quarta-feira, 16 de outubro de 2019

A nação ou a tribo



A Balsa da Medusa, de Jean Louis Théodore Géricault, 1818-1819, Museu do Louvre

Os fenômenos que afloraram a partir da extremada concentração do capital especulativo em nível global fizeram com que um reduzido grupo de bilionários compusessem uma espécie de governança mundial.

Aplicando verdadeiras fortunas em mídias de abrangências globais, incentivando movimentos e líderes internacionais de ativistas através, inclusive, da rede mundial de computadores. Mudaram, continuam mudando, as agendas, “introduzindo” novos paradigmas às sociedades, todos eles sob a gerência e interesse do capital rentista.

Sem a revolução tecnológica, o domínio das agendas globais através do capital rentista predador seria menos avassalador e rápido que como está acontecendo no novo milênio.

A globalização financeira com essa nova cara é um fato irreversível, e só quem faz contenção aos seus interesses, ou deles se aproveitam, são as grandes potências mundiais, nomeadamente os Estados Unidos, China, Rússia, e em menor escala determinados Países da Europa Ocidental, como a Alemanha, e algumas nações nórdicas.

Como já se disse, as esperanças de satisfazer as necessidades de autoafirmação individual e ao mesmo tempo desarticular o sentimento de identidade comum de um povo, pela facilidade, velocidade da comunicação individual, e da mídia globalizada, via os instrumentos da revolução digital, revelaram-se eficazes, criando-se, inclusive, novas “ideologias” para essa finalidade.

Mas, por outro lado, a brutal concentração da renda, o veloz empobrecimento das grandes maiorias sociais, têm provocado uma generalizada frustração e desesperança entre as populações do mundo, com raras exceções.

A rede mundial de computadores, as redes sociais, passaram a exigir a simplificação das mensagens. De tal forma que as mais acessíveis e vistas por todos, são aquelas mais abreviadas, desprovidas de conteúdos, argumentos minimamente elaborados.

Método plenamente consagrado, tanto nos “aplicativos das redes sociais”, como através da cadeia da grande mídia globalizada.

Em suma, cada vez menos conteúdos, mais fatos rasos, logo ultrapassados por outros iguais.

E menos informações que possibilitem algum tipo de sentido aos reais fenômenos que estão acontecendo em sua região ou no mundo. É a produção incessante do presente contínuo, sem passado ou futuro.

Porém, a realidade é mais implacável que a péssima utilização da revolução digital em proveito da acumulação das finanças especulativas e predadoras.

A queda na produção industrial, o desemprego em massa e por outro lado ilhotas de bem aventurados, a óbvia ausência de razões e sentidos no presente contínuo, chegaram ao ponto em que, por exemplo, no Brasil os pensadores, nem digo filósofos, acadêmicos e políticos, são os novos atores de ideias vazias da mídia global, que substituem os verdadeiros jornalistas, os atores de verdade, ou os que possam contribuir em ideias com algo relevante à sociedade e à nação.

A constante iniciativa de combate ao contínuo Histórico, passado, presente com rumos ao futuro, vem sendo substituída pelo entendimento nada casual, porque proposital, da desconstrução do sentido em comum de pertencimento a uma nação, como no Brasil, e em seu lugar “impor” a fragmentação das agendas identitárias.

E nessa guerra híbrida de quarta geração, surge o seu contrário que se expressa como no discurso do presidente Bolsonaro, em uma agenda obscurantista, messiânica, isolacionista, primária, dependente da visão do excepcionalismo norte-americano, como a “salvação” do mundo ocidental anglo-saxônico, do qual nós nunca fizemos parte e nunca faremos. Tentando fazer retroceder o nosso protagonismo internacional como Estado, nação continental, liderança regional hemisférica, cuja característica central é a mediação diplomática não beligerante.

Em uma divisão da sociedade, via uma espécie de polarização ideológica e política que se retroalimenta em benefício próprio, sem no entanto apresentar rumos à crise geral que se abate sobre o Brasil.

O que pretendem essas forças de política rasa, assim como o capital financeiro rentista, com esse tipo de iniciativas e “ideologias”, tanto uma como outra, é a desorientação generalizada da sociedade.

Em um mundo globalizado como o nosso, é preciso entender que só há duas opções: a nação ou o tribalismo, a canibalização ideológica desenfreada.

Nós devemos continuar com a nossa persistência em buscarmos erguer uma nação democrática, construída por forças heterogêneas, justa e progressista.

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