Meu novo artigo:
Estamos vivendo uma época plena do fenômeno da pós-verdade, que não se iniciou ontem, já faz um certo tempo. Daí que assistimos correntes de opiniões lastreadas nessa construção nefasta em todos os sentidos.
Porque nele o que importa não é a veracidade sobre a realidade propriamente dita, mas a versão que se faz dela, daquilo que interessa acreditar, do que é útil a essa ou àquela linha de pensamento, ou de um determinado grupo político.
É uma ilusão achar que a pós-verdade se restringe ao pensamento, às ideias, ela age em todos os sentidos, e é possível afirmar que através dela pode se ganhar ou perder o poder político, portanto, interage com os interesses econômicos e os fatores sociais.
Existem várias correntes de opinião pública conduzidas por “ideologias” formuladas em meio a fantasias teóricas e políticas, que não se sustentam na análise concreta da realidade concreta. É como se fosse uma nova forma de teologia.
Porém, a teologia não pretende abarcar o ramo do concreto, mas da subjetividade relativa “à infinitude do ser”, mesmo que ela recorra aos fatos Históricos e alguns ramos da ciência.
Já a pós-verdade intervém de maneira direta no mundo concreto e material da política, nas relações de produção, nos conflitos sociais. Por isso, o que importa é “a minha verdade”, conforme os “meus interesses ou do meu grupo”.
Dessa maneira a pós-verdade tem algo de um messianismo pagão, que pode resvalar facilmente ao campo do fanatismo e, em consequência, à aversão agressiva contra todos os que não se enquadrem nos critérios da sua interpretação da realidade, com o prejuízo da comprovação do experimento científico dos fatos em discussão.
Constituem-se assim, em muitos casos, uma legião de ativistas embalados por uma paixão e um conjunto de ideias e éticas, mas sempre decepcionado com o mundo ou o seu País, já que elas não são realizáveis ou compatíveis com os dados da vida concreta.
A pós-verdade é, dessa maneira, a desrealização quanto ao mundo, e de um ativismo individual e coletivo, paradoxalmente, cheio de energia combativa e ao mesmo tempo depressivo, o que conduz quase sempre a um processo de vitimização do grupo de ativistas em relação ao conjunto da sociedade.
Não se pode afirmar, é certo, que as consequências da pós-verdade não sejam democráticas, porque elas atingem hoje tantos setores à direita quanto à esquerda que, quase sempre, buscam polarizar a sociedade, provocando muitas vezes enormes malefícios a essa última.
Nesse sentido, a pós-verdade traz um grande prejuízo à lucidez individual e coletiva, pode acarretar, dependendo da situação e do contexto, um perigo à construção elevada dos valores nacionais, democráticos, à convivência social. O Brasil, encontra-se contaminado por formas de delírio cuja origem vem desse fenômeno nocivo, a pós-verdade.
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