segunda-feira, 3 de dezembro de 2018
Rumos de uma política externa, por André Araújo
Política externa parte de sinais indicativos que um novo governo apresenta ao mundo. Nesse sentido, e muito antes que necessário, o novo governo a se instalar em Janeiro aponta rumos que produzirão consequências previsíveis. Quais são elas:
1. Afastamento do Brasil das históricas boas relações com a ARGENTINA, que vem sem maiores tropeços desde os anos 50, culminaram com o Acordo do Mercosul entre os Presidentes Alfonsin e Sarney, tão importante que os passaportes dos quatro participantes têm no topo da capa o nome MERCOSUL.
As economias do Brasil e Argentina estão razoavelmente integradas com montadoras de automóveis no Brasil dimensionadas em função do Mercosul.
2. Congelamento das relações do Brasil com a UNIÃO EUROPEIA pela negação dos acordos climáticos, de transcendental importância no contexto europeu.
Essa movimentação trará evidentes barreiras às exportações brasileiras, especialmente de proteína animal, que já são difíceis para esse grande mercado.
3. Distanciamento que poderá levar ao rompimento da aliança do Brasil com o GRUPO BRICS, constituído pelos grandes países que se contrapõem à política externa dos Estados Unidos. O Brasil é fundador e dá a primeira letra do bloco, um desligamento significará uma diminuição evidente da importância do País.
A adesão incondicional do Brasil à política externa americana é uma negação da própria razão do BRICS e o Brasil perde a lógica de estar no grupo.
4. Uma óbvia ruptura com o MUNDO ÁRABE em função de uma aproximação desnecessária com a política externa israelense, colocando em risco vários interesses do Brasil conquistados na região desde o Governo Geisel, quando o Iraque salvou o Brasil com fornecimento de petróleo a crédito, recebedo em produtos brasileiros e obras executadas pela engenharia brasileira. Um capital político de 40 anos colocado em risco real, as exportações de proteína animal do Brasil para o mundo árabe garantem, por baixo, 160.000 empregos no Brasil. Os árabes são emocionais e costumam reagir ao que consideram ofensas.
5. Finalmente, adesão indiscriminada e incondicional da política externa brasileira à Washington, NÃO COM OS EUA como País e sim com o PRESIDENTE TRUMP, é uma adesão ideológica aos que consideram serem as teses anti-globalistas e fundamentalistas desse Presidente que vêem como companheiro.
Trump já caminha pela segunda metade do mandato e a cada dia suas chances de reeleição diminuem. As investigações do Promotor independente Robert Mueller avançam e agora descobre-se que a Organização Trump, antes da eleição do atual Presidente, propos ao Presidente da Rússia, Putin, a construção de uma Trump Tower de apartamentos de luxo em Moscou. Por tal projeto Trump foi várias vezes a Moscou, assim como o filho, seu genro e filha. Putin deveria fornecer o terreno, as licenças e o financiamento e receberia de presente um apartamento de 50 milhões de dólares na torre.
Este caso está na mídia americana deste o início da semana em grandes matérias de jornais e noticiários de TVs. Mais desgaste para um Trump atacado.
No próprio Partido Republicano, o capital político de Trump está em queda livre, especialmente após a derrota nas eleições para a Câmara.
Atrelar a política externa brasileira gratuitamente a esse personagem significa que haverá um reverso se um Presidente do Partido Democrata for eleito em 2020, quando o Governo Bolsonaro ainda terá 2 anos à frente. A política externa da Presidência Trump é considerada um grave desvio até por grande número de Republicanos, o Brasil está se vinculando a essa política cujo fracasso é apontado pela elite política e empresarial americana. A política externa de Trump tem oposição quase total no Departamento de Estado e no "establishment" de relações exteriores dos Estados Unidos.
Mais ainda, não há segurança alguma de que o Governo Trump dê valor a essa adesão gratuita do Brasil. A Colômbia foi eleita pelo Governo Trump como parceiro preferencial dos EUA na América do Sul. Nenhum gesto do Presidente Trump demonstrou maior crédito a essa adesão, se o Brasil não atender ao que os EUA quer que o Brasil faça na Venezuela, de nada valerá a submissão do Brasil. Americanos são frios e objetivos, não se comovem por amizade.
Uma política externa de um grande País não pode se atrelar ao Presidente de outro País. Isso nunca aconteceu na diplomacia brasileira, que sempre preservou sua capacidade de manobra no complicado contexto da geopolítica mundial porque o interesse de uma semana pode ser outro na semana seguinte. E mesmo entre aliados há divergências em temas, não existe aliança incondicional em política externa, nem em tempos de guerra.
O caminho que se aponta para a política externa brasileira pode ser o caminho do abismo para os interesses geopolíticos brasileiros a longo prazo, levando o Brasil a um inédito isolamento diplomático que trará evidentes reflexos na economia e na visão sobre o País no mundo.
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