segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Cântico de natal às crianças desvalidas

Da amiga Terezinha Rocha de Almeida, médica e poetisa, recebi este belo poema:



Não vos falarei de coisas agradáveis.
Eu tocarei nas vossas e nas nossas chagas,
Falarei-vos dos nossos anjos de palha,
Dos bibelôs quebrados
E das borboletas abatidas em pleno voo.

Dirás que nada tendes com isso,
E eu direi que tendes sim!
Por que silenciamos
E fechamos os olhos diante
De suplício tão medonho?

Por que nos iludimos com nossas fantasias
E nos refastelamos com os prazeres do mundo?
Sim. Você dirá que é preciso viver,
Curtir a vida e que carecemos de prazer.

Sim, é verdade. Queremos todos ser felizes
Porém como seremos felizes com tantas rosas despedaçadas?
Com tantos frutos que não vingaram?
Manhãs que não brotaram em dia,
Noites que não se fizeram auroras?

Que dirás das primaveras que se cobriram de inverno?
Dos outonos sem colheita, dos verões abortados e dos invernos em trevas mergulhados?
Todos os dias mãos esquálidas são mutiladas pelo trabalho, crianças-cordeiro são imoladas, vidas que rebentam são sufocadas,
Estrelas que rutilam são apagadas.

Acendamos, então, nossas chamas.
Cultivemos nossas flores, alumiemos nossas estrelas.
Troquemos por seda nossos farrapos. Vistamos as fantasias, dancemos ciranda, cantemos o pastoril com o azul e o encarnado, harmoniosos e irmanados.
Seremos felizes? Quem sabe?
Entre lágrimas e risos viveremos, com a faina e a festa compartilharemos e em cacos de luz a solidariedade brindará.


Terezinha Rocha de Almeida
Maceió, 02.11.2000, concluído em 08/12/2010

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