quarta-feira, 3 de junho de 2020

Tempos dramáticos




Com a pandemia do corona vírus, que provocou uma crise sanitária inigualável nos últimos 80 anos, com milhões de infectados e centenas de milhares de falecidos, as cadeias da ordem mundial interconectadas entraram em colapso, apesar do crescente, e estratosférico, lucro do capital financeiro especulativo e parasitário.

Mas o colapso sistêmico não implica a morte da globalização financeira, muito menos o poder gigantesco da sua hegemonia, que deu um salto fantástico a partir da crise mundial em 2008, iniciada nos Estados Unidos.

Os mega especuladores globais continuam ditando as agendas financeiras, políticas, midiáticas, culturais, em escala planetária, à exceção do protagonismo soberano de Estado de algumas potências mundiais, que a exercem seja através da magnitude da sua economia, como a China, ou pelas vias do poder militar, como a Rússia, herdado da extinta União Soviética.

Vejamos a escala do poder, e magnitude, da Governança Mundial exercida antes da pandemia do corona vírus, sob a égide do capital financeiro especulativo em dimensão internacional.

O mundo já vivia uma época de rupturas que se acentuaram rapidamente nos últimos anos. O vácuo político, a desorientação generalizada, o conformismo ao status quo da globalização das finanças e suas diretivas, eclipsaram muitas forças políticas importantes nas sociedades.

E permitiram a ascensão ao comando dos governos centrais, de grupos políticos de inspirações autoritárias, com inclinações fascistas, como é o caso do presidente Bolsonaro no Brasil.

A História nos ensina que em épocas de brutal exploração dos povos e nações, o capital financeiro rentista se utiliza sempre de soluções e grandes ameaças à democracia, de rupturas do pacto democrático, como tem sido recorrente com Bolsonaro.


Seria uma grande ingenuidade achar que, além da abolia crônica do mundo político, sem alternativas à crise econômica, social, civilizacional que se abateu sobre o nosso País, a eleição do presidente Bolsonaro não contou com o apoio decisivo de uma parcela do mundo das finanças especulativas global.

O esgotado governo do atual presidente, seja na esfera política, seja no campo das agendas neoliberais ortodoxas, não tem conseguido, como pretendia, impor com pleno êxito, a estratégia radicalizada da precarização das condições de vida dos assalariados, o desmonte do Estado nacional, do parque produtivo estatal e privado, a total alienação das suas imensas riquezas naturais, como por exemplo a Amazônia brasileira. Inclusive, pela pandemia do corona vírus.

Daí a sua insistência em negar a gravidade da crise sanitária e combater as políticas de isolamento social, a única eficaz em pandemias quando ainda não há vacina. Não se trata de pura estupidez, mas a pressa em por em prática a sua agenda para a qual foi escolhido.

A grande mídia global, associada ao projeto do capital especulativo, já percebeu, recentemente, a inviabilidade da gestão Bolsonaro pelo radicalismo, ameaças golpistas, falta de trânsito político, incapacidade de lidar com a agenda neoliberal ortodoxa extremada, o seu isolamento político.

O plano B

Nessa situação em curso, de esgotamento do “projeto Bolsonaro”, das ambições do capital financeiro, que seria uma blitzkrieg, uma operação relâmpago demolidora contra o Brasil, povo, patrimônio e riquezas naturais, articula-se, com certa ligeireza, uma alternativa de poder, com a colaboração da grande mídia global.

O brutal assassinato de Floyd, um homem negro desempregado nos Estados Unidos, gerou indignação e a justa revolta não só nos EUA mas em todo o mundo.

E tem sido com intensidade a cobertura da grande mídia do assunto no Brasil, por mais de sete dias, com horas seguidas, ao vivo, através da mídia hegemônica, via satélite, como agenda central, quase única, pondo em segundo plano a terrível pandemia no Brasil, a crise política e os nossos abismos sociais.

Assim, começou a ficar evidente, para muita gente, que havia algo no ar além dos aviões de carreira, que aliás, se encontram, em sua maioria, no solo, em virtude da pandemia.

O estúpido, covarde e criminoso assassinato de Floyd mereceu o repúdio, indignação de todos os democratas aqui e no mundo.

Lá nos EUA o assassinato do cidadão Floyd foi o estopim contra a brutal crise social, econômica, generalizada, que toma conta do cidadão comum norte-americano, agravada pela pandemia.

Trata-se do racismo violento enquistado nos EUA. Além da insubordinação, a revolta das maiorias nos EUA contra a tragédia que vive o povo norte- americano, em virtude de uma política da globalização financeira que destruiu as estruturas da classe trabalhadora e da classe média, em sua maioria, endividadas ou desempregadas. Isso a grande mídia esconde, não deve por em cheque o sistema de que ela mesmo faz parte.


Aqui no Brasil, como na Europa, também existe a mesma tragédia social, agravada na pandemia, centenas de milhões de pessoas desesperadas, desempregadas, sem teto, trabalho.

Estima-se que teremos 300 milhões de desempregados no mundo após a pandemia, que se juntam às outras dezenas de milhões anteriores à crise sanitária.

Antes da pandemia, que multiplicou, como um reagente catalizador, as nocivas políticas da globalização financeira em todo o mundo e no Brasil, os mega especuladores financeiros, através da grande mídia global, que é a Boca do sistema, empregavam uma agenda social, as pautas indentitárias, na maioria, auto justificáveis.

Mas, cujo objetivo sempre foi a fragmentação da sociedade em movimentos compartimentados, de tribos cosmopolitas, em reinvindicações em torno das suas especificidades de gênero, raça, etc. etc. Muitas culpam as grandes maiorias sociais quanto às suas reinvindicações.

É, como muito se ouvia, cada um na sua caixinha, no seu quadrado. Mas não na participação dos destinos comuns a todos, que implica nas transformações urgentes de uma sociedade profundamente desigual, violenta e excludente.

Em saúde, educação, habitação, segurança pública, emprego, mobilidade social, um País voltado para o Brasil oficial, as elites e parcelas da classe média alta, e de costas para o Brasil real, mais de 180 milhões de brasileiros.

Unidos venceremos, deixou de ser uma máxima Histórica dos povos, e, em alguns círculos, até um slogan condenado.

Com a subjetividade da visão de grupos identitários, sucederam-se ao longo dos últimos tempos uma série de derrotas políticas e eleitorais previsíveis, incluindo para o bolsonarismo, com sua agenda reacionária, preconceituosa, medieval, anticientífica e antinacional.

Mas enfim, o que está em curso no Brasil, nessas últimas semanas, em paralelo às coberturas da mídia às justas revoltas contra a morte do cidadão Floyd, é a articulação de um movimento que possibilite assegurar as políticas neoliberais ortodoxas do ministro Paulo Guedes, do capital financeiro, possivelmente, sem o presidente Bolsonaro. Ou do próprio ministro Guedes.

Talvez, através de alguém mais refinado, com punhos de renda, porém com firmeza na direção dos negócios da agenda econômica que Bolsonaro não conseguiu dar cabo da sua execução. Vivemos tempos muito estranhos, tempos dramáticos.

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