quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Cinzas do arcaísmo, por Geraldo Luís Lino




Na noite de 2 de setembro, estarrecidos, os brasileiros assistiram pela televisão ao trágico incêndio do Palácio de São Cristóvão, sede do Museu Nacional do Rio de Janeiro, o maior e mais antigo do País. Em poucas horas, o fogo incontrolável transformou em cinzas um acervo que representava dois séculos de História, a idade do museu, fundado em 1818 por D. João VI e transferido em 1892 para o palácio, que abrigou a família real brasileira até a sua expulsão, em 1889. Juntamente com o acervo, na maior parte insubstituível, viraram cinzas os trabalhos de dezenas de pesquisadores de áreas como arqueologia, antropologia, geologia, paleontologia e outras, pois o Museu também funciona como instituição de pesquisa vinculada à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), responsável por ele desde 1946.

Apagadas as chamas, restou a estupefação. Como é possível que o museu mais importante do Brasil não tivesse sequer uma brigada de incêndio? Por que os hidrantes próximos não tinham pressão suficiente para um funcionamento adequado? Por que o prédio não tinha o alvará do Corpo de Bombeiros, exigido para qualquer estabelecimento público/comercial ou unidade residencial coletiva? Como é possível que os repasses da UFRJ para a sua manutenção fossem inferiores ao orçamento de um condomínio de classe média? Por que a universidade não tomou a iniciativa de buscar parcerias privadas para a sua manutenção e melhoramento, como ocorre com os grandes museus do mundo? Por que a iniciativa privada, dispondo da Lei Rouanet, não se interessou por ele, como faz com espetáculos artísticos de todo tipo, muitos deles bastante dispendiosos? Por que a sorte de um museu que, visivelmente, claudicava há décadas, não despertava na sociedade um interesse sequer aproximado do da defesa de certas manifestações artísticas polêmicas? Como? Por que?

São muitas perguntas em busca de respostas, umas e outras simbolizando o que temos feito do Brasil em quase dois séculos de história independente e, sobretudo, o que pretendemos fazer dele no futuro imediato.

Acima de todas, paira a sufocante sensação de que o incêndio simboliza a incapacidade brasileira para construir uma Nação moderna e sintonizada com a vanguarda do processo civilizatório, ficando a sociedade resignada a ver o País como o “balcão de negócios” estabelecido pelas suas elites dirigentes durante a maior parte da sua história independente. Uma Nação que despreza o seu passado e, desprovida de um projeto coletivo para o futuro, parece condenada a purgar um presente eterno de desalento e vicissitudes, absolutamente incompatível com os seus enormes potenciais humanos e naturais e com as aspirações da grande maioria da população.

A destruição do Museu Nacional é apenas a enésima consequência de uma histórica propensão para protelar para um futuro indefinido o enfrentamento a sério dos problemas estruturais do País, além da falta generalizada de compromisso com o Bem Comum. É o que explica o fato de o risco de incêndio nas suas instalações vir sendo repetidamente denunciado e ignorado há décadas, mesmo após os incêndios no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1978), Instituto Butantã (2010), Memorial da América Latina (2013), Liceu de Artes e Ofícios (2014), Museu da Língua Portuguesa (2015), estes últimos em São Paulo (SP), além de outras instituições culturais e científicas. É o que também explica o estado deplorável de instituições semelhantes, como o igualmente simbólico Museu do Ipiranga, na capital paulista, fechado há quase cinco anos e abandonado, a apenas quatro anos do bicentenário da Independência.

Trata-se da mesma mentalidade que explica o desprezo generalizado da classe dirigente por tudo que não represente uma fonte de lucros imediatos e de curto prazo, aí incluídos os cuidados com a memória histórica e a geração de conhecimento expressada pela pesquisa científica e tecnológica. Não é por acaso que o último presidente da República a visitar o Museu Nacional tenha sido Juscelino Kubitschek, há 60 anos. Ou que nenhum ministro de Estado tenha participado da celebração do seu bicentenário, em junho último. Nem, tampouco, que o orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (oportunisticamente acrescido do apêndice das Comunicações) tenha sido reduzido em quase dois terços, desde 2010.

Descaso em cima gera em desinteresse em baixo. Assim, não admira que, em 2017, cerca de 300 mil brasileiros tenham visitado o Louvre e nem 200 mil tenham ido ao Museu Nacional (público que o museu francês recebe em apenas uma semana, embora as duas instituições não sejam diretamente comparáveis).

Da mesma forma, essa inclinação para “empurrar com a barriga” a colocação em prática dos requisitos de construção de uma sociedade moderna, explica por que em 2018 menos da metade da população brasileira tem acesso a serviços básicos de saneamento, deficiência que representa de longe o maior problema ambiental do Brasil e cujos impactos negativos na saúde pública, no bem-estar geral e na economia são sobejamente conhecidos.

Ou que o País tenha sido “surpreendido” pela dependência extremada do transporte rodoviário, na recente greve dos caminhoneiros, após muitas décadas de desprezo pelos modais ferroviário e hidroviário.

Ou que prefira recorrer a casuísmos como cotas sociais e “raciais”, em vez de implementar um amplo e definitivo esforço educacional realmente capaz de transformar o País, como têm feito países que já superaram o subdesenvolvimento ou estão a caminho de fazê-lo, a exemplo da Coreia do Sul, Taiwan, China e outros.

Os exemplos são legião.

Por isso, não é casual que o Brasil, oitava economia do mundo em 2017, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB), seja, ao mesmo tempo: 86º entre 191 países, em PIB per capita em Paridade de Poder de Compra (2016); 79º entre 188, em Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) (2016); 5º entre 103, em desigualdade socioeconômica medida pelo Coeficiente de Gini, atrás apenas da África do Sul, Haiti, Honduras e Colômbia (2016); 112º entre 200, em disponibilidade de saneamento básico à população (2014); e que entre os 70 países participantes na edição de 2015 do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), tenha sido 59º em Leitura, 63º em Ciências e 65º em Matemática.

Uma trágica ironia da História

Por uma ironia emblemática, o incêndio ocorreu na mesma data em que, há 196 anos, a princesa Maria Leopoldina de Habsburgo-Lorena, atuando como regente na ausência de D. Pedro, em viagem a São Paulo, convocou o Conselho de Estado para decidir a reação ao ultimato das Cortes Gerais de Lisboa, que haviam decidido devolver o Brasil à condição de uma virtual semicolônia, revertendo a maioria dos benefícios conquistados com a vinda da Corte para o Rio de Janeiro e a elevação à condição de Reino Unido com Portugal, em 1815. Ali, no mesmo palácio hoje incinerado, foi tomada a decisão da Independência, que seria chancelada por D. Pedro, cinco dias depois, à margem do riacho Ipiranga.

Evidentemente, não foi uma decisão tomada de improviso. Na verdade, ela vinha sendo amadurecida desde o início de 1822, quando D. Pedro decidiu ficar no Brasil e nomeou para o principal posto do seu ministério o paulista José Bonifácio de Andrada e Silva, uma rara combinação de cientista, administrador, guerreiro e estadista. Um dos homens mais preparados do seu tempo, que havia passado a maior parte de sua vida na Europa e, além de ter plena noção do atraso português e brasileiro em relação às nações mais avançadas da época, tinha também um ambicioso projeto para equiparar o Brasil a elas em algumas gerações, como parte de um Império luso-brasileiro ou como Nação independente, solução que prevaleceu devido à intransigência das Cortes. Juntamente com a austríaca Leopoldina, conseguiram cooptar o vacilante e indeciso príncipe regente para a causa da Independência, depois que os insanos dirigentes de Lisboa fecharam as portas a qualquer tipo de negociação.

Para José Bonifácio e seus apoiadores (inclusive, estrangeiros que aqui viviam), a Independência era a oportunidade para a implementação de um audacioso projeto nacional, que contemplava: a extinção do tráfico negreiro e a abolição da escravatura, em prazo não muito longo; uma mudança na legislação das sesmarias, para permitir a retomada pelo Estado de latifúndios não cultivados e a concessão de pequenos lotes de terras aos negros libertos e a imigrantes, dos quais se esperavam que demonstrassem aos brasileiros que era possível uma agricultura sem mão-de-obra escrava; um grande programa de instrução pública, com a instalação de “escolas de primeiras letras em todas as cidades, vilas e freguesias, ginásios e faculdades técnicas em cada província e pelo menos uma universidade”; a criação de uma Academia de Agricultura; a civilização dos índios, em um empenho permanente de integrá-los à sociedade; a transferência da capital, “do Rio de Janeiro para o interior do País, na latitude aproximada de 15 graus Sul, em sítio sadio, ameno, fértil e banhado por algum rio navegável, dela abrindo-se estradas para as diversas províncias e portos marítimos”, dando-lhe o nome “Brasília”; a criação de um órgão governamental (Direção-Geral de Economia Pública) encarregado de supervisionar e dirigir obras de pontes, estradas, canais, minas e indústrias processadoras de minerais, agricultura, matas e bosques, fábricas e manufaturas; a instituição do voto feminino; o estabelecimento de uma confederação ou tratado de assistência mútua com os outros governos da América espanhola, contra interferências políticas externas.

Para infortúnio da nova nação, precisamente, por conta do seu enorme potencial de transformação das estruturas arcaicas da sociedade e da economia brasileiras, articuladas em torno do tráfico negreiro e do braço escravo, a forte reação das oligarquias dominantes impediu qualquer possibilidade da adoção de tal agenda, com uma rápida defenestração de José Bonifácio do governo e a pronta cooptação de D. Pedro I para o “projeto arcaico” prevalecente, gerando consequências negativas que, em muitos casos, se arrastam até os nossos dias.

Como escreveu o grande historiador José Honório Rodrigues: José Bonifácio, o primeiro Ministro de Estado brasileiro… sabia que naquela hora havia de criar, como criou, muitos inimigos. E mais ainda, porque lutava contra “a ferrugem dos tempos bárbaros”, contra os arcaicos, os retardatários e até defuntos e mortos. Daí sua expulsão violenta do comando do processo histórico e o atraso brasileiro, substituído o instante de criação pelo instante de retardamento, com o adiamento da solução dos problemas e a sua eterna ressurreição. O pensamento político e social de José Bonifácio, tão atual ainda hoje, não era o dos seus contemporâneos. Sua visão, como a de todo criador, era séria, construtiva e original.

Exclusão e exclusivismo são as palavras-chave para o entendimento do “projeto arcaico” que as oligarquias brasileiras vêm conseguindo impor até a atualidade, instrumentalizado pela captura do Estado em favor dos seus interesses e secundado por um sistema de privilégios seletivamente estendido a certos setores burocráticos e tecnocráticos, cooptando-os para a sua agenda. Um relativamente breve interregno ocorreu no meio século posterior a 1930, no qual, com altos e baixos, se impôs o projeto nacional modernizante iniciado por Getúlio Vargas, baseado na industrialização do País e no estabelecimento de um funcionalismo público funcional. Com ele, pela primeira vez na história brasileira, a atuação do Estado foi estendida à população em geral, ampliando-se para além da esfera dos interesses oligárquicos (sendo esta, ainda hoje, a motivação principal da fúria destes contra a “era Vargas”). Assim, em grande medida, a derrota do projeto de Nação de José Bonifácio, há quase dois séculos, ainda estende a sua influência aos dias de hoje.

Salta aos olhos que o Brasil vive uma disjuntiva histórica, cujo desfecho não pode mais ser adiado: conformar-se com o “projeto arcaico” hegemônico ou retomar o impulso do grande projeto nacional vislumbrado pelos patriotas de 1822, ajustado aos desafios do século XXI. Ambas as opções implicam em muitos riscos, mas a primeira é indiscutivelmente mais perigosa, implicando na ameaça imediata do acirramento das tensões internas, com riscos para a própria integridade nacional, pela qual os brasileiros tiveram que derramar sangue há quase dois séculos. Por outro lado, a segunda é bem mais difícil, pois requer a superação da inércia da acomodação ao status quo, mas é a única que poderá colocar o País na trajetória da construção de uma Nação decente, em algumas décadas.

A destruição do Museu Nacional é a metáfora acabada do arcaísmo nacional. Assim sendo, é preciso trabalhar para que das suas cinzas possa renascer uma nova Nação, na qual, na formulação de José Bonifácio, a sociedade tenha “por base primeira a justiça e por fim principal a felicidade dos homens”.

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

A ignorância abissal da ultradireita jornalística, por André Araújo




Dilema da ignorância, por André Araújo

WALL STREET OU VENEZUELA

Os jornalistas “partiu pra cima” da nova ultra direita apresentam o seguinte dilema, se você não aceita todos os ditames do ultra neoliberalismo, desses que querem vender o Brasil de porteira fechada ou então você quer uma economia como a da Venezuela. Não há alternativa, ou é Goldman Sachs ou é Maduro, o analfabetismo político-econômico gerou essa necrosia intelectual, a vida é binária, ou é branco ou é preto, não existe o azul, o cinza, o turquesa.

Nunca ouviram falar de Lord Keynes, um aristocrata inglês do mais refinado cérebro, ligado às artes e à literatura que não adotava o discurso do mercado e salvou a economia mundial com fórmulas que hoje seriam consideradas pelos ultra direitas como “comunistas”.

A carta que Keynes enviou ao Presidente Roosevelt, outro comunista, em 30 de Maio de 1933 pedia ao Presidente dos EUA que usasse o Estado para tirar os EUA da Depressão, que fez um quarto dos americanos ficarem desempregados. Roosevelt seguiu Keynes contra o “mercado “que queria curar a Depressão com “ajustes” como os neoliberais brasileiros de hoje querem fazer e que jamais dará certo porque o ajuste é necessário mas não é o remédio para tirar o País da recessão. Ao contrário, o ajuste aprofunda a recessão enquanto promete resultados no longo prazo, esquecendo a frase celebre de Keynes “No longo prazo todos estaremos mortos”.

Os desempregados precisam comer no curto prazo e isso só será possível com um plano de emergência para reativar a economia, o que é da lógica da realidade, mas não da lógica do mercado financeiro, que pode funcionar desligado da economia da produção e dos empregos.

A chamada “escola neoliberal” é página virada na sua própria “alma mater”, a Universidade de Chicago, os legatários de Friedman tiveram que sair de Chicago e foram para a Carnegie Mellon University em Pittsburgh, o Estado americano salvou o mercado em 2008, com isso enterrando o credo neoliberal que partia do princípio de que o “mercado se auto ajusta”.

Apesar dessa evidência seguem se apresentando no Brasil certos personagens com a etiqueta de “ultraneoliberal”, porque sequer sabem que essa escola está em um ciclo findo.

Como estudaram nas faculdades de economia há 30 anos, guardam uma cartilha mental embolorada e completamente defasada e não tem a capacidade intelectual de reciclar aquilo que aprenderam, o que é típico de cérebros apostilados limitados e medíocres.

A operação da política econômica se faz em todo lugar pela combinação de instrumentos e não com um cardápio fixo imutável, a famosa “lição de casa” do antigo FMI, até o FMI mudou muito desde os anos 90, a ponto de ser crítico do ajuste excessivo na Grécia.

Política econômica é uma arte de combinação de instrumentos sem regras fixas que variam a cada ciclo e circunstancia, é essencialmente arte e não matemática pura, aliás o estudo de ciência econômica que começou na França e na Inglaterra sempre foi tratado como da área da política, foram os americanos que introduziram formulas fixas e matemáticas no estudo da economia, fórmulas originadas de seu modelo econômico e que raramente dão certo em outros países e contextos, é preciso tratar a economia como arte e não como experimento de laboratório como alguns cérebros mofados ainda querem operar na base de “tripés”.

O MITO DA PRODUTIVIDADE

Os economistas neoliberais têm fascínio pelo conceito de “produtividade” que para eles tem valor absoluto, é algo sempre bom, quando na realidade é um conceito sempre relativo.

A produtividade na micro economia pode ser improdutiva na macro economia. Se uma empresa que emprega 20.000 operários investe pesadamente em automatização e com isso dispensa 15.000 empregados, consegue economizar 300 milhões de Reais em folha de pagamento, ótimo para a empresa. Na macro economia, esses desempregados vão gerar custos novos em seguro desemprego, saúde publica, saúde mental, perda de capital investido anteriormente na sua formação, uma parte em aumento de criminalidade a exigir mais policia, justiça e prisões, há rompimento de famílias, casamentos, velhos, filhos que não serão educados por falta de renda dos pais, esses desempregados deixarão de consumir muitos produtos e com isso provocam retração da economia, há uma gigantesca cadeia de perdas não só humanos e sociais mas também puramente econômicas provocadas pela aplicação simplista de um conceito de “produtividade” como valor mágico.

O extraordinário aumento de custos no tratamento de saúde mental no mundo foi calculado pelo professor Vikram Pattel, da Escola de Medicina da Universidade de Harvard com dados do Banco Mundial e chega a 16 trilhões de dólares entre 2010 e 2030. Esses custos em países significam enorme improdutividade do sistema econômico e geram perdas extraordinárias em outros sistemas, como os de saúde, justiça, polícia, educação, degradação urbana, sem falar em valores imateriais como sofrimento pessoal, dilapidação de capital humano na geração presente e nas gerações futuras, o desempregado de hoje é o filho sem educação de amanhã.

Portanto produtividade micro não é um bem absoluto. Quando Keynes sugeriu a Roosevelt empregar gente para tirar pedras de um lado das estradas e levar para outro lado, ele não estava promovendo produtividade, mas exatamente o seu contrario, ele propunha improdutividade micro para alcançar produtividade macro na economia e ao final no bem estar da população, em nome de um objetivo muito maior, tirar o País da Depressão.

É impressionante a ignorância política e histórica de economistas de cartilha, que sempre propõe produtividade como algo mágico, o conceito é apenas micro econômico, não é humano, se os grandes mestres da humanidade pensassem em produtividade não teríamos a civilização tal qual a conhecemos, baseada em valores muito mais altos do que simplesmente economia, em valores como arte, cultura, generosidade e ciência pura.

A eleição de Trump e a saída do Reino Unido da União Europeia foram faturas que as populações apresentaram aos apóstolos da produtividade tipo “é mais barato fabricar na China”, mais barato para as empresas e infinitamente mais caro para as populações.

As empresas deixadas à sua própria e exclusiva lógica, sem direção do Estado, destruirão países e sociedades, destruíram a classe média industrial americana e as pequenas cidades industriais do interior da Grã Bretanha, tudo em nome da produtividade micro contra o bem comum desta e de futuras gerações, é preciso rever os conceitos do neoliberalismo puro.

SOBRE REFORMAS, AJUSTES E EMERGÊNCIAS

As reformas tributárias, da previdência, administrativa são fundamentais, o ajuste das despesas públicas deve ser feito para cortar abusos notórios em salários sem nenhuma correspondência com a necessidade do Estado e a capacidade dos felizardos, o emprego público já tem por si só vantagens sobre os empregos privados, não tem cabimento, além disso, pagar muito mais que o mercado mesmo no salario inicial, isso é a maior causa do déficit, além da má utilização de prédios públicos, do abuso nas terceirizações, de compras mal feitas.

Mas as reformas e os ajustes no Brasil, podem perfeitamente conviver com um PLANO DE EMERGÊNCIA para relançar a economia na rota do crescimento e criar rapidamente empregos com investimentos públicos necessários na infra estrutura, um plano de dois trilhões de Reais com desembolso dividido em 40 meses, 50 bilhões de Reais por mês não causaria impacto nos preços porque há muita capacidade ociosa na indústria, o mecanismo seria por emissão de um novo tipo de título a longo prazo, indexado, com juros de média internacional, se o mercado não absorver o Banco Central compra usando o imenso volume de depósito compulsório e também de emissão de moeda, que está estagnada há 12 anos em torno de 230 bilhões de Reais, volume baixíssimo para as dimensões da economia brasileira, 3% do PIB quando nos EUA a moeda física circulante é de 7,5% do PIB.

Grande número de países fez e faz exatamente isso sob o nome de “quantitative easing”,o Banco Central compra para sua carteira títulos da dívida pública para estimular a economia, essa é função básica de um Banco Central, trabalhar para a prosperidade do Pais a que serve e não apenas operar como instrumento de garantia do capital especulativo, que é o que faz há 24 anos o Banco Central do Brasil, a serviço do mercado financeiro e não do País.

sábado, 20 de outubro de 2018

Insanidade programada

Meu novo artigo:


Seja qual for o resultado das eleições presidenciais o objetivo perseguido foi alcançado em vários aspectos. A nação em profundo desastre econômico, dezenas de milhões de desempregados, a crise social em estágio galopante, a quebra de setores industriais, empresas estatais fundamentais a um projeto soberano de desenvolvimento estratégico abatidas a pauladas ou seriamente danificadas.

A sociedade brasileira dividida em torno de uma guerra cultural entre “neoliberais multiculturalistas” versus “neoliberais antimulticulturalistas” enquanto as últimas pesquisas de opinião atestam que apenas 12% e 15% dos eleitores dos respectivos candidatos em disputa votam pensando em algum tipo de proposta como alternativa à própria realidade em que vivem.

Nem na rica, enfadada, bovina e pachorrenta Suíça do Primeiríssimo Mundo, a população dá-se a tamanho luxo e desperdício, de ignorar, nas eleições nacionais, os seus problemas centrais econômicos e sociais, para se estapear em uma Guerra Cultural propositalmente ideologizada.

Guerra Ideológica de conceitos e preconceitos que vêm sendo e serão inevitavelmente reduzidos a pó frente às necessidades do desenvolvimento das relações de produção e das forças produtivas em qualquer País significativo do planeta.

Principalmente quando essa Guerra Ideológica é um papel carbono das eleições norte-americanas passadas, literalmente transplantadas ao Brasil sem pagar pelo menos qualquer taxa de importação.

E de repente redescobriram o óbvio, porque já sabido e denunciado: as redes sociais são instrumentos de manipulação de todas as formas, especialmente através de interesses estratégicos internacionais geopolíticos e financeiros, já denunciava há alguns anos atrás o ex-espião da CIA Edward Snowden, citando como um dos alvos específicos o Brasil.

Quando Ciro Gomes, instado a meter-se até o pescoço nessa Guerra Cultural declarou que era candidato à presidência da República e não a “Fiscal de Costumes”, pouca gente percebeu o sentido dessa frase. Não sei nem se ele próprio percebeu a dimensão dela.

Nos anos sessenta passados, o presidente eleito Jânio Quadros resolveu iniciar a sua própria guerra cultural baixando, através de decretos, proibições como briga de galos, muito popular à época, e pasmem, o uso de biquínis nas praias do Brasil, transformando-se num profeta grotesco e felliniano da guerra atual entre multiculturalistas x antimulticulturalistas que incendeia de ódios as atuais eleições.

Com o objetivo de transformar candidatos palatáveis, marqueteiros buscam adequar candidatos multiculturalistas ferrenhos em “produtos” palatáveis ao gosto mais conservador de faixas do eleitorado, e vice-versa com os antimulticulturalistas. O efeito beira ao nonsense.

Enquanto isso o Brasil não discute os seus problemas fundamentais nas áreas de saúde, educação, a retomada fundamental do crescimento econômico sem o que nada se resolve, o narcotráfico transnacional que fez do País a sua escala global, daí a nossa gravíssima tragédia da segurança interna.

Não existe uma proposta que indique a retomada de um projeto nacional de desenvolvimento estratégico, de investimentos em infraestrutura, ciência e tecnologia de ponta, educação voltada aos rumos necessários, o combate às profundas desigualdades sociais etc. E se existe, ninguém percebeu ou se encontra no fundo das gavetas.

Não há clima de eleição democrática no País e nem poderia haver porque o objetivo não é democrático mas de uma Guerra Híbrida. Onde a política foi antecipadamente destruída através de corporações do Estado, que agem autonomamente à revelia dos interesses do Estado nacional, ou contra ele, e agora, essas mesmas corporações passam a ser elogiadas por todos.

A insanidade mental, quase esquizofrênica, em que o País mergulhou não é espontânea. Tem como objetivo a fratura da sociedade nacional em campos irreconciliáveis como se fosse uma guerra entre povos distintos e inimigos Históricos, seculares. E nada disso tem a ver com marxismo ou luta de classes.

Esse é o objetivo central da Guerra Híbrida em curso, contra as amplas liberdades democráticas, as nossas imensuráveis riquezas naturais, o papel geopolítico estratégico de nação continental, a quinta maior do planeta. Essa Guerra Híbrida vem sendo promovida especialmente pelo Mercado Financeiro, os megaespeculadores globais que agem em todo o mundo. E o País é um tesouro muito especial nessa pirataria internacional.

Mas o Brasil é inevitável. E vamos vencer essa batalha tremenda assim como superamos outros períodos dramáticos enquanto jovem nação. Faltam-nos lideranças, Estadistas à altura desse momento Histórico.

Mas a própria História indica que é da necessidade que surgem novas ideias e líderes à altura dos acontecimentos impostos aos povos. Até porque a Guerra Híbrida não vai se encerrar com estas eleições. Vem mais coisa por aí.

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Armadilhas do rentismo

Meu novo artigo:


As eleições presidenciais no primeiro turno foram marcadas por uma Guerra Híbrida pautada pela agenda entre multiculturalistas e antimulticulturalistas. Na verdade as respostas para os nossos grandes problemas como saúde, educação, segurança, a retomada do crescimento econômico, os interesses nacionais só foram abordados lateralmente, quando muito.

Nesse sentido, é possível dizer que o Mercado financeiro, através da grande mídia hegemônica a ele associado, tem sido o grande vencedor das eleições presidenciais, até o presente momento.

Porque o que tem sido pautado, no fundo, nestas eleições presidenciais é como serão realizadas as reformas econômicas que beneficiem os agentes especuladores, os financistas que já auferem lucros estratosféricos no Brasil.

Essas reformas econômicas, que exige o Mercado financeiro, precisam ser bem mais agressivas que todas as demais já realizadas em outras épocas, sempre contrárias ao papel estratégico do Estado nacional como indutor do desenvolvimento econômico, das garantias trabalhistas, dos interesses soberanos do País etc.

Nesse sentido, o que as poderosas corporações financeiras e rentistas globais estão impondo à nação, através dos seus “Economistas de Mercado”, as grandes referências nas pautas da mídia hegemônica, é qual a maneira em que serão realizadas as chamadas “flexibilizações na ordem econômica, nos direitos sociais e no protagonismo do Estado brasileiro”.

Essas alternativas não correspondem aos interesses das grandes maiorias sociais, setores da classe média, do desenvolvimento nacional. E por isso é que elas são razoavelmente escondidas no debate das eleições, porque são altamente impopulares, seriam rechaçadas de imediato pela sociedade.

Em seu lugar, foi introduzida uma agenda política extremamente polarizada de ódios difusos fragmentando o tecido social da nação, enquanto a caravana do liberalismo econômico radical e antinacional, margeia a luta de ideologismos - o que não é igual a ideologia - que vai tocando fogo no País.

Quem aplicar as reformas econômicas exigidas pela banca especulativa será um presidente altamente impopular, além da divisão na sociedade já estabelecida desde 2013 através da chamada Guerra Híbrida.

Assim, obcecado em promover as suas “reformas” o Mercado financeiro, os especuladores do rentismo, vão medindo o pulso das eleições nesse segundo turno eleitoral.

O Mercado financeiro não se importa com a Democracia, em muitos momentos prefere o autoritarismo à vida democrática. E dividir para reinar era a máxima adotada pelo Império Romano da antiguidade.

Nesse contexto, a contabilização no mundo da política pode estar sendo medida entre ser oposição ao terremoto econômico e social que será imposto através do presidente eleito, ou governar aceitando as diretivas do mundo das finanças, quando na verdade o caminho deveria ser o do crescimento econômico soberano e democrático.

No entanto, o Mercado pode estar fazendo seus próprios cálculos: promover as suas reformas neoliberais draconianas através da ordem autoritária, sacrificando a via democrática. Como veem, essa conta não fecha nem com a sociedade, o País ou a democracia.

Chegamos a um ponto muito complexo onde a retomada do desenvolvimento econômico não se encontra presente e algumas forças políticas fazem uma espécie de dança perigosa à beira do precipício.

Uma pergunta que deve ser respondida mais cedo ou mais tarde é: como e de que maneira se chegou a essa encruzilhada?

Por isso cresce a solução do fascismo com violência e truculência para conter a sociedade pela força e assegurar os ganhos do capital financeiro. Mas, afirma André Araújo, “o fascismo não é estável, ele precisa se agitar continuamente até implodir. O prazo de validade do fascismo é curto no tempo Histórico”.

Seja como for urge ao povo brasileiro o caminho da resistência em defesa da democracia, do desenvolvimento econômico, da soberania nacional. Todas, literalmente ameaçadas neste exato momento.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Eleições e a esbórnia rentista

Meu novo artigo:


As atuais eleições presidenciais continuam reproduzindo o mesmo quadro que vive o Brasil desde, pelo menos, 2013. Uma tempestade de ódios difusos que vem sendo induzida através da Grande Mídia hegemônica, que por aqui é bem mais hegemônica que em outros lugares.

Assim como via redes sociais que, apesar de se constituir em uma revolução tecnológica, tem sido um instrumento, proposital, da promoção da desagregação da sociedade.

Nesse contexto, a campanha tem sido mais do mesmo, a intensificação de uma Guerra Cultural de ideologismos, o que não é igual a ideologia, cujo objetivo central é a fratura da sociedade nacional.

E nada tem de original, já foi, é utilizada, em várias nações do mundo com os mesmos fins e intenções.

Dois polos visceralmente antagônicos que se retroalimentam mutuamente e de maneira contínua, dão sinais que se o outro sair vencedor não vão reconhecer o resultado das urnas já no primeiro turno das eleições.

Os problemas nacionais que dizem respeito aos interesses das grandes maiorias sociais não vêm sendo tratados durante a campanha, ou são de maneira lateral, como se o País já tivesse resolvido os seus gravíssimos males que o assolam de forma perigosamente crescente.

Os números do IBGE são trágicos: 13 milhões de desempregados, 37 milhões em atividades informais, 65 milhões deixaram de procurar emprego ou de exercer qualquer atividade laboral. Com isso salta a criminalidade.

Já o setor financeiro continua batendo sistematicamente todos os recordes de lucros que espantam até mesmo os grandes centros das finanças globais, diz a revista The Economist, em plena recessão no País e no mundo.

A única saída para a crise é a retomada do crescimento econômico, movendo o motor do desenvolvimento nacional, gerando empregos, investimentos em infraestrutura, educação, saúde etc. Não há alternativas fora da retomada do desenvolvimento econômico.

Enquanto isso seis poderosos grupos do narcotráfico disputam, em paralelo, o comando do País.

Assim, o investimento em segurança pública é fundamental a uma sociedade refém do crime organizado. Não é o vulgar batedor de carteira que está apavorando o cidadão, a cidadã, mas as organizações criminosas e os seus efeitos colaterais.

O combate ao narcotráfico transnacional, que fez no Brasil o seu paraíso, é uma questão fundamental na defesa do Estado brasileiro. Mas esse problema terrível não será resolvido sem a retomada do desenvolvimento com o fim da brutal recessão. É como enxugar gelo. Não, ele vai se agravar.

Essas grandes questões nacionais não estão sendo discutidas nas eleições presidenciais. Em seu lugar existe uma batalha entre multiculturalistas e antimulticulturalistas, extremada, fanatizada. É uma guerra cultural imposta de fora, em paralelo às imperiosas necessidades do País.

A maioria dos candidatos corre docilmente em busca do apoio e da simpatia do Mercado financeiro. E a grande mídia diz todo dia que ele está ora “nervoso”, ora “mais calmo”, ora “alegre”.

Não é verdade, esse ente não existe como tal, eles são os financistas e os especuladores de curto prazo. Estão lucrando bilhões de dólares com a crise, com a recessão, e até com as pesquisas eleitorais desencontradas, enquanto a economia afunda, os serviços de saúde se deterioram, doenças antes sob controle como a febre amarela, sarampo, o aumento nos índices de mortalidade infantil mostram o tamanho do caos.

Na ânsia de fazerem-se pragmaticamente simpáticos ao Mercado financeiro os candidatos, no geral, parecem se dividir entre “neoliberais progressistas multiculturalistas” e “neoliberais antimulticulturalistas conservadores” e até alguns “neonadas”. Enquanto as propostas para a resolução dos grandes problemas nacionais são tratadas apenas lateralmente. O Mercado agradece.

Vários jornalistas independentes dos EUA alertam que esta eleição é um papel carbono das eleições entre Hillary Clinton e Donald Trump, entre a candidata do Sistema Financeiro com Políticas Identitárias, versus um Franco Atirador, mas só na aparência contra o Establishment. Eu não tenho dúvidas. Como também não tenho dúvidas que ela faz parte de uma Guerra Híbrida contra o País.

Enquanto nas redes sociais as patrulhas ideológicas entre setores médios se digladiam em cego e feroz combate, lateral aos grandes problemas nacionais, o Mercado financeiro global esfrega as mãos satisfeito. E a esbórnia dos rentistas promete se estender muito mais.