segunda-feira, 22 de outubro de 2018

A ignorância abissal da ultradireita jornalística, por André Araújo




Dilema da ignorância, por André Araújo

WALL STREET OU VENEZUELA

Os jornalistas “partiu pra cima” da nova ultra direita apresentam o seguinte dilema, se você não aceita todos os ditames do ultra neoliberalismo, desses que querem vender o Brasil de porteira fechada ou então você quer uma economia como a da Venezuela. Não há alternativa, ou é Goldman Sachs ou é Maduro, o analfabetismo político-econômico gerou essa necrosia intelectual, a vida é binária, ou é branco ou é preto, não existe o azul, o cinza, o turquesa.

Nunca ouviram falar de Lord Keynes, um aristocrata inglês do mais refinado cérebro, ligado às artes e à literatura que não adotava o discurso do mercado e salvou a economia mundial com fórmulas que hoje seriam consideradas pelos ultra direitas como “comunistas”.

A carta que Keynes enviou ao Presidente Roosevelt, outro comunista, em 30 de Maio de 1933 pedia ao Presidente dos EUA que usasse o Estado para tirar os EUA da Depressão, que fez um quarto dos americanos ficarem desempregados. Roosevelt seguiu Keynes contra o “mercado “que queria curar a Depressão com “ajustes” como os neoliberais brasileiros de hoje querem fazer e que jamais dará certo porque o ajuste é necessário mas não é o remédio para tirar o País da recessão. Ao contrário, o ajuste aprofunda a recessão enquanto promete resultados no longo prazo, esquecendo a frase celebre de Keynes “No longo prazo todos estaremos mortos”.

Os desempregados precisam comer no curto prazo e isso só será possível com um plano de emergência para reativar a economia, o que é da lógica da realidade, mas não da lógica do mercado financeiro, que pode funcionar desligado da economia da produção e dos empregos.

A chamada “escola neoliberal” é página virada na sua própria “alma mater”, a Universidade de Chicago, os legatários de Friedman tiveram que sair de Chicago e foram para a Carnegie Mellon University em Pittsburgh, o Estado americano salvou o mercado em 2008, com isso enterrando o credo neoliberal que partia do princípio de que o “mercado se auto ajusta”.

Apesar dessa evidência seguem se apresentando no Brasil certos personagens com a etiqueta de “ultraneoliberal”, porque sequer sabem que essa escola está em um ciclo findo.

Como estudaram nas faculdades de economia há 30 anos, guardam uma cartilha mental embolorada e completamente defasada e não tem a capacidade intelectual de reciclar aquilo que aprenderam, o que é típico de cérebros apostilados limitados e medíocres.

A operação da política econômica se faz em todo lugar pela combinação de instrumentos e não com um cardápio fixo imutável, a famosa “lição de casa” do antigo FMI, até o FMI mudou muito desde os anos 90, a ponto de ser crítico do ajuste excessivo na Grécia.

Política econômica é uma arte de combinação de instrumentos sem regras fixas que variam a cada ciclo e circunstancia, é essencialmente arte e não matemática pura, aliás o estudo de ciência econômica que começou na França e na Inglaterra sempre foi tratado como da área da política, foram os americanos que introduziram formulas fixas e matemáticas no estudo da economia, fórmulas originadas de seu modelo econômico e que raramente dão certo em outros países e contextos, é preciso tratar a economia como arte e não como experimento de laboratório como alguns cérebros mofados ainda querem operar na base de “tripés”.

O MITO DA PRODUTIVIDADE

Os economistas neoliberais têm fascínio pelo conceito de “produtividade” que para eles tem valor absoluto, é algo sempre bom, quando na realidade é um conceito sempre relativo.

A produtividade na micro economia pode ser improdutiva na macro economia. Se uma empresa que emprega 20.000 operários investe pesadamente em automatização e com isso dispensa 15.000 empregados, consegue economizar 300 milhões de Reais em folha de pagamento, ótimo para a empresa. Na macro economia, esses desempregados vão gerar custos novos em seguro desemprego, saúde publica, saúde mental, perda de capital investido anteriormente na sua formação, uma parte em aumento de criminalidade a exigir mais policia, justiça e prisões, há rompimento de famílias, casamentos, velhos, filhos que não serão educados por falta de renda dos pais, esses desempregados deixarão de consumir muitos produtos e com isso provocam retração da economia, há uma gigantesca cadeia de perdas não só humanos e sociais mas também puramente econômicas provocadas pela aplicação simplista de um conceito de “produtividade” como valor mágico.

O extraordinário aumento de custos no tratamento de saúde mental no mundo foi calculado pelo professor Vikram Pattel, da Escola de Medicina da Universidade de Harvard com dados do Banco Mundial e chega a 16 trilhões de dólares entre 2010 e 2030. Esses custos em países significam enorme improdutividade do sistema econômico e geram perdas extraordinárias em outros sistemas, como os de saúde, justiça, polícia, educação, degradação urbana, sem falar em valores imateriais como sofrimento pessoal, dilapidação de capital humano na geração presente e nas gerações futuras, o desempregado de hoje é o filho sem educação de amanhã.

Portanto produtividade micro não é um bem absoluto. Quando Keynes sugeriu a Roosevelt empregar gente para tirar pedras de um lado das estradas e levar para outro lado, ele não estava promovendo produtividade, mas exatamente o seu contrario, ele propunha improdutividade micro para alcançar produtividade macro na economia e ao final no bem estar da população, em nome de um objetivo muito maior, tirar o País da Depressão.

É impressionante a ignorância política e histórica de economistas de cartilha, que sempre propõe produtividade como algo mágico, o conceito é apenas micro econômico, não é humano, se os grandes mestres da humanidade pensassem em produtividade não teríamos a civilização tal qual a conhecemos, baseada em valores muito mais altos do que simplesmente economia, em valores como arte, cultura, generosidade e ciência pura.

A eleição de Trump e a saída do Reino Unido da União Europeia foram faturas que as populações apresentaram aos apóstolos da produtividade tipo “é mais barato fabricar na China”, mais barato para as empresas e infinitamente mais caro para as populações.

As empresas deixadas à sua própria e exclusiva lógica, sem direção do Estado, destruirão países e sociedades, destruíram a classe média industrial americana e as pequenas cidades industriais do interior da Grã Bretanha, tudo em nome da produtividade micro contra o bem comum desta e de futuras gerações, é preciso rever os conceitos do neoliberalismo puro.

SOBRE REFORMAS, AJUSTES E EMERGÊNCIAS

As reformas tributárias, da previdência, administrativa são fundamentais, o ajuste das despesas públicas deve ser feito para cortar abusos notórios em salários sem nenhuma correspondência com a necessidade do Estado e a capacidade dos felizardos, o emprego público já tem por si só vantagens sobre os empregos privados, não tem cabimento, além disso, pagar muito mais que o mercado mesmo no salario inicial, isso é a maior causa do déficit, além da má utilização de prédios públicos, do abuso nas terceirizações, de compras mal feitas.

Mas as reformas e os ajustes no Brasil, podem perfeitamente conviver com um PLANO DE EMERGÊNCIA para relançar a economia na rota do crescimento e criar rapidamente empregos com investimentos públicos necessários na infra estrutura, um plano de dois trilhões de Reais com desembolso dividido em 40 meses, 50 bilhões de Reais por mês não causaria impacto nos preços porque há muita capacidade ociosa na indústria, o mecanismo seria por emissão de um novo tipo de título a longo prazo, indexado, com juros de média internacional, se o mercado não absorver o Banco Central compra usando o imenso volume de depósito compulsório e também de emissão de moeda, que está estagnada há 12 anos em torno de 230 bilhões de Reais, volume baixíssimo para as dimensões da economia brasileira, 3% do PIB quando nos EUA a moeda física circulante é de 7,5% do PIB.

Grande número de países fez e faz exatamente isso sob o nome de “quantitative easing”,o Banco Central compra para sua carteira títulos da dívida pública para estimular a economia, essa é função básica de um Banco Central, trabalhar para a prosperidade do Pais a que serve e não apenas operar como instrumento de garantia do capital especulativo, que é o que faz há 24 anos o Banco Central do Brasil, a serviço do mercado financeiro e não do País.

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