quinta-feira, 18 de abril de 2019

O homem que inventou o Brasil

Prefácio de Aldo Rebelo para o livro O Homem que inventou o Brasil – Um retrato de José Bonifácio de Andrada e Silva, de Geraldo Luís Lino


Em 2022, o Brasil completará duzentos anos de sua emancipação política. A celebração do acontecimento realçará os seus construtores, entre os quais se eleva a figura grandiosa de José Bonifácio de Andrada e Silva, acertadamente cognominado de Patriarca da Independência.

A inteligência e sagacidade criadora de José Bonifácio tornaram possível o improvável, encurtaram a distância entre a estratégia e a tática, amalgamaram no mesmo objetivo vontades díspares e espíritos aparentemente indomáveis.

Radicais republicanos, vocações jacobinas que viam no modelo da Revolução Francesa o caminho para o Brasil, aceitaram a monarquia centralizada como a fórmula capaz de reunir as energias espirituais e materiais em torno do projeto da Independência.

A combinação magistral de requisitos aparentemente contraditórios, mas essenciais para as grandes empresas, estava condensada na personalidade gigantesca de José Bonifácio. A dosagem exata de audácia e prudência, a medida certa de paciência e iniciativa, a percepção acurada da correlação de forças no Brasil daqueles dias turbulentos, vis-à-vis com a análise correta dos grandes interesses na arena internacional.

Só um espírito superior arrostaria com ambição tão grandiosa: conservar a unidade territorial de um continente, a América Portuguesa, em uma época de fragmentações territoriais nos processos de descolonização; e ao mesmo tempo instalar uma monarquia constitucional, quando o mundo festejava o ideal republicano referenciado na mais promissora das repúblicas, os Estados Unidos da América. A genialidade de Bonifácio se afirmou na negação da cópia dos modelos da época e na busca de um caminho próprio, que preenchesse as condições e as necessidades do Brasil de seu tempo. O pensamento do Patriarca guarda grande atualidade, quando hoje, no Brasil, direita e esquerda nada mais fazem que tentar reproduzir, em diferentes planos, padrões ideológicos e culturais importados da grande nação do Norte.

Foi efêmero o tempo de Bonifácio no governo. A grandeza de sua presença reside mais no roteiro, no caminho, na agenda, nos apontamentos que deixou para um projeto nacional que tornasse o Brasil grande, respeitado, pacífico, amigo de seus vizinhos e cordial com todos os povos; politicamente democrático e socialmente avançado e justo.

A desorientação que preside o debate sobre os rumos do Brasil, na atualidade, quando a agenda do interesse nacional e coletivo foi secundarizada por quase todos os agentes políticos, em benefício do cosmopolitismo e do individualismo, requer como recurso emergente a restauração dos sonhos do Patriarca.

A grande Nação mestiça forjada por índios, europeus e africanos, e depois pela contribuição asiática, foi vista sempre com esperança por todo o mundo. Quando a Europa estremecia sob o impacto das guerras e da fome, os portos da América e do Brasil apareciam como promessas de uma vida renovada. Assim foi durante séculos. Stefan Zweig cunhou a expressão “Brasil País do Futuro”, para o livro generoso e verdadeiro que escreveu sobre o País.

Geraldo Luís Lino presta um relevante serviço, ao exaltar no perfil biográfico de José Bonifácio a sua qualidade maior de patriota extremoso e dedicado. Talvez, seja exatamente este, o patriotismo, o sentimento mais necessário e, quem sabe, o único com capacidade de reduzir o coeficiente de atrito entre classes, corporações e grupos sociais que se agitam em busca de objetivos próprios, desprezando os interesses comuns.

Leiamos o trabalho de Geraldo Luís Lino e que ele reavive em todos nós o respeito e a gratidão pela obra de José Bonifácio, e que façamos dele a referência segura e permanente de amor ao Brasil e ao povo brasileiro.

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