quarta-feira, 31 de julho de 2019

A autocrítica




Em recente discurso publicado pelo La Vanguardia, o presidente da França Emmanuel Macron surpreendeu o mundo com as suas declarações, já que o atual principal mandatário francês foi um executivo, e apadrinhado nas eleições presidenciais pela Casa Rothschild, da banca financeira internacional (MSIA, junho 2019).

Disse Macron: se os graves desequilíbrios da globalização financeira não forem corrigidos, a atual fase do capitalismo não puser fim aos seus excessos, a responsabilidade social não voltar a ser prioridade, as democracias correrão sérios riscos, até mesmo de uma nova guerra.

E prossegue: creio que a crise que vivemos pode conduzir à guerra e à decomposição das democracias. O liberalismo econômico e a “economia social de Mercado” experimentam uma crise profunda.

Para ele, com a globalização e as mudanças tecnológicas, se impôs um modelo neoliberal e um capitalismo de acumulação que perverteu o sistema anterior, surgido após a Segunda Guerra mundial, e o funcionamento das sociedades.

Reconhece que os ajustes brutais na Europa incidiram sobre os assalariados que experimentam retrocessos jamais conhecidos em tempos de paz. E que “os nossos fracassos são os que alimentam os extremismos”. Porque “temos um sistema em que o progresso macroeconômico se constrói sobre desequilíbrios regionais”.

Segundo o presidente francês, tal sistema é cada vez menos liberal (ou seja, menos democrático) e menos social, quer dizer, alimenta-se das desigualdades nas sociedades, devido à primazia da acumulação de renda e do corporativismo, que é o do sistema financeiro, lembramos.

Segundo ele, as consequências políticas e sociais desse quadro são muito preocupantes, porque os cidadãos, ao não se sentirem partícipes do progresso, passam a questionar o sistema e rechaçá-lo abertamente, abrindo caminho para ideologias radicais, no caso, de extrema direita, e acrescentamos “aos demagogos”.

E alerta sobre a realidade francesa: está em vias de desmantelar-se o consenso profundo sobre o que a democracia, o progresso e as liberdades individuais construíram desde o século XVII no País. Podemos acrescentar, com segurança, em boa parte do mundo.

Macron está sentindo os efeitos da profunda e multilateral crise política, social que se abate sobre a França, onde multidões saem semanalmente às ruas com fúria, transformando a nação e Paris, em um verdadeiro palco de violentos confrontos sociais.

De qualquer maneira, por lucidez, esperteza ou estratégia política, Macron disse verdades incontornáveis, que refletem um sentimento geral que se alastra, sobre a perda de rumos da globalização dominada pela alta finança especulativa, compartilhada, inclusive, pelas elites institucionais, em boa parte do mundo.

No Brasil, seria fundamental que os que se batem pela defesa da nação e do povo brasileiro, os democratas, os progressistas, também fizessem um esforço conjunto em repensar um autêntico projeto de País.

Repelissem a polarização de ódios difusos que só fraturam a nação, que tem levado a política em modo contínuo irracional e induzido, inclusive através de vias externas ao País.

Que auxiliam o domínio do capital financeiro global rentista, facilitam a agenda obscurantista do governo Bolsonaro, a sua política neoliberal radical e privatista, o desmantelamento do Estado brasileiro.

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