quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Darcy Ribeiro e o povo brasileiro


O antropólogo, criador da Universidade de Brasília, ministro da Educação, ministro-chefe da Casa Civil no governo João Goulart, exilado politico, vice-governador do estado do Rio de Janeiro onde foi secretário da Cultura e criou, planejou e dirigiu a implantação dos Centros Integrados de Ensino Público – CIEPs, Darcy Ribeiro, considerado um dos maiores intelectuais brasileiros do século XX, em sua obra “O Povo Brasileiro” responde à questão “quem são os brasileiros?”, investigando a formação do nosso povo.

Num dos trechos de seu livro Darcy Ribeiro destaca: “... todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles negros e índios supliciados”. Em outro, afirma “…Os brasileiros se sabem, se sentem e se comportam como uma só gente, pertencente a uma mesma etnia. Essa unidade não significa, porém, nenhuma uniformidade. O homem se adaptou ao meio ambiente e criou modos de vida diferentes. A urbanização contribuiu para uniformizar os brasileiros, sem eliminar suas diferenças. Fala-se em todo o país uma mesma língua, só diferenciada por sotaques regionais. Mais do que uma simples etnia, o Brasil é um povo nação, assentado num território próprio para nele viver seu destino”.

A Nação brasileira possui uma identidade própria e mestiça que a faz distinta das demais nações. Esta identidade nacional não existia antes de 1500.

A identidade nacional e a identidade mestiça têm em comum o fato de ambas serem indissociáveis da mestiçagem: a identidade nacional do próprio processo de encontro, miscigenação, sincretismo e identificação étnico-nacional, e a identidade mestiça do resultado em si deste processo de mestiçagem. A identidade nacional inclui todo o processo e seu resultado, a identidade mestiça.

Para Darcy Ribeiro, “Nós, brasileiros, somos um povo em ser ... Um povo mestiço na carne e no espírito, já que aqui a mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Nela fomos feitos e ainda continuamos nos fazendo. Essa massa de nativos oriundos da mestiçagem viveu por séculos sem consciência de si, afundada na ninguendade. Assim foi até se definir como uma nova identidade étnico-nacional, a de brasileiros”.

De grande coragem intelectual e moral, ao receber o título de doutor honoris causa na Universidade de Sorbonne, ainda em plena ditadura, proferiu uma sentença de resistência, combatividade, e de grande significado ideológico: “Fracassei em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”.

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