sexta-feira, 28 de setembro de 2018

O “mercado” defende os seus, por André Araújo



Nos países centrais do capitalismo, Estados Unidos e Reino Unido, não passa pela cabeça de um jornalista político de primeira linha procurar saber a opinião de um rapaz da bolsa sobre eleições para chefe de governo ou chefe de Estado. O “mercado” "NÃO" é um ator político.

A política se define no mundo político, não na bolsa, o espaço da política é muito mais importante e não se sustenta nos “mercados” e sim em plataformas mais altas.

A pobreza da vida política brasileira, desde o Governo Collor, fez desaparecer o time dos políticos de primeira linha e com isso subiram ao pódio atores secundários, coadjuvantes, simples figurantes, a quem ninguém no passado pedia opinião porque essa não tinha importância alguma, faltava a sabedoria, a qualidade, a legitimidade.

Hoje nos comentários políticos chama-se o “mercado” a opinar, como se fossem deuses.

Mas qual mercado? Há muitos e variados e eles não falam uma só língua. O agronegócio tem sua lógica, os caminhoneiros tem outra e contraria, qual prevalece? Quem é importador tem um tipo de interesse, quem exporta tem outro, quem fabrica quer uma política, quem distribui quer outra, o construtor de imóveis quer crédito barato, o aplicador quer juro alto.

Nos anos Vargas e JK o que hoje se chama “mercados” eram então as CLASSES PRODUTORAS.

Eram os grandes industriais e comerciantes, que se contrapunham à CLASSE TRABALHADORA.

Tratava-se de figuras de peso e consistência, capitães de indústria como se falava, experientes, sofisticados, refinados muitas vezes, suas mulheres eram as mais elegantes, gente traquejada nos negócios e na vida. Eram ouvidos com respeito, mas o mundo da política era outro e não se movia a não ser lateralmente por essas vozes e nem girava em torno delas.

Hoje a mídia econômica trata o mercado pelo que ele não é, o mercado NÃO é a plataforma onde se administram os interesses do País, nem os “investidores” que o mercado representa, o que no Brasil se considera “o mercado” são agentes dos investidores e não os próprios. Esse ente coletivo NÃO tem a compreensão e nem a dimensão de todos os interesses do País, quem vê o País como um todo, como um conjunto de interesses, valores e estratégias é o ESTADO.

Quando Trump, certo ou errado, age contra as exportações chinesas ele está visando o interesse do País como um todo e não apenas o interesse das companhias globalizadas que preferem um mercado americano aberto ao que vem de suas fábricas na China. Não é problemas dessas empresas os desempregos que os produtos chineses geram dentro dos Estados Unidos, mas é problema do Presidente, ele foi eleito por causa desse problema.

Não tem sentido se tentar no Brasil colocar “o mercado” como árbitro de eleição. É uma diminuição, um apequenamento da questão nacional, muito maior que o “mercado”, que nesse contexto é apenas a plataforma de capital volátil que circula pelo mundo e dá uma parada no Brasil. NÃO é definitivamente a estação onde desembarcam as empresas da economia produtiva que interessam ao Brasil e que aqui aportaram mesmo nos momentos de mais alta inflação MAS com crescente demanda de seus produtos no Pais. Algumas empresas como GM, Ford, Siemens, Lever, Goodyear, Abbott, Lilly, Exxon, Shell, estão no Brasil a bem mais de CEM anos, esse é o investidor que interessa ao Brasil e que não é entrevistado pelos comentaristas econômicos da mídia ignorante, esse investidor não está todo dia em eventos frequentados pela mídia, não é disponível para dar entrevistas a qualquer hora.

Então a mídia se encosta nas corretoras, gestoras e bancos de investimento como SE esses personagens fossem a economia do País. ELES NÃO SÃO, é apenas um pedaço visível e nunca o maior da economia, muito mais complexa do que a Av. Faria Lima e o Leblon.

Hoje os comentaristas econômicos alardeiam aos quatro ventos que foram a eventos onde ouviram o que pensa o mercado sobre esse ou aquele candidato, sua opinião pesa enormemente, não é apenas uma cortesia ouvi-los. Que pequenez, que pobreza, que coisa micha, minúscula, medíocre, de pé de chinelo, a política cruzando talheres com cambistas.

QUAL É O MERCADO QUE SE OUVE?

O chamado “mercado” consultado com reverência pela mídia é o MERCADO ESPECULATIVO de ações e câmbio, são os “rapazes da bolsa” cujo ÚNICO interesse é o deles, só eles.

Não estão nem aí para o País, para os desempregados, para os pobres biscateiros, para as periferias, para o futuro dos jovens sem futuro, nem para o País que legarão a seus filhos.

A “meta” (eles adoram metas) deles é ganhar os tubos no mercado aqui e dar o “bye bye Brazil”, mudando eles e suas peruas para Miami, com o dinheiro lavado aqui.

Não lhes passa pela cabeça e não tem o mínimo interesse pela indústria e empregos no Brasil, pela educação no Brasil, pelo sistema de saúde publica no Brasil, pelas carências de saneamento e infra estrutura no Brasil, nada disso interessa, o negócio deles é o “eu mesmo”.

É esse o mercado aloprado, badalado e consultado pelas Veras, Elianes, Andreias, Denises, é a opinião deles sobre os candidatos que elas querem ouvir. Pobre Brasil, um grande País que se encolheu na mão de gente pequena e insignificante, inculta, sem grandeza e sem visão.

Enquanto isso, Rússia, China e Índia crescem como potências porque o Estado deles é respeitado, a visão de Pais e de povo é central na política, a sociedade se orgulha de sua cultura, de seus costumes, de sua língua, de sua música, de seus projetos de Pais. O Brasil está ameaçado de cair na lata do lixo da História, acontecimento que será reportado pela GLOBONEWS com direito a luzes e show de tolices, enquanto o mercado especula com a desgraça do Brasil menor, trilha de passagem dos fundos especulativos globais.

O Brasil está na categoria dos grandes países continentais com projeção de poder estratégico por sua expressão territorial, demográfica, econômica, cultural e ecológica, é preciso que haja consciência de sua dimensão muito acima e além de ser apenas um simples mercado.

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