sexta-feira, 9 de novembro de 2018

A batalha pela lucidez

Meu novo artigo:


As eleições presidenciais indicam que o País mergulhou de cabeça na chamada Guerra Híbrida, cuja ferramenta principal encontra-se na luta de ideias, através da grande mídia tradicional, especialmente em sua versão on line. Mas sobretudo pelas Redes Sociais.

A Guerra da Informação vem se distanciando cada vez mais dos fatos concretos, da realidade objetiva, como um jogo de espelhos distorcidos, e em seu lugar assume a versão que tanto pode ser real ou inteiramente falsa, as Fake News.

Tanto faz nessa Guerra Digital o compromisso com a verdade, o que importa é a arregimentação de forças na sociedade em torno de um conjunto de concepções que substituem as formulações Históricas, filosóficas, inclusive aquelas de natureza científicas, quando se trata de distorcer os conceitos comprovados pela vida, em favor de uma espécie de agenda empacotada e previamente estabelecida.

O mundo paralelo da Pós Verdade vai sendo imposto. Na prática, uma ficção que substitui a realidade objetiva.

O resultado é o surgimento de uma neurose coletiva, atingindo centenas de milhões de pessoas em todo o mundo, provocando doenças psicossociais como o pânico, depressão, ansiedade e o sentimento de desrealização, que passam a ter novos sintomas além dos que a medicina já identificava.

São características neuróticas que exigem novos estudos comportamentais na psiquiatria, psicologia, psicanálise etc. Já no campo das ciências sociais as formulações passam a ter sentido distinto dos que eram usados antes.

Dessa forma, o conceito de Esquerda passa a ter novo significado e já não corresponde às formulações vistas como universais. É o caso das Políticas Indentitárias que passam a ser definidas como a “Esquerda”.

De outro lado a caracterização de “Direita” já não corresponde às fórmulas utilizadas até então.

No âmbito da Economia, o conceito de Liberal também foi reprogramado na Pós Verdade. O liberalismo econômico clássico já não mais é visto como tal.

Com o processo de centralização do capital financeiro em escalas antes inimagináveis, todas essas formulações vêm servindo aos desígnios do capital predador, sua influência e capacidade de interferência global, que passou a ser descomunal.

As pessoas convivem atualmente com definições, na maioria das vezes, com sinais falsos, trocados ou invertidos. Não é de espantar a desorientação generalizada e a confusão mental decorrentes.

Embora esses fenômenos não tenham surgido de maneira fulminante, eles foram rápidos o suficiente para gerar o caos cognitivo que vivemos no presente.

Existe uma diferença entre Fake News e a notícia na grande na mídia. No primeiro caso ela é uma invenção absolutamente mentirosa. Enquanto na grande mídia o fato é usado com o viés ideológico que interessa ao grupo jornalístico e ao campo financeiro ao qual ele é ligado. Portanto temos uma distância efetiva da realidade em ambos os casos.

E tudo isso serve a uma luta cuja origem reside na disputa entre corporações globais, que podem estar associadas ou não a interesses de grandes potências mundiais. E em muitos casos de forma combinada.

Seja como for, os objetivos de expansão, domínio do capital financeiro e das potências mundiais estão em curso e em pleno movimento contra os interesses das nações, suas riquezas materiais, financeiras, culturais, dos povos em geral.

A cultura por exemplo, vem sendo hegemonizada e expandida através de corporações gigantes de entretenimento com viés ideológico e temático que lhes são úteis.

O mega especulador financeiro George Soros entregou 32 bilhões de dólares (118 bilhões de reais) à sua principal organização, a Open Society Foundations, para ser usado na “construção da democracia nos EUA e no mundo”, além de 75 milhões de dólares (277 milhões de reais) para candidatos e comitês somente nos EUA ao longo dos anos.

Mas esses valores não incluem os muitos milhões de dólares que ele doou a ONGs sem fins lucrativos e que não são declarados.

Por outro lado, Charles e David Koch e outros doaram 2 bilhões de dólares (7,4 bilhões de reais) a grupos adversários aos interesses de George Soros também para “promover políticas públicas e candidatos”.

Já Steve Bannon, que tem relações com financistas e especuladores, assessor e uma espécie de estrategista do presidente Donald Trump, diz que o seu adversário Soros é “vilipendiado porque é eficaz” e que as recentes ameaças com bomba que ele recebeu é “o preço que se paga para entrar nessa brincadeira”.

“Brincadeira” de um clube global privê com reduzidíssimo número de sócios que mandam em grande parte do planeta, é bom que se diga. Steve Bannon representa um time de financistas que se intitula “radical de direita” em oposição a Soros, visto por esses bilionários como financiador de grupos que eles chamam de “esquerda radical”.

Essa disputa envolve hoje o mundo todo, inclusive até na pequena, ex-socialista Albânia, para se ter uma noção da expansão e áreas de influência dessa competição. Não existem espaços vazios para eles.

Esses dois personagens de linhas opostas das finanças globais, George Soros e Steve Bannon, vêm atuando intensamente no Brasil, já faz um bom tempo.

As informações aqui citadas, e outras mais, encontram-se publicadas no The New York Times em matéria assinada pelos jornalistas Kenneth P. Vogel, Scott Shane e Patrick Kingsley.

A verdade é que bilionários e mega especuladores globais estão se apropriando e reconfigurando conceitos ideológicos, competindo entre eles em escala internacional, ditando as formas dos conflitos entre movimentos sociais, vários deles antagônicos, que fervilham pelas nações do mundo. Além disso, a influência desses grupos da globalização especulativa nas Redes Sociais tem sido intensa, e com efeitos devastadores para as suas centenas de milhões de usuários.

Na complexidade desses novos tempos importa compreender os fenômenos em curso no planeta.

E acima de tudo lutar para manter a lucidez intelectual, política, a defesa de um Projeto Nacional de Desenvolvimento inserido na nova, intensa, aberta, competitiva e dinâmica economia internacional. Mas voltado para os interesses soberanos do País, de conteúdo democrático, com a justiça social.

Essa é a via que favorece a sociedade nacional e o Brasil, como protagonista no teatro geopolítico da comunidade internacional dos Estados nações.

Que aliás é o seu papel em função de sua dimensão territorial continental, liderança regional hemisférica, riquezas naturais, cultura e população. E até pela simples razão de que esse é o único caminho que nos reserva um futuro digno e promissor.

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