quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Ana Maria Machado: ABC do Brasil


Chegou às minhas mãos o belíssimo livro “ABC do Brasil” de Ana Maria Machado, ilustrado pelo chileno Gonzalo Cárcamo. A escritora já conquistou os prêmios Hans Christian Andersen, em 2000, considerado o Nobel da literatura infanto-juvenil mundial, e o Machado de Assis, em 2001, o maior da literatura nacional, pelo conjunto de sua obra. Com mais de quarenta anos de carreira, iniciados na revista Recreio, é uma das principais autoras de literatura infantil e juvenil, no Brasil e no mundo.


Em seu texto, na orelha do livro, Ana Maria Machado fala sobre o Brasil:

O Brasil não é para principiantes, dizia Antônio Carlos Jobim. Não dá para reduzir a um ABC, concordo eu. É um país de uma diversidade extraordinária, complexo demais para caber em poucas palavras. Todos os que tentaram apreendê-lo de maneira global acabaram se referindo aos muitos Brasis. No entanto, o que nos caracteriza mais talvez seja a maneira como todos se misturam no país verdadeiro, de um jeito que não dá para distinguir um aspecto do outro. Os modernistas falavam na “antropofagia” cultural para se referir a esta nossa capacidade de devorar tudo o que chega e nos alimentar com isso, transformando a novidade em nós mesmos. Por exemplo, somos o país do futebol, mas quem criou esse esporte foram os ingleses; do carnaval, inventado na Europa; do samba, da capoeira e do candomblé, de origens africanas, mas que não existem na África, só nasceram quando se mesclaram com o que havia aqui, de índios e portugueses. Os artistas que, no final dos anos 60, fizeram o tropicalismo falaram da “geleia geral brasileira” para se referir à mesma coisa. Somos uma salada, feita com a contribuição de muitos povos, vivendo em um território grande, com imensa variedade de paisagens. Essa é a nossa força, desde que não queiramos nos afastar dela e fingir que somos apenas uma parte. “O país real, esse é bom, revela os melhores instintos; mas o país oficial, esse é caricato e burlesco”, já constatava há um século Machado de Assis, nosso maior escritor, ele mesmo uma síntese mestiça. Continua tendo razão, eu acho.

Para a letra Z de seu ABC, Ana Maria Machado escreveu:



Mestiço, criativo, sofrido e sem perder a alegria de viver, Zé é o brasileiro comum. Costuma-se dizer que é a melhor coisa do país. Como José é o nome de homem mais frequente no Brasil, muitas vezes o apelido “Zé” serve para designar o sujeito médio que representa todos os habitantes deste país imenso. Zé-Povinho, Zé-Ninguém, Zé das Couves, Zé-Prequeté, não importa como se chame esse Zé da Silva que está em toda parte. É ele quem constrói a nação e merece nosso aplauso.

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