segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Mares e alfinetes

Meu novo artigo:


O cientista, astrofísico Carl Sagan, 1934-1996, muito popular durante a segunda metade do século XX, âncora de um programa de televisão sobre astronomia, Cosmos, costumava afirmar: eu não sei para onde vou, mas sei que estou a caminho.

Há um provérbio árabe que diz: Quem espalha alfinetes não deve andar descalço.

Essas duas sábias observações, vindas de culturas e épocas distintas expressam, paradoxalmente, situações como o momento que vive o Brasil. Podemos dizer que não é só o País, mas uma tendência mundial.

Isso é verdade, mas não explica as nossas atuais especificidades como nação, e de todas as demais, que possui a sua própria formação cultural e Histórica.

As atuais eleições no País são uma representação objetiva de uma sociedade desorientada que não sabe para onde vai, polarizada em ódios e sectarismos difusos, sem causas relevantes para o bem maior da sociedade, submetida a uma Guerra Híbrida cuja função principal é a fratura do nosso corpo social.

Nessas condições, o fanatismo conduzido através de um primarismo emocional dá a tônica ao Não Debate político e eleitoral, salutar em qualquer sociedade democrática que se preze.

Apesar das evidentes consequências provocadas pela conhecida Guerra Híbrida, que substitui a guerra convencional armada contra outro País, com o potencial de destruí-lo sem a necessidade de se dar um único tiro, muito menos de uma única baixa do exército invasor, há outras razões que também explicam o desnorteamento nacional.

Quando não se sabe que se está a caminho, como disse Carl Sagan, a tendência é o predomínio do pragmatismo absoluto, sem rumos ou projetos que orientem a nação, os indivíduos e as sociedades.

Como um veterano das lutas de esquerda, nacionalista e democrática, vejo, com responsabilidade, essa desorientação que atingiu os principais espectros das forças políticas da nação.

Daí que, sem projetos, assoma o radicalismo estéril, a retórica rasa em campos antagônicos que se retroalimentam um precisando do outro para se afirmar em ideologismos, o que não é igual a Ideologia.

A especulação financeira, de outro lado, impõe para os seus interesses de lucros estratosféricos uma agenda diversionista, do Politicamente Correto, com vistas a fraturar a sociedade.

Esse é em resumo o retrato das eleições presidenciais: a Guerra Híbrida, as ações da agenda global do Mercado rentista, a ausência de amplos caminhos das forças políticas.

Por isso surge com força o ódio, a intolerância, e por trás da retórica da “convicção” que exclui qualquer outro ponto de vista, há na política a prática que espelha o utilitarismo exclusivista e, por mais contraditório que pareça, o Conformismo com a atual sociedade, o País e até mesmo como indivíduo.

Nesse cenário a democracia vem sendo solapada passo a passo, até porque quem ganhar as eleições não será reconhecido pela outra parcela da população, apesar do pronunciamento do presidente do STF, Dias Toffoli, o que contraria as regras básicas de uma sociedade democrática.

O Brasil é inevitável pelo seu papel Histórico, tamanho continental, quinta maior nação do planeta, oitava economia global, população superior a 200 milhões de habitantes, protagonismo geopolítico mundial inarredável. Crises sempre existiram, acontecem e passam.

Mas é fundamental a restauração da convivência social entre os contrários, a defesa da soberania ameaçada abertamente, rumos para a nação, a defesa da democracia. O povo brasileiro bem que pode se inspirar no provérbio, anônimo, do Mar: o marinheiro não reza por ventos favoráveis; ele aprende a navegar.

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