quarta-feira, 5 de setembro de 2018

O processo

Meu novo artigo:


O incêndio que devorou o Museu Nacional e consumiu a maior parte do seu acervo valiosíssimo, é descaso gravíssimo que por todas as informações tem responsabilidades acumuladas em décadas.

Tanto como as chamas que destruíram o palácio, da época de D. João VI, que abrigava o próprio Museu, porque ele celebrava, era testemunha, e continua sendo, da existência do contínuo Histórico nacional.

Nenhum País do mundo que se preze, seja qual for o regime ou sistema de governo, comete esse ato contra a sua própria História, ao contrário, faz todos os esforços para manter o seu patrimônio cultural, arquitetônico, a própria memória, em nome do passado, do presente e às futuras gerações, ou que seja por investimento em turismo.

Especialmente o Brasil, que é a sétima economia global, a quinta maior nação do planeta em dimensões territoriais, com mais de 200 milhões de habitantes e um protagonismo geopolítico estratégico.

A tragédia do Museu Nacional além do mais é um sinal dos tempos atuais, um alerta dramático e simbólico aos desdobramentos da realidade nacional que persiste há alguns anos.

Está certo o economista, escritor André Araújo quando afirma: “o processo e prisão do ex-presidente Lula, cuja popularidade e recall no exterior são um vasto capital político ao País, no primeiro momento teve a percepção comprada pelo valor de face, vendida pela mídia brasileira.

Nos últimos meses esta visão está se esvaindo e a ideia que Lula praticou um crime comum se nulifica, porque trata-se de um processo criminal com provas indiciárias e não provas materiais, coroando a fragilidade da condenação com escasso valor monetário do alegado delito, frente à dimensão do cargo de presidente de um dos maiores Países do mundo. A miudeza do fato choca por si próprio".

E continua o economista: “a mídia brasileira se fixou na formalidade do processo do caso Lula, mas a opinião pública internacional não compra mais esse pacote”. Depois de fazer uma alusão aos processos de Moscou em 1938, diz André Araújo:

“Impressionou na avaliação estrangeira a unanimidade das sentenças sem qualquer dissenso normal em casos de julgamentos de políticos, a conclusão foi a de que juízes pertenciam ao mesmo grupo ideológico atuando como força tarefa, portanto as confirmações de sentenças ao invés de provocar convencimento, aumentaram as dúvidas”. Há exceções.

“Graves violações da vontade popular são crises institucionais contratadas” e continua André Araújo “emparedar a democracia pode ganhar uma batalha, mas o custo Histórico pode ser muito alto mais à frente”.

Assim, os fatos vão se sobrepondo às interpretações ideológicas, ao consenso formalista, casuístico, construído inclusive pela grande mídia. E a crise só aumenta em escala galopante por vício de origem.

Na terça-feira, 04/09, noticiou-se que dois dos principais institutos de pesquisas, o Datafolha e o Ibope, suspenderam a divulgação de pesquisas já realizadas, gerando boatos seja sobre o crescimento do candidato Jair Bolsonaro, seja sobre um crescimento ainda maior de Lula, que já é líder disparado em todas as avaliações dos institutos de pesquisa. Ou até sobre a consolidação do nanismo eleitoral de Alckmin.

De toda maneira essa crise não tem como encontrar um sinal de normalidade democrática, como desejam as forças do Mercado financeiro ou os diversos responsáveis pelo cenário em curso.

Ela só tende a aumentar em falta de legitimidade. Já se vem dizendo, faz um bom tempo, que ou as lideranças políticas e econômicas nacionais encontram uma saída que atenda às expectativas das grandes maiorias sociais ou vamos assistir a novos e imprevisíveis desdobramentos institucionais em algum momento.

O Brasil possui “indiscutível expressão territorial, econômica e estratégica que nem o pior governo do mundo pode destruir”. Por isso ele é inevitável. Mas não resolve o imbróglio em que o voluntarismo jogou o País.

Ainda restam escassos espaços para uma legítima, democrática, concertação das forças políticas nacionais, que atenda aos anseios das grandes maiorias sociais, da soberania nacional, cada vez mais aviltada, antes que as chamas da insensatez consumam o que resta do cenário democrático e institucional. E depois, sabe-se lá o que virá, mas não será o que deseja a sociedade e a nação.

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