sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A crise tá virando "zona"do euro

A opinião do companheiro Givanildo Ferreira, sociólogo, dirigente do PCdoB no município do Pilar e no estado de Alagoas:


Há quase setenta anos que a paz reina no velho mundo. O fim da segunda guerra mundial pôs fim também aos conflitos bélicos entre as nações europeias. Isto é uma anomalia em um continente que sempre viveu num estado de beligerância. No entanto, esta paz está ameaçada. Se durante a segunda guerra mundial a Alemanha com seus tanques e soldados ameaçou o velho continente, hoje o governo de Angela Merkel tem uma atitude tão agressiva quanto outrora. É uma agressão sem tanques. Mas o resultado é o mesmo, o desequilíbrio entre as nações europeias e consequentemente a ameaça às instituições democráticas. O volume de exportações da Alemanha é muito maior do que o de importações, o que acarreta um círculo de dependência dos demais países europeus. Nos últimos dez anos o excedente de exportações da Alemanha alcançou um trilhão de euros. Por outro lado, este excedente gigantesco terminou por acarretar o crescimento da dívida nos países importadores.

A crise econômica do velho mundo está afundando a democracia europeia nos braços das finanças. O continente da liberdade se transformou em continente de banqueiros. Gestores das finanças sem a menor legitimidade democrática chegam ao poder com o pôquer dos ajustes. O medo das urnas, ou seja, que o eleitorado rejeite os ajustes e a guilhotina social, conduz a colocar marionetes dos bancos à frente do Estado. Na Grécia a troca dos “papas” só tem levado à CÃOnonização da economia. De Papandréu para PapadeMOS. Na Itália Berluscone por Monti. O que se vê com essas mudanças é apenas o caráter autoritário do mercado financeiro. Isto se torna claro quando se organizaram as eleições junho passado em Portugal, momento em que a Troika (Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu, União Europeia) pediu aos dois partidos políticos portugueses que tinham chances de ganhar as eleições que assinassem um acordo diante do qual se comprometiam em implementar as condições impostas pela Troika. Sendo assim, nunca como agora a ditadura dos mercados havia forçado o destino dos povos. As agências de qualificação desfazem as maiorias eleitas e as substituem por representantes da racionalidade financeira, as contas sem déficits e artesãos. O que estamos assistindo é o retorno dos “governos técnicos”, encabeçados por homens crescidos sob a égide de algumas das principais instituições responsáveis pela crise. E os países endividados para recuperar a confiança dos mercados avançam pela via das “reformas estruturais”. Esta expressão se tornou sinônimo de dano social – ou seja, redução de salários, revisão de direitos trabalhistas em matéria de contratações e demissões, aumento da idade de aposentadoria e privatizações em grande escala. Essa verdadeira ZONA!!! do euro coloca como o maior e mais grave obstáculo interposto no caminho da democracia as avaliações de Standard & Poor’s, e os humores de Wall Street – esses enormes fetiches da sociedade contemporânea valem muito mais do que a vontade popular.

Portanto, a crise na zona do euro como um vírus começa a se espalhar pelo mundo. Sendo as bolsas de valores o primeiro reflexo, pois já vem caindo há algum tempo, e que vem levando os investidores a fugir do risco procurando aplicações que apesar de render menos, apresentam condições de resgate favoráveis. E num prognóstico sombrio espera-se que a próxima crise seja a bancária, uma vez que os bancos da “ZONA!” do euro estão abarrotados de títulos soberanos dos países que já sentem a recessão devido aos pacotes de austeridade impostos pelo FMI, BCE e União Europeia. Esses pacotes são intrinsecamente contraditórios na medida em que impõem barreiras ao crescimento. E sem crescimento econômico não há geração de receita nesses países para poder honrar o pagamento da dívida. Essa situação conduz fatidicamente ao calote podendo gerar a quebra dos bancos mais expostos aos títulos soberanos.

O que estamos assistindo nesse cenário é que a separação entre o “econômico” e o “político”, característica que sempre diferenciou o capitalismo de modos de produção que o precederam, está chegando ao seu ápice. A economia não só domina a política, fixando agendas e decisões, como também retira as competências e atribuições que eram próprias desta, privando-a do controle democrático a tal ponto que uma mudança de governo já não altera as diretrizes da política econômica e social.

Essa realidade só poderá ser enfrentada quando a sociedade for colocada como sujeito cognoscente desse processo, e não deixando meia dúzia de tecnocratas em nome da “governabilidade”, ou será governança? Conduzir o processo a reboque dos interesses sociais.

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