sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Um projeto de nação

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão e no Almanaque Alagoas:


Muitos de nós temos a devida clareza sobre o atual momento em que vive o País de persistente crescimento econômico, a incorporação de dezenas de milhões de brasileiros no mercado de trabalho, o acesso em massa a bens de consumo jamais imaginado pelas maiorias.

Com a multiplicação da massa salarial houve o aquecimento do comércio e da indústria. Além disso, as nossas exportações avançaram nesses últimos nove anos fazendo com que o PIB tenha aumentado substancialmente.

O Brasil vive uma época de respeitáveis índices de crescimento econômico (apesar da crise internacional do capitalismo) e da presença do Estado nacional em suas responsabilidades indeclináveis interrompendo, em parte, uma tendência de ortodoxia neoliberal que durou oito anos.

Mas as heranças da época hegemônica das políticas do novo liberalismo ortodoxo não desapareceram em aspectos decisivos dos fundamentos da economia e esses entulhos têm dificultado um salto em relação a um novo e mais avançado ciclo Histórico brasileiro.

A dificuldade torna-se maior quando associamos esses entraves estruturais à ausência de imprescindíveis valores políticos, culturais e ideológicos.

É preciso muita relativização das coisas para não se constatar que além do chamado "ciclo virtuoso" econômico existe uma sociedade se expandindo de maneira estabanada meio sem lenço e sem documento.

As políticas governamentais contra óbvias enfermidades sociais vão se mostrando paliativas e meramente compensatórias para males que se agravam como o aumento da violência generalizada, o lucrativo negócio das drogas pesadas, problemas em educação, saúde pública etc.

A opinião da maioria do povo brasileiro é que a nação jamais deve retornar às nefastas políticas neoliberais de ontem mas isso é pouco para enfrentar manifestações perversas no tecido social, várias delas impostas ao povo brasileiro através de valores culturais importados do que é pior entre as nações imperiais em declínio.  

Se não houver edificação ideológica, cultural de uma sociedade progressista, solidária, humanista, podemos nos transformar num País economicamente próspero mas regido pela lei do cão, do cada um por si do  mais predador dos capitalismos dessa nova ordem mundial.

O projeto de nação do povo brasileiro reivindica a unidade dos trabalhadores, a luta engajada da juventude na construção de uma nova cultura política libertária e transformadora.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Encruzilhadas

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão e no Almanaque Alagoas:


O redirecionamento, em parte, das orientações neoliberais na economia brasileira associado ao processo de crescimento econômico do País vem provocando nos últimos nove anos modificações  na realidade nacional.

Esse crescimento tem possibilitado uma expressiva geração de emprego e renda incorporando dezenas de milhões de brasileiros ao mercado de trabalho criando uma massa salarial que vem dinamizando os diversos segmentos produtivos, impulsionando fortemente o consumo.

Ao mesmo tempo os produtos primários que o Brasil exporta, especialmente os agrícolas, valorizaram-se substancialmente configurando uma permanente fonte de divisas associada à intensificação de parcerias comerciais, com a China por exemplo, que tem ampliado o escoamento da nossa produção.

A alteração da realidade econômica sul-americana que vem se caracterizando por contínuas taxas de crescimento deu impulso à integração continental ensejando mais ainda a liderança regional brasileira.

Tudo isso e um conjunto de outros fatores positivos tem mostrado que o Brasil vem sendo beneficiado por situações especialmente favoráveis nesse novo cenário econômico internacional.

Nesse contexto evidencia-se uma mudança de atitudes em relação ao papel estratégico do Estado nacional, o empenho na defesa da competitividade dos nossos produtos no mercado externo assim como a implementação de políticas sociais que tem provocado significativas alterações nos trágicos indicadores sociais de pobreza.

Mas é verdade também que os nosso gargalos econômicos são de natureza estrutural porque jamais algum País conseguiu alcançar o desenvolvimento sem investimentos prioritários, de longo curso, em ciência, tecnologia de ponta, infra-estrutura, saúde e educação em geral.

O crescimento nacional tem sérios problemas em seus fundamentos econômicos porque ele se encontra imbricado ao capital rentista criando graves dificuldades, a exemplo das absurdas taxas de juros e das tendências de desindustrialização do parque produtivo nacional.

O País ainda não tem um projeto de sociedade, de civilização mesmo, e não vem reunindo as condições subjetivas essenciais para tanto. Encontra-se vulnerável em relação ao bombardeio político e ideológico do complexo midiático hegemônico mundial, e congêneres nativos, associados ao capital financeiro internacional promotores dessa "nova ordem mundial" inimiga das nações e dos povos.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Frei Betto: O novo fetiche

No Vermelho o texto de Frei Betto:


A modernidade, período que se estendeu pelos últimos cinco séculos, está em crise. Vivemos, hoje, não uma época de mudanças, mas uma mudança de época. No milênio que começa emerge algo imprecisamente chamado de pós-modernidade, que se insinua bem diferente de tudo o que nos antecedeu, imprimindo novo paradigma.


Por Frei Betto

Na Idade Média, a cultura girava em torno da figura divina, na idéia de Deus. Na modernidade, centra-se no ser humano, na razão e em suas duas filhas diletas: a ciência e a tecnologia.

Um dos símbolos que melhor expressa esta passagem é a pintura de Michelangelo – A criação de Adão - no teto da Capela Sistina: Deus Pai, de barba longa, todo encoberto de mantos, representa o teocentrismo da época perante o homem desnudo, fortemente atraído para a Terra. O homem estende o dedo para não perder o contato com o transcendente, com o divino. A desnudez de Adão traduz o advento do antropocentrismo e a revolução que a modernidade representou em nossa cultura.

Episódio característico da modernidade ocorreu em 1682, quando mister Halley, baseado exclusivamente em cálculos matemáticos - pois não dispunha de instrumentos óticos -, previu que um cometa voltaria a aparecer nos céus de Londres dentro de 76 anos. Na ocasião, muitos o consideraram louco. Como, fechado em seu escritório, baseado em cálculos feitos no papel, poderia prever o movimento dos astros no céu? Quem, senão Deus, domina a abóbada celestial?”.

Mister Halley morreu em 1742, antes de se completarem os 76 anos previstos. Em 1758, o cometa, que hoje leva o seu nome, voltou a iluminar os céus de Londres. Era a glória da razão!

“Se é assim,” disseram, “se a razão é capaz de prever os movimentos dos astros como demonstraram Copérnico e Galileu - e depois Newton, um dos pilares da nossa cultura -, então ela haverá de resolver todos os dramas humanos! Porá fim ao sofrimento, à dor, à fome, à peste. Criará um mundo de luzes, progresso e felicidade!”

Cinco séculos depois, o saldo não é dos mais positivos. Muito pelo contrário. Os dados são da FAO: somos 7 bilhões de pessoas no planeta, das quais metade vive abaixo da faixa da pobreza, e 852 milhões sobrevivem com fome crônica.

Há quem afirme que o problema da fome é causado pelo excesso de bocas. Em função disso, propõe o controle da natalidade. Oponho-me ao controle, e sou favorável ao planejamento familiar. O primeiro é compulsório, o segundo respeita a liberdade do casal. E não aceito o argumento de que há bocas em demasia. Nem falta de alimentos. Segundo a FAO, o mundo produz o suficiente para alimentar 11 bilhões de bocas. O que há é falta de justiça, de partilha, e excessiva concentração da riqueza.

Por atravessarmos um período de muita insegurança, as pessoas buscam respostas fora do razoável. Observe-se, por exemplo, o fenômeno do esoterismo: nunca Deus esteve tão em voga como agora. Suscita paixões e fundamentalismos, a favor ou contra.

A crise da modernidade culmina no momento em que o sistema capitalista alcança a sua suprema hegemonia com o fim do socialismo, e adquire um novo caráter, chamado de neoliberal.

Quais as chaves de leitura dessa mudança do liberalis­mo para o neoliberalismo? Sob o liberalismo, falava-se muito em desenvolvimento. Na década de 1960, surgiu a teoria do desenvolvimento, que incluía também a noção de subdesenvolvimento; criou-se a Aliança para o Progresso, destinada a “desenvolver” a América Latina.

A palavra ‘desenvolvimento’ tem certo componente ético, porque ao menos se imagina que todos devem ser beneficiados. Hoje, o termo é ‘modernização’, que não tem conteúdo humano, mas sim forte conotação tecnológica. Modernizar é equipar-se tecnologicamente, competir, lograr que a minha empresa, a minha cidade, o meu país, aproximem-se do paradigma primeiro-mundista, ainda que isso signifique sacrifício para milhões de pessoas.

O Mercado é o novo fetiche religioso da sociedade em que vivemos. Outrora, pela manhã nossos avós consultavam a Bíblia. Nossos pais, o serviço de meteorologia. Hoje, consultam-se os índices do Mercado...

Diante de uma catástrofe, de um acontecimento inesperado, dizem os comentaristas econômicos: “Vamos ver como o Mercado reage”. Fico imaginando um senhor, Mr. Mercado, trancado em seu castelo e gritando pelo celular: “Não gostei da fala do ministro, estou irado.” E na mesma hora os telejornais destacam: “O Mercado não reagiu bem frente ao discurso ministerial”.

O mercado é, agora, internacional, globalizado, move-se segundo suas próprias regras, e não de acordo com as necessidades humanas. De fato, predomina a globocolonização, a imposição ao planeta do modelo anglo-saxônico de sociedade. Centrado no consumismo, na especulação, na transformação do mundo em cassino global.

Diante da crise financeira que afeta o capitalismo e, em especial, direitos sociais conquistados nos últimos dois séculos, é hora de se perguntar: qual será o paradigma da pós-modernidade? Mercado ou a “globalização da solidariedade”, na expressão do papa João Paulo II?

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Portugueses e gregos vão às ruas em luta


Os sítios nacionais de notícias na internet publicam, sem grande destaque, em suas seções de economia, notícias a respeito das manifestações na Grécia e Portugal contra os pacotes impostos em troca dos empréstimos para o resgate financeiro de suas economias.

Em Portugal cerca de trezentas mil pessoas se manifestaram neste sábado em Lisboa contra a reforma trabalhista do Governo português convocadas pelo maior sindicato do país, a Confederação Geral de Trabalhadores Portugueses (CGTP), sendo considerado o maior protesto realizado na capital lusa nos últimos 32 anos.

O protesto se transformou em uma passeata contra o amplo programa de ajustes adotado pelo Executivo português e que supera inclusive as medidas pactuadas com a União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) como contrapartida por sua ajuda financeira. A nova legislação inclui a redução de férias, a supressão de feriados e um rebaixamento do pagamento de horas extras. Também serão cortadas significativamente as indenizações por demissões, que passam de 30 dias por ano trabalhado para entre oito e 12 dias.

O protesto fechou o tráfego e percorreu o centro de Lisboa até a Praça do Comércio, às margens do rio Tejo. Na Praça do Comércio, o secretário-geral da CGTP tomou a palavra para prometer que a central sindical lutará contra esta reforma trabalhista. Em seu discurso, exigiu ao Executivo a atualização do salário mínimo, estabelecido agora em 485 euros mensais, quantidade que segundo seus dados recebem cerca de 400 mil trabalhadores portugueses. "Se levamos em conta os 11% que cada empregado desconta para o Seguro Social, o salário líquido fica em 432 euros, quando a linha de pobreza se situa em 434 euros", denunciou o sindicalista.


Na Grécia, a praça Syntagma, em frente ao Parlamento grego, é palco de protestos neste domingo. Os legisladores do país estão reunidos para decidir se vão aceitar severas restrições para receber uma ajuda de credores internacionais. As exigências para o empréstimo incluem cortes no orçamento, mudanças legais para facilitar demissões, redução de 22% no salário mínimo e garantias políticas de que os acordos serão cumpridos.

Se o pacote for aprovado, a população grega deve enfrentar mais cortes de empregos e reduções nos salários. Nos últimos meses, aposentadorias foram cortadas e o governo anunciou a demissão de mais de 15 mil funcionários públicos. As demissões entram no contingente de 150 mil postos de trabalho que a Grécia deve reduzir no setor público até 2015, para agradar os credores.

Uma importante associação da Polícia grega exigiu nesta sexta-feira que sejam emitidas ordens de detenção contra os representantes da troika pelas acusações de extorsão e outros delitos contra a soberania nacional. O pedido é da Federação Pan-helênica de Oficiais de Polícia (POASY), em carta que fez referência aos três representantes da chamada troika na Grécia: Poul Thomsen, do Fundo Monetário Internacional (FMI); Servaz Deruz, da Comissão Europeia e Klaus Mazuch, do Banco Central Europeu (BCE).

"Ficam avisados que, como representantes legítimos da Polícia Grega, pedimos que sejam emitidas ordens de prisão contra os senhores por uma grande quantidade de delitos contemplados pela legislação e de acordo com o Código Penal grego", afirma a carta.

Concretamente, os policiais acusam os representantes da troika de “extorsão", "promoção encoberta da eliminação ou redução de políticas democráticas e da soberania nacional" e "interferência em processos legais essenciais" do Estado. A POASY pede "políticas programáticas que guardem os interesses dos trabalhadores" e que o interesse dos "agiotas" "não seja posto acima das necessidades básicas do povo".

O sítio português ODiario.info destaca a manifestação em Lisboa:


Terreiro do Povo, Portugal do Povo

A manifestação nacional convocada pela CGTP para hoje, 11 de Fevereiro, trouxe a Lisboa mais de 300 mil manifestantes. Mas o seu significado excede em muito essa impressionante dimensão quantitativa.

Em primeiro lugar pela invulgar participação: pode dizer-se que nela estiveram representadas, no fundamental, todas as classes e camadas que a política da troika estrangeira, servilmente subscrita e executada pela troika nacional, atinge e agride. Trabalhadores de todos os setores de atividade, de todas as regiões do continente, de todas as idades. Trabalhadores manuais e trabalhadores intelectuais. Homens, mulheres, jovens. Com um traço relativamente invulgar: enquanto a enorme massa humana se deslocava pelas ruas da Baixa o número de espectadores nos passeios era bastante reduzido, ao contrário do que é habitual em ações semelhantes. Nesta grandiosa manifestação ninguém quis ficar de fora: todos foram participantes.

O discurso do novo Secretário-Geral da CGTP foi escutado com intensa participação e aprovação. Foi o porta-voz das justas reivindicações populares. Foi calorosamente apoiado nomeadamente quando manifestou a determinação da Central Sindical em prosseguir e ampliar a luta até à derrota da política antinacional que o governo e o patronato conduzem; quando denunciou o “acordo de concertação social” - subscrito pelo patronato, pelo governo do patronato e pela central “sindical” amarela do patronato - como o mais violento ataque contra os direitos sociais e laborais empreendido desde o tempo do fascismo; quando reafirmou que, em poucas circunstâncias históricas como a atual é tão nítida a coincidência entre os interesses dos trabalhadores e do povo e o interesse nacional. O grito “A Luta Continua!” ecoou com inabalável determinação.

Poderá o governo (vigorosamente vaiado) imaginar que será capaz de ignorar esta imensa força popular. Poderá imaginar que o apoio popular que não tem poderá ser compensado pelo apoio do grande capital. Que a vergonhosa obediência às ordens da troika estrangeira lhe assegurará a permanência no poder.

Mas convém que guarde na memória o dia 11 de Fevereiro de 2012. É o dia em ganhou uma nova energia o movimento do povo que, tarde ou cedo, o conduzirá à derrota.

Os Editores do odiario.info

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Rio de todos os Brasis

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho e na Tribuna do Sertão:


No dizer de Carlos Lessa o Rio de Janeiro encontra-se no imaginário do brasileiro como a síntese de características e potencialidades nacionais, espaço aberto a todos que lá chegados seriam cariocas, muito mais um estado de espírito que a dependência de naturalidade.

A década de noventa caracterizada pela hegemonia absoluta e a intervenção avassaladora do neoliberalismo no Brasil feriu a face do brasileiro e também deixou a cidade maravilhosa estagnada, com perda de auto-estima.

Apesar das alterações econômicas e políticas atuais a nova ordem mundial continua determinando ideologicamente, culturalmente, as práticas neoliberais através da chamada governança global e da hegemonia midiática internacional.

Mas eis que nesta semana assisti ao incrível documentário "As batidas do Samba" uma reflexão sobre o Rio de Janeiro, o samba, as suas raízes lá do tempo da escravidão, da resistência nas senzalas e como foi desenvolvendo suas maneiras cosmopolitas.

Incorporando, em magistral sincretismo, outras tendências musicais até se transformar em uma das fundamentais manifestações do povo carioca e um verdadeiro itinerário da construção de uma cultura genuinamente popular com os seus mestres guardiões da mais autêntica identidade nacional.

Com os depoimentos de Monarco, Ismael Silva, Wilson das Neves, Marçalzinho, Moacyr Luz, histórias sobre Noel Rosa, Pixinguinha, Donga, Cartola, Bide, mestre Marçal e a beleza plástica dos ritmos, da paisagem do Rio.

Os testemunhos como o de Monarco de que "a força do povo não tem prazo de validade", uma cultura que sobreviveu a inúmeras perseguições, discriminações de toda ordem até se afirmar incontestável em linguagem e estilo de vida.

Atualmente o Rio passa por grandes transformações, "um verdadeiro canteiro de obras" gerando emprego, renda, no curso de dois mega eventos mundiais.

Mas cercada por decretos, leis, esquemas internacionais de repressão, "controle social" e tantos outros que tendem a enquadrá-la definitivamente em uma cidade da artificiosa globalização.

O preço a pagar por esse tipo de desenvolvimento será o distanciamento desse Rio enfatizado por Carlos Lessa, apartado das suas identidades e raízes populares, uma rara especiaria a ser consumida por uma elite mundial privilegiada. O que vai implicar na continuidade histórica da resistência cultural e política do povo carioca.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O capitalismo verde

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho e na Tribuna do Sertão:


A degradação ambiental é uma realidade em grande parte dos países com a proliferação de grandes concentrações de lixo a céu aberto, especialmente entre as nações do terceiro e quarto mundos.

Para a superação dessa realidade resultante de uma sociedade com altíssimos índices de consumo é necessária uma estratégia de planejamento urbano associada a políticas de proteção ambiental.

Mas eis que assistimos através da grande mídia hegemônica uma dessas famosas apresentadoras de televisão decretando que as sacolas de plástico de supermercado serão proibidas inicialmente em São Paulo e posteriormente por todo o território nacional.

O que implica que seja aprovada uma legislação federal sobre a matéria plenamente respaldada pelas normas constitucionais.

Mas como vem acontecendo em todas as questões, primeiro o complexo midiático hegemônico mundial, e congêneres nacionais, "legislam" sobre o assunto com intenso fogo de barragem publicitário e depois, sob coerção política, que se façam as leis.

Assim é que na coluna dos leitores da Gazeta de Alagoas uma senhora emitiu a sua opinião afirmando que o plástico tem sido usado desde os anos trinta do século passado como uma realidade que a sociedade moderna não pode abrir mão.

Presente numa imensa cadeia de coisas, desde as simples embalagens até às sofisticadas, complexas e resistentes engrenagens de alta precisão, na indústria automobilística, aeronáutica etc. Podemos acrescentar a essa infindável lista a medicina e quase todos os ramos da atividade humana.

A utilização do plástico resolveu muitos problemas para a humanidade e o seu manejo inadequado acarretou outros tantos. E dando como certa a sua extinção ela pergunta o que vai substituir as sacolas plásticas.

Na verdade o que há é uma tendência de reciclagem não especificamente das sacolas de plástico mas do lucro através do chamado "capitalismo verde" com novidades cosméticas que não alteram a natureza das desigualdades sociais nem dos problemas ambientais.

Mas aumentam significativamente a taxa de lucro e tornam os produtos bem mais caros ao cidadão comum.

É que mesmo em crise há uma ofensiva ideológica do capital global, como por exemplo a crescente antropofobia, gerando um discurso próprio de uma ditadura cultural, estética, do pensamento e comportamento únicos, típico de uma sociedade industrial-totalitária em consolidação nos tempos atuais.

domingo, 29 de janeiro de 2012

A próxima guerra na agenda dos EUA

Uma boa análise da realidade geopolítica mundial feita pelo norte-americano Paul Graig Roberts, embora chegue a uma conclusão equivocada como destaca O Diario na apresentação do texto publicado no ODiario.info:
 
O porta-aviões USS Nimitz posiciona-se ao largo, na costa do Irã.

"Neste artigo Craig Roberts faz um significativo paralelo histórico: o que estamos a testemunhar é uma repetição da política de Washington para com o Japão na década de 1930, que provocou o ataque japonês a Pearl Harbour. Os saldos bancários do Japão no Ocidente foram apreendidos e o acesso do Japão a petróleo e matérias-primas foi restringido. O objetivo era prevenir ou retardar a ascensão do Japão. O resultado foi a guerra.

Mas é surpreendente que uma tal análise leve no final o autor a apelar ao apoio ao candidato Ron Paul nas próximas presidenciais dos EUA. Por muito maus que sejam os restantes candidatos, a alternativa não é certamente este personagem ultraliberal."
 
Só os cegos não vêem que o governo dos EUA se prepara para atacar o Irã. Segundo o Professor Michel Chossudovsky, “os preparativos para a guerra contra o Irã (com o envolvimento de Israel e da NATO) foram iniciados em Maio de 2003.” http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=28542
 
Washington instalou mísseis apontados ao Irã nos estados emirados com petróleo que funcionam como seus fantoches, Omã e os Emirados Árabes Unidos e, com poucas reservas, noutros estados fantoches no Médio Oriente. Reforçou a frota de caças da Arábia Saudita. Mais recentemente, enviou 9.000 soldados para Israel, para participar em “jogos de guerra” cujo objectivo é testar o sistema de defesa aérea dos EUA / Israel. Uma vez que o Irã não representa uma ameaça a menos que seja atacado, os preparativos de guerra de Washington assinalam a intenção de atacar o Irã.

Outro sinal de que Washington tem uma nova guerra em agenda é o aumento da retórica e demonização do Irã. A julgar pelas estatísticas, a propaganda de Washington de que o Irã ameaça os EUA através do desenvolvimento de uma arma nuclear foi bem sucedida. Metade do público norte-americano apoia um ataque militar ao Irã, a fim de impedir este país de adquirir poder nuclear. Aqueles de nós que tentam despertar os nossos concidadãos partem de um deficit que corresponde ao facto de metade da população dos EUA estar sob controlo do Big Brother.

Como os relatórios dos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica no terreno no Irã deixaram claro há anos, não há provas de que o Irã tenha desviado qualquer urânio enriquecido a partir do seu programa de energia nuclear. O estridor de Washington e dos media neoconservadores é infundado. A mentira está ao mesmo nível da reivindicação de que Saddam Hussein tinha no Iraque armas de destruição em massa. Cada soldado dos EUA que morreu naquela guerra morreu em nome de uma mentira.

Não poderia ser mais óbvio que os preparativos de guerra de Washington contra o Irã nada têm que ver com dissuadir o Irã de construir uma arma nuclear. Qual, então, a sua base?

Em minha opinião, os preparativos do governo dos EUA para a guerra são movidos por três fatores. Um deles é a ideologia neoconservadora, adotada pelo governo dos EUA, que os leva a usar a sua posição de superioridade militar e econômica para conseguir a hegemonia mundial. Este objetivo faz apelo à arrogância norte-americana e ao poder e sede de lucro que ela serve.

Um segundo fator é o desejo de Israel de eliminar todo o apoio aos palestinos e ao Hezbollah no sul do Líbano. O objetivo de Israel é dominar toda a Palestina e os recursos hídricos do sul do Líbano. A eliminação do Irã remove todos os obstáculos à expansão de Israel.

Um terceiro fator é o de impedir ou retardar a ascensão da China como potência militar e econômica, controlando o acesso da China à energia. Foram os investimentos da China em petróleo no leste da Líbia que levaram os EUA e os seus fantoches da OTAN a virar-se subitamente contra a Líbia, e foram os investimentos da China em petróleo noutras regiões de África que resultaram na criação, por parte do regime de Bush, do Comando dos EUA para África, o AFRICOM, destinado a combater a influência econômica da China com a influência militar dos EUA. A China tem investimentos significativos em energia no Irã, e uma percentagem substancial das importações de petróleo da China provém do Irã. Privar a China do acesso independente ao petróleo é a maneira de Washington dominar e encurralar a China.

O que estamos a testemunhar é uma repetição da política de Washington para com o Japão na década de 1930, que provocou o ataque japonês a Pearl Harbor. Os saldos bancários do Japão no Ocidente foram apreendidos e o acesso do Japão a petróleo e matérias-primas foi restringido. O objetivo era prevenir ou retardar a ascensão do Japão. O resultado foi a guerra.

Apesar da sua desmedida arrogância, Washington entende a vulnerabilidade da sua Quinta Frota no Golfo Pérsico e não arriscaria perder uma frota e 20.000 homens a menos que fosse para ganhar uma desculpa para um ataque nuclear ao Irã. Um ataque nuclear ao Irã alertaria a China e a Rússia de que poderiam sofrer o mesmo destino. Como consequência, o mundo enfrentaria um risco de cataclismo nuclear maior do que no tempo do impasse EUA-URSS, que assegurava uma destruição mútua.

Washington está a colocar-nos numa situação fora de controle. Declarou que o eixo “Ásia-Pacífico” e o Mar da China Meridional são áreas de “interesse nacional dos EUA”. Qual o sentido destas palavras? O mesmo que teria a China declarar o Golfo do México e o Mar Mediterrâneo como áreas de interesse nacional da China.

Washington colocou 2.500 fuzileiros, prometendo a chegada de mais, na Austrália, com que fim? Proteger a Austrália da China ou ocupar a Austrália? Cercar a China com 2.500 fuzileiros navais? Não significaria nada para a China, se Washington colocasse 25.000 fuzileiros navais na Austrália.

Se formos aos fatos, as palavras duras de Washington não constituem senão uma provocação sem sentido ao seu maior credor. E se a idiotia de Washington fizer com que a China passe a temer a possibilidade de Washington e os seus fantoches europeus e Reino Unido se apoderarem dos seus saldos bancários e se recusarem a honrar as participações da China de 1 bilião de dólares em títulos do Tesouro dos EUA? Irá a China retirar os seus saldos dos enfraquecidos bancos dos EUA, Reino Unido e Europa? Irá a China atacar primeiro, não com armas nucleares, mas com a venda do seu bilhão de dólares em títulos do Tesouro de uma só vez?

Seria mais barato do que a guerra.

A Reserva Federal teria de imprimir rapidamente mais 1 bilhão de dólares para comprar os títulos, caso contrário as taxas de juros dos EUA iriam disparar. O que faria a China com um 1 bilhão de dólares acabados de imprimir? Na minha opinião, a China iria livrar-se de tudo de uma vez no mercado de câmbio, porque a Reserva Federal não pode imprimir euros, libras britânicas, yen Japonês, franco suíço, rublo russo e yuan chinês para comprar a sua moeda recém-impressa.

O dólar norte-americano seria esmagado. Os preços de importação dos EUA (que agora incluem, graças ao offshoring, quase tudo o que os norte-americanos consomem) subiriam. Os 90% que vivem com maiores dificuldades seriam ainda mais esmagados, atraindo ainda mais os seus opressores em Washington. O resto do mundo, antecipando a guerra nuclear, libertar-se-ia dos dólares, já que Washington seria um alvo de ataque primário.

Se os mísseis não forem lançados, os norte-americanos levantar-se-ão no dia seguinte na condição de país falido do terceiro mundo. Se os mísseis forem lançados, serão poucos a despertar.

Enquanto norte-americanos, precisamos de nos interrogar sobre o que está em jogo. Porque é que o nosso governo provoca deste modo o Islã, a Rússia, a China, o Irã? Que propósito, quem estão a servir? Certamente não a nós.

Quem beneficia do fato de o nosso governo falido se lançar em mais guerras, desta vez não contra países indefesos como o Iraque e a Líbia, mas a China e a Rússia? Pensarão os idiotas em Washington que o governo russo não sabe por que razão a Rússia está a ser cercada com bases de mísseis e sistemas de radar? Acreditarão os imbecis que o governo russo cairá na sua mentira de que os mísseis são dirigidos contra o Irã? Só os idiotas que se sentam à frente da Fox “News” acreditariam que se trata aqui verdadeiramente de uma arma nuclear iraniana.

Quanto tempo mais irá o governo russo permitir à National Endowment for Democracy (Fundação Nacional para a Democracia), que é uma fachada da CIA, interferir nas suas eleições através do financiamento dos partidos da oposição liderada por nomes como Vladimir Kara-Murza, Boris Nemtsov, e Alexei Navalny, que protestam todas as eleições ganhas pelo partido de Putin, acusando sem qualquer prova, mas fornecendo a Washington, que, sem dúvida, paga muito bem, propaganda de acordo com a qual as eleições foram e serão roubadas? http://www.globalresearch.ca/PrintArticle.php?articleId=28571

Nos EUA, ativistas como estes seriam declarados “extremistas internos” e sujeitos a um duro tratamento. Nos EUA, mesmo os pacifistas estão sujeitos a invasões de domicílio pelo FBI e a investigações dos tribunais.

O que isto significa é que “o criminoso estado russo” é uma democracia mais tolerante do que os EUA ou os seus estados europeus e que o Reino Unido.

Para onde vamos a partir daqui? Se não quisermos caminhar para a destruição nuclear, os americanos têm que acordar. Jogos de futebol, pornografia, e centros comerciais são uma coisa. A sobrevivência da humanidade é outra. Washington, isto é, o “governo representativo”, consiste somente de uns quantos interesses poderosos. Esses interesses privados, e não o povo americano, controlam o governo dos EUA.

É por isso que nada que o governo dos EUA faça beneficia o povo norte-americano.

A atual colheita de candidatos presidenciais, com exceção de Ron Paul, representa os interesses no controle. A guerra e a fraude financeira são os únicos valores norte-americanos que restam.

Voltarão os norte-americanos a dar o esplendor da “democracia” a governar por uns poucos, participando nas próximas eleições manipuladas?

Se tiver que votar, vote em Ron Paul ou num candidato de um terceiro partido mais radical. Mostre que não apoia a mentira que é este sistema.

Deixe de ver televisão. Deixe de ler os jornais. Deixe de gastar dinheiro. Quando faz qualquer destas coisas, está a apoiar o mal.

Tradução: André Rodrigues P. Silva

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Pinheirinho, o novo fascismo

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho e na Tribuna do Sertão:


A violenta repressão policial contra os moradores de Pinheirinho no estado de São Paulo representa uma tendência progressiva de tratar os problemas sociais como casos de delinquência coletiva.

Esses fatos recentes se juntam a uma onda conservadora, a uma galopante inclinação reacionária que se faz cada vez mais presente no Brasil e em grande parte do mundo.

É mais uma expressão da crescente intolerância típica de uma época onde reinam o capital financeiro e o complexo midiático internacional.

Que determinam comportamentos através de uma governança mundial que exerce a sua autoridade por intermédio de vários organismos internacionais que perderam as suas funções originárias e foram gradualmente se transformando em condutos dos interesses mais baixos, grosseiros e infames do lucro global.

Essa intolerância, o ultra-individualismo mais estúpido, as manifestações de truculência contra os trabalhadores e outros segmentos populares vão atingindo proporções de fenômeno generalizado.

Uma truculência associada a uma política higienista social repressora de inspiração nazista, à xenofobia, ao terror psicossocial, ao pânico coletivo, aos direitos constitucionais dos cidadãos rasgados, às nações invadidas criminosamente.

São poucos os governos nacionais que se armam de autoridade moral para resistir politicamente contra essa marcha ao fascismo (os que o fazem são ameaçados, caluniados) e que significa agora como em outras épocas a "expressão mais exacerbada da natureza agressiva e virulenta do capital global". Mas grande parte dos governos prefere imitar o capitão do transatlântico naufragado na costa italiana.

Esse é um tempo em que se busca colonizar a mentalidade das novas gerações através de um "presente contínuo alienante" sem referências históricas, sem causas, rebeldias ou utopias realizáveis, empurradas ao mais elementar pragmatismo existencial.

Pinheirinho é parte dessa cultura do ódio contra os "povos e classes subalternas", onde se pretende um cordão sanitário contra as maiorias assalariadas, o seu cheiro e os seus hábitos de plebe rude.

Da crise atual o capital global tenta erigir uma nova aristocracia de punhos de renda, imune às "impurezas sociais". Assim, é fundamental a construção de uma frente dos trabalhadores e nações contra essa novíssima ordem mundial fascista em avançado estágio de gestação.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Brasil, governo e civilização

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho e na Tribuna do Sertão:


Apesar da crise sistêmica do capitalismo o Brasil continua a crescer economicamente, o que vai consolidando o fato de que essa nova realidade veio para ficar e faz parte de nova configuração do tabuleiro geopolítico global.

O País tem quase todas as características que são comuns aos gigantes emergentes: extensão territorial, mercado interno em crescimento, liderança econômica regional ascendente, parque industrial complexo etc.

Além disso, é detentor de potencialidades distintas aos demais componentes dos chamados BRICS. Possui a maior reserva florestal, o maior manancial de água doce, a maior extensão de terras agricultáveis do planeta.

Por outro lado é insuficiente a infra-estrutura do País em relação às estradas de rodagem, portos, ferrovias de interligação com o território nacional, hidrovias e por aí vai.

O crescimento econômico da última década não foi acompanhado por um plano nacional de desenvolvimento com metas e objetivos a serem alcançados, mostrando que as heranças da doutrina neoliberal dos anos noventa e início do milênio não foram de todo superadas.

Porque as estratégias, os planos estruturais, o papel do Estado como indutor central ao desenvolvimento não só foram descartados nos governos FHC como a nova ordem mundial continua difundindo esses pré-requisitos ao desenvolvimento do País como abomináveis.

Na verdade os preceitos neoliberais mantêm-se hegemônicos no planeta sob a batuta do complexo midiático mundial, do capital financeiro global.

No Brasil as forças neoliberais estão tensionadas para que não se constituam novos caminhos tanto ao crescimento econômico quanto ao desenvolvimento soberano, coisas complementares porém diferentes.

Por outro lado, além de pelejarmos pela construção da riqueza nacional, da emancipação social, devemos lutar pelo resgate e desenvolvimento dos grandes valores humanos universais esmagados pela "globalização", o que já implica em tremenda resistência ideológica e política.

Valores esses resgatados, desenvolvidos e mesclados ao nosso rico processo de nação tropical. Mas não devemos perseguir, como objetivo último, alguma coisa como se fossemos uma espécie de "esquerda" da própria globalização capitalista.

Os nossos desafios devem nos confrontar como alternativa econômica, social, cultural e de civilização a essa nova ordem mundial do capital.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Sem nenhum limite

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho e na Tribuna do Sertão:


Por um dessas casualidades encontro entre os meus papéis velhos que não foram queimados ou rasgados, uma extensa análise publicada na revista Carta Capital em 2001.

E isso sempre é interessante quando acontece porque nós podemos cotejar não apenas as opiniões mas observar as grandes transformações que se efetivaram no mundo e no Brasil no período de dez anos.

Já se disse profeticamente que há dias que valem por anos e há anos que valem por dias sob a perspectiva das grandes transformações progressistas em escala mundial.

No entanto esse período de dez anos que nos separa desse texto de 2001  mostrou que a roda da História tanto se move para frente, ou fica atolada em terreno lamacento por um bom tempo, quanto pode também se movimentar por saltos em marcha ré.

Não que os retrocessos sejam uma novidade mas um que além de ser econômico também é ideológico, em dimensão global, talvez seja algo inusitado na recente História contemporânea.

Tanto quanto uma crise planetária do capitalismo onde os Países do primeiro mundo afundam no lodaçal da recessão, do desemprego de centenas de milhões, e pari passu, há uma ascensão econômica, geopolítica, de nações emergentes como os BRICs, Brasil, Rússia, China e Índia.

Na última década do século vinte houve uma onda de fusões e uma reengenharia do capitalismo que proporcionou durante dez anos um crescimento anual médio da ordem de 15% nos lucros e no valor de mercado das grandes corporações, chegando a mais de 25% em setores de ponta.

Mas como diz a análise da revista, o capital entendeu que seria possível manter essa tendência por longo prazo, sabendo que é impossível a massa total de lucros crescer indefinidamente mais que a produção sem as devidas consequências.

Nesses últimos vinte anos "o capitalismo conseguiu realizar o seu sonho de derrubar as fronteiras", construiu uma nova ordem mundial, fragilizou ou fragmentou Estados soberanos, promoveu uma revolução tecnológica, instituiu uma governança global de fato, guardiã e fiscalizadora de uma espécie de constituição internacional discricionária, imposta aos povos.

Um capitalismo que massacrou identidades e culturas nacionais, promoveu invasões sangrentas, assassinatos políticos brutais, produziu talvez a sua maior crise econômica estrutural, e visando o lucro, esgarçou ao extremo e sem nenhum limite, as relações sociais e humanas.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

A Amazônia cobiçada

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho e na Tribuna do Sertão:


Há em curso uma intensa e sórdida campanha imperialista com vistas à anexação da Amazônia, uma verdadeira guerra assimétrica, cultural e ideológica contra o Brasil visando tornar hegemônica a ideia de que essa extraordinária região deve se tornar um condomínio internacional o que na verdade é outra mentira porque esconde os interesses inconfessáveis dos EUA.

Com uma dimensão de aproximadamente 5.028.392 quilômetros quadrados, constituída pela superfície dos Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins e incluindo-se ainda para efeitos legais o Estado do Mato Grosso ela representa 63,42 % de todo o território nacional.

A Amazônia brasileira pertence ao complexo da maior selva tropical e a mais rica biodiversidade do planeta onde vivem mais de 30.000 espécies de plantas já estudadas, mas estima-se que por lá deve haver mais de cinco milhões de diferentes espécies botânicas.

As riquezas naturais do solo e subsolo da Amazônia, já dimensionadas, que podem ser exploradas sem comprometer o meio ambiente e a biodiversidade, ultrapassam os trilhões de dólares.

Há, como exemplo, um extraordinário potencial para o desenvolvimento da tecnologia de medicamentos avançados, através da flora, que podem gerar grandes recursos ao País e muitos benefícios à humanidade.

Por lá se encontra a maior reserva de água doce do mundo assim como um espetacular potencial à produção de energia limpa e renovável inigualáveis no planeta.

Portanto os ambiciosos projetos imperialistas para a região incluem, além da expansão territorial, principalmente a anexação da maior concentração de riquezas naturais conhecidas do planeta.

A estratégia em curso tem sido a do "convencimento" da opinião pública mundial através do complexo industrial multimidiático global sob o comando dos EUA e Inglaterra de que a Amazônia deve ser um patrimônio gerido por organismos internacionais e as suas consequências já se fazem sentir como revela a pesquisa CNT/SENSUS publicada esta semana pela imprensa brasileira.

A outra linha desse bombardeio ideológico tem sido a tentativa de provocar a confusão no povo brasileiro, a sua anemia moral, levando-o à capitulação do sentimento nacional. Assim, impõe-se com urgência uma ampla campanha de esclarecimento, tenaz resistência patriótica e política, em defesa da nossa integridade territorial e da Amazônia brasileira.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Nem desejos, nem promessas



O decálogo do camarada e amigo Luciano Siqueira, publicado em seu blog:

Dez desejos que não acalento em 2012

Folheio revistas antigas misturadas a jornais e livros amontoados num canto da sala. Deparo-me com uma página de amenidades onde se faz uma enquete com alguns personagens conhecidos chamados a apresentar dez desejos ou promessas que alimentam para o novo ano. Tem de tudo: mudança de temperamento, viagem à Índia, geração de um primeiro filho, realização profissional, aprender mandarim e que tais.

Ninguém me entrevistou a respeito, jamais. Certamente pouco hão de interessar aos leitores desse tipo de publicação as minhas aspirações mais caras. No que têm toda razão.

Pois faço o contrário: compartilho com meus provavelmente poucos leitores o que não prometo nem desejo em 2012:

1) Não prometo mudar minhas convicções sobre o mundo, a vida, o amor e a necessidade de transformar a sociedade, pois assim caminho há cinco décadas e de nada me arrependo do que tenho pensado nem feito ou deixado de fazer por opção consciente. Nem abrir mão da minha confiança no sonho dos poetas e na força do povo.

2) Nenhuma condescendência me comprometo a ter com quem pratica a maledicência com o prazer mórbido dos que traem, nem com os que disputam um lugar à mesa como quem guerreia pelo poder real, nem com os que anseiam pela autoafirmação como ideal de vida. De individualismo assim tão exacerbado quero distância, pois aprendi desde garoto a repudiar esse vírus que corrói as relações humanas.

3) Ah, também é bom que deixe claro de uma vez por todas: não me disponho a retornar aos estádios aos domingos nem em qualquer outro dia para apreciar o que se chamava antigamente de esporte bretão: nem para apoiar o meu Náutico, nem para torcer pelo Sport ou Santa cruz (quando enfrentando times de fora), nem mesmo para ver a seleção canarinho, a não ser na Copa de Mundo, se vier jogar na arena de São Lourenço da Mata. Aprendi que o futebol é um grande negócio nem sempre lícito e que o torcedor é o último a saber – se é que sabe realmente o que acontece fora das quatro linhas.

4) Longe de mim prometer superar o vício da leitura diária de livros, revistas, jornais e páginas na internet. Vício por vício prefiro este, já que não me disponho a aderir ao tabagismo nem ao atraente e permissivo alcoolismo.

5) Não admito também passar à responsabilidade de ninguém, de nenhum dos meus assessores, o manejo do Twitter e do Facebook, nem do meu blog pessoal, nem da minha correspondência via e-mail, pois tenho certeza de que amig@s logo perceberiam a artificialidade do diálogo. Prefiro a imperfeição do contato direto à assepsia da comunicação burocrática. (Sem deixar de anotar que o site do meu mandato é feito por profissionais competentes e dedicados, por isso mesmo é uma página de sucesso).

6) Também não me disponho a juntar dinheiro: desde cedo descobri que ficar rico não é minha sina, nem para tanto tenho talento. Se sobra algum, que o queime em livros e viagens de lazer, nada mais que isso.

7) Não desejo aprender os passos do tango, por mais que admire a dança portenha e me deslumbre a sua coreografia apaixonante e bela. Não dou para a coisa e é melhor ficar quieto, eu que sequer aprendi a valsa vienense nem o nosso bom e popular forró.

8) Nem pretendo gostar de salpicão, porque adocicado; nem de jenipapo, por puro preconceito com a fruta; nem de uísque com água de coco, porque o prefiro com pouco gelo; nem de cachaça com limão, porque a prefiro pura.

9) Parar de escrever artigos e crônicas semanais, nem pensar - por mais que tenha consciência das limitações do escriba. Sempre haverá uma boa alma disposta a me premiar com a leitura generosa e compreensiva.

10) Aprender a cozinhar, tem jeito não. Compenso, entretanto, com reconhecida habilidade para lavar pratos que, modéstia à parte, faço com prazer e esmero.

Que 2012 seja para todos de muito trabalho, amores, dores, esperanças, conquistas e paz.