domingo, 18 de novembro de 2018

Mundo em rupturas

Meu novo artigo:


As eleições presidenciais no Brasil são uma consequência de um processo de rupturas em sequência que estão ocorrendo em escala mundial, que decorre da saturação das políticas sob a hegemonia do capital financeiro global, cuja resultante principal tem sido o prolongado e pífio crescimento econômico em todos os quadrantes do planeta, salvo as exceções conhecidas como a China.

O crescimento nulo, associado a um processo de degradação, combinado a estágios de recessão, tem levado a uma crise social extremamente profunda das sociedades, combinando elevados índices de desemprego, avanço da criminalidade, marginalidade, informalidade, com a intensificação do sentimento de insegurança dos indivíduos, que se espraia pelas comunidades nacionais sem qualquer dúvida.

Essa crise atual da globalização financeira vai revelando aos povos a situação da precariedade no conjunto das sociedades e as cifras astronômicas de lucros que aufere o capital especulativo predador.

No fundo isso representa a estagnação das economias e as contínuas levas de centenas de milhões de desempregados. É essa centralização do capital em mega corporações especulativas globais que também tem sido a força econômica, política, difusora de ideologias e comportamentos em escala mundial.

Por isso a sensação de raiva, insubordinação das pessoas, que tem como pano de fundo as incertezas com o futuro, não só ao longo prazo, mas no imediato das suas vidas e dos seus próximos.

A guerra cultural travada no Brasil, e em grande parte do mundo, decorre do fato de que para essas pessoas a globalização financeira não só tem sido responsável pela atual crise econômica como vem sendo a promotora das políticas institucionais, culturais, comportamentais em vigor nas sociedades e que lhes são adversas.

Paradoxalmente as esquerdas sempre foram vistas como referências antissistema, mas as Políticas Indentitárias que foram impulsionadas no século XXI através dos ideólogos da mundialização financeira, foram abraçadas por forças partidárias da chamada “esquerda”, daí a identificação de várias dessas organizações com o establishment repudiado.

Por outro lado, a democracia liberal clássica não é compatível com a lógica hegemônica e expansionista do capital financeiro. Esse é um dos grandes confrontos que vamos presenciar em uma escala cada vez mais dramática.

Como já se disse, o capitalismo neoliberal vem deixando em sua esteira uma multidão de sujeitos destruídos, inclusive no Brasil, muitos dos quais estão profundamente convencidos de que o seu futuro imediato será uma exposição contínua à violência e à ameaça existencial.

Assim, eles anseiam genuinamente um retorno a certo sentimento de certezas e ordem já que as nações se transformaram, pelas consequências da globalização financeira, em algo como pântanos que precisam ser drenados e o mundo como se encontra já não pode continuar, deve ser levado ao fim. Esse é o estado de espírito que vai se transformando em majoritário, afirma Achille Mbembe.

Longe de arrefecer, a luta política assumirá contornos de confrontos de rua e extremante polarizada. Onde a luta social contra as consequências econômicas e culturais promovidas pela globalização financeira vão crescer substancialmente.

O que estamos vendo é uma tendência de rupturas políticas contra a sociedade moldada pela financeirização mundial do capital especulativo e suas resultantes econômicas, sociais, políticas, comportamentais.

Essas insubordinações, em geral, não têm critérios programáticos, são carregadas de revoltas e emocionalismos difusos, de caráter imprevisível. A outra questão é que as categorias políticas da época da Guerra Fria, da bipolarização ideológica global dela oriunda, já não mais respondem às interpretações desses novos tempos dramáticos. Simplesmente porque tudo mudou e caminhamos de forma acelerada para uma realidade geopolítica multipolar.

Cresce, pela ótica dos povos, o anseio por outra Ordem Mundial que lhes seja mais favorável, menos injusta, não de brutal exploração. Tudo pode acontecer porque as disputas políticas estão em aberto.

Assim, importa ao Brasil a defesa intransigente dos valores democráticos, da legalidade constitucional, a luta pelas conquistas dos trabalhadores, a batalha, na Nova Ordem Global em transição, pela soberania nacional. O desenvolvimento econômico, os seus legítimos interesses, o protagonismo e a liderança geopolítica de nação continental estratégica, no teatro global das nações que vai se reconfigurando.

Nenhum comentário:

Postar um comentário