado, por si só, resolva o problema do desemprego e do crescimento é uma fantasia. TODOS os grandes emergentes têm planos governamentais macroeconômicos através de políticas públicas e a política monetária é parte desse plano macro. Nenhum grande País, mesmo rico, confia cegamente no mercado para puxar a economia, nem os EUA e nem a União Europeia, muito menos China, Índia e Russia.
As políticas monetárias de quantitative easing na Europa, Japão e EUA são a fórmula proativa que se pratica para estimular o crescimento e evitar a recessão.
AUTOMÓVEL NÃO SAI DO LUGAR SEM COMBUSTÍVEL, ECONOMIA NÃO SAI DO LUGAR SEM DINHEIRO
Criar DEMANDA, algo que Keynes já sabia há 100 anos, é o único caminho para sair da recessão. Reformas não têm essa função.
Há espaço no Brasil para um plano de infraestrutura financiado pela emissão de R$2 trilhões de moeda, sem causar inflação, desde que espaçado em 4 anos, com gestão dia a dia. Há capacidade ociosa em ativos de produção e mão de obra para absorver demanda nova criada por moeda nova.
Mas para operar uma política de estímulos monetários é fundamental o MAESTRO para calibrar gota a gota o estímulo, um processo de ajuste diário entre a moeda estimulante, câmbio, produção e inflação, aquilo que Alan Greenspan fez no FED por duas décadas, não é por acaso que sua maior biografia tem o título de MAESTRO, é o controle do ajuste fino hora a hora entre moeda, produção e emprego, política fiscal e câmbio.
A FORMAÇÃO DO CONSENSO
Nos anos do regime militar de 1964, com poderosos Ministros da área economia, NUNCA UM SÓ, havia um mecanismo para gerar consenso e minimizar erros, o CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL, com representação da produção, do sistema financeiro e do Governo, para se ter um olhar múltiplo sobre a política econômica, para evitar que um comandante sozinho afunde o navio porque ninguém lhe contesta. Nos EUA, igualmente, há um COUNCIL OF ECONOMIC ADVISERS, o Conselho dos Assessores Econômicos da Presidência para ter uma visão ALÉM do Secretário do Tesouro e do banco central, são economistas independentes de primeira linha que não fazem parte do Governo. Mesmo no Sistema da Reserva Federal, seu Conselho (Board) é composto por sete professores de economia de escolas diversas, para um só não errar sozinho, todos sistemas para evitar o comandante maluco afundando o navio por falta de contraponto, exatamente o erro que hoje estamos cometendo no Brasil com APOIO DO MERCADO e da MÍDIA.
Não há nessa não política um fiapo de olhar para os 180 milhões de pobres, miseráveis, desempregados. Ao contrário, todas as medidas levam a deles exigir mais sacrifícios do que já suportam, poupando os 30 milhões que estão razoavelmente bem no rentismo estatal de juros ou supersalários.
Na CRISE FISCAL HÁ UM MAR DE DESPERDÍCIOS, título de meu próximo artigo, corta-se para baixo e não para cima.
TERRA ARRASADA
No caminho que hoje segue, sem uma política econômica, o Brasil está rumando para o desastre social e financeiro, com ou sem recessão mundial. O debate econômico está suspenso pelos “economistas de mercado”, cuja bíblia, o BOLETIM FOCUS, é campeão mundial de erros de previsão, sempre erram para cima, na semana seguinte a realidade corrige o erro sem fim, gente correndo às cegas sem achar a porta de saída.
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