Meu novo artigo:
A principal característica da atual campanha eleitoral à presidência da República reside no esquematismo das posições em disputa. Vivemos um confronto de ideias na grande mídia e nas redes sociais, em que os problemas centrais do Brasil, e da sociedade, não são o centro do debate entre os candidatos, com raras exceções.
Em meio a uma crise política, econômica, social gravíssima que exige a discussão sobre novos rumos da nação, assistimos a uma batalha de estereótipos, onde posições engessadas buscam determinar uma agenda com base em conceitos ideologizados a priori, buscando polarizar suas plataformas, ficando, em segundo plano os anseios da sociedade como um todo.
Com o candidato Lula perseguido, preso e emparedado nas dependências da Polícia Federal, em vias de ser tornado inelegível, o Partido dos Trabalhadores adotou a tática eleitoral do Lula Livre. A concepção da campanha é que o ex-presidente se torna “a própria Ideia” como foi dito literalmente.
A denúncia da perseguição a uma liderança inegável como ele é mais que justa e associa todos os democratas do País a essa batalha. Transformar Lula como uma ideia em si mesmo, resvala para o total messianismo.
Compreende-se até como tática eleitoral e reafirmação da hegemonia em um campo do espectro político nacional, mas falta a proposta de superação de um imbróglio dramático que vive o Brasil.
Todos somos, de um jeito ou de outro, responsáveis pelo passado, presente e futuro da nação, especialmente os que atuam na vida política nacional.
Em evidente antagonismo há o candidato Jair Bolsonaro, escorado num pseudonacionalismo, um agressivo falso-moralismo sem propostas ou rumos factíveis aos destinos da nação.
Mas o seu guru na economia é um financista do Mercado, defensor contumaz da privatização geral, ampla e irrestrita de empresas estatais, como solução aos problemas nacionais.
Esposa, pelo verbo e intenções, um fascismo tupiniquim, uma caricatura de pretenso salvador da pátria. No momento atual essa é a polarização, retroalimentada, em que o Brasil se encontra. Mas novos capítulos estão para acontecer.
Trata-se de uma campanha de emocionalismos, não na forma de galvanizar as propostas dos candidatos, mas no próprio conteúdo. É uma espécie de extensão da Guerra Híbrida que assola o Brasil há um bom tempo. Uma guerra de estereótipos.
Mas o presidente eleito dificilmente terá condições de governabilidade. Será o prolongamento da atual crise institucional em estágio bem mais agudo.
Com as instituições da República em verdadeiro estágio de canibalismo entre si, um presidente fantoche e impopular, o desemprego crescente que atinge grande parte da força de trabalho, a perda da competitividade industrial, a infraestrutura em declínio, a autoestima e a identidade nacionais em baixa, segurança, saúde e educação esfrangalhadas, o Brasil precisa de rumos, projetos, causas e lideranças que unifiquem a sociedade.
O pragmatismo e a política sempre andaram juntos. Mas o pragmatismo sem projetos nivela a ação política ao nível mais elementar, confunde sagacidade com espertezas sem responsabilidades públicas.
Evidente que nos confrontos da política tem-se que fazer opções conforme a realidade objetiva, ninguém é inocente, onde é preciso se posicionar de acordo com o possível, aquilo que está dado.
No entanto, a gravidade da situação adquiriu um estágio de tal incerteza que exige além da competência política, responsabilidade para com os destinos do País, da sociedade.
Como já se disse, o Brasil esgotou um ciclo Histórico iniciado em 1988. Não é o primeiro que finda e nem será o último.
É preciso que forças políticas, ao lado de estrategistas, juristas, economistas, trabalhadores etc., assumam a responsabilidade de encontrar as saídas para outra etapa da vida nacional, a qual, de um jeito ou outro, vai acontecer. Esperamos que seja através da união das grandes maiorias sociais, e das lideranças nacionais que serão cobradas pela História.
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